Fixação: minha assombração
Selena percebeu a mudança do clima, minha mãe percebeu, vovó
Sue percebeu, acho que todo mundo notou. Mas eu fiquei de boca fechada, não por
medo de Nome de Cachorro, e sim porque ali não era lugar para descarregar a
bomba. Porém, o baile perdeu a graça para mim.
Mesmo a orquestra tocando lindamente e todas as outras
pessoas sendo simpáticas e amáveis comigo, fui murchando e perdendo as energias
pouco a pouco. Laika conseguira estragar minha festa, literalmente.
Mas eu tive que resistir, com bravura ainda por cima. Teve
uma hora em que todo o restante parou para meu pai e eu dançarmos pelo salão. Não
me lembrava dessa parte no script de
Irina. Roxa de vergonha, dancei — ou melhor, tentei dançar — uma valsa nos
braços de Andrej, coisa que eu não fazia desde... nunca. O que era aquilo, uma
festa de debutante?
Depois de nós, os convidados sentiram-se animados para fazer
o mesmo. De repente, o centro do salão havia se transformado numa grande pista de
dança e o povo aproveitou. Eu também, mas para escapulir à francesa. Dei um
perdido em todo mundo, até em Selena. Necessitava de solidão.
Escapei até o jardim do castelo e me esgueirei entre os
canteiros de flores. Eu ainda não sabia o nome delas, mas estava apaixonada por
todas. Uma coisa era certa: assim que voltasse para o Brasil, teria meu próprio
jardim na varanda de meu quarto.
Baixei meus dedos até as pétalas e as acariciei. Um gesto
quase automático, mas que me fez relaxar um pouco. E colocar a cabeça no lugar.
Eu não sairia correndo da Krósvia só por causa de Laika, só porque ela estava
cismada comigo. Isso era problema dela.
Fazia frio do lado de fora do castelo. Era outono na
Krósvia. Senti meu corpo se arrepiar ao ser envolvido por uma brisa gelada.
Estava na hora de entrar.
— Por que está sozinha aqui?
A brisa fez meu corpo tremer. Aquela voz injetou calor em
minhas veias. Como eu poderia ignorar o dono dela?
Mudei de posição para não olhar para ele. Não queria que ele
lesse em meus olhos toda a minha agonia.
— Vim tomar um ar, respirar um pouco. Estou cansada.
— Está frio e seu vestido é bem... pelado — Ele notou. —
Vista meu casaco.
— Não! — quase gritei. — Quero dizer, não precisa. Já vou
entrar.
Joe fingiu que não me ouviu. Tirou o paletó do corpo e me
envolveu com ele, sem minha permissão. Não sei o que mexeu mais comigo: 1, seu
gesto, 2, o cheiro dele no casaco, ou 3, o breve encontro de seus dedos com
minha pele.
— Você está bem? — ele quis saber, procurando meus olhos.
— Só cansada, como já disse — suspirei, inalando ainda mais
o aroma masculino que exalava de sua roupa. Não mencionaria minha conversa com
Laika. Não queria resgatar aquilo naquela hora.
Joe sorriu.
— Caso você não saiba, fiquei orgulhoso de ver você hoje.
Não sei se aguentaria firme, como você fez. O cansaço agora é mais que natural.
Espera um pouco! Joseph estava me elogiando!
Ele percebeu meu espanto e continuou:
— É sério. Esteve demais, Demi.
— Obrigada. Vindo de você, esse elogio tem uma conotação
muito maior.
— Como assim? — ele franziu a testa. — Vindo de mim?
— Ah, não se faça de bobo. Temos nossas diferenças, não é?
Ele ficou ainda mais sério.
— Temos, é? Não sabia.
Pronto! Agora, aquela. Como se nunca tivéssemos discutido
nem nada.
— Joe, por favor... Lembra quando a gente se conheceu?
Lembra da cena na biblioteca, das palavras que me disse na cozinha, na frente
da Karenina? Garanto que não estou inventando.
— São águas passadas, Demi. Eu não conhecia você direito —
justificou-se e fez aquilo de novo, quero dizer, o que sempre fazia quando
ficava desconfortável: passou a mão freneticamente pelos cabelos, bagunçando-os
um pouco. — Mas agora tudo mudou.
— Mudou, é? Que bom! — Tentei parecer tranquila,
indiferente. Mas meu peito palpitava.
Que espécie de conversa estávamos tendo? Seria minha
imaginação ou havia um clima de flerte no ar?
— Claro! — ele garantiu. — Temos saído juntos e eu pude ver
que você é uma mulher autêntica. Gosto do seu jeito, da sua maneira natural,
dos seus ataques de sinceridade. Você é divertida e me faz rir.
Corei. Aquilo não era uma declaração de amor nem nada, mas
servia. Joe gostava de mim! Então, não era um avanço?
Andei um pouco entre as flores, afastando-me de Joseph para
tomar fôlego. Eu havia acabado de escutar todo tipo de asneira da namorada
dele. Não tinha nada que ficar praticamente flertando com Joe pelo jardim. Se
eu fosse mais esperta daria no pé o quanto antes. Mas quem disse que eu era?
Quis ficar para ver aonde tudo ia dar.
