segunda-feira, 29 de abril de 2013

Chapter 46 / Chapter 47

Joe

Como está sua história com Demetria? Preciso de uma atualização... — diz Lucky. Estamos do lado de fora do velho armazém, vadiando um pouco. — Os caras abriram uma banca de apostas sobre o resultado. E a maioria está jogando em você... Será que estou por fora? Será que eles estão sabendo de alguma coisa que não sei?
Dou de ombros e então olho para Julio, que está brilhando. Também, depois do trato que dei, hoje! Se minha moto falasse, ela me imploraria para salvá-la do Lucky.
Mas não vou espalhar nenhuma informação sobre Demetria... Ao menos por enquanto.
Hector se aproxima, fazendo um sinal a Lucky para dar o fora.
— Precisamos conversar, Fuentes — ele diz, num tom que significa “negócios”. — É sobre aquele favor. Quero que você alugue um carro, na noite de Halloween, para ir até o lugar combinado, receber o carregamento e entregar a grana... Você acha que pode fazer isso?
Meu irmão Josh está certo. Tenho o sangue de papá correndo em minhas veias. Se traficar, eu garanto meu futuro na Sangue... Essa é a herança que meu pai me deixou. Geralmente, as pessoas herdam dinheiro, ou uma empresa familiar. Já eu herdei a Sangue Latino.
— Não existe nada que eu não possa fazer — digo a Hector, apesar de sentir um aperto no coração.
Terei que mentir para Demetria, com toda certeza.
Nossa, o rosto de Demetria se iluminou, quando ela falou da possibilidade de entrarmos na faculdade juntos. E eu não pude dizer a verdade: que continuarei na Sangue Latino, e mais ainda, que estou a um passo de traficar.
Hector me dá um tapinha nas costas:
— Este é o meu irmão! Este é fiel! Eu sabia que, para você, a Sangue Latino está acima de tudo... Até do medo. ¿Somos hermanos, no?
¡Seguro! — respondo, confirmando minha fidelidade a Hector e à Sangue. Não tenho medo de traficar. Mas o tráfico significa o fim de todos os meus sonhos. Quando entrar para o tráfico, estarei atravessando a linha do perigo, ultrapassando o limite para me tornar, realmente, um marginal... Assim como meu papá.
— Oi, Joe — diz Paco, se aproximando.
Puxa, Hector foi embora e eu nem notei.
— O que há?
— Preciso da sua ajuda, companheiro — ele responde.
— Você também?
Ele me lança aquele olhar do tipo “sou-seu-amigo-Paco-e-estou-com-problemas” antes de dizer:
— Vamos dar uma volta.
Três minutos depois, estou num Camaro vermelho, emprestado.
— Você vai dizer que tipo de ajuda quer de mim, ou vai prolongar esse suspense?
— Acho que vou manter o suspense.
Vejo uma placa ao lado da pista, com a inscrição: Bem-vindo a...
— Winnetka? — digo, sem entender nada.
O que Paco veio fazer aqui?
— Confiança — diz Paco.
— Hein?
— É isso que precisa existir, entre dois bons amigos. Confiança, sabe?
Eu me recosto no banco, bastante preocupado. Devo estar parecendo um daqueles personagens de filmes de faroeste, bem ruins. Concordei em receber um carregamento de drogas e agora estou chegando a uma cidade pequena, cheia de gente rica, com um amigo meio maluco, da mesma gangue que eu. Aparentemente, eu não teria motivos para estar aqui.
— Pronto — diz Paco. — Chegamos.
Olho para o lado, vejo outra placa e não acredito:
— Você deve estar brincando!
— Não...
— Se você está pensando em assaltar este lugar, Paco, não conte comigo.
— Não viemos roubar um bando de jogadores de golfe — Paco explica, impaciente.
— Então, por que você me trouxe aqui?
— Por que gosto de golfe. Agora, tire a bunda deste banco e venha me ajudar.
— Estamos no meio de outubro, Paco... Deve estar fazendo uns doze graus, aí fora.
— Tente aguentar o frio... Se eu trouxe você aqui, foi por um motivo importante.
Continuo sentado, pensando em como vou voltar para casa. A pé, demoraria muito. Não sei onde fica o ponto de ônibus mais próximo e... Acho que vou dar uma dura no Paco, por ter me trazido a este maldito campo de golfe.
Saio do carro e vejo Paco tirando um taco de golfe e uma cesta cheia de bolinhas, do porta-malas. Cara, deve ter umas cem delas.
— Onde você arranjou essas coisas?
— Com um cara que aluga... — Paco gira o taco no ar, como se fosse uma hélice. — Quer um? Assim, você pode dar umas tacadas...
— Não.
— Então, fique ali. — Paco aponta para um banco verde, de madeira.
Eu me sento e olho em volta. Há vários caras treinando no gramado. Eles olham para nós dois, meio de lado, meio com medo.
Sei que Paco e eu temos um visual bem diferente deles. Jeans, camiseta, tatuagens e o lenço na cabeça. Quase todos aqui usam camisas de mangas compridas e calças dockers... E nenhum sinal de tatuagem.
Em geral, eu não me importo com isso. Mas, depois daquela conversa com Hector, tenho vontade de ir para casa, de não chamar a atenção. Apoio os cotovelos nos joelhos e fico assistindo Paco bancando o perfeito idiota: ele pega uma pequena bola branca e a coloca sobre um círculo de borracha, fincado no gramado falso. Então gira o corpo, gira o taco... E eu me encolho. Não quero nem ver.
O taco nem rela na bola... Em vez disso, vai se enroscar no gramado falso. Paco solta um palavrão. O cara que está treinando perto dele resolve procurar outro canto.
Paco tenta de novo. Dessa vez consegue acertar, mas a bola apenas rola, alguns centímetros, pelo gramado. Ele continua insistindo, mas, toda vez que gira, parece um palhaço. Será que o Paco pensa que está jogando hóquei?
— Acabou? — pergunto, quando a cesta de bolas já está pela metade.
— Joe... — diz Paco, apoiando-se no taco de golfe, como se fosse uma bengala — você acha que tenho vocação para esse esporte?
— Não — respondo, olhando nos olhos dele.
— Pois ouvi sua conversa com Hector, sabe... E acho que você não tem vocação para traficante.
— Foi por isso que você me trouxe aqui? Para me fazer sermão?
— Foi... E ainda não terminei. — Paco insiste. — As chaves do carro estão no meu bolso. E não vou a lugar algum, enquanto não acabar com todas essas bolas. Então, trate de me ouvir. Não sou esperto como você. Não tenho escolhas a fazer, na minha vida. Mas você é inteligente, pode entrar numa faculdade, pode ser um doutor, um fera na computação, qualquer coisa desse tipo. Assim como não tenho o menor jeito para o golfe, você não tem para as drogas. Então, me deixe fazer isso no seu lugar.
— Sem chance, cara — eu digo. — Obrigado por você vir até aqui e bancar o idiota, só para me dar um conselho. Mas da minha vida cuido eu.
Paco pega outra bola, gira o corpo e dá uma tacada... Mais uma vez, a bola apenas sai rolando pelo gramado.
— Sabe, Joe... Aquela garota, Demetria, é muito linda. Será que ela quer ir para a faculdade?
Entendo a boa vontade de Paco. Sei aonde ele quer chegar. Mas, infelizmente, meu melhor amigo está apenas sendo óbvio.
— Sim... Demetria vai para a Universidade do Colorado, para ficar perto da irmã, a pessoa que ela mais ama.
Paco assovia.
— Tenho certeza de que Demetria vai conhecer muitos caras, no Colorado. Você sabe... caras de verdade, com chapéus de caubói.
Isso me deixa nervoso. Mas não quero pensar nessa possibilidade. Resolvo ignorar Paco, até que voltamos ao carro.
— Quando você vai parar de se meter nos meus problemas? — pergunto.
Ele ri:
— Nunca.
— Então, acho que você não vai se importar se eu me meter nos seus... O que aconteceu entre você e Mi, hein?
— Nós... brincamos um pouco. Mas já acabou.
— Para você, talvez. Mas acho que Mi não pensa assim.
— Bem, isso é problema dela. — Paco liga o rádio e aumenta o volume ao máximo. A música explode nas caixas de som.
Paco nunca namorou ninguém. Porque tem medo de se envolver, de se sentir muito próximo de uma pessoa. Nem mesmo a Mi sabe de todos os abusos que ele sofreu e ainda sofre em casa.
Entendo as razões de Paco para manter distância de uma garota que é tão importante para ele. Entendo mesmo. Porque a verdade é que se a gente chega muito perto do fogo... pode acabar se queimando.

