sábado, 5 de abril de 2014

Capítulo 9 – Simplesmente Demi

Com vocês, a princesa Demi da Krósvia!

Parecia uma novela de época. Só trocaram as carruagens por automóveis. Mulheres em seus melhores trajes, empregados por todos os lados e homens, bem, de preto.
A caravana era grande: um carro com tia Marieva e família, outro com o casal Muriev, Irina e o assessor de Andrej, cujo nome eu não havia guardado ainda, além do nosso, digo, o que levava meu pai, Selena, Joe e eu.
Sim. Eu estava imprensada entre Selena e Joseph. Claro que aquela posição foi minuciosamente orquestrada por minha amiga maquiavélica e fiquei me questionando por que meu “quase irmão” não saíra direto do apartamento dele.
Tudo bem que a visão era das melhores. Ele até tinha domado a juba, embora despenteado fosse o estilo ideal para ele.
Mas o que realmente estava me tirando do sério e me ajudando a não pensar na cerimônia que me aguardava a poucos quilômetros dali era a perna direita de Joe pressionando minha perna esquerda, com apenas o tecido da calça dele servindo de barreira entre nós.
Como se não bastasse, devido a seu avantajado tamanho, ele precisou passar o braço atrás de minha cabeça e posicioná-lo sobre o encosto para não ficar todo espremido. Com isso, seu perfume subiu até minhas narinas ultrassensíveis, o que foi suficiente para eu ter um flash bastante vívido do sonho que tivera na noite anterior. Como eu poderia ter esquecido?
Foi assim:
Joe e eu estávamos na Caverna do Pirata, mas dessa vez fomos até lá para mergulhar. Usávamos roupas leves — short e camiseta —, mas eu tinha consciência do biquíni por baixo de tudo.
Caminhamos calados sobre as pedras, só que de mãos dadas. E nossos dedos estavam entrelaçados. Percebi que isso fazia uma diferença enorme.
Ao entrarmos na caverna, Joe disse que eu precisava me preparar para nossa primeira aula. Portanto, eu deveria colocar um macacão de mergulho. Por sorte, ele havia levado dois dentro da mochila que se materializou nos ombros dele. Atirou o traje para mim e começou a se despir para vestir seu próprio macacão. Senti um perfume amadeirado quando sua camisa voou até o chão e minha boca ficou seca de repente. Joseph estava na minha frente, só de sunga. Então, ele ordenou que eu me apressasse e vestisse logo meu macacão, pois o tempo dele era curto.
Obedeci a ordem, morrendo de vergonha de ficar só de biquíni. Pedi que ele olhasse para o outro lado e Joe me atendeu. Mas só em parte. Foi só eu tirar o short que ele quebrou a promessa e me encarou. Primeiro, deu uma boa olhada em meu corpo. Depois, cravou os olhos nos meus. Fiquei roxa.
Deu um passo, depois outro, devagar, até ficar a um palmo de distância de mim. Minha respiração perdeu a regularidade e ficou pior quando Joe se inclinou. Fechei os olhos, pois sabia que o beijo era uma questão de milésimos de segundo.
De repente, eu sabia que estava sonhando.
Sabe aquela sensação? Mesmo assim, eu queria aquele beijo mais do que tudo no mundo. Mas não aconteceu. Nem no sonho. Claro que acordei na hora H e estraguei tudo. Que ódio!
Olha só a que ponto cheguei. Agora, fico desejando ser beijada por Joe, acordada ou não. Será que existe remédio para obsessão?
Senti seu olhar desviando-se de vez em quando em minha direção. Algo me dizia que minha perna roçando na dele não distraía só a mim.
Selena também estava lutando para se conter.
Eu previa sua ânsia de dizer algo. Então, adiantei-me, surpreendendo todo mundo.
— Selena, falei com o Nick outro dia. Ele queria saber que dia eu volto para BH. — Fiz questão de pronunciar cada uma daquelas palavras em inglês, só para Joseph escutar e ficar sabendo que ele não era o único que tinha o direito de esfregar a namorada na nossa fuça.
— É mesmo? — Selena se sobressaltou. Pareceu surpresa. — Pensei que o lance entre vocês tivesse minguado.
Joe se remexeu, mudando a posição do braço. Agora ele estava ao lado do meu, pressionando-o como se quisesse o espaço só para si . Ô, Selena, me ajuda aí! Joseph pregou o olhar em mim, aguardando minha resposta. Já que eu tinha começado, o jeito seria ir até o fim.
— Bom, se depender do Nick, acho que não — esnobei.
— Tem certeza? — indagou Selena, sendo irritante ao extremo. Que amiga eu fui arranjar.
— Como assim? — Já estava mais do que na hora de eu entender por que Selena resolvera ser tão do contra em se tratando de Nick e eu. — Você está sabendo de algo que não sei?
Joseph pigarreou. Estava se divertindo às minhas custas. Ai, que ódio! E eu querendo fazer ciúmes nele, nem que fosse só um pouquinho...
Andrej se ajeitou no banco da frente. Até ele queria ouvir a resposta de Selena. Dava para a situação ficar pior? Para que fui provocar, meuDeus?
— Bom... — começou ela, hesitante. — Você não quer conversar sobre isso depois?
Transferi o olhar de meu pai para Joe, tentando me decidir. Se eu fosse sensata, acataria a proposta dela e deixaria o papo para mais tarde — ou para outro dia. Mas quem disse que sou?
