quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Chapter 7


Demetria.


Estou mexendo no meu armário, depois da aula, quando minhas amigas Morgan, Madison e Megan se aproximam. Selena costuma chamá-las de “As 3 M de Fairfield”. Morgan me abraça:
— Oh, meu Deus, você está bem? — ela pergunta, se afastando um pouco para me observar.
— Vi quando Colin defendeu você. Ele é incrível. Você tem muita sorte, Demi — diz Madison. E seus cachos balançam, como se acompanhassem o ritmo das palavras.
— Não foi tão grave assim — digo, cogitando sobre o tipo de boato que a essa altura deve estar correndo... Em contraste com o que realmente aconteceu.
— O que, exatamente, Joe disse? — Megan pergunta. — Caitlin fotografou, com o celular, o momento em que ele e Colin se encontraram no corredor...
— Ei, garotas, não vão se atrasar para o ensaio — grita Darlene, do final do corredor, e desaparece tão rápido quanto chegou.
Megan abre seu armário, que fica perto do meu, e pega seus pompons:
— Detesto o jeito como Darlene bajula a Sra. Small — ela resmunga.
Fecho meu armário e, junto com elas, caminho em direção à quadra.
— Acho que ela está tentando se concentrar na coreografia, para não ficar pensando o tempo inteiro na volta de Tyler à faculdade.
Morgan suspira:
— Sei lá! Eu nem tenho um namorado, mas a minha nota para ela é zero em simpatia.
— Também não sinto a menor simpatia por ela — diz Madison — Falando sério, me digam quando aquela garota não está namorando alguém...?
Ao chegar à quadra, encontramos toda a nossa turma sentada no chão, esperando pela Sra. Small.
Ufa, ainda bem que não estamos atrasadas.
— Ainda não consigo acreditar que Joe Fuentes é seu parceiro em Química — Darlene me diz, baixinho, enquanto me acomodo no lugar vago, ao lado dela.
— Quer trocar de parceiro? — pergunto, sabendo que a Sra. Peterson jamais permitiria.
Darlene põe a língua para fora, num gesto grosseiro e vulgar:
— Nem em sonhos! Eu nunca me envolvo com o pessoal da zona sul. Misturar-se com aquela gente só pode trazer problemas. Você se lembra do que aconteceu no ano passado, quando Alyssa McDaniel começou a sair com aquele garoto... Qual era mesmo o nome dele?
— Jason Avila? — digo, em voz baixa.
Darlene estremece. E confirma:
— Sim... Em poucas semanas, Alyssa deixou de ser a pessoa maravilhosa que era, para virar um peixe fora d’água. As meninas da zona sul a odiaram, por estar namorando um de seus garotos... E ela parou de andar com a gente. O pobre casal ficou totalmente isolado... Graças a Deus, Alyssa rompeu o namoro.
A Sra. Small se aproxima, com seu CD player, reclamando que alguém tirou o aparelho do lugar... E foi por isso que ela se atrasou. Quando a Sra. Small começa o alongamento, Selena cutuca Darlene, empurrando-a para o lado, para poder falar comigo.
— Menina, você está encrencada — diz Selena.
— Por quê?
Selena, minha melhor amiga, tem uma “super” audição e uma “super” visão; sabe tudo o que se passa em Fairfield.
— Há um boato, por aí... — ela me avisa. — Parece que Ashley Greene está à sua procura.
Oh, não. Ashley é namorada de Joe. Tento não enlouquecer, não pensar no pior... Mas Ashley é durona, desde suas unhas pintadas de vermelho, até suas botas de salto agulha. Será que está com ciúmes, por eu ser parceira de Joe em Química? Ou será que ela pensa que delatei seu namorado para o diretor?
A verdade é que não entreguei Joe. Fui chamada à sala do Dr. Aguirre porque hoje de manhã alguém viu o que aconteceu no estacionamento, depois viu nossa discussão na escada e foi contar para ele... O que, por sinal, é ridículo, já que nada de mais grave ocorreu.
O Dr. Aguirre não acreditou em mim. Pensou que eu estivesse muito assustada... E que por isso não contei a verdade. Bem, eu não estava com medo. Mas agora estou.
Ashley Greene pode me pegar, num dia desses. Ela provavelmente sabe como usar armas... Quanto a mim, a única arma que conheço são os meus pompons. E eu seria louca se acreditasse que eles podem assustar uma garota como Ashley.
Talvez eu pudesse me sair bem, numa maratona de palavras. Mas, definitivamente, não numa briga corpo a corpo. Os garotos brigam por conta de um gene inato, primitivo, que os leva a testar sua capacidade física. Talvez Ashley queira provar algo para mim, mas, falando sério, não há necessidade. Afinal, eu não represento nenhuma ameaça. Mas como explicar isso a Ashley? Não posso simplesmente chegar para ela e dizer: “Ei, garota, não pretendo dar em cima do seu namorado. E nunca reclamei dele para o Dr. Aguirre.” Talvez eu devesse fazer isso...
A maioria das pessoas pensa que nada pode me tirar do sério. E eu não vou contar a elas que não é bem assim, que algumas coisas me aborrecem. Trabalhei muito para criar e manter essa fachada... E não estou a fim de perder tudo isso só porque a namorada de um cara — que é membro de uma gangue perigosa! — resolveu me pôr à prova.
— Não estou preocupada com esse assunto — eu digo a Selena.
Minha melhor amiga balança a cabeça:
— Eu te conheço, Demi. Você está super-nervosa — ela murmura.
As palavras de Selena me deixam mais apreensiva do que a ideia de ter Ashley em meu encalço. Pois eu realmente tento, com todo empenho, manter as pessoas à distância... Para que elas não saibam como sou, na verdade... Para que não saibam o que é viver numa casa como a minha. Mas deixo que Selena saiba mais sobre minha vida do que qualquer outra pessoa. Ou eu deveria ser mais reservada, em nossa amizade? Assim, poderia manter Selena a uma certa distância. A uma distância segura.
Eu sei, claro, que estou sendo paranóica. Selena é uma amiga de verdade. No ano passado, chorei muito porque minha mãe sofreu uma crise nervosa... E Selena estava a meu lado, apesar de eu não ter lhe contado o motivo da crise. Ela me confortou, deixou que eu chorasse à vontade, mesmo quando me recusei a contar os detalhes.
Não quero ser igual a minha mãe, não quero acabar desse jeito... Este é o maior medo que tenho, na vida.
A Sra. Small nos manda entrar em formação e aciona o CD player, com a sequência que o pessoal do Departamento de Música compôs especialmente para a nossa turma. É uma mistura de hip-hop e rap, especialmente mixada para a nossa coreografia, que nós batizamos de Big, Bad Bulldogs, pois o símbolo do nosso time é um buldogue. Meu corpo todo vibra com o ritmo. É por isso que eu adoro ser líder de torcida.