Chapter 47

Demetria

O que você está fazendo aqui, Paco?
O melhor amigo de Joe é a última pessoa que eu esperava ver, em minha casa.
— Eu... meio que preciso falar com você.
— Quer entrar?
— Posso, mesmo? — ele pergunta, evidentemente nervoso. — Você tem certeza?
— Claro.
Bem, provavelmente meus pais não vão gostar... Mas isso é comigo.
Os dois não mudaram de ideia a respeito de Shelley. E estou cansada de fingir, de contemporizar, só por medo dos chiliques da minha mãe.
Este cara, que é o melhor amigo de Joe, me aceita como sou. Tenho certeza de que não foi nada fácil, para ele, vir até aqui.
Abrindo a porta totalmente, convido Paco a entrar. Se ele me perguntar sobre Miley, o que direi? Ela me fez jurar que guardaria segredo.
— Quem está aí, Demi?
— Este é Paco — eu o apresento à minha mãe. — Um amigo do colégio.
— O jantar está na mesa — minha mãe lança a indireta, de um jeito nada discreto. — Diga a seu amigo que não é de bom tom fazer visitas na hora do jantar.
Eu me viro para Paco:
— Quer “beliscar” alguma coisa?
Estou sendo rebelde e me sinto ótima... Aliviada por estar falando o que sinto e penso.
Minha mãe sai pisando duro, em direção à cozinha.
— Hum... não, obrigado — responde Paco, sufocando o riso. — Será que a gente pode conversar? É sobre Joe, sabe?
Ele não me perguntou sobre Miley... Mas não sei se respiro de alívio, ou se fico ainda mais nervosa. Pois se Paco veio até aqui... O assunto é sério.
Conduzo Paco pela casa. Passamos por Shelley, que está na sala, vendo uma revista.
— Shelley, este é Paco, amigo de Joe. Paco, esta é minha irmã, Shelley.
Ao ouvir o nome de Joe, Shelley solta um som agudo, expressando sua alegria.
— Oi, Shelley — diz Paco.
O sorriso de Shelley se torna ainda mais radiante.
Shell-bell, preciso de um favor... — Como resposta, Shelley sacode a cabeça. E eu digo, baixinho: — Quero que você mantenha a mamãe ocupada, enquanto converso com Paco.
Shelley sorri de novo. Sei que posso contar com ela.
Minha mãe aparece na sala e nos ignora ostensivamente, enquanto empurra a cadeira de Shelley em direção à cozinha.
Saio com Paco para o terraço, onde poderemos ter um pouco de privacidade e ficar a salvo de mães bisbilhoteiras.
— O que há?
— Joe precisa de ajuda. E não adianta eu falar, porque ele não vai me ouvir. Um grande carregamento de drogas está para chegar. E Joe vai ser o cara, entendeu? O cara principal na transação. A peça-chave da estória.
— Joe nunca faria isso. Ele não mexe com drogas. Ele me prometeu.
Os olhos de Paco me dizem que as coisas não são bem assim...
— Tentei conversar com Joe, mas não adiantou nada. Essa história está muito estranha, Demetria. O que pediram para Joe fazer... É coisa de tubarões, de grandes traficantes. Não entendo. Juro que não entendo por que Hector resolveu obrigar Joe a entrar nessa... Por que Joe?
— O que posso fazer? — pergunto.
— Diga a ele para achar um jeito de sair fora dessa roubada. É difícil, mas Joe pode conseguir isso.
Diga a ele? Mas como? Joe não aceita ordens de ninguém. Não consigo entender como ele pode concordar em fazer parte dessa transação.
— Demetria, o jantar já esfriou! — minha mãe grita da janela da cozinha. — E seu pai acaba de chegar. Vamos nos sentar e comer, todos juntos, como uma família, só para variar!
Um som de louça se quebrando... E ela é obrigada a interromper a bronca.
Brilhante jogada de Shelley, sem dúvida. Mas isso não vai me impedir de dizer a verdade a meus pais.
— Espere aqui — eu digo a Paco. — A menos que você queira assistir a uma briga da família Ellis.
Paco esfrega as mãos:
— Esta promete ser melhor do que as brigas lá de casa.
— Quem é o seu amigo? — pergunta meu pai, apreensivo.
— Paco, este é papai. Papai, este é meu amigo Paco.
— Oi — diz Paco.
Meu pai responde com um aceno de cabeça. Minha mãe fecha a cara. E eu anuncio:
— Vou sair com Paco.
— Aonde vocês vão? — pergunta meu pai, totalmente confuso.
— Vamos ver Joe.
— Nada disso — diz minha mãe. — Você não vai.
Meu pai ergue as mãos, com cara de quem está realmente boiando.
— Quem é Joe?
— É o outro garoto mexicano de quem lhe falei — minha mãe responde ríspida. — Você não se lembra?
— Não tenho conseguido me lembrar de coisa alguma, nesses dias, Patricia.
Minha mãe se levanta, com o prato na mão, e joga-o dentro da pia. O prato se quebra... E a comida voa para todos os lados.
— Nós sempre lhe demos de tudo, Demetria — diz minha mãe. — Um carro novo, roupas de grife...
Minha paciência chega ao fim:
— Tudo isso é muito superficial, mãe. Claro que, para todos os efeitos, vocês são pais maravilhosos, um casal bem-sucedido... Ao menos é isso que todo mundo pensa. Mas, como pais, vocês realmente são uma lástima. Eu daria um “C” negativo, para o desempenho de vocês. E olhe que vocês têm sorte... Pois, se eu fosse a Sra. Peterson, reprovaria os dois. Por que esse medo, esse horror de ter problemas? Todo mundo tem!
Estou embalada e não consigo parar.
— Escutem, Joe está precisando de ajuda. E se tem uma coisa que faz parte do meu caráter, é minha lealdade com as pessoas a quem amo. Se isso ofende, se isso assusta vocês, sinto muito.
Shelley fica agitada e todos nos voltamos para ela.