— Fala, Selena.
Primeiro, ela tossiu. Na verdade, forçou a tosse. Em seguida, olhou para Joseph, buscando cumplicidade. Por mim, Selena poderia dizer que Nick saía cada dia com uma garota diferente no Brasil, desde que ela parasse de olhar para Joseph daquele jeito!
Opa! Que droga de pensamento fora aquele?
— Chegamos! — exclamou Joe, apontando com o indicador os fundos do Palácio de Perla.
Lógico que todas as atenções foram desviadas de mim para o prédio — e foi melhor assim. Expor minha vida nada amorosa na frente de Joseph seria, no mínimo, humilhante.
Selena soltou o ar como se fosse um balão furado. Mais do que nunca, eu tinha certeza de que as notícias sobre Nick não prestariam. Não mesmo.
Assim que o carro estacionou na garagem do palácio, constatei que meus batimentos cardíacos deviam estar como os de um corredor dos cem metros rasos. Claro que era por causa da situação e zero devido a Nick. Quer saber? Nada que Selena pudesse me contar teria importância, pois eu não gostava mais dele.
Estávamos prestes a seguir até o elevador quando Joseph segurou meu braço e me fez parar. Selena olhou para a cena e decidiu não interromper, nem deixar que alguém fizesse isso. Manteve o ritmo e levou Andrej consigo. Por algum motivo, meu pai achou que não tinha nada de mais eu ficar para trás com seu enteado.
— Que foi agora? — Usei um tom carregado de impaciência, só para disfarçar o nervosismo.
Joseph estreitou o olhar, que não se dirigia a mim. Ergueu uma das mãos e tocou o pingente em meu pescoço sem nem sequer encostar em minha pele. Achei o gesto bastante calculado, por sinal.
— Como foi que conseguiu isso? — ele questionou, ao mesmo tempo em que ficava traçando os contornos da rosa de diamante.
— O Andrej me deu. — Fiz questão de empinar o nariz. Se ele pretendia me acusar de roubo ou coisa parecida, encontraria uma resistência hercúlea.
Mas Joe apenas balançou a cabeça, bem de leve, em transe.
— Foi da minha mãe — disse. Ainda sem me olhar. — Mas primeiro foi da mãe do Andrej, sua avó.
— Eu sei — murmurei.
Queria saber se ele havia ficado chateado. Queria perguntar como era a sensação de viver sem a mãe, pois eu não poderia nem imaginar ficar sem a minha. Queria mergulhar meus dedos nos cabelos dele e consolá-lo. Sei lá! Queria ser algo mais que uma simples turista na terra dele, a quem ele era obrigado a tolerar por consideração ao rei. Queria... queria tanto...
— Ficou bem em você — concluiu, retirando a mão do colar.
— Joe, eu...
— Está atrasada — ele completou. — Venha. Todo mundo está esperando você.
Literalmente, o mundo inteiro.
Eu não fazia ideia. Poderia até ter previsto, mas jamais dimensionaria com exatidão o tamanho daquilo. Não estou falando do Palácio de Perla nem das proporções de seus aposentos. Refiro-me ao número de pessoas que estavam esperando pelo pronunciamento de Andrej, dentro e fora do palácio, e à importância que isso tinha para a população da Krósvia.
Entramos juntos — Andrej, Joe e eu — no gabinete do rei, enquanto os demais membros de nossa comitiva foram instalados numa sala de estar, com direito a um coquetel maravilhoso e uma televisão gigantesca, conectada no maior canal do país, de onde o pronunciamento seria transmitido.
Todo mundo decidiu que me beijar me deixaria mais calma, e minha mãe acabou batendo o recorde. Sentei-me toda dura na ponta de uma poltrona, mal ouvindo o que meu pai e Joseph conversavam. Nesse meio-tempo, um homem que vestia um terno preto, com um microfone de apresentador de TV, entrou e ficou dando instruções para Andrej, tudo em krosvi. Meu pai só concordava, mas depois traduziu tudo para mim.
— Chegou a hora, Demi. Preciso ir. Daqui a pouco a Irina vem chamar você. Vou estar na sala ao lado. Como eu disse, não vai precisar dizer nada. Por isso, tente ficar calma, certo?
Impossível. Seria impressão ou minha barriga estava começando a doer? Ah, não! Por favor, intestino, colabore!
— Joe, fique com ela. E, quando a Demi for chamada, quero você junto de nós o tempo inteiro. Entendido?
— Sim. Vou cuidar para que nossa Demizinha aqui não desmaie nem saia voando pela janela — disse ele, cheio de graça.
Andrej sorriu. Joe tinha dito o que ele queria escutar.
Juntei uma mão na outra e esfreguei-as com força. Havia pouco mais de um mês, era uma garota normal que pensava que o auge de sua vida seria a viagem à Europa que pretendia fazer quando se formasse. Na televisão, nunca sonhara aparecer, a não ser por meio dos vídeos caseiros que fazia com sua câmera digital — e com aquelas fitas de VHS, quando era criança. Entrar num castelo de verdade? Só se ele fosse aberto à visitação pública. Bater papo com um rei? Talvez o Rei Momo no Carnaval do Rio de Janeiro. E nunca, jamais mesmo, essa garota fora chamada de princesa na vida, exceto pelo projeto de namorado chamado Nick. Mas isso não contava.