A música me conduz e me faz esquecer os problemas de casa. A música é minha droga, a única coisa que me alivia a dor.
— Sra. Small, podemos começar a partir da posição Broken T, em vez da posição T, como fazíamos antes? — pergunto. — A partir daí vamos para o V, Low e High, com Morgan, Miley e Caitlin avançando para a frente. Acho que assim ficará melhor.
A Sra. Small sorri, obviamente encantada com minha sugestão.
— Boa ideia, Demetria. Vamos tentar... Começaremos com a posição com os cotovelos dobrados. Durante a transição, quero Morgan, Miley e Caitlin na primeira fileira. Lembrem-se de manter os ombros relaxados. Selena, por favor, não dobre os pulsos... Eles devem ser uma extensão, uma continuidade dos braços.
— Sim, professora — diz Selena, atrás de mim.
A Sra. Small coloca a música novamente, O ritmo, a letra, os instrumentos... tudo penetra em minhas veias e me ergue, não importa o quanto eu esteja me sentindo triste. Enquanto danço, em sincronia com as outras garotas, esqueço Ashley e Joe e minha mãe e tudo o mais.
A música termina muito rápido. A Sra. Small desliga o CD player, mas eu bem que gostaria de continuar dançando. Na segunda vez em que repetimos, a coreografia sai melhor. Mas há vários movimentos que ainda precisam ser trabalhados. E algumas meninas, novatas, estão tendo dificuldade em aprender os passos.
— Demetria, ensine os movimentos básicos para as novas garotas. E então tentaremos repassar, uma vez mais, a coreografia inteira — diz a Sra. Small, entregando-me o CD player. — Darlene, revise os passos mais difíceis com o resto da turma.
Miley está no meu grupo. E se ajoelha para tomar um gole de sua garrafa de água.
— Não se preocupe com as ameaças de Ashley — ela me diz. — Em geral, Ashley mais late do que morde.
— Obrigada — eu digo.
Miley parece durona, com seu lenço da Sangue Latino, três piercings na sobrancelha e os braços geralmente cruzados sobre o peito, numa postura de quem está sempre pronto a se defender. Mas tem um olhar suave... E está sempre sorrindo. Seu sorriso suaviza a aparência rude. Se ela usasse uma fita pink nos cabelos, em vez do lenço vermelho da gangue, aposto que pareceria bem mais feminina.
— Você está na mesma classe que eu, na aula de Química, não é mesmo? — pergunto.
Ela responde com um gesto afirmativo.
— E você conhece Joe Fuentes?
Ela responde com o mesmo gesto.
— E esses boatos que correm sobre ele... são verdadeiros? — pergunto, cautelosamente, sem saber como Miley vai reagir. Se eu não tomar cuidado, acabarei tendo mais uma no meu encalço...
Os longos cabelos castanhos de Miley se movem enquanto ela fala:
— Depende de que boatos você está falando.
Antes que eu despeje a lista de fofocas sobre o uso de drogas e as prisões de Joe, Miley se levanta e diz:
— Escute, Demetria... Nós nunca seremos amigas. Mas acho importante dizer que apesar de Joe ter se portado muito mal com você hoje, ele não é tão mau como dizem por aí... Nem tão mau quanto ele mesmo se acha.
Antes que eu possa fazer outra pergunta, Miley volta ao seu lugar, na coreografia.
Uma hora e meia depois, quando estamos exaustas, desgastadas — e até mesmo eu acho que já dançamos o suficiente —, somos dispensadas do ensaio.
Faço questão de caminhar ao lado de Miley, que transpira muito, e dizer a ela que foi muito bem, no ensaio.
— Verdade? — ela pergunta, aparentando surpresa.
— Você aprende rápido — eu digo. E é mesmo. Para uma garota que nunca lidou com pompons, antes, ela pegou os movimentos bem depressa. — Por isso coloquei você na fila da frente.
Enquanto Isabel continua de queixo caído com o elogio, eu me pergunto se ela acredita nos boatos que certamente já ouviu, a meu respeito. Não, nós nunca seremos amigas... Mas posso dizer, também, que nunca seremos inimigas.
Digo “até logo” a Miley e vou ao encontro de Selena, que está ocupada com o celular, escrevendo um torpedo para Nick, seu namorado. Caminhamos juntas em direção ao meu carro.
Encontro um pedaço de papel, dobrado, sob o limpador de pára-brisas. Abro: é o folheto de suspensão, que Joe recebeu. Eu o amasso e jogo dentro da minha mochila.
— O que é isso? — Selena pergunta.
— Nada — eu digo, esperando que ela perceba que não estou a fim de falar sobre o assunto.
— Ei! — grita Darlene, correndo em nossa direção. — Vi Colin no campo de futebol. Ele disse para você esperá-lo.
Olho para o meu relógio de pulso. Já são seis horas e preciso ir para casa ajudar Baghda a preparar o jantar de Shelley.
— Não posso — digo.
— Nick respondeu meu torpedo — diz Selena. — E está nos convidando para comer uma pizza, na casa dele.
— Eu vou! — diz Darlene. — Tenho me sentido tão entediada, agora que Tyler voltou a Purdue... Provavelmente, só nos veremos daqui a algumas semanas.
— Pensei que você iria visitá-lo no próximo sábado — diz Selena, que continua a escrever no celular.
Darlene põe as mãos nos quadris.
— Bem, isso foi antes dele me ligar dizendo que precisaria dormir na casa da Fraternidade, por conta de um daqueles rituais malucos de iniciação. Desde que o pênis de Tyler esteja intacto, quando tudo isso acabar, para mim está tudo bem.
Ao ouvir a palavra “pênis” procuro minhas chaves na bolsa. Quando Darlene começa a falar de sexo, o jeito é bater em retirada, porque ela não para nunca mais. E como não costumo compartilhar minhas experiências sexuais, ou a falta delas, com ninguém, é melhor dar o fora... E este me parece o momento perfeito para escapar.
Enquanto giro o chaveiro no dedo, Selena me avisa que vai pegar uma carona com Nick, de modo que voltarei para casa sozinha. Gosto de estar só. Ninguém para me ver ou julgar. Posso até ouvir música, no máximo volume, se quiser. Porém, esse prazer dura pouco, pois meu celular vibra. Tiro-o do bolso e olho o display. Duas mensagens de voz e uma mensagem de texto... Todas de Colin.
Retorno a ligação e ele atende:
— Demi, onde você está?
— A caminho de casa.
— Vá para a casa do Nick.
— Minha irmã está com uma nova enfermeira — explico. — Preciso ajudá-la.
— Você ainda está zangada por eu ter ameaçado aquele marginal que é seu parceiro de Química?
— Não estou zangada. Só aborrecida. Eu disse que podia lidar com a situação, mas você me ignorou totalmente... E provocou aquela cena no corredor. Você sabe que não pedi para ser parceira dele, Colin.