— Demetria... — A voz vem do computador acoplado à cadeira de rodas da minha irmã.
Os dedos de Shelley estão ocupados em bater no teclado, buscando as palavras:
— Boa... menina.
Cubro a mão de Shelley com a minha, antes de continuar meu discurso:
— Se vocês quiserem me expulsar de casa, ou me deserdar, por eu ser quem sou... Fiquem à vontade, façam isso de uma vez por todas.
Estou cansada de sentir medo... Medo por Joe, medo por Shelley, medo por mim mesma. Chegou a hora de encarar todos os meus fantasmas, ou acabarei me entregando à aflição e à culpa, pelo resto da minha vida. Não sou uma pessoa perfeita. E é bom que o mundo inteiro saiba disso.
— Mãe, estou indo até o colégio para conversar com a orientadora pedagógica.
Minha mãe contrai o rosto, mostrando seu desagrado.
— Isso é o máximo da estupidez! E ficará registrado em seu histórico escolar, pelo resto da vida. Você não precisa de orientação nenhuma!
— Preciso, sim — eu rebato irredutível. — E você também precisa. Todos nós precisamos.
— Escute bem, Demetria: se você sair por aquela porta... Não precisa voltar.
— Você está sendo rebelde — meu pai intervém.
— Eu sei. E estou gostando de ser. — Pego minha bolsa: é tudo o que tenho... A menos que eu inclua minhas roupas, no inventário. Sorrindo, estendo a mão a Paco. — Você está pronto?
— Sim — ele responde, prontamente, tomando a minha mão. Já no carro, me diz: — Você é valente, menina. Nunca pensei que fosse tão boa de briga.
Paco dirige até a região mais sombria da cidade... E me leva até um velho armazém, num lugar triste e desolado. Olho para o céu, carregado de nuvens pesadas, ameaçadoras. Uma brisa fria começa a soprar. É como se a Mãe-Natureza quisesse nos dar um aviso.
Um cara grandalhão, parado à entrada do armazém, barra a nossa passagem.
— Quem é a garota branca? — ele pergunta.
— Ela está limpa — diz Paco.
O rapaz me olha de cima a baixo, antes de abrir a porta.
— Se ela aprontar vou mandar a conta pra você, Paco — ele avisa.
Tudo o que eu quero é tirar Joe daqui, levá-lo para longe deste lugar onde o perigo parece palpável.
— Oi — diz uma voz masculina, sombria. — Se você quiser alguma coisa para subir o astral, me procure, garota!
— Venha — diz Paco, agarrando meu braço e me conduzindo por um corredor.
Ouço vozes, vindas do lado oposto do armazém... E consigo reconhecer a de Joe.
— Deixe-me falar com Joe... sozinha — eu peço.
— Não é uma boa ideia. Espere até que Hector termine de conversar com ele — Paco me avisa, mas eu não ouço.
Caminho na direção da voz de Joe, que está falando com dois homens. Obviamente, a conversa é séria. Um deles pega uma folha de papel e entrega a Joe... Que só então nota minha presença.
Joe diz algo em Espanhol, ao homem, antes de dobrar o papel e guardá-lo no bolso do jeans. Sua voz soa dura e cruel, tal como sua expressão ao me ver:
— Que diabos você está fazendo aqui? — ele pergunta.
— Eu... realmente...
Não consigo terminar a frase, porque Joe me segura com força pelo braço.
— Você realmente está de saída, agora mesmo. Quem trouxe você aqui, porra?
Estou tentando pensar numa resposta, quando Paco sai da penumbra.
— Joe, por favor. Paco me trouxe, mas a ideia foi minha.
Seu desgraçado! — diz Joe, me soltando e partindo para cima de Paco.
— Não é este o seu futuro, Joe? — Paco pergunta. — Não é aqui que você vai se esconder, quando as coisas se complicarem? Por que está com vergonha de mostrar, à sua novia, o seu segundo lar?
Joe acerta um murro no queixo de Paco, derrubando-o.
Corro até Paco e então me viro para Joe:
— Não acredito que você fez isso! Ele é seu melhor amigo!
— Não quero você aqui — diz Joe.
Um filete de sangue escorre da boca de Paco.
— Você não deveria ter trazido Demetria. — A voz de Joe soa um pouco mais calma, neste momento. — Ela não pertence a este lugar.
— Nem você, meu irmão — Paco responde, em voz baixa. — Agora leve sua garota embora. Ela já viu o bastante.
— Venha — Joe ordena, estendendo a mão para mim.
Em vez de obedecer, seguro o rosto de Paco entre as mãos, para ver a extensão do estrago.
— Minha nossa, você está sangrando — digo, sabendo que estou prestes a surtar. Ver sangue é uma coisa que me deixa doente. Sangue e violência sempre me deram nos nervos, muito além do limite.
Paco afasta, levemente, a minha mão.
— Eu vou ficar bem. Vá com Joe.
Uma voz autoritária soa na penumbra: um homem fala com Joe e Paco, em Espanhol. O autoritarismo impregnado nessa voz me faz estremecer.
Se eu antes não estava com medo, agora estou.
O homem é o mesmo que estava conversando com Joe, quando cheguei. Ele usa um terno escuro, com uma camisa branca por baixo. Vi esse homem rapidamente, no casamento da prima de Joe. Lembro-me de seus cabelos escuros e lisos, penteados para trás. Sua aparência é sombria. Basta um olhar, e já dá para concluir que o cara é poderoso, na Sangue Latino. Dois grandalhões, de cara fechada, o acompanham... Um de cada lado.
— Nada, Hector — Joe e Paco dizem, em uníssono.
— Leve a menina embora, Fuentes.
Joe me dá a mão. Juntos, andamos rápido, em direção à porta do velho armazém. Quando finalmente saímos, um suspiro de alívio me escapa do peito.