Senti dedos longos e ásperos procurando os meus. Eu não esperava que Joseph fosse se aninhar a meu lado, nem que tivesse intenção de segurar minha mão. Levei o maior susto, embora soubesse que era um gesto inocente, tranquilizador, sem segundas intenções.
Deixei que ele fosse meu apoio e não senti vergonha ao me recostar nele, minha cabeça descansando confortavelmente em seu peito. Joe reagiu fazendo carinho em meus cabelos com a outra mão.
Suspirei, mais relaxada do que deveria, vamos combinar.
— Eu ainda não disse que você está linda — elogiou ele, devagar. Sua voz saiu distorcida devido à nossa posição.
— Não — concordei, adorando estar sendo paparicada por Joe pela primeira vez.
— Está linda, Demi — repetiu, com mais ênfase. — Uma princesa!
— Não tem mais raiva de mim? — indaguei, incapaz de olhar em seus olhos.
— Nunca tive raiva de você — rebateu, segurando-me nos ombros para me encarar.
— Como não? Vai dizer que eu imaginei todas as vezes que você foi rude comigo?
— Não — reagiu. — Mas não era por ter raiva de você.
— Então, era por quê?
— Demi, venha! — Irina interrompeu. Que droga! Eu estava prestes a ter uma revelação. Por que comigo as coisas sempre pareciam ficar pela metade? Mais cedo, com Selena e a história sobre Nick. Agora, com Joe.
Fui levada às cegas até a sala de imprensa, a tempo de ouvir meu pai anunciar em krosvi e, depois, em inglês:
— Quero que todos conheçam finalmente minha filha, Demetria Devonne Lovato Markov, a princesa Demi da Krósvia.
Por pura falta de iniciativa da minha parte, Joe me puxou consigo. Minha aparição na frente dos jornalistas provocou o caos. Todos começaram a falar ao mesmo tempo e flashes brilhantes espocaram diante de mim como se eu fosse a nova sensação de Hollywood.
Sorri timidamente, sem saber o que fazer. Sorte que Andrej segurou meu braço e me fez ficar entre ele e Joe para que os fotógrafos pudessem nos fotografar à vontade. Então, as perguntas recomeçaram, algumas em krosvi, outras em inglês e até em português!
— Demi, como você se sentiu ao saber que era filha do rei Andrej?
— Demi, como está sua vida depois de ter recebido essa notícia?
— Demi, de uma universitária comum a uma princesa. Fale um pouco sobre essa reviravolta.
— Demi, você pretende ficar definitivamente na Krósvia?
— Demi, Demi, Demi!
Minha cabeça deu uma rodada legal e minhas pernas perderam a rigidez. Gente, eu ia desmaiar na frente daquele mundaréu de jornalistas, em rede nacional — e internacional também —, pagando o maior mico em minha primeira aparição pública.
Mas Joe envolveu minha cintura com o braço e apoiou meu corpo no seu, mantendo-me de pé, enquanto Andrej solicitava:
— Amigos, por favor, vamos deixar as perguntas para outra ocasião. Demi está cansada e ainda não entende o krosvi. Prometo marcar uma coletiva na semana que vem e então vocês poderão perguntar à vontade, certo?
Ouvi inúmeras reclamações, mas senti que, de certa forma, eles estavam satisfeitos. A notícia era quente e eu fiquei parada diante deles por tempo suficiente para que fizessem fotos e mais fotos.
— Só mais uma pergunta! — ouvi alguém gritar. — Demi, você e o Joe Jankowski são irmãos ou namorados?

***

A água de minha banheira tinha a temperatura ideal, tanto para relaxar meu corpo quanto para aliviar as dores musculares. Do ombro aos dedos do braço direito, tudo latejava de tanto acenar para as pessoas na rua. Meus músculos faciais ficariam uns três dias sem voltar para o lugar, pois eu grudara no rosto um sorriso que não me abandonara ao longo de todo o trajeto pelas ruas de Perla.
Aconteceu também de, a certa altura, eu ficar com enjoo. Sou um pouco intolerante a passeios em veículos automotores que durem mais de meia hora e não atinei que deveria tomar um Dramin antes de me enfiar no conversível que nos levou para cada canto daquela cidade. Mas consegui me segurar e não vomitei, o que teria sido o fundo do poço para mim.
Joseph passou todos os segundos do malfadado desfile praticamente agachado no banco de trás. Até que foi engraçado — e prazeroso — vê-lo vermelho de vergonha por estar naquela situação um tanto quanto constrangedora. Pelo menos, não era só eu que estava pagando mico.
Mas nem tudo foi um martírio. Confesso que quase cheguei às lágrimas mais de uma vez — bem mais, aliás — em diversos momentos:
1. Na sacada do palácio: tive medo de levar uma pedrada ou um tiro de escopeta assim que encarei a população krosviana, a imprensa e os turistas do alto da sacada do Palácio de Perla. Depois do episódio da coletiva com os jornalistas, quando fiquei na maior saia-justa devido à pergunta ordinária que um repórter fez (falo mais sobre isso depois), achei que todo o restante seria um desastre. Portanto, qual não foi minha surpresa ao enxergar a multidão acenando para mim, aos gritos, como se eu fosse uma celebridade das mais amadas! Tinha gente abanando lencinhos e a maioria empunhava com o maior orgulho a bandeira da Krósvia, daquelas feitas de papel e palito de madeira. Não fui apedrejada. Pelo contrário. Recebi sorrisos, lágrimas, beijos enviados ao vento, tudo isso entremeado por um coro arrepiante: “De-mi! De-mi! De-mi!”. Foi lindo e mágico. Mais tarde, vi a cena com olhos de espectadora — baixei um vídeo no Youtube — e a classifiquei como surreal.