— Eu sei, Demi. Acontece que detesto aquele cara. Por favor, não fique zangada.
— Não estou — eu digo. — Apenas, detestei ver você furioso daquele jeito... E sem nenhuma razão.
— Detestei ver aquele cara falando bem perto do seu ouvido.
Sinto uma dor de cabeça se aproximando... com força total. Não preciso de Colin fazendo uma cena, toda vez que um cara falar comigo. Ele nunca agiu assim, antes. Sua atitude me deixou bem exposta a críticas e fofocas... Coisa que, para mim, é detestável.
— Vamos esquecer isso — eu proponho.
— Por mim, tudo bem. Então, me ligue à noite — ele diz. — Mas se você puder dar um pulo até o Nick, eu estarei por lá.
Quando chego em casa, Baghda está no quarto de Shelley, no primeiro andar, tentando trocar sua calcinha à prova de vazamentos... Mas colocou Shelley na posição errada, com a cabeça onde geralmente ficam os pés, e uma perna pendendo para fora da cama. Em resumo, um desastre. Baghda está arfando, como se essa fosse a tarefa mais difícil que ela já realizou na vida.
Será que minha mãe checou as referências dessa moça?
— Pode deixar que eu faço isso — digo a Baghda, afastando-a para o lado e assumindo o controle da situação. Costumo trocar minha irmã desde que nós éramos crianças. Não é nada divertido trocar as roupas íntimas de uma pessoa que pesa mais do que você. Mas se você fizer direito, isso não levará muito tempo e nem será muito trabalhoso.
Minha irmã abre um imenso sorriso, quando me vê:
— Deee!
Ela não consegue pronunciar bem as palavras, por isso só pronuncia as duas primeiras letras do meu nome, porque é mais fácil pra ela.
— Ei, menina... Como está seu apetite, para o jantar? — pergunto, pegando alguns lenços umedecidos e tentando não pensar no que estou fazendo.
Enquanto ponho uma nova calcinha e um moletom em Shelley, Baghda me observa. Tento explicar tudo em detalhes, enquanto executo a tarefa, mas basta-me um olhar para Baghda, para concluir que ela não está me ouvindo.
— Sua mãe falou que eu poderia ir embora, assim que você chegasse — diz Baghda.
— Tudo bem — respondo, enquanto lavo as mãos. E Baghda desaparece, como num passe de mágica, bem no estilo de Houdini...
Levo Shelley, na cadeira de rodas, até a cozinha que, em geral, é imaculadamente limpa... Mas agora está um caos. Baghda não lavou a louça, que está empilhada na pia, nem limpou direito a bagunça que Shelley fez, quando jogou sua tigela de iogurte no chão.
Preparo o jantar de Shelley e limpo a sujeira.
Com a voz arrastada, Shelley tenta pronunciar a palavra “escola” que na verdade soa como “cola” mas entendi o que ela quis dizer.
— Sim, hoje foi meu primeiro dia de aula — conto a Shelley, enquanto mexo a sopa e coloco-a na mesa. Levo a colher de sopa à sua boca e continuo: — Minha nova professora de Química, a Sra. Peterson, deveria ser monitora de acampamento, sabe? Dei uma olhada em sua planilha... Pelo que vi, não vai se passar uma semana sem que ela nos dê uma prova ou um questionário. Este ano não vai ser nada fácil, menina...
Minha irmã me olha, compreendendo aos poucos o que acabo de dizer. Seu olhar intenso significa que ela está me dando apoio e compreensão, sem que seja necessário falar... Pois Shelley precisa de um esforço imenso para pronunciar cada palavra. Às vezes tenho vontade de apressar as coisas, de dizer as palavras por ela, porque sinto sua frustração como se fosse minha.
— Você não gostou de Baghda? — pergunto, num tom calmo.
Shelley sacode a cabeça, num gesto de negação. E não quer falar sobre o assunto; percebo isso pelo modo com que ela contrai a boca.
— Tenha paciência com Baghda — eu digo. — Não é nada fácil chegar numa casa desconhecida, sem saber ao certo o que fazer.
Quando Shelley termina de tomar a sopa, eu lhe dou algumas revistas. Ela adora revistas. Aproveito que Shelley está ocupada e preparo para mim um sanduíche de queijo. Começo a fazer meu dever de casa, enquanto como.
Escuto a porta da garagem se abrir, no momento em que estou começando meu trabalho sobre “respeito” solicitado pela Sra. Peterson.
— Demi, onde você está? — minha mãe grita, do hall.
—Na cozinha! — eu respondo.
Minha mãe aparece na cozinha, com uma sacola da Neiman Marcus no braço:
— Isto é para você...
Pego a sacola e abro: é um top azul-claro, assinado por Geren Ford.
— Obrigada — eu digo, discretamente, para não fazer muito alarde na frente de Shelley, que não ganhou nada de minha mãe. Não que Shelley pudesse se importar com isso, no momento... Pois está concentrada nas fotos das celebridades mais bem vestidas e mais mal vestidas do ano, nas jóias reluzentes, no glamour estampado numa revista.
— Esse top vai combinar com aquela calça que eu lhe dei, na semana passada — diz minha mãe, retirando do freezer alguns filés e colocando-os no microondas, para que descongelem. — E então, como foram as coisas com Baghda, depois que você voltou para casa?
— Não muito bem — eu digo. — Você realmente deveria ter ficado com ela, nesse primeiro dia, para dar uma orientação, uma assistência. Minha mãe não responde. E isso não me surpreende.
No minuto seguinte, meu pai entra na cozinha, resmungado sobre seus problemas no trabalho. Ele tem uma empresa que fabrica chips para computação. E já nos preveniu, dizendo que este seria um ano de vacas magras. Só que, minha mãe continua fazendo compras, com frequência. E ele me deu um BMW de aniversário.
— O que há para o jantar? — meu pai pergunta, afrouxando o nó da gravata. Parece exausto e desgastado, como sempre.
Minha mãe lança um olhar ao microondas:
— Filés. Steak.
— Não estou com disposição para alimentos pesados — ele diz. — Quero fazer apenas uma refeição leve.
Irritada, minha mãe desliga o microondas:
— Ovos? Espaguete? — Ela faz várias sugestões... em vão.
Meu pai sai da cozinha. Mesmo quando ele está aqui, fisicamente, sua mente continua ligada no trabalho.
—Tanto faz — ele responde, do corredor. — Algo leve, apenas.
Em momentos assim, eu lamento muito por minha mãe, que nunca recebe uma verdadeira atenção do meu pai. Quando ele não está trabalhando, ou em viagem de negócios, parece sempre distante e alheio. Talvez simplesmente não goste de estar com a família.
— Vou fazer uma salada — eu digo, abrindo a geladeira e pegando um pé de alface.
Minha mãe parece grata pela ajuda... Se é que seu pequeno sorriso pode servir de indicação. Trabalhamos, ambas, lado a lado, em silêncio.