~*~

Como amanhã meu dia vai estar cheio e teve dois comentários, postei de novo 2 chapters yaaaay \O/ hahaha
Quarta eu posto o 48, ok?!
E eu só acho que você não vão gostar do que vai acontecer...
Comentem, chuchus <33

Answer:

Demetria Devone Lovato: Exato!!!  u_u A Darlene e o Colin se merecem, são dois idiotas. A próxima fic se chamará Beautiful Disaster... acho que bastante gente já ouvir falar nesse livro. Eu li e achei que deveria postar aqui pra vocês sofrerem de raiva, as vezes, comigo ^^ hahaha bjos

vick: Sim, eles são *--* Cara, eu não conheço não, mas se quiser me falar eu aceito kkkk só não garanto que eu realmente faça a fic, porque tenho surtos de não conseguir desenvolver a história, então... Mas vai que dá certo? ^^ kkkkkk

sábado, 27 de abril de 2013

Chapter 45


Demetria

No sábado à tarde, depois do jogo — que ganhamos, graças a um touchdown de Nick, quatro segundos antes do final —, converso com Selena e as três “M” ao lado do campo. Estamos tentando decidir o local onde comemoraremos a vitória.
— Que tal no Lou Malnati’s? — Morgan sugere.
Todo mundo concorda, porque lá se come a melhor pizza da cidade. Megan, que está fazendo dieta, mal pode esperar pela salada especial da casa. Então, está combinado. Enquanto tratamos da questão logística, ou seja, quem vai com quem, vejo Miley ali por perto, conversando com Maria Ruiz. Resolvo convidar as duas.
— Ei, meninas, vocês querem ir ao Lou Malnati’s com a gente?
Maria franze a testa, com ar confuso. Mas, Miley, não. Ao contrário:
— Claro — ela responde.
Maria olha de Miley para mim... Depois se volta de novo para Miley e fala alguma coisa em Espanhol. Só então responde que irá nos encontrar no restaurante.
— O que Maria disse? — pergunto.
— Ela queria saber por que você nos convidou.
— E o que você respondeu?
— Que eu e você somos amigas... Embora meus amigos mais próximos me chamem de Mi, não de Miley.
— Venha... — Puxo Miley para perto de minhas amigas. Então olho para Selena, que há pouco tempo confessou ter ciúmes de minha relação com ela.
Mas ao invés de agir com frieza, Selena sorri para Miley. E pede que ela mostre como faz o double back flip, naquela sequência da nossa coreografia. Essa atitude só vem confirmar a razão pela qual Selena é minha melhor amiga... E uma grande pessoa. Madison também reage, surpresa, quando anuncio que Maria e Miley vão se juntar a nós, no Lou Malnati’s. Mas não faz comentário algum.
Talvez, apenas talvez, este seja um pequeno passo em direção ao que o Dr. Aguirre chama de “estender uma ponte sobre as diferenças”. Não sou ingênua a ponto de pensar que posso mudar Fairfield apenas com um gesto ou em apenas uma noite. Mas, nas últimas semanas, minha visão sobre algumas pessoas mudou muito. Espero que a visão delas, a meu respeito, também...
Decido me sentar entre Miley e Selena, no Lou Malnati’s. Os rapazes do time de futebol também vieram. E, assim, o restaurante foi praticamente invadido pelos estudantes do Colégio Fairfield. Darlene e Colin acabam de entrar, abraçados, como se fossem um casal. Selena, a meu lado, diz:
— Por favor, diga que Darlene não está com a mão no bolso de trás do Colin... Isso é tão ridículo.
— Não me importo — digo, para tranquilizá-la. Pois Selena parece preocupada com minha reação. — Se eles querem namorar, que sejam muito felizes.
— Ela só está fazendo isso por inveja, pois sempre desejou tudo o que você tinha. Darlene tem uma necessidade doentia de competir. Primeiro tomou sua posição, como líder da torcida. E agora resolveu estender suas garras sobre Colin. Aposto que seu próximo passo será mudar o nome... De Darlene para Demetria.
— Isso é muito engraçado.
— Você fala assim, agora — Selena comenta e, chegando mais perto, acrescenta, baixinho: — Mas não seria nada engraçado se ela de repente resolvesse conquistar o Joe.
— Não mesmo.
Nick entra no restaurante. Todas as mesas e cadeiras estão ocupadas. Selena acena para ele, levanta-se e cede o seu lugar. Depois se senta no colo de Nick. Os dois se acariciam, riem, namoram... E esta é minha deixa para voltar a conversar com Miley.
— Como estão indo as coisas com... você-sabe-quem? — eu pergunto. Não posso pronunciar o nome de Paco. Pois é claro que Miley não quer que Marie saiba de sua paixão por ele.
— Não estão... — ela suspira.
— Por que não? Você não teve uma conversa com Paco, tal como sugeri?
—Não. Ele está agindo como um pendejo, ignorando completamente o que aconteceu naquela noite. E se não falou sobre isso, é porque não quer levar a coisa adiante.
Penso em mim, rompendo com Colin e começando com Joe. A cada vez que ajo de acordo com o que sinto, sem me preocupar em cumprir as expectativas das pessoas, a meu respeito, fico mais forte.
—Corra o risco, Mi... Exponha seus sentimentos. Garanto que vale a pena.
—Você acabou de me chamar de Mi.
—Eu sei... Posso?
— Claro, Demi. — Ela me empurra, de leve, brincando. — Tudo bem!
Falar com Mi sobre Paco faz com que eu me sinta corajosa... E essa coragem me faz pensar em Joe.
Terminamos de comer e começamos a nos despedir. Caminhando até o estacionamento, para pegar meu carro, ligo para Joe, do celular:
— Você sabe onde fica o Club Mystique?
—Sei.
— Então, me encontre lá às nove.
— Por quê? O que vai rolar?
— Você verá — eu respondo e desligo. Só então percebo que Darlene está bem atrás de mim. Será que ela me ouviu, conversando com Joe?
— Vai namorar, hoje à noite? — diz Darlene.
Isso responde a minha pergunta.
— O que fiz, para você me detestar desse jeito? Pensei que fôssemos amigas.
Darlene dá de ombros e joga os cabelos para trás. O gesto, em si, já é um sinal muito claro: não devo mais considerá-la como amiga.
— Acho que me cansei de viver à sua sombra, Demi. E, agora, seu reinado chegou ao fim. Você foi a rainha do Colégio Fairfield, por muito tempo. Chegou o momento de passar a coroa.
— A coroa é toda sua. Faça bom proveito — eu digo.