2. No centro de Perla: quando o príncipe William da Inglaterra se casou com a plebeia Kate Middleton, eu nem quis ligar a TV para não ser mais uma brasileira a dar ibope a uma história que não era nossa, mas que estava sendo tratada como se fosse. Achei ridícula toda a atenção que a imprensa mundial dispensou ao fato e, deliberadamente, tive um ato de rebeldia. Durante a transmissão, passei o dia estudando e trabalhando, como se nada estivesse acontecendo. Para mim, não estava mesmo. Mas não pude ignorar os flashes que passaram mais tarde no telejornal noturno, nem as fotos que saíram em todos os periódicos do dia seguinte. E pensei que o tchauzinho armado de Kate, enquanto desfilava de carro pelas ruas de Londres, fora, no mínimo, artificial. Mas, coitada, como fui preconceituosa! É difícil ser natural numa situação dessas. Embora as câmeras tendam a focalizar o objeto famoso — no caso, Kate —, por trás delas, há milhares de pessoas com um único objetivo: demonstrar sua aprovação e respeito por aquela que está no veículo. Foi o que eu vi de meu ponto de vista e isso me emocionou de verdade. Não sei se meu tchau saiu artificial ou não, mas garanto que meus sentimentos foram 100% sinceros.
3. No estacionamento do palácio: após duas horas de tchaus e sorrisos, nosso conversível finalmente estacionou nos fundos do palácio. Foi um alívio. Nada se compara ao que senti assim que desci do carro e pisei no chão firme: leveza, sensação de dever cumprido, êxtase. Andrej, Joe e eu fomos recebidos por uma salva de palmas dos funcionários do Palácio de Perla, que entregaram um buquê de rosas para mim. Tive que chorar — de novo.
4. Na sala de estar do Palácio Sorvinski: fui recebida com honras de... bom, de uma princesa ao retornar para casa. Não só por minha querida família brasileira e minha melhor amiga, mas também por tia Marieva e seus filhos, além dos empregados do castelo. Minha mãe e minha avó choravam copiosamente, mas quem me surpreendeu mesmo foi Karenina. Com lágrimas nos olhos, ela me abraçou e disse que me considerava uma filha e que gostaria de me dar um presente muito caro e maravilhoso, mas tudo o que tinha era uma cesta de pães de queijo e mousse de chocolate meio amargo. Derreti.

***

Saí do banho e me enrolei num roupão. O baile para convidados especiais estava marcado para as 9h da noite. Então, eu tinha um tempo só para mim. Se bem que Selena não tardaria a aparecer, pois só tinha ido tomar um banho também. Minha avó e minha mãe retornaram ao hotel, mas estariam de volta na hora do baile. Adivinha quem ficou de trazê-las? Isso mesmo: Joe.
Conectei-me à Internet e fui à caça de notícias sobre minha cerimônia de apresentação. Nem me dei ao trabalho de procurar os sites de notícias da Krósvia. Entrei direto nos brasileiros, rezando para as coisas estarem na maior calma e que a notícia de que uma brasileira era princesa na Europa fosse só uma brisa.
Ô ilusão! Minha foto estava na primeira página de todos os sites, em vários ângulos e cenários diferentes. As manchetes:
“Rei da Krósvia apresenta filha brasileira” — no terra.com.br
“Princesa brasileira encanta população de país europeu” — no globo.com
“Universitária mineira é filha do rei Andrej Marcov, da Krósvia” — no em.com.br
“Princesa brasileira esbanja simpatia e bom gosto na Krósvia” — na caras.uol.com.br
Bom gosto? Eu? Tive que rir. Mas fiquei realmente muito chocada com a quantidade de matérias sobre mim. Eram tantas que não consegui ler todas. Algumas publicaram até uma minibiografia, revelando informações que passavam longe da realidade, tipo, que eu era muito popular na faculdade e que meu pai me achara com a ajuda de um detetive. Bom, só se o Facebook tivesse mudado de nome.
Fiquei apreensiva ao ver minha mãe na boca da mídia também. Por um lado, era até uma divulgação positiva para o buffet. Em compensação, alguns veículos de comunicação pegaram pesado, referindo-se a ela como se fosse a bruxa má na história da princesa. Sacanagem. Andrej teria que reparar isso.
— Amiga — Selena disse, entrando em meu quarto —, já recebi um monte de mensagens e ligações do pessoal de BH. Está todo mundo chocado!
Segui o exemplo dela e chequei meu celular. Estava entupido de mensagens e ligações perdidas.
— Estou ferrada, não estou? — resmunguei, deixando o computador de lado.
— Demi, só você para achar isso ruim — ela disse, desaprovando. — Tudo é tão incrível!
— Não se as pessoas ficam inventando coisas a seu respeito e deturpando a história toda! — Virei o computador para que Selena pudesse tomar conhecimento do que eu havia acabado de ler.