Arrumo a mesa, enquanto ela traz a salada, os ovos mexidos e as torradas. Em seguida começa a se queixar, dizendo que não está sendo valorizada... Mas compreendo que ela só quer que eu a escute, sem dar palpites.
Shelley continua entretida com suas revistas, alheia à tensão entre meus pais.
— Na sexta-feira irei para a China, por duas semanas — meu pai anuncia, ao voltar à cozinha, usando moletom e camiseta T-shirt. Senta-se pesadamente no lugar costumeiro, à cabeceira da mesa, e serve-se de ovos mexidos. — Nosso fornecedor de lá está enviando material com defeito... E vou descobrir por que.
— E quanto ao casamento do filho dos DeMaio? Será no próximo fim de semana e nós já confirmamos presença.
Meu pai deixa cair o garfo no prato e olha para minha mãe:
— Sim, tenho certeza de que esse casamento é mais importante do que o bom andamento dos meus negócios.
— Bill, eu não quis dizer isso — minha mãe argumenta, soltando seu próprio garfo no prato. É um milagre que nossos pratos não tenham trincas permanentes. — Apenas, não fica bem cancelar um compromisso desses assim, de última hora.
— Você pode ir sozinha, se quiser.
— E deixar que as pessoas comecem a especular o motivo da sua ausência? Não, obrigada.
Esta é um conversa típica do jantar dos Ellis: meu pai contando sobre o quanto seu trabalho é árduo, minha mãe tentando manter nossa fachada de família feliz, e eu e Shelley quietinhas, nos bastidores...
— Como foi o colégio, hoje? — minha mãe finalmente me pergunta.
— Tudo bem — eu digo, omitindo a parceria com Joe Fuentes. — Minha professora de Química é uma fera.
— Talvez você nem devesse ter aulas de Química, neste ano — meu pai comenta. — Se você não conseguir uma média alta, nessa matéria, seu histórico escolar estará irremediavelmente comprometido. A Northwestern é uma universidade difícil... E eles não vão facilitar as coisas para você, só porque eu estudei lá.
— Eu sei, papai — digo, agora me sentindo totalmente deprimida. Se Joe não levar nosso projeto de Química a sério, como poderei tirar um “A”?
— A nova enfermeira de Shelley começou hoje — diz minha mãe. — Você se lembrou disso, Bill?
Meu pai dá de ombros. Quando a última enfermeira se demitiu, ele disse que deveríamos internar Shelley numa instituição. Não me lembro de ter gritado tanto, em minha vida, como naquele dia. Pois eu nunca deixaria que mandassem Shelley para um lugar onde ela pudesse ser negligenciada ou incompreendida. Preciso manter um olho nela, o tempo inteiro. Por isso é tão importante, para mim, entrar na Northwestern, que é aqui perto. Ficando próxima de casa, posso continuar morando aqui, posso me certificar de que meus pais não mandarão Shelley embora.
Às nove, Megan me liga para se queixar de Darlene. Diz que Darlene mudou muito, durante o verão, e agora está se achando o máximo, só porque começou a sair com um cara da Universidade. Às nove e meia, Darlene me liga para dizer que acha que Megan está com ciúmes, só porque ela está saindo com um cara da Universidade. Às nove e quarenta e cinco, Selena me liga para dizer que conversou com Megan e também com Darlene, nesta noite... E que não devemos nos envolver nessa história... Eu concordo, mas acho que já nos envolvemos.
Às dez e quarenta e cinco, finalmente termino meu texto sobre “respeito” para entregar à Sra. Peterson, e então ajudo minha mãe a pôr Shelley na cama. Estou tão exausta, que minha cabeça parece prestes a se desprender do pescoço e cair... me enfio na cama, depois de vestir o pijama, e ligo para Colin.
— Ei, baby — ele diz. — O que você andou fazendo?
— Não muita coisa... Estou na cama. E você se divertiu, lá no Nick?
— Nem tanto quanto eu me divertiria, se você estivesse junto.
— Quando você voltou?
— Há mais ou menos uma hora. Estou tão feliz por você me ligar!
Puxo meu edredom até o queixo e afundo a cabeça no meu travesseiro macio.
— É mesmo? — digo, num tom sedutor, tentando ganhar um elogio. — E por quê?
Faz muito tempo que ele não diz que me ama. Sei que ele não é a pessoa mais carinhosa deste mundo... Meu pai também não. Mas preciso ouvir isso de Colin. Quero que ele diga que sentiu minha falta. Que sou a garota dos seus sonhos.
Colin limpa a garganta, antes de dizer:
— Nós nunca fizemos sexo por telefone, não é, Demi?
Bem, não eram essas as palavras que eu esperava ouvir. Mas não devo me decepcionar, nem me surpreender. Afinal, Colin é um rapaz. E sei que os rapazes só pensam em fazer sexo e se divertir. Hoje à tarde, quando li o que Joe escreveu no meu caderno, sobre ter sexo quente, senti algo esquisito, que logo sufoquei... Claro que ele nem imagina que sou virgem.
Colin e eu nunca fizemos sexo. Nem de verdade, nem por telefone. Chegamos bem perto disso, em abril do ano passado, na praia, nos fundos da casa de Selena... Mas eu me acovardei. Não estava preparada.
— Sexo por telefone?
— Sim... Comece a se tocar, Demi. E, depois, me conte o que estiver fazendo. Isso vai me deixar muito excitado.
— E o que você vai fazer, enquanto eu estiver me tocando? — pergunto.
— Ora, o que você acha que farei... meu dever de casa? Vou me masturbar, é claro.
Começo a rir... Um riso que é mais nervoso do que divertido, pois não nos vemos há algum tempo, nem sequer conversamos muito... E agora ele quer que a gente passe do simples “olá, que bom nos encontrarmos depois de um verão inteiro separados” para “comece a se tocar enquanto me masturbo” em um só dia. Sinto-me no meio de uma música de Pat McCurdy.
— Ora, vamos, Demi — diz Colin. — Encare isso como um ensaio, antes de partirmos para a prática real... Tire sua camisola e comece a se tocar.
— Colin... — eu digo.
— O quê?
— Desculpe, mas não vou fazer isso... Ao menos não neste momento.
— Tem certeza?
— Sim... Você ficou zangado?
— Não — ele responde. — Mas achei que isso seria bom para esquentar um pouco o nosso relacionamento.
— Eu nem sabia que estávamos frios.
— Os estudos, os treinos, os encontros com a turma... Acho que depois de passar o verão fora, não aguento mais a velha rotina. Pratiquei esqui aquático, wakeboarding e viagens off-road... Coisas que fazem o coração bater e o sangue bombar, você sabe... Pura adrenalina!
— Parece incrível.
— E foi mesmo. Demi...?
— Sim?
— Estou pronto para essa viagem de adrenalina... com você.