Darlene nem imagina que nunca desejei essa posição... Ao menos não como uma prioridade, em minha vida. Bem, usei essa posição para aprimorar minha imagem... Só isso.
Às nove, chego ao Club Mystique. Joe, que já estava à minha espera, me segue discretamente. Num dado momento, eu me viro e dou-lhe um caloroso abraço.
— Ei, menina... — ele reage surpreso. — Nós não íamos manter essa história em segredo? Detesto dizer, mas uns caras da zona norte estão bem ali, olhando pra nós.
— Eu não me importo. Não mais.
— Por quê?
— A gente só vive uma vez.
Acho que Joe gostou da minha resposta, porque segura minha mão e a mantém junto à sua, enquanto me conduz até o final da fila para entrar no Mystique.
Está frio, aqui fora. Joe abre a jaqueta de couro e me protege com seu calor, enquanto esperamos nossa vez de entrar.
Olho para ele; nossos corpos estão juntinhos.
— Você vai dançar comigo? — pergunto.
— Claro.
— Colin nunca dançou comigo. Ele não queria...
— Eu não sou Colin, gracinha. E jamais serei.
— Ótimo. Eu tenho você, Joe. E isso me basta. Estou pronta para compartilhar nossa estória com o mundo inteiro.
Já dentro do Mystique, seguimos diretamente para a pista de dança. Ignoro os olhares do pessoal da zona norte, enquanto colo meu corpo ao de Joe... E, assim, começamos a nos mover, ao ritmo da música.
Dançamos em perfeita sintonia, como se tivéssemos passado a vida inteira fazendo isso... Pela primeira vez, não tenho medo do que as pessoas possam pensar sobre nós. No próximo ano estarei na faculdade, com outras pessoas, de outros lugares... E, daí, essa estória de zona norte e zona sul não terá a menor importância.
Troy, o cara com quem dancei na última vez em que estive aqui, me dá um tapinha no ombro. A música está no auge. Até o chão parece vibrar.
— Quem é o fera? — Troy pergunta.
— Troy, este é o meu namorado, Joe... Joe, este é Troy.
— Oi, cara — diz Joe, apertando a mão de Troy.
— Tenho a impressão de que esse cara não vai vacilar como fez o outro — Troy me diz.
Não respondo, porque sinto as mãos de Joe na cintura, nas costas... E é tão bom que ele esteja aqui, comigo.
Acho que Joe gostou quando o apresentei como “meu namorado”. Eu também me senti feliz por dizer isso em voz alta. De costas para ele, eu me aconchego em seu peito, fecho os olhos e me entrego ao ritmo da música, ao movimento natural de nossos corpos.
Dançamos por muito tempo e então resolvemos fazer uma pausa, descansar um pouco. E, assim, deixamos a pista de dança. Pego meu celular e peço a Joe:
— Faça uma pose...
Na primeira foto que bato, Joe está tentando posar como um simpático bad boy. Começo a rir e tiro outra, antes que ele consiga fazer outra pose.
— Agora, uma foto de nós dois — diz Joe, me puxando para bem perto... Encosto meu rosto no dele, enquanto Joe pega meu celular, afastando-o o máximo possível... E então registra este momento perfeito, com um clique. Depois de bater a foto, ele me abraça com força e me beija.
Aconchegada em Joe, dou uma olhada em torno. O Mystique está lotado. No primeiro piso, bem junto ao balcão, está Colin — a última pessoa que eu esperava encontrar aqui. Afinal, ele detesta este lugar. Detesta dançar.
Seus olhos, irados, encontram os meus. E então Colin resolve dar um show, beijando, em grande estilo, a garota ao seu lado: Darlene. Ela retribui o beijo, em grande estilo, enquanto Colin pressiona o corpo contra o dela, Darlene sabia que eu estaria aqui, nesta noite, com Joe. E, obviamente, planejou tudo isso.
— Quer ir embora? — pergunta Joe, ao ver os dois.
Eu me viro para ele e, mais uma vez, fico sem fôlego diante de sua beleza, de seus traços fortes.
— Não. Mas está muito quente, aqui. Tire sua jaqueta.
Ele hesita, antes de dizer:
— Não posso.
— Por que não?
Agora ele parece assustado.
— Fale a verdade, Joe.
Ele afasta uma mecha de cabelos do meu rosto, ajeitando-a delicadamente atrás da minha orelha.
Mujer, este território não pertence à Sangue Latino e sim à Fremont 5, uma gangue rival. Seu amigo, Troy, é um deles.
Como? Quando sugeri que viéssemos aqui, nem pensei em territórios ou gangues. Queria apenas dançar.
— Nossa, Joe! Fiz você correr perigo! — digo, freneticamente. — Vamos embora!
Joe me puxa para perto e sussurra em meu ouvido:
— A gente só vive uma vez... Não foi isso que você disse? Dance comigo de novo.
— Mas...
Ele me interrompe com um beijo tão intenso, que esqueço o medo e o nervosismo. Depois, voltamos à pista de dança. Desafiamos o perigo e dançamos loucamente, bem perto dos tubarões... Mas saímos ilesos. O perigo, à espreita, acabou nos tornando ainda mais próximos.
No banheiro feminino, diante do espelho, Darlene retoca a maquiagem. Eu a vejo. Ela me vê.
— Oi — digo.
Darlene passa por mim, sem uma palavra. Esta é só uma pequena amostra do preço que estou pagando, por ser da zona norte e por ter desafiado os padrões. Mas não me importo.
No final da noite, enquanto Joe me acompanha até o carro, pego sua mão e, olhando para o alto, contemplo as estrelas.
— Se você pudesse fazer um pedido a uma estrela, agora, qual seria? — eu pergunto.
— Eu pediria que o tempo parasse.
— Por quê?
Ele encolhe os ombros.
— Porque assim este momento duraria para sempre. E você, o que pediria?
— Que fôssemos juntos para a faculdade. Enquanto você tenta parar o futuro, eu quero que ele chegue depressa. Não seria maravilhoso, se estudássemos juntos? Estou falando sério, Joe.
Ele se afasta de mim.
— Para quem disse que desejava que as coisas andassem devagar, você está bem adiantada...
— Eu sei. Desculpe, mas não posso evitar. Já escolhi a Universidade do Colorado, para poder estar perto da minha irmã. A clínica para onde meus pais querem mandá-la fica a poucos quilômetros do campus. E não seria nada mal se eu conseguisse conciliar as coisas... Você não acha?
— Sim.
— Verdade?
Ele pressiona minha mão.
— Sou capaz de concordar com qualquer coisa, só para ver você sorrir desse jeito.