— Sinistro, né? — ela admitiu, depois de um tempo. — Mas sem desespero. Isso tudo é de menos. Achei a cerimônia maravilhosa e você estava linda, serena, simpática, apesar de meio tímida. O povo te adorou e a imprensa foi à loucura. Ou seja, está tudo perfeito. Nada de pânico. Querendo ou não, Demi, você vai ter que se acostumar com a mídia, aqui ou no Brasil. É melhor lidar com essa sua nova realidade numa boa.
— Eu sei. Não estou reclamando. O Andrej é um pai maravilhoso e tem feito por mim tudo o que está ao alcance dele. Acho que, com o tempo, acabo me acostumando — concordei.
— E aquela pergunta no final da coletiva? — Selea levantou uma sobrancelha, desviando completamente o assunto. — Você já pensou na resposta?
— Ridículo aquele cara. Onde já se viu soltar uma dessas e sair impunemente? Ele merecia uns bons tapas na cara.
— Não concordo. Acho que ele merecia um troféu pela coragem de fazer aquela pergunta. Demi, você tinha que ver sua cara. E a do Joe também.
— Fala sério, Selena! De que lado você está, afinal de contas? Não quero ficar falando do Joe, não quero imaginar coisas a respeito dele e nem quero que você faça isso. Não existe nada entre nós, nem agora, nem nunca. Eu vou voltar para o Brasil e ele vai ficar aqui. Estou enrolada com o Nick e o Joe tem a Laika. Sou a filha perdida do rei e o enteado dele não lida bem com isso. Quer mais algum motivo para parar de falar nele ou já basta? — Terminei meu discurso quase gritando.
— Já acabou? — indagou Selena, nem um pouquinho abalada, verificando concentradíssima as cutículas das mãos. — Pois para mim isso tudo é notícia velha. Você só não quer admitir, mas está caidinha pelo Joe. Pode tentar enganar todo mundo, até você mesma, mas não a mim, queridinha, que te conheço desde sempre.
— Selena...
— Não, calma aí que é minha vez de falar — cortou ela, ficando de pé na minha frente, com as mãos na cintura. — O Nick é um... um... idiota, por falta de adjetivo melhor. Ou pior, tanto faz. Enquanto você está aqui toda comportadinha, bancando a namorada fiel, ele está lá, flertando, varando as noites na balada, cada dia com uma companhia diferente. Eu nem ia te contar isso, mas acredito que estou no meu papel de melhor amiga aqui.
— Contar o quê? — indaguei, recostando-me nos travesseiros da cama. — Não estou assustada nem surpresa, se quer saber.
— Mas vai ficar agora, porque uma coisa é o cara ciscar feito galinha no terreiro alheio. — Selena tomou fôlego. Ou foi coragem? — Outra é dar em cima da melhor amiga da quase-namorada dele. Pronto. Falei.
Abri a boca, depois fechei e a abri de novo. Mas não consegui falar nada por uns bons 15 segundos. Então, era por isso que Selena sempre travava quando eu perguntava a ela sobre Nick. Também, né? Sendo assediada por alguém que deveria manter uma distância respeitosa, era para ela ficar no mínimo sem jeito, mesmo.
— Isso é horrível, Selena.
— É, sim. Mas não foi culpa minha.
— Claro que não — concordei. Preferi me sentar para digerir melhor a notícia. — Mas não sabia que o Nick era um desses caras.
— Eu suspeitei desde o princípio — acrescentou. — Nunca gostei muito dele.
Fiquei tentando encontrar mentalmente sinais de que o cara por quem eu pensara estar apaixonada fosse um mulherengo. Eu devia ter sido muito cega.
— Tudo bem. Na verdade, não estou nem aí. Faz tempo que o Nick é meio que uma página virada na minha vida e esse lance horroroso não vai me afetar. Ele que se exploda.
— É isso aí! — Selena ficou exultante. — Agora, o passo dois é reconhecer para si mesma que está louca pelo Joe. Tenta, Demi. Você vai se sentir mais leve depois.
— Ha, ha, ha! Muito engraçado — desdenhei. Começava a sentir frio só com o roupão. — Selena, presta atenção. Se eu estivesse... Preste atenção que eu não estou admitindo nada, só levantando uma hipótese, tá? Caso eu estivesse apaixonada pelo Joseph, se isso fosse verdade, eu seria a garota mais triste do mundo, porque, além de ele ter namorada, a Laika é, digamos, um mulherão, e eu não sou páreo para ela. Além disso, eles estão juntos há bastante tempo e não vejo problemas no paraíso dos dois. Aliás, não vejo nada, porque eu pouco encontro com ela. Então, não queira me juntar com o Joe, porque vai dar merda.
— Laika. Que tipo de nome é esse, pelo amor de Deus?
E foi com essa indagação forçada que Selena resolveu ignorar meus argumentos solenemente.

***

O que um vestido de alta costura não faz por uma mulher! De tanto comprar minhas roupas do dia a dia na C&A e na Renner, para mim elas eram o que havia de melhor. Como eu estava enganada!
Uma peça de grife modifica o corpo — para melhor, óbvio.
Por ter curvas e ser baixa, é difícil achar um vestido que me favoreça 100%. Mas juro que o longo da Dior Couture operou milagres em mim.