~*~

Esqueci de avisar que ia ter uns Hots na fic. Mas nada muito "rawr" kkkk mas enfim, quem não gosta de Hot (ou Hentai, para aqueles que liam/leem fics no fanfiction), não se preocupem que não conta muito (:

Cês podiam comentar né?! ): 

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Chapter 6


Joe.

Ok, eu não deveria ter detonado a garota, na tal apresentação.
Sábado à noite... Você e eu... Aulas de direção e sexo ardente...
Escrever isso no caderno dela provavelmente não foi uma manobra inteligente. Mas eu estava louco para fazer a Pequena Miss Perfeição vacilar, quando me apresentasse à classe... E ela está vacilando!
— Srta. Ellis?
A Pequena Miss Perfeição olha para Peterson e eu observo tudo, me divertindo muito. Oh, ela é ótima... Essa minha parceira sabe como esconder suas verdadeiras emoções, coisa que reconheço muito bem, porque faço isso o tempo inteiro.
— Sim? — diz Demetria, inclinando a cabeça e sorrindo como se fosse a rainha da beleza. Será que ela continuaria a sorrir assim, se recebesse uma multa por excesso de velocidade?
— É sua vez. Apresente Joe à classe.
Apoio o cotovelo na mesa, esperando para ver: será que Demetria vai mesmo fazer a tal apresentação, ou vai confessar que não sabe nada a meu respeito? Ela me olha: estou sentado, confortavelmente... Vejo, por seu olhar de ansiedade e pânico, que consegui deixá-la bastante perturbada.
— Este é Joseph Fuentes — ela começa, com um leve tremor na voz. Fervo por dentro enquanto ela diz meu nome de batismo, mas mantenho a pose durante a apresentação.
— Nesse verão, enquanto não estava vagabundando pelas esquinas ou perturbando pessoas inocentes, ele fez uma turnê pelas cadeias da cidade, se é que vocês me entendem. Mas Joe tem um desejo secreto que ninguém, jamais, poderia imaginar.
De repente, a classe inteira fica em silêncio. Até mesmo a Sra. Peterson está ligada... Que inferno! Escuto as palavras mentirosas, brotando dos lábios pink de Demetria... E elas parecem verdadeiras!
— O desejo secreto de Joseph Fuentes... — ela continua — é ir para a Universidade e tornar-se um professor de Química, assim como a Sra. Peterson.
Ok, tudo bem. Olho para minha amiga Mi, que parece se divertir ao ver que a garota branca não tem medo de me provocar, diante de toda a classe.
Demetria me lança um sorriso triunfante, pensando que ganhou este round.
Tente outra vez, gringa.
Eu me levanto, enquanto a classe continua em silêncio.
— Esta é Demetria Ellis — digo, agora com todos os olhares voltados para mim. — Nesse verão, ela foi ao shopping, comprou muitos modelos novos para incrementar seu guarda-roupa e gastou o dinheiro do papai numa cirurgia plástica, para melhorar sua... — faço uma pausa de efeito, antes de terminar: — fachada.
Pode não ser o que ela escreveu... Mas, provavelmente, isso está bem perto da verdade... Ao contrário da apresentação que ela fez sobre mim.
Meus amigos riem, no fundo da sala.
Demetria está a meu lado, dura como uma tábua; parece que minhas palavras feriram seu precioso ego.
Demetria Ellis está acostumada a ser bajulada por todo mundo... Mas bem que podia acordar, de vez em quando. Estou realmente lhe prestando um favor. E mal sabe ela que ainda não terminei a apresentação.
— Seu desejo secreto... — acrescento, provocando em Demetria a mesma reação que ela provocou em mim, quando me apresentou — é namorar um mexicano, antes da formatura.
Tal como eu esperava, minhas palavras provocam comentários e alguns assovios, no fundo da sala.
— Muito bem, Fuentes! — grita meu amigo Lucky.
— Quer namorar comigo, gracinha? — diz outro.
— Toque aqui... — Ergo minha mão espalmada. Marcus, outro membro da Sangue Latino, sentado logo atrás de mim, faz o mesmo. Batemos nossas mãos, uma contra a outra, e é então que percebo Mi, meneando a cabeça, como se eu tivesse feito algo errado... Ora, estou apenas me divertindo com uma garota rica da zona norte.
Demetria olha para Colin e depois para mim. Encaro Colin e, com os olhos, lhe digo: o jogo começou. No mesmo instante ele fica vermelho como uma pimenta. Definitivamente, acabo de invadir seu território. Ótimo!
— Silêncio, classe! — diz a Sra. Peterson, num tom ríspido. — Agradeço as apresentações, muito criativas e... esclarecedoras. Quanto à Srta. Ellis e ao Sr. Fuentes... Façam o favor de conversar comigo, depois da aula. Fui clara?
— Além de causar espanto, a apresentação de vocês foi uma falta de respeito, tanto para mim quanto para seus colegas — diz a Sra. Peterson, após a aula. Eu e Demetria estamos diante da mesa dela. — Vocês têm uma alternativa... — Ela pega dois daqueles formulários azuis, de suspensão. Com a outra mão, segura nossos cadernos. — Vocês podem receber uma suspensão, hoje, ou então escrever, a mão, um ensaio de quinhentas palavras sobre “respeito” para amanhã. O que vão escolher?
Escolho o formulário da suspensão. Demetria — veja só! — escolhe o caderno.
— Vocês têm alguma objeção quanto ao critério que usei para escolher os parceiros de Química? — pergunta a Sra. Peterson.
Demetria responde “sim” enquanto eu, ao mesmo tempo, digo “não”.
A Sra. Peterson tira os óculos, colocando-os sobre a mesa:
— Escutem, é melhor que vocês resolvam suas diferenças, antes do final do ano letivo. Demetria, eu não vou trocar o seu parceiro. Vocês dois estão no último ano do curso secundário e terão que lidar com muitas pessoas, de personalidades bem diferentes, depois que se formarem. Se não quiserem frequentar o curso de verão, depois de serem reprovados em minha matéria, sugiro que trabalhem juntos, em vez de entrarem em conflito. Agora, tratem de se apressar para a próxima aula.
Com isso, saio da sala de Peterson e caminho ao lado da minha parceira de Química pelo corredor.
— Pare de me seguir — diz Demetria, asperamente, olhando por sobre o ombro para ver se alguém está nos observando.
...Como se eu fosse el diablo em pessoa!
— Use mangas compridas, no sábado à noite... Faz muito frio, na garupa da minha moto. E você pode pegar uma gripe — digo, sabendo que ela está no limite da sua sanidade. Não costumo mexer com garotas brancas, mas até que estou gostando de provocar esta, a mais popular, a mais cobiçada, entre todas... Ela realmente me interessa.
— Escute, Joe... — diz Demetria, virando-se de súbito para mim, com aqueles cabelos, que parecem ter sido beijados pelo sol, caindo abaixo dos ombros. Ela me encara, com uma expressão gélida nos olhos claros. — Não costumo sair com garotos de gangues. E não uso drogas.
— Eu também não saio com garotos de gangues — digo, me aproximando dela ainda mais. — E não sou usuário de drogas.
— Sim, tudo bem; me surpreende o fato de você não estar numa clínica de recuperação, ou num reformatório para delinquentes juvenis.
— Você acha que me conhece, não é mesmo?
— Conheço o suficiente. — Ela cruza os braços, mas então olha para baixo, como se percebesse que essa postura faz com que seus peitos pareçam bem maiores... E solta os braços ao longo do corpo.
Eu me esforço ao máximo para não focar esses peitos, enquanto avanço mais um passo.
— Você me entregou para o Aguirre?
Ela recua um passo:
— E daí, se eu fiz isso?
Mujer, você está com medo de mim. — E isto não é uma pergunta. Só quero ouvir, dos próprios lábios de Demetria, o motivo desse medo.
— A maioria dos alunos deste colégio têm medo de olhar para você de um jeito “errado” e levar um tiro... Se é que você me entende.
— Se isso fosse verdade, minha espingarda estaria soltando fumaça, neste exato momento... Então, por que você não está fugindo deste mexicano durão, hein?
— Dê-me uma pequena chance de fazer isso... E eu farei.
Bem, já perdi tempo demais com essa cadelinha. É hora de me aprumar e mostrar quem é que manda aqui. Diminuo ainda mais a distância entre nós e murmuro em seu ouvido:
— Encare os fatos, garota: sua vida é muito perfeita. Você provavelmente acorda no meio da noite... E fica fantasiando sobre o que fazer para tornar um pouco mais animado aquele lugar imaculado onde você vive...
Mas, droga, sinto um cheiro de baunilha, que talvez venha do perfume que ela usa. Isso me faz lembrar de uns biscoitos... Adoro biscoitos, o que significa que eles não são muito bons.
— Ficar perto do fogo, niña, não significa, necessariamente, que você vai se queimar.
— Toque nela e se arrependerá amargamente, Fuentes — Colin avisa. Ele parece um burro, com seus grandes dentes brancos e as orelhas despontando em meio ao ridículo corte de cabelo. — Trate de ficar bem longe dela.
— Colin... — diz Demetria — tudo bem... Posso lidar com isso.
O Cara de Burro trouxe reforços: três outros caras de cara branca e pastosa, que se colocam em volta dele, formando uma retaguarda. Observo Cara de Burro e seus amigos, para ver se sou capaz de dar conta de todos... Não vai ser fácil, mas acho que posso derrotá-los.
— Ouvirei suas asneiras quando você tiver tamanho para jogar nos grandes times, garoto — eu digo.
Alguns estudantes formam um círculo à nossa volta, deixando-nos espaço para a briga, que promete ser rápida, furiosa e sangrenta. Mal sabem eles que o Cara de Burro sempre foge desses confrontos. Mas, agora, que tem retaguarda, talvez resolva encarar...
Estou sempre preparado para o perigo; já briguei muitas vezes, nessa vida. Tenho cicatrizes que provam isso.
— Colin, não vale a pena brigar com ele — diz Demetria.
Oh, obrigado, gracinha. Então você voltou?
— Você está me ameaçando, Fuentes? — grita Colin, ignorando a namorada.
— Não, imbecil — respondo, encarando-o. — Apenas caras frouxos, como você, fazem ameaças.
Demetria se coloca na frente de Colin e põe a mão em seu peito.
— Não ligue para ele — diz ela.
— Não tenho medo de você. Meu pai é advogado — Colin se gaba, enlaçando Demetria. — E esta garota é minha. Nunca se esqueça disso.
— Então, veja se consegue controlar a menina... — eu aviso senão, é capaz dela ficar tentada a encontrar outro dono.
Meu amigo Paco se aproxima:
— Tudo bem, Joe?
— Sim, Paco — respondo, um momento antes de ver dois professores se aproximando pelo corredor, acompanhados por um policial. É isso que Colin Adams quer: me dar um bom chute no traseiro e me expulsar deste colégio. Não vou cair nessa armadilha; não quero acabar na lista negra de Aguirre.
— Sim, tudo bem. — Eu me viro para Demetria. — Vejo você mais tarde, gracinha. Estou ansioso para fazer uma pesquisa sobre a nossa química.
Demetria ergue o queixo, com ar superior, e me olha como se eu fosse a escória da raça humana... Eu me afasto e, assim, me livro de uma segunda suspensão.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Chapter 5 + Heart Attack