~*~

Fui me tocar agora que a fic está quase acabando... deve ter só mais uns 12 chapters e aí acaba.
Cês estão gostando dessa fic? 
A próxima fic que eu vou postar, ~uma adaptação de um livro~ eu confesso que fiquei com raiva muitas vezes enquanto lia kkkkkk
E quero que vocês sofram tanta quanto eu, querendo dar um tapa na casa dos personagens u_u 
hahaha Ou eu que sou idiota e mudo de humor fácil demais lendo livros '-'
Enfim, Comentem suas lindas <33

ps: cadê vocês?? queria que falassem comigo, e comentassem o que estão achando da fic e do blog e sei lá... ):


Answer:

Demetria Devone Lovato: Geralmente as pessoas odeiam spoilers kkkkk mas não vou mais dar dicas porque senão vai perder a graça u_u bjos

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Chapter 44

Joe

Não sei onde Demetria estava com a cabeça quando resolveu me trazer para esta galeria de arte. Ela e Selena param na frente de um quadro e ficam falando coisas que para mim não tem o menor sentido. Estou me sentindo um peixe fora d’água neste lugar.
Agora estou andando sem rumo certo e aproveito para dar uma olhada na enorme mesa cheia de coisas que nem dá para chamar de comida. Ainda bem que almocei antes de vir. Esse tal de sushi, por exemplo... É uma coisa que dá vontade de por no forno para ver se fica comestível. Tudo é tão minúsculo e de repente uma travessa com sanduíches enormes... Vá se entender...
Ainda estou olhando para a mesa quando me batem nas costas.
— Esses devem ser servidos sem wasabi.
Eu me viro e vejo um cara branco, baixo e loiro. Ele me faz lembrar do Cara de Burro e já fico com um pé atrás.
— Sem wasabi... — ele repete.
Se eu soubesse que porra é wasabi, poderia responder. Mas não sei... Então, não respondo. E o cara faz com que eu me sinta um ignorante, dizendo:
— Você não fala Inglês?
Minha mão se fecha, pronta para dar um soco.
É claro que falo inglês, seu idiota. Mas na última vez em que estive numa aula não me lembro de ter ouvido a palavra wasabi.
Em vez de responder, ignoro o cara e me afasto, para olhar os quadros. Paro diante de um que mostra um cão e uma menina, passeando por uma coisa que me parece uma representação meio babaca do planeta Terra.
— Ah, aqui está você — diz Demetria, se aproximando. Nick e Selena estão bem atrás dela.
— Demi, este é Perry Landis... O artista — diz Nick, apontando para o cara que falou comigo e se parece com o Colin.
— Oh, meu Deus! Seu trabalho é incrível! — diz Demetria, toda entusiasmada.
Ela disse “Oh-meu-Deus” como se realmente fosse uma perfeita idiota. Será que está brincando?
O cara vira a cabeça e olha seu quadro, por cima do ombro.
— O que você achou desse? — ele pergunta.
— Acho que esse quadro mostra uma grande compreensão da relação entre o homem, o animal e a Terra.
Ah, francamente! Que papo furado!
Perry enlaça Demetria... Estou com vontade de começar uma briga, bem aqui, no meio da galeria.
— Você é muito profunda...
Profunda é minha bunda. Ele quer é transar com ela... Coisa que, se depender de mim, não vai acontecer nunca.
— Joe, o que você acha? — Demetria me pergunta.
— Bem... — coço meu queixo, enquanto olho para o quadro. — Acho que toda essa coleção pode valer umas três notinhas de um dólar... Bem, um pouco mais... Uns três e cinquenta e está de bom tamanho.
Selena arregala os olhos e leva a mão à boca, em estado de choque. Nick engasga com o drinque. E Demetria? Como será que ela vai reagir?
— Joe, você deve a Perry um pedido de desculpas — ela me diz.
Sim, logo depois que ele me pedir desculpas por me perguntar sobre o tal wasabi. Sem chance...
— Estou fora — digo, voltando as costas a todos eles e caminhando até a saída. — Fui!
Saio da galeria.
Acendo um cigarro que acabei de filar da garçonete que trabalha do outro lado da rua, e que resolveu fazer um intervalo, para fumar e relaxar um pouco.
Penso no tom de voz de Demetria, quando me mandou pedir desculpas. Não sou bom para cumprir ordens. E, porra, detestei ver aquele artista de meia-tigela abraçar minha garota. Sei que todos os caras querem pôr a mão nela, de algum jeito... só para dizer que conseguiram tirar uma onda. Também sou louco por Demetria, também quero tocá-la, claro.
Mas não quero que ela queira mais ninguém... Só eu.
Também não vou aceitar que ela me dê ordens, como se eu fosse um cão amestrado... Nem que me dê a mão apenas quando ninguém está olhando.
Ela disse à minha mãe que vamos descobrir, juntos, o que queremos um do outro.
Bem, de uma coisa tenho certeza: isto, que aconteceu agora há pouco, eu não quero.
— Vi você sair da galeria — diz a garçonete, quando devolvo seu isqueiro. — Mas lá só tem hoiteys...
Wasabi. E, agora, hoiteys. Será que esse povo daqui pensa que realmente não sei falar Inglês?
— Hoiteys? O que é isso?
— Tipos hoitey-toitey... É assim que a gente chama aqueles caretas de colarinho branco, sabe?
— Ah... Bem, definitivamente, eu não sou um colarinho branco... Sou mais do tipo operário [No original: “blue collar”, “colarinho azul”, expressão que significa, de modo geral, operário. (N. de T.)], que acabou vindo com um bando de hoiteys para cá. — Dou uma longa tragada, grato pela nicotina, que me acalma de imediato. Ok, meus pulmões devem estar detonados, mas tenho uma certeza que me consola: provavelmente morrerei antes que meus pulmões resolvam acabar comigo.
— Meu nome é Mandy — diz a garçonete, estendendo a mão e me lançando um sorriso. — Assim como você, sou mais do tipo operário
Seus cabelos são castanhos, com reflexos ruivos. Ela é uma graça... Mas não é Demetria.
— Joe — digo, apertando sua mão.
Mandy olha para minhas tatuagens.
— Eu tenho duas — ela me diz. — Quer ver?
Não, realmente. Tenho a impressão de que Mandy é do tipo que tomou um porre, numa noite qualquer, e resolveu tatuar o peito... ou a bunda.
— Joe! — Demetria grita meu nome, da porta da galeria.
Ainda estou fumando e tentando esquecer que ela só me trouxe aqui porque sou seu pequeno e sujo segredo. Acontece que não quero mais... Cansei de ser esse maldito segredo.
Demetria nos vê... Aqui estamos, Mandy e eu, dois pés-rapados, fumando juntos.
Minha quase namorada atravessa a rua. Seus sapatos de marca ressoam na calçada, como a me lembrar que ela pertence a uma classe superior.
— Esta é Mandy — eu digo a Demetria, só para provocar. — Ela ia me mostrar suas tatuagens, sabe?
— Aposto que sim... — Os olhos de Demetria me acusam. — E você também ia mostrar as suas?
— Estou fora desse drama — diz Mandy, jogando seu cigarro e amassando-o com a ponta do tênis. — Boa sorte para vocês dois. Deus sabe o quanto estão precisando...
Dou mais uma tragada; não queria me sentir assim, tão atraído por Demetria, como estou me sentindo agora.
— Volte para a galeria, querida. Vou tomar um ônibus para casa.
— Achei que iríamos passar um belo dia juntos, Joe, numa cidade onde ninguém nos conhece. Você às vezes não tem vontade de passar despercebido, como se fosse invisível? Acho isso tão bom...
— Pois eu não gostei nem um pouco quando aquele artistinha de merda me confundiu com um garçom. É melhor ser tratado como um bad boy, do que como um capacho.
— Você nem sequer tentou ficar bem, naquela galeria. Se relaxasse, se tirasse esse peso dos ombros, teria se sentido mais à vontade... Você pode ser um deles, Joe.
— Ah, é? Todo mundo parecia de plástico, naquela galeria. Até mesmo você. Ora, acorde, srta. Oh-meu-Deus! Eu não quero ser um deles, entendeu?
— Claramente. E, para sua informação, eu não sou de plástico. Você até pode chamar a minha atitude de “plástico”. Mas, no meu meio, nós costumamos chamá-la de “atenciosa e gentil”.
— Isso no seu círculo social, não no meu. No meu meio, nós chamamos as coisas tal como são. E nunca, ouviu bem, nunca mais me mande pedir desculpas, como se você fosse a minha mãe. Juro, Demetria, que se você fizer isso mais uma vez, vai ser o fim.
Cara! Os olhos dela estão ficando vidrados. Ela me vira as costas... E tenho vontade de me dar um pontapé, por ter magoado essa menina.
Jogo meu cigarro fora.
— Sinto muito. Eu só não queria fazer papel de besta e foi exatamente o que aconteceu, não é? Mas só fiz isso porque não estava me sentindo bem, lá dentro.
Demetria nem me olha. Eu a alcanço, acaricio suas costas... E fico aliviado porque ela não foge de mim.