Patrick voltou e caprichou no penteado. Ele criou uma coisa meio doida, jogada de lado, para parecer despenteado, mas eu sei que deu o maior trabalhão para fazer. Ficou sofisticado.
Nem sob ameaças eu apareceria sozinha no salão de baile do castelo. Não naquela noite. Peguei Selena no quarto dela e a fiz de minha acompanhante. Se dependesse de Irina, eu teria uma entrada triunfal. Faria uma parada estratégica no topo da escadaria e a música daria uma pausa nesse momento. As pessoas exclamariam “ohhh” e só então eu começaria a descer os degraus, um a um, quase em câmera lenta.
Onde foi mesmo que já vi essa cena, hein? Ah! Em quase todos os filmes bregas. Tô fora. Mesmo acompanhada por Selena e chegando junto com os convidados — e não depois, como Irina gostaria —, não consegui evitar os olhares e comentários a meu respeito. Uns cochichavam, outros falavam alto para eu escutar e todo mundo queria conhecer melhor a filha do rei Andrej Markov. Dava uma canseira...
Onde estariam minha mãe e vovó Sue?
Demoravam tanto! Andrej andava de um lado para o outro, conversando com os convidados, trocando cumprimentos e apresentando-me para as pessoas.
Selena me cutucou quando um garçom se postou atrás de nós.
— Vamos encher a cara? — sugeriu. Seus olhos até brilharam de empolgação.
— Até parece — desdenhei, revirando os olhos. — Não posso dar mais motivos para meu nome cair na boca do povo.
— Só champanhe, então. Por favor... — suplicou ela, com cara de bichinho de estimação.
Até que um pouquinho de álcool seria uma boa. Pegamos duas taças e ficamos bebericando devagar, observando os convidados. Era cada figura!
— Dá uma olhada naquela mulher. — Fiz sinal para Selena encontrar a direção. — Está parecendo uma cacatua com aquele vestido de plumas. Branco, ainda por cima.
Disfarçamos porcamente uma gargalhada e tivemos que nos virar para não sermos pegas em flagrante.
— E o chapéu daquela ali. Lembra o obelisco da Praça Sete.
Mais risadas. Altas.
— Sacanagem, Selena. Nem está tão alto assim.
— O barrigudo ali é a cara do Danny DeVito — comentou minha amiga. — Credo, Demi, gente rica é meio sem noção, né?
Essa foi a deixa para a entrada de Laika. Contrariando a afirmação de Selena, Nome de Cachorro abusou do bom gosto para se vestir. Bem que eu gostaria que ela estivesse parecendo uma palhaça.
Se a palavra translumbrante existisse, seria pouco para defini-la. O que fazer quando seu pior pesadelo surge num vestido longo de cetim vermelho, agarrado ao corpo do busto às panturrilhas, com uma fenda traseira que terminava a poucos centímetros do bumbum (isso eu vi depois, mas já estou descrevendo)? Como se não bastasse, a parte superior do vestido era de uma renda finíssima e transparente e só um top cor da pele evitava que a bendita estivesse nua na frente de todo mundo.
A seu lado vinha Joe, num smoking impecável. Mais lindo, impossível. Era a personificação de Jared Padalecki, astro da série Supernatural, do Warner Chanel. Primeiro, fiquei sem fôlego. Depois, senti meu coração dar cambalhotas no peito. Por fim, fiquei vermelha.
Mas isso aconteceu quando os olhos de Joe encontraram os meus.
— Demi. Acorda. — Selena me beliscou nas costelas. — Já que não admitiu até hoje que sente algo pelo Joe, deixa pra depois, tá? Agora não é hora de dar bandeira. As pessoas estão olhando.
É por isso que adoro minha amiga. Está sempre me livrando de enrascadas. Desviei o olhar, desejando nunca ter visto Joseph na minha vida. Por que a existência dele tinha que mexer tanto com a minha? Não acreditava que estivesse apaixonada por ele. Não ainda. Mas havia alguma coisa, uma conexão, caso contrário eu não ficaria tão abalada cada vez que o visse. E nem sentiria tanto ciúme por causa de Laika.
— Presumo que aquela seja a Nome de Cachorro — arriscou Selena, de nariz torcido. Ela também era ótima para comprar minhas brigas.
— Sim.
— E aquelas duas perdidas ali devem ser a Dianna e a dona Sue Hart.
Oh! Nem tinha reparado que mamãe e vovó já haviam chegado. E olha que elas estavam com Joe.
Nós quatro nos juntamos numa rodinha e eu me deixei levar pelos comentários em português que elas faziam sobre o evento. Minha mãe já sabia sobre as notícias sensacionalistas e não se deixou abalar. Contou que passou a noite recebendo telefonemas do Brasil, entre eles de jornalistas ávidos por uma entrevista exclusiva.
— Até o Fantástico me ligou — disse. — Já pensou, Demi, eu sentada no cenário deles, com os dois apresentadores contando nossa história e me submetendo a perguntas invasivas em favor da audiência?
— Uhg! — Só de imaginar a cena, tive náuseas. — Mãe, você está proibida de dar entrevistas. Aliás, as três estão. A não ser que seja uma coisa séria. Não vamos fazer disso tudo um circo de horrores. Combinado?
— É claro, filha. Essa hipótese não está sendo nem mesmo cogitada — garantiu mamãe. — E, a propósito, você está lindíssima. Como eu nunca consegui fazer você usar um desses antes?