Demetria

Ligo meu celular e telefono para casa, antes da aula de Química, para saber como vai minha irmã. Baghda não está nada feliz, porque Shelley teve um ataque depois de provar o almoço. Pelo que entendi, Shelley jogou sua tigela de iogurte no chão, em sinal de protesto.
Seria demais esperar que minha mãe tirasse um dia de folga no country club, para cuidar da adaptação de Baghda em nossa casa?
O verão começou oficialmente. E não posso estar em casa para cobrir as falhas da nova enfermeira de Shelley.
Eu bem que deveria me concentrar mais nos meus objetivos. Entrar na mesma universidade que meu pai cursou, a Northwestern, é minha meta principal. Assim, poderei estudar perto de casa e ter mais tempo para ficar com minha irmã.
Depois de fazer algumas sugestões a Baghda, respiro fundo, colo um sorriso nos lábios e vou para a classe.
— Ei, baby, guardei um lugar para você. — Colin me mostra um assento ao seu lado.
Mesas altas, de laboratório, com dois lugares cada uma, estão dispostas na sala. Isso significa que vou me sentar ao lado de Colin, nas aulas de Química, durante o resto do ano. Significa também que faremos, juntos, o tão temido projeto sênior de Química.
Sentindo-me uma tola por ter pensado que as coisas não estavam bem entre nós, eu me acomodo no banco alto, e pego meu pesado livro de Química.
— Ei, veja, Fuentes está na nossa classe! — diz um garoto, no fundo da sala. — Ei, Joe, venha para cá!
Tento não olhar enquanto Joe cumprimenta seus amigos com tapinhas nas costas e apertos de mão complicados demais para serem repetidos.
A presença de Alex atrai todos os olhares.
— Ouvi dizer que ele foi preso na semana passada, por posse de metanfetamina — Colin cochicha ao meu ouvido.
—Não!
— Sim — ele diz, erguendo as sobrancelhas.
Bem, essa notícia não deveria me surpreender. Ouvi dizer que Joe sempre passa os fins de semana drogado, desmaiado, ou envolvido em alguma atividade ilegal.
A Sra. Peterson entra na sala e fecha a porta, com um estrondo. Todos os olhares se movem, do fundo da sala, onde Joe e seus amigos estão sentados, até a frente, onde está a Sra. Peterson, em pé. Ela tem cabelos castanhos-claros, presos num rabo-de-cavalo bem apertado. Deve ter quase trinta anos, mas os óculos e a expressão de perpétua severidade fazem com que pareça bem mais velha.
Ouvi dizer que ela ficou assim, muito brava, porque no primeiro ano em que lecionou aqui os alunos a fizeram chorar. Também, eles não respeitariam uma professora jovem o suficiente para ser sua irmã mais velha.
— Boa tarde. Sejam bem-vindos à aula de Química. — Ela se senta na borda da mesa e abre uma pasta. — Vejo que já escolheram seus lugares; mas acontece que eu mesma resolvi organizar os assentos... em ordem alfabética.
Reclamo, junto com toda a classe, mas a Sra. Peterson não perde a moral... Parando em frente à primeira mesa, diz:
— Colin Adams, sente-se aqui. Sua parceira será Darlene Boehm.
Darlene Boehm faz parte do grupo de torcida do colégio, junto comigo. Sou a líder e ela é uma espécie de co-capitã, ocupando a segunda posição, no grupo. Darlene me pisca um olho, como se pedisse desculpas, e senta-se ao lado do meu namorado.
Enquanto a Sra. Peterson vai lendo a lista, os estudantes relutantemente se deslocam para os lugares por ela designados.
— Demetria Ellis... — A Sra. Peterson, aponta para a mesa atrás de Colin. — Queira sentar-se ali, por favor.
Sem nenhum entusiasmo, obedeço.
— Joe Fuentes... — E ela indica o banco ao meu lado. — Ali.
Oh, meu Deus! Joe... meu parceiro de Química durante este ano inteiro? De jeito nenhum, não há como, isso não está direito!
Lanço a Colin um olhar que é um pedido de socorro, enquanto tento evitar um ataque de pânico. Definitivamente, eu deveria ter ficado em casa, na cama, debaixo das cobertas.
— Joe — ele diz à professora — me chame de Joe.
Interrompendo a leitura da lista, a Sra. Peterson ergue os olhos e o observa, por cima dos óculos.
Joe Fuentes — ela diz, antes de alterar o nome, na lista. — Sr. Fuentes, tire esse lenço. Tenho uma política de tolerância-zero, em minhas aulas. Não permito qualquer tipo de acessório relacionado a gangues, nesta sala. Infelizmente, Joe, sua reputação fala por você. Quanto ao Dr. Aguirre, ele apoia totalmente minha política de tolerância-zero... Fui clara?
Joe a olha de cima a baixo, antes de fazer deslizar o lenço que traz na cabeça, expondo cabelos tão negros quanto seus olhos.
— É para esconder os piolhos — Colin cochicha para Darlene, mas eu o escuto... E Joe também.
— Vete a la verga [Não meta o focinho onde não é chamado. Em Espanhol, no contexto: “Vá para o inferno.” (N. de T.)] — diz Joe a Colin, com os olhos negros incandescentes de raiva.
Qual é, cara? — Colin rebate. E então se dirige a todos: — Ele nem sabe falar Inglês.
— Já chega, Colin. Sente-se, Joe. — A Sra. Peterson olha para o resto da classe. — Isso vale para todos vocês. Não posso controlar o que fazem fora daqui, mas, na minha aula, quem manda sou eu. — E volta-se para Joe. — Fui clara?
— Sí, señora — ele responde, lentamente.
A Sra. Peterson continua a ler a lista, enquanto faço de tudo para evitar qualquer tipo de contato visual com o cara sentado ao meu lado. Foi uma pena deixar minha bolsa no meu armário; eu poderia fingir que estava procurando alguma coisa, como fez Selena, nesta manhã.
— Que droga — Joe resmunga, mais para si mesmo. Sua voz é sombria e áspera... Ou será que ele fala desse jeito, de propósito?
Como vou explicar à minha mãe que sou parceira de Joe Fuentes?
Oh, Deus, espero que ela não pense que isso aconteceu por minha culpa.
Olho para meu namorado, totalmente entretido numa conversa com Darlene. Sou tão ciumenta! Por que meu sobrenome não é Allis, em vez de Ellis? Assim eu poderia me sentar ao lado dele.
Seria bom se Deus desse a cada pessoa um Do Over Day: um dia para corrigir o que está errado, para reviver o que é bom. E então a gente poderia gritar: “Recomeçando!” E um novo dia teria início. Hoje é um dia em que eu, definitivamente, faria isso: começaria tudo de novo. Será que a Sra. Peterson realmente acha justo colocar a líder da torcida organizada como parceira do cara mais perigoso do colégio? Ela só pode estar delirando!
A Sra. Delirante termina, finalmente, de designar os lugares.
— Sei que vocês, estudantes do último ano, pensam que sabem tudo. Mas não se considerem pessoas bem-sucedidas... Não antes de contribuir para a cura de doenças que afligem a humanidade, não antes de fazer da Terra um lugar mais seguro para se viver. A Química tem um papel crucial no desenvolvimento de remédios, nos tratamentos de radiação para pacientes com câncer, na utilização do petróleo, na camada de ozônio.
Joe levanta a mão.
— Sim, Joe? — diz a professora. — Quer fazer uma pergunta?
— A senhora está dizendo que o presidente dos Estados Unidos não é um homem bem-sucedido?
— Estou dizendo que dinheiro e status não são tudo. Use seu cérebro para fazer algo pela humanidade, ou pelo planeta onde vive. Aí, sim, você será um homem bem-sucedido e ganhará meu respeito, coisa da qual pouca gente pode se gabar.
— Tenho algumas coisas de que posso me gabar, Sra. Peterson — diz Joe, obviamente se divertindo.
A Sra. Peterson ergue a mão:
— Por favor, poupem-nos dos detalhes, Joe.
Francamente, se Joe pensa que o fato de hostilizar a professora vai nos render uma boa nota, está enganado. É óbvio que a Sra. Peterson não gosta de espertinhos... E que meu parceiro já está na sua mira.
— Agora... — diz a Sra. Delirante — quero que cada um olhe para a pessoa sentada a seu lado.
Oh, tudo menos isso. Mas não tenho escolha. Olho de novo para Colin, que parece bastante satisfeito com a parceira que a professora escolheu para ele. Darlene já tem um namorado... Senão, eu a questionaria, seriamente, sobre por que ela está se inclinando desse jeito para Colin, ou jogando os cabelos para trás, tantas vezes seguidas. Digo a mim mesma que estou sendo paranóica.
—Vocês não precisam gostar do parceiro — diz a Sra. Peterson. — Mas terão de trabalhar juntos, durante os próximos dez meses. Reservem cinco minutos para se conhecer e, então, cada um apresentará seu parceiro, para toda a classe. Falem sobre o que fizeram durante o verão, se têm hobbies, ou sobre qualquer outra coisa interessante ou original, que talvez seus colegas não saibam... Seus cinco minutos começam agora.
Abro meu caderno e o empurro na direção de Joe:
— Escreva alguma coisa sobre você, aqui, e eu farei o mesmo no seu caderno.
Antes isso, do que tentar conversar com ele.
Joe acena em concordância — embora eu perceba uma leve contração, nos cantos de sua boca — e me dá seu caderno. Será que imaginei esse riso, ou ele realmente aconteceu? Respiro fundo, afasto esse pensamento e me concentro em escrever, até que a Sra. Peterson nos pede para parar e ouvir as apresentações.