— Demetria... — eu continuo — adoro estar com você. No colégio, por exemplo... Fico procurando por você, em todos os corredores, por todos os lados. E assim que consigo pôr os olhos nesses seus cabelos de anjo, que parecem raios de sol... — digo, passando meus dedos por eles — sinto que seria capaz de ficar a vida inteira olhando para eles.
— Eu não sou um anjo.
— Para mim, você é. E, se você me perdoar, prometo que vou até aquela galeria, agora mesmo, para pedir desculpas ao cara de bur... ao artista.
Ela arregala os olhos.
— Verdade?
— Sim. Claro que não estou a fim de fazer isso. Mas faço... por você.
A boca de Demetria se curva, num pequeno sorriso:
— Esqueça. Agradeço sua disposição de fazer isso, por mim. Mas você tem razão. O trabalho do cara... não é nada bom.
— Ah, vocês estão aí, crianças — diz Selena. — Estávamos à procura dos dois pombinhos. Vamos pegar a estrada e seguir viagem.
Quando chegamos à cabana da família de Nick, ele bate palmas e pergunta:
— Piscina com hidromassagem... Ou um filme?
Selena olha pela janela, que dá vista para o lago.
— Se você colocar um filme, vou acabar pegando no sono — ela responde.
Estou sentado com Demetria, no sofá da sala, pensando... Esta casa imensa, que Nick chama de cabana, é seu segundo lar. E é bem maior do que a casa onde moro... E tem hidromassagem... Puxa, essa gente rica tem de tudo.
— Eu não trouxe roupa de banho — digo.
— Não se preocupe — diz Demetria. — Nick pode lhe emprestar.
No vestiário da piscina, Nick abre uma gaveta.
— Deixe-me ver... Aqui só tem duas peças que nos serviriam. — Pega um short tipo boxer e também uma pequena sunga Speedo. — Isto serve para você? — pergunta, me mostrando a sunga.
— Isto não daria nem para cobrir a minha bola direita. Vista você... Eu ficarei com este — digo, pegando o short boxer. Só então percebo que as garotas sumiram. — Onde elas foram?
— Trocar de roupa... E falar sobre nós, com toda certeza.
Enquanto entro no pequeno vestiário para me trocar, penso sobre minha vida... Aqui, em Lake Geneva, é fácil esquecer os problemas, ao menos por um tempo.
— Demi vai pagar bem caro, por esse namoro... — Nick me diz, quando saio do vestiário. — As pessoas já começaram a falar.
— Escute, Nicholas... Eu gosto dessa menina, como jamais gostei de alguém, em toda minha vida. Não vou desistir dela. E sabe quando vou começar a me preocupar com o que as pessoas pensam? Quando estiver morto e enterrado.
Nick sorri e estende os braços.
— É isso mesmo, Fuentes. Bem, acho que acabamos de viver um momento de cumplicidade masculina. Quer me dar um abraço?
— Nem pensar, branquelo.
Nick me dá um tapa nas costas e então andamos até a piscina. Cumplicidade... é muito. Mas, apesar de tudo, acho que tivemos um começo de entendimento.
De qualquer jeito, ainda acho que isso não vale um abraço.
— Muito sexy, baby — diz Selena, olhando para a Speedo que Nick acabou de vestir.
Coitado do Nick... Tem que andar gingando, feito um pinguim... Conforto é o que ele não tem, com essa Speedo tão apertada.
— Juro que vou me livrar disso, assim que entrar na piscina — ele resmunga. — Esta maldita sunga está esmagando minhas bolas.
— Não ouvi isso! — diz Demetria, se aproximando, com as mãos nos ouvidos. Seu biquíni amarelo deixa bem pouco para a gente imaginar... Será que Demetria tem noção do quanto está linda? Parece uma flor, pronta para encantar, comover e iluminar qualquer um que puser os olhos nela...
Nick e Selena entram na piscina.
Pulo para dentro e me sento ao lado de Demetria. Nunca estive numa piscina desse tipo, antes. E não sei muito bem o que a gente deve fazer, numa coisa dessas. Será que vamos ficar sentados, conversando, ou vamos nos separar em casais e transar? Prefiro a segunda opção, mas Demetria parece nervosa... Principalmente quando Nick tira a sunga, atirando-a para fora da piscina.
Fico incomodado:
— Qual é, cara...?
— Qual é? Quero ser pai, algum dia, Fuentes. Essa coisa estava cortando minha circulação. consigo entender se você é uma provocadora, e está me gozando, ou se é mesmo tão inocente.
— Não sou uma provocadora.
Ergo uma sobrancelha e então olho para meu baixo ventre, onde a mão de Demetria repousa, tranquila. Acompanhando meu olhar, ela a retira, imediatamente.
— Oh, eu... não queria tocar você, bem aí... Quero dizer, não realmente. Eu só estava... bem... o que quero dizer é que...
— Gosto quando você fica sem jeito — digo, fazendo Demetria deitar-se perto de mim e mostrando minha própria versão de uma massagem sueca... Até que somos interrompidos por Selena e Nick.
Duas semanas mais tarde, recebo um aviso sobre a data do meu julgamento por porte ilegal de arma. Escondo isso de Demetria, porque ela vai surtar, se souber. E vai repetir, mil vezes, que um defensor público pode não ser tão competente quanto um advogado particular. A questão é que não posso pagar pelo trabalho de um cara desses.
Preocupado com meu futuro, entro na escola pela porta principal e de repente alguém me dá um encontrão, quase me fazendo perder o equilíbrio.
— Que droga! — Eu o empurro.
— Desculpe — diz o cara, que parece muito nervoso.
Eu o reconheço, então... É o Garoto Branquelo que conheci na cadeia. Sam aparece, furioso, logo em seguida. E ameaça o branquelo:
— Quer briga, seu babaca?
Dou um passo e me meto entre os dois.
— Sam, qual é o problema? — pergunto.
— Esse pendejo estacionou na minha vaga — diz Sam, apontando para ele.
— Certo. E o que aconteceu depois... Você achou outra vaga?
Sam está inflexível, pronto para acabar com o cara.
— Achei — ele responde, sem entender minha atitude.
— Então, deixe o cara em paz. Eu o conheço... Ele é legal.
Sam reage, surpreso.
— Você conhece esse imbecil?
— Escute... — eu digo, lançando um olhar ao Garoto Branquelo que, para minha felicidade, está usando uma camisa azul, em vez da vermelha... Bem, mesmo com a azul, ele continua meio nerd. Mas ao menos consigo fazer uma cara séria, quando falo: — Este cara já esteve na cadeia, várias vezes. Ele pode até parecer um idiota... Mas apesar desse cabelo e dessa camisa horrorosa, ele é macho pra caramba.
— Você está me gozando, Joe — diz Sam.
Dando de ombros, eu recuo:
— Tudo bem... Depois, não diga que não avisei.
O Garoto Branquelo dá um passo adiante, tentando parecer durão. Controlo a vontade de rir e cruzo os braços, como se esperasse o começo da briga. Meus camaradas da Sangue Latino também esperam, prontos para ver Sam levar a maior surra.
Sam olha para mim, depois para o Garoto Branquelo... E recua.
— Se você estiver me gozando, Joe...
— Dê uma olhada na ficha policial do cara. Roubar carros de luxo é uma das especialidades dele.
Sam fica em silêncio, pensando no que fazer. O Garoto Branquelo não espera. Caminha para mim, dizendo:
— Se você precisar de alguma coisa, Joe, pode contar comigo. — E ergue o punho, num cumprimento.
Faço o mesmo e bato o punho contra o dele.
O Garoto Branquelo se afasta, logo depois. E eu me sinto aliviado porque ninguém notou o quanto ele tremia, quando me cumprimentou.
No intervalo entre o primeiro e o segundo período, encontro o Garoto Branquelo fechando seu armário.
— Você estava falando sério? — pergunto. — É verdade que posso contar com sua ajuda?
— Depois do que aconteceu hoje de manhã, pode sim. Eu lhe devo a minha vida — ele responde. — Não sei por que você resolveu me dar uma força, mas eu estava me borrando de medo.
— Esta é a regra número um: nunca demonstrar medo.
O Garoto Branquelo parece bufar... Acho que esse é o jeito dele rir. Ou isso, ou então ele sofre de sinusite.
— Vou tentar me lembrar disso, na próxima vez que alguém me ameaçar. — Ele estende a mão. — Sou Gary Frankel.
Aperto a mão de Gary e digo:
— Escute, meu julgamento será na próxima semana. E não confio no defensor público. Você acha que sua mãe pode me ajudar?
Gary sorri.
— Acho que sim. Minha mãe é realmente boa. Se você for mesmo primário, ela com certeza conseguirá uma pena leve.
— Eu não posso arcar com...
— Não se preocupe com dinheiro, Joe. Aqui está o cartão dela. Direi a minha mãe que você é meu amigo e ela não cobrará nada.
Enquanto Gary se afasta pelo corredor, penso nessas coisas que têm me acontecido, ultimamente... Como é que um cara tão diferente de mim, como Gary, pode se tornar meu aliado? E como é que uma garota loura pode me fazer olhar para o futuro... de frente?!