Aposto que é obra da Irina.
Engraçado. Era para eu ficar feliz com o elogio, mas acabei fazendo comparações, vocês sabem com quem. De repente, meu Dior Couture se transformou numa roupinha sem graça.
— E deve ter custado uma fortuna — completou vovó, admirada. — O Andrej faz tudo por você, não é mesmo?
— Sim. — Não consegui evitar uma olhada na direção dele. Demonstrava estar tão feliz. — Ele é demais, vó. Mãe, você foi uma boba. É difícil encontrar um homem como meu pai no mercado, sabia?
Ela fez uma careta.
— E eu não sei? Por que você acha que estou solteira até hoje?
É. Não fazia mesmo sentido. Mesmo linda e bem cuidada, minha mãe nunca namorava. Ou melhor, até já tinha namorado, sim, mas jamais ficava com uma cara por muito tempo. Agora eu sabia por quê. Era absolutamente impossível existir alguém igual a Andrej.
— Vocês vão me perdoar, mas demais mesmo é o Joe — comentou vovó, com a voz lotada de malícia. — A Dianna está de prova e não vai me deixar mentir nem exagerar. Ele nos tratou com a maior delicadeza. Conversou conosco o tempo todo durante o trajeto de ida e volta, foi gentil abrindo e fechando portas para nós e até nos convidou para conhecer o apartamento dele, mas isso nós tivemos que negar por pura falta de tempo. Agora, na volta, mesmo com a namorada esnobe dele, o Joe procurou ser simpático e demonstrou estar bastante interessado no nosso bem-estar. Estou mentindo, Dianna?
— Não, mamãe. Isso tudo é verdade. Ele é uma ótima pessoa. Bom, pelo menos é o que parece.
Meu Deus do céu! Por que tudo acabava levando a Joseph?
— Mas a tal da Laika é bem estranha — vovó completou.
Saber que essa opinião era um ponto em comum entre nós quatro me deixou mais tranquila. Pelo menos, não era eu a implicante.
A conversa terminou quando Andrej me pegou para desfilarmos juntos pelo salão. Hora de fazer um social. Fomos andando de mesa em mesa, dando atenção aos convidados, que, afinal de contas, estavam ali para me prestigiar. Mas que trabalhinho cansativo! Se antes minhas bochechas doíam, agora gritavam. Não é fácil manter um sorriso na cara por mais de 15 minutos.
E eu conheci gente para caramba, de tudo o quanto é lugar. Mas não me perguntem quem era quem que eu levaria uma vida para reconhecer todos.
Foi numa dessas andanças pelo salão que topamos com Joe e Laika. Pretendia ignorá-los por pelo menos mais uma ou duas horas. Contudo, me dei mal.
— Demi — ele disse de forma polida.
— Joe — fiz o mesmo.
— Majestade. — Já Laika era só sorriso, mas um daqueles bem falsos. — Sua festa está linda. E, Demi, acompanhei tudo pela TV e posso garantir que você foi muito bem.
Fingida...
— Seu vestido estava um arraso — continuou ela. — E esse também é demais. Você está uma graça.
Entendi a estratégia dela. Laika preferia gastar elogios comigo a deixá-los para o namorado. Ela falava, ele ficava calado. Garota esperta.
— Obrigada — murmurei. E me obriguei a retribuir: — O seu também é ótimo.
Pensando que estava me fazendo um grande favor, Andrej arrastou Joe de perto de nós, com a desculpa que “as meninas querem fofocar”. Acabei ficando sozinha com Nome de Cachorro.
Um silêncio pesado pairou sobre nós, daqueles que são difíceis de administrar. Eu não tinha a menor vontade de trocar amenidades com Laika ou falar do tempo, muito menos saber da vida pessoal dela. Só uma curiosidade martelava minha cabeça: se ela fazia planos de sumir do mapa a curto prazo. Mas isso eu não me arriscaria a perguntar. Foi a própria Laika quem quebrou o silêncio.
— Pretende ficar muito tempo na Krósvia? — Pelo jeito a mesma dúvida que eu tinha também atormentava Nome de Cachorro.
— Planejei passar seis meses aqui — esclareci casualmente. — Devo voltar para o Brasil depois do Carnaval.
— Carnaval? — ela repetiu. — Aquela festa em que as pessoas, bem... se liberam?
Enruguei a testa, preparando-me para defender nossa mais tradicional comemoração, embora eu mesma tenha um pouco de resistência a ela — não aos dias que fico de folga, que fique claro. Mas não era essa a verdade? Dizer que o povo se libera é até eufemismo. Todo mundo solta as frangas, isso sim.
— Acontece em que mês? — Laika quis saber, sem me dar tempo para responder à pergunta anterior.
— No ano que vem vai cair no meio de fevereiro. É que ela varia de ano para ano — expliquei, crente que estava agradando.
— Então, ainda está longe.
Que bela oportunidade para soltar uma frase de duplo sentido! Para qualquer um, soaria como se Laika estivesse se referindo ao Carnaval. Mas não para meu sexto sentido. Tudo me levava a crer que ela estava lamentando o tempo que ainda faltava para eu partir para longe e de vez.
— Passa rápido. — Adorei minha ironia. De vez em quando eu adoro usar uma.