— Esta é a Darlene Boehm — diz Colin, o primeiro a falar.
Mas não escuto o resto do discurso de Colin sobre Darlene, sua viagem à Itália, suas aulas de dança neste verão. Em vez disso, olho para o caderno que Joe me devolve e, de queixo caído, leio o que ele escreveu.

 ~*~


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omg omg omg omg
LANÇOU!!!!!
FHLKJDHSGÇ~ÇAF]HAÇ

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Chapter 4


Joe.

Eu sabia que seria chamado à sala do novo diretor, em algum momento, durante o ano letivo. Mas não esperava que isso acontecesse logo no primeiro dia de aula.
Ouvi dizer que o Dr. Aguirre foi contratado graças à mão-de-ferro que demonstrou, na direção de uma escola em Milwaukee. Alguém deve ter dito a ele que fui eu quem começou tudo...
E, agora, aqui estou, depois de ter sido praticamente arrancado do ginásio de esportes, para que Aguirre possa estufar o peito e recitar todas as regras sobre a minha condição de estudante. Sinto que ele está me sondando, tentando prever minhas reações, enquanto me ameaça:
— Contratei dois seguranças armados para trabalhar neste colégio, em tempo integral, Joseph.
Seus olhos me focam, tentando me intimidar. Sim, tudo bem. Percebo de imediato que Aguirre, mesmo sendo latino, não sabe nada sobre o que acontece nas ruas...
Agora ele começa a me contar que também foi um garoto pobre, como eu. Mas provavelmente nem conhece o outro lado da cidade, onde moro. Talvez eu devesse convidá-lo para dar uma volta por lá.
— Prometi ao superintendente de ensino, bem como ao pessoal do conselho educativo, que me encarregaria de erradicar a violência que tem infestado este colégio, por tantos anos. — Ele para bem diante de mim. — Não hesitarei em dar uma suspensão a quem desobedecer as regras.
Não fiz nada, além de me divertir um pouco com aquela patricinha... E esse cara já está falando em suspensão. Talvez ele tenha ouvido alguma coisa sobre a minha suspensão, no ano passado... Um pequeno incidente que me deixou fora das aulas, por três dias. Não foi culpa minha... Não totalmente. É que o meu amigo Paco tinha uma teoria maluca sobre a água fria que, supostamente, afetaria os brancos de um modo diferente dos latinos. Nós estávamos conversando sobre isso, na sala das caldeiras, depois dele ter desligado os aquecedores, quando fomos pegos.
Eu não tinha nada a ver com aquilo, mas levei a culpa do mesmo jeito. Paco tentou contar a verdade, mas o nosso antigo diretor não quis escutar. Se eu insistisse mais, talvez ele me ouvisse. Mas do que adianta lutar por uma causa perdida?
Claro que Demetria Ellis é a responsável por eu estar aqui, hoje. Ou você acha que aquele idiota do namorado dela já foi chamado à sala do Aguirre, alguma vez? De jeito nenhum. O cara é o ídolo do futebol aqui do colégio. Ele pode matar aula e brigar o quanto quiser, que provavelmente continuará a ser bajulado pelo Aguirre.
Colin Adams vive me provocando, sabendo que pode fazer isso à vontade. Todas as vezes em que estive prestes a revidar, ele encontrou um jeito de fugir ou correr para perto dos professores... Que, aliás, estavam apenas esperando pela oportunidade de me ferrar. Qualquer dia desses...
Olho para Aguirre:
— Não fui eu quem começou a briga.
Posso até terminar uma briga, mas não sou de provocar.
— Isso é bom — diz Aguirre. — Mas fiquei sabendo que você desacatou uma aluna, no estacionamento.
Quase fui atropelado pelo reluzente BMW novo de Demetria Ellis... E a culpa é minha? Nos últimos três anos, consegui evitar aquela cadelinha rica. No ano passado, ouvi dizer que havia uma nota “C” no boletim dela. Mas bastou um telefonema de seus pais e a nota mudou para “A”.
Um “C” prejudicaria sua chance de entrar numa boa faculdade.
Que droga. Se eu tirasse um “C” minha mãe me daria uns tabefes na cabeça e me faria estudar duas vezes mais. Tenho trabalhado duro para tirar notas boas, embora tenha sido questionado muitas vezes sobre os recursos que uso para conseguir as respostas, nas provas. Para mim, a questão não é entrar na faculdade. A questão é provar que eu poderia entrar... Se meu mundo fosse diferente.
Nós, da zona sul, podemos até ser considerados mais idiotas que os caras da zona norte... Mas isso é conversa. Não somos tão ricos ou obcecados com bens materiais, nem com a perspectiva de entrar nas universidades mais caras e prestigiadas do país. Durante a maior parte do tempo, estamos apenas tentando sobreviver e salvar a pele.
Provavelmente o problema mais difícil, na vida de Demetria Ellis, é decidir em que restaurante jantar, a cada noite. A garota usa seu corpo estonteante para manipular todo mundo que se aproxima dela.
— Você se importaria de me contar o que aconteceu, no estacionamento? — diz Aguirre. — Gostaria de ouvir a sua versão.
Isso não quer dizer nada. Aprendi, há muito tempo, que o meu lado não importa.
— O que aconteceu hoje de manhã... — eu digo — foi um grande mal-entendido.
Demetria Ellis não entendeu que dois veículos não podem ocupar o mesmo espaço.
Aguirre inclina-se sobre sua mesa polida, impecável:
— Vamos tentar não fazer dos mal-entendidos um hábito. Certo, Joseph?
— Joe.
— Hum?
— Pode me chamar de Joe — eu digo. Tudo o que ele sabe a meu respeito está no meu prontuário escolar, que provavelmente é tão extenso, que deve ter uns vinte centímetros de grossura.
Aguirre responde com um aceno de cabeça:
— Tudo bem, Joe. Pode ir, agora. Mas estou atento ao que aconteceu; ficarei de olho em cada movimento que você fizer. E não quero vê-lo aqui, de novo, em minha sala.
Eu me levanto e ele me toca o ombro.
— Quero que você saiba que minha meta é trabalhar para que cada aluno deste estabelecimento seja bem-sucedido. Refiro-me a todos os alunos, Joe... Inclusive você. Portanto, se você tiver algum preconceito a meu respeito, trate de jogá-lo pela janela... Entendeu?
Sí... Entiendo — respondo, perguntando-me até onde posso confiar nele.
No corredor, uma multidão de estudantes se apressa para a próxima aula.
Nem imagino para onde devo ir, para assistir a próxima aula. E ainda estou usando minhas roupas de ginástica.
Vou ao vestiário para me trocar e escuto a música, nos alto-falantes, chamando os alunos... Tiro do bolso de trás da calça o cartão com o horário das aulas: Química, com a Sra. Peterson. Que maravilha! Mais uma durona que vou ter que aguentar.

~*~

Os capítulos são curtos, como perceberam. Mas se quiserem que eu faça uma maratona ou algo do tipo, peçam ok?!