~*~

Postei correndo agora, não postarei sexta por falta de tempo, e tento ao máximo postar ou sábado ou domingo. Desculpe-me se tiver erros e por não ter respondido ao comentário. Bjos.

Comentem.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Chapter 43


Demetria

Demi, por favor, explique de novo por que estamos indo pegar Joe Fuentes, para levá-lo conosco a Lake Geneva — diz Selena.
— Minha mãe falou que não devo mais encontrar Joe, fora do colégio... E chegou a me ameaçar. Então, Lake Geneva é um lugar perfeito para estar com Joe. E ninguém saberá disso.
— Exceto nós.
— Mas sei que vocês, crianças, não vão me trair... Certo?
Vejo Nick desviando os olhos. A princípio, a ideia de passar o dia em Lake Geneva, junto com Joe e meus amigos, me pareceu boa.
Achei que seria divertido... Bem, só preciso esperar que Selena e Nick superem o choque inicial de nos ver juntos, como um casal.
— Por favor, não me fale mais sobre isso.
— O cara é um perdedor — diz Nick, guiando em direção ao estacionamento do colégio, onde Joe está esperando por nós. — Demi é sua melhor amiga, Selena... Tente colocar um pouco de bom senso na cabeça dela
— Já tentei, mas você conhece a Demi... Ela é tão teimosa.
Eu suspiro:
— Será que vocês podem parar de falar de mim, como se eu não estivesse presente? Gosto de Joe. E ele gosta de mim. Quero nos dar uma chance.
— E como você pretende fazer isso...? — pergunta Selena — Mantendo a relação de vocês em segredo, para sempre?
Graças a Deus, chegamos ao estacionamento e, assim, eu não preciso responder. Joe está sentado na calçada, ao lado de sua moto, com as longas pernas esticadas. Ansiosa, mordo o lábio inferior enquanto abro a porta traseira para ele.
Quando Joe vê Nick ao volante, com Selena ao lado, seu queixo se contrai.
— Entre, Joe — eu digo, chegando para o lado.
Ele obedece, mas comenta:
— Acho que não vai ser uma boa ideia.
— Não seja bobo. Nick prometeu ser legal... Não é mesmo, Nick?
Espero a resposta, com a respiração suspensa.
Nick balança a cabeça, de um modo impessoal, enquanto diz, num tom monótono:
— Claro.
Tenho certeza de que qualquer outro cara, no lugar de Joe, teria ido embora. Mas ele se acomoda ao meu lado e pergunta:
— Aonde vamos?
— Lake Geneva — respondo. — Você conhece?
— Não.
— Fica a uma hora de distância. Os pais de Nick têm uma cabana, lá.
Até parece que estamos numa biblioteca e não num carro. Ninguém diz uma palavra. Quando Nick para num posto, para abastecer, Joe desce e acende um cigarro.
Eu me afundo no banco. O dia está longe de ser o que eu havia imaginado. Selena e Nick, que geralmente são hilários, quando juntos, estão com cara de enterro.
— Você não pode ao menos tentar conversar um pouco? — pergunto à minha melhor amiga. — Puxa, você é capaz de passar horas falando da sua raça predileta de cachorro... Mas não consegue trocar nem duas palavras com o cara que eu gosto.
Selena se vira no assento, para me encarar:
— Sinto muito, Demi. Mas continuo achando que você merece coisa melhor... Muito melhor.
— Como Colin, você quer dizer?
— Como qualquer um. — Com um suspiro, Selena se vira para a frente.
Joe entra no carro e eu o recebo com um sorriso débil. Ele não me sorri de volta; pego sua mão e pressiono levemente. Joe não retribui o carinho, mas também não se afasta... Este é um bom sinal?
Depois que saímos do posto, Joe diz a Nick:
— Os parafusos da roda esquerda traseira estão soltos. Você não ouviu o barulho?
Nick dá de ombros.
— Faz tempo que esse barulho apareceu... Não é nada grave.
— Encoste que eu dou um jeito nisso. Se a roda sair, na pista, estamos fritos.
Vejo que Nick não confia na opinião de Joe, nem quer dar o braço a torcer. Mas, cerca de um quilômetro e meio depois, ele para, de má vontade, na beira da pista, em frente a uma livraria.
— Nick... — diz Selena, apontando para a livraria — você sabe que tipo de gente frequenta esse lugar?
— Neste momento, querida, eu realmente não estou ligando a mínima. — Ele se vira para Joe. — Ok, chefe. Vá em frente.
Os dois descem do carro.
— Desculpe a bronca — eu digo a Selena. — Sinto muito.
— Eu também... Muito, mesmo.
— Você acha que Joe e Nick podem começar uma briga?
— Talvez. É melhor a gente dar um jeito de distrair os dois.
Joe está tirando algumas ferramentas do porta-malas. Depois de erguer o carro com o macaco, ele pega a chave de rodas. Nick está com as mãos na cintura e o queixo erguido, com uma expressão de desafio.
— O que há, Jonas?
— Não gosto de você, Fuentes.
— E daí? Também não vou com a sua cara. — Joe rebate, ajoelhando ao lado do pneu e apertando os parafusos da roda.
Olho para Selena. Devemos intervir? Selena encolhe os ombros. Eu faço o mesmo. Os dois não chegaram a se pegar... ainda.
Um carro se aproxima e de repente freia, cantando os pneus, bem ao lado do carro de Nick.
Dentro dele, há quatro rapazes de origem hispânica. Joe os ignora, enquanto guarda o macaco de volta no porta-malas.
— Ei, gracinhas! — grita um deles, pela janela. — Deixem esses babacas e venham com a gente! Vamos mostrar a vocês o que é bom!
— Vão se danar! — Nick grita de volta.
Um dos rapazes sai do carro, cambaleante, e avança para Nick. Selena grita algo, mas não estou prestando atenção nela... E sim observando Joe, que tira a jaqueta e bloqueia o caminho do rapaz.
— Saia da frente, cara — o rapaz ordena. — Não vá se rebaixar, protegendo esse branquelo de merda.
Joe está cara a cara com o rapaz, segurando com força a chave de rodas que pende de sua mão.
— Se você ferrar com o branquelo de merda, eu ferro com você... Simples assim. Entendeu, amigo?
Outro rapaz sai do carro. Estamos realmente encrencados.
— Meninas, peguem as chaves e entrem no carro — Joe ordena, num tom firme.
— Mas...
Há uma calma letal nos olhos de Joe. Minha nossa... Ele está mesmo falando sério. Nick joga as chaves para Selena. E agora? Devemos sentar no carro e assistir à briga?
— Não vou a lugar algum — eu digo a Joe.
— Nem eu — diz Selena.
Um dos rapazes, que ficou no outro carro, põe a cabeça na janela:
— José, é você?
Sinto que Joe relaxa, ao vê-lo:
— Tiny? Que diabos você está fazendo com esses pendejos? [Em Espanhol, no original: “pentelho”. Figurativamente, e também no contexto, pessoa covarde, estúpida.]
O rapaz chamado Tiny diz algo em Espanhol a seus amigos que, imediatamente, voltam ao carro. Parecem quase aliviados por não terem que brigar com Joe e Nick.
— Só digo quando você me contar o que está fazendo com esse bando de gringos — diz Tiny.
Joe ri e diz:
— Caia fora daqui.
Quando voltamos ao carro, escuto Nick dizendo a Joe:
— Obrigado por livrar minha cara.
— Não foi nada — Joe resmunga.
Ninguém abre a boca, até que chegamos aos arredores de Lake Geneva. Nick estaciona em frente a um sports bar, para almoçarmos. Selena e eu pedimos salada; Nick e Joe preferem hambúrgueres.
O silêncio continua, enquanto esperamos. Ninguém conversa. Chuto a perna de Selena, por baixo da mesa.
— Hum... Bem... Joe... — ela começa — você viu algum filme bom, ultimamente?
— Não.
— Entrou em contato com alguma universidade?
Joe responde “não”, com um gesto de cabeça.
Para minha surpresa, Nick se levanta e assume o controle da situação.
— Com quem você aprendeu tanto, sobre carros?
— Com Enrique, meu primo — Joe responde. — Eu passava os fins de semana na casa dele, vendo Enrique consertar carros que pareciam não ter mais jeito.
— Meu pai tem um Karmann Ghia 72, na garagem. Ele acha que só mesmo um milagre pode fazer aquele carro voltar a funcionar.
— Qual é o problema com o Karmann Ghia?
Nick explica e Joe o ouve com atenção. Enquanto os dois discutem os prós e contras de comprar peças recondicionadas para o motor, pela internet, eu me recosto na cadeira e relaxo. A tensão de antes vai se desvanecendo ao longo da conversa.
Terminamos de comer e caminhamos pela avenida principal da Lake Geneva. Joe me dá a mão... E não consigo pensar em outra coisa que eu quisesse fazer, a não ser estar aqui, agora, com ele.
— Oh, lá está a nova galeria — diz Selena, apontando uma porta, ao longo da rua. — E parece que estão inaugurando! Vamos ver!
— Legal — eu digo.
— Vou cair fora — diz Joe, enquanto atravessamos a avenida, atrás de Selena e Nick. — Não sou do tipo que se liga em galerias.
Isso não é verdade. Quando será que Joe vai perceber que não precisa viver de acordo com um estereótipo? Se ele entrar numa galeria, é capaz de ficar bem surpreso... Pois vai entender que o ambiente não é nada do que ele imaginava. Joe pode até gostar e se sentir bem, como se estivesse numa oficina.
— Vamos — eu digo, empurrando-o para dentro. E sorrio, interiormente, quando ele entra.
Logo nos deparamos com uma grande mesa, arrumada com requinte, com vários tipos de alimentos. Cerca de quarenta pessoas estão presentes, observando as obras de Arte expostas.
Dou uma volta pela galeria com Joe, que parece tenso.
— Relaxe — eu digo.
— É fácil falar, não? — ele murmura.

~*~

Comecei a escrever uma fic que, provisoriamente, se chamará Bittersweet Symphony. Não sei se irei postá-la... vou ver no que vai dar, e se eu gostar do resultado final, postarei ela aqui depois da próxima Fic que já foi escolhida, ok?!

Answer:

Demetria Devone Lovato: Sim... as coisas vão se complicar um pouco depois -muito-, mas nada que não possa ser resolvido mais tarde... ^^ ~quase dando spoiler~ kkkkkk postei, bjos.