Novo silêncio. Por que eu não aproveitava para dar o fora dali? Meus neurônios começaram a processar uma desculpa com a qual eu pudesse escapulir.
Foi aí que Laika deixou a máscara sair do lugar.
— Demi, se me permite ser sincera — Laika assumiu uma postura felina, como se a qualquer momento fosse enfiar as garras em minha cara —, sei que tem passado muito tempo com o Joe. O fato de vocês terem o rei Andrej em comum acabou forçando uma proximidade, que eu considero próxima até demais.
Meu sangue sumiu de repente. Será que Nome de Cachorro estava concluindo que eu queria alguma coisa com o namorado dela? Alguma coisa como querê-lo para mim? Que viagem! Né?
— Vocês têm ficado muito tempo juntos, mas eu sei que é porque o Andrej confia no Joe. — Laika tratou de justificar seu comentário. Notei que ela desejava me alfinetar e demarcar claramente seu território, mas sem parecer possessiva e ciumenta. Afinal, para que perder tempo com uma garota como eu? — O Joe tem faltado ao trabalho, mas também tem dias que ele fica até tarde no escritório para compensar as ausências. Você já deve saber que ele é um arquiteto muito requisitado e esses sumiços soam mal para a carreira dele.
Que feio, Laika! Usar o trabalho do cara para disfarçar seu ciúme. Isso eu só pensei, mas não seria o máximo jogar na cara dela?
— Bom, eu só aceitei essa situação porque meu pai insistiu e, se me permite dizer, Laika, a ideia foi do próprio Joe. Imaginei que ele devia saber o que estava fazendo, afinal ele é um homem adulto. — Falei bem devagar, pisando em ovos, de modo que ela não tomasse minhas palavras como uma afronta. Embora fossem.
Ela riu com escárnio.
— O Joe nunca sabe o que está fazendo, Demi. Ele vive querendo ajudar as pessoas, mas acaba se prejudicando. Sempre foi assim e eu já fiz de tudo para abrir os olhos dele.
Que bruxa manipuladora! Como alguém de espírito livre como Joseph podia se envolver com uma pessoa egoísta e mimada como aquela garota demonstrava ser?
— Então, você está sugerindo que...
— Eu estou tentando pedir seu apoio para que o Joe desista desses passeios — ela me cortou, enfatizando cada palavra proferida. — Afinal de contas, acredito que você queira o melhor para ele, já que são quase irmãos, não é mesmo?
Meu rosto enrubesceu com o choque. Aquela Laika não tinha apenas nome de cachorro. Ela era uma cadela por inteiro. Querendo me tirar da jogada com aquela conversinha, ainda por cima buscando minha empatia. Sério?
— É melhor acabar com isso de uma vez, antes que o Joe perca todos os clientes. Acho que você não gostaria de vê-lo numa situação complicada. Não é mesmo? — completou.
Se eu não soubesse, ninguém precisaria me dizer que o pai de Laika era um político, considerando quanto ela era persistente na persuasão.
— Olha, Laika, não quero prejudicá-lo, mas vou deixar essa decisão para o próprio Joe — afirmei, já bastante desconfortável com a situação.
— Talvez conversando, você e ele cheguem a um acordo. Eu prefiro ficar fora disso, certo?
— Ficar fora disso. Seria mesmo uma boa ideia. — Ela também podia ser a rainha da ambiguidade, além de Nome de Cachorro.
Jesus! Que tipo de pessoa era aquela, que usava o lado mais fraco da corda para tentar se dar bem? Mas eu não deveria estar nem um pouco surpresa. Toda história de princesa tem uma megera e ela normalmente é bonita e extremamente má. Como minha vida estava mais para um conto de fadas do que realidade, já era hora de minha bruxa aparecer, já que nem tudo pode ser um mar de rosas, infelizmente.
— Sobre o que vocês duas tanto conversam?
Joseph. Sempre oportuno!
A máscara de cachorra boazinha de Laika voltou para o mesmo lugar de antes. Eu que não consegui recolocar a minha, digo, não consegui recuperar meu humor, que, se antes não estava bom, pelo menos não era negro. Tremia de cima a baixo e deveria estar até abatida. Discussões sempre acabam comigo, sejam elas veladas ou não.
— Segredinhos femininos, não é, Demi? — cantou ela, altiva.
Elevei meu olhar e a encarei. Laika havia perdido a beleza. Vestidos justos, corpo perfeito, rosto de anjo, nada disso tem significado quando o caráter é uma porcaria.
— Nada disso — retruquei, com um sorrisinho falso. — Besteiras femininas, não é?

Deixei os dois, doida para fugir do baile e chorar sozinha no meu canto.

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DESCULPEM A DEMORA, MAS NÃO ESTOU NEM TENDO TEMPO PRA DORMIR, IMAGINEM PRA POSTAR AQUI D: Cara, estou lotada de projetos e trabalhos na faculdade... Cursar arquitetura em uma das melhores faculdades de arquitetura do país não é fácil não hahah Mas enfim, só queria que soubessem que não vou abandonar o blog e que vou postar sempre que eu puder, ok?!
Ah, e obrigada pelos selinhos, meninas (: vou postar eles aqui depois, porque estou correndo contra o tempo agora... tenho reposição de aula hoje (sábado) e ainda tenho que ler um texto sobre a matéria )':
Anyway, comentem muito ;D Vejo vocês em breve. <4