— Sabe, Joe, quando soube que era filha de um rei, meu mundo
virou de cabeça para baixo. — Senti-me compelida a abrir meu coração. O momento
se revelou muito adequado. — Eu jamais esperei conhecer meu pai, muito menos
receber uma mensagem dele pelo Facebook.
— Então, essa parte da história não é lenda? — debochou ele.
— Não. Foi assim mesmo.
Meus pés latejavam dentro da sandália nova de salto dez.
Precisei me sentar um pouco para dar conforto a eles. Ainda bem que o jardim
era contornado por bancos.
— Minha mãe mentiu para mim a vida inteira — assumi,
aconchegando-me ainda mais no casaco dele. — Segundo ela, meu pai sumiu no
mundo quando soube da gravidez. Mas, na verdade, quem sumiu foi ela, e sem
contar a ele que seria pai. Ela tentou se proteger e preservar a imagem da
família real da Krósvia ao mesmo tempo. Não fosse o Andrej ter me achado, eu
jamais estaria aqui.
Joseph também se sentou. No entanto, continuou calado,
incentivando a continuação de meu discurso.
— Fazia séculos que eu havia parado de desejar ter um pai.
Quando era pequena, pensava nisso o tempo todo. Mas eu cresci e abri mão. Deixou
de ser importante.
— Até o Andrej aparecer — Joe concluiu por mim.
— Sim. Ele chegou metendo a cara, cheio de certeza, e mudou
meu mundo. De uma hora para outra, eu me vi diante do meu pai, e um pai que não
era qualquer um, não. Simplesmente o rei de uma nação europeia, um cara
poderoso, influente e... perfeito. Joe, eu esperei 20 anos para conhecer o
homem que me deu a vida!
— Não deve ter sido fácil.
— Pior que não mesmo. Mas eu não pedi tudo isso — fiz um
gesto com os braços, como se estivesse abarcando tudo ao meu redor. — Você pode
não acreditar, mas o fato de o Andrej ser um rei é um mero detalhe para mim.
Não foi esse fato que me fez amá-lo.
Joseph segurou minha mão e ficou massageando o dorso com o
polegar. Minúsculos cristais de gelo acertaram minhas entranhas, fazendo--me
ter um calafrio, uma onda súbita de prazer.
— Eu sei — ele disse, bem baixinho. — O Andrej é um dos
homens mais íntegros que conheço.
— É. Ele é demais, com sua honestidade, bondade, paciência.
Eu fiquei louca por ele e foi impossível negar seu pedido, mesmo tremendo nas bases
de tanto medo.
Joe franziu a testa.
— Que pedido?
— De vir passar uns meses com ele aqui — esclareci. Apesar
de parecer segura, minha voz saía meio entrecortada devido ao frenesi que os
dedos de Joe estavam provocando em meu corpo.
— Eu não queria vir, mas todo mundo ficou insistindo para eu
vir. Ninguém me entendeu, nem o idiota do...
Olha só quem eu estava prestes a mencionar! Eu e minha
língua solta.
Joe deduziu logo, pois arqueou uma sobrancelha, daquele
jeito sexy que me matava, e sorriu meio de lado, elevando a pintinha no canto da
boca.
— Sei, nem o idiota do Nick. De quase namorado a idiota.
Gostei da mudança de posto.
Fiquei muda. Eu que não ia falar sobre o traidor justamente
com Joseph. Preferiria ter chiclete colado em meu cabelo.
— Vai ficar calada?
— Totalmente. Sobre esse assunto eu me recuso a falar. —
Fingi passar um zíper na boca.
Joe subiu as carícias da mão para o pulso.
Aquilo era tortura. Imagina se Laika resolvesse aparecer por
ali. Entenderia tudo errado. Bom, eu mesma não estava entendendo muita coisa...
— Então, termina a história. Você não queria vir, mas as
pessoas acharam que deveria.
— Resumindo tudo, sim. Relutei bastante, mas vim. Morri de
medo de não conseguir me comunicar, mas graças a Deus todo mundo neste país é
fluente em inglês. Bom, quase todo mundo.
— Lembrei-me de Patrick. Figuraça. — Fiquei insegura quanto
à recepção das pessoas, à reação de todo mundo, e quebrei a cara de novo, no
bom sentido, pois fui muito bem tratada. Estou sendo, quero dizer. Não tenho do
que reclamar. — Exceto por Laika. Mas isso eu não disse em voz alta.
Joe assentiu, meio encantado.
— A Karenina, o Jorgensen, a Irina... Olha só o que ela faz
comigo!
Levantei-me e contornei meu corpo com as mãos. Caso não
tenha entendido, estava me referindo a meu visual elegante e fashion.
— Atesto para os devidos fins que as intervenções de Irina
são de muita valia — brincou. Os olhos dele adquiriram um brilho felino ao
visualizarem minha aparência.
Senti meu rosto arder. Eu estava me arriscando demais
ficando sozinha com Joseph por tanto tempo naquele jardim.
— Você não contou o que pensa de mim — ele protestou,
batendo com a palma da mão no banco, exigindo que eu voltasse a me sentar a seu
lado. — Babou no Andrej, elogiou o povo todo do castelo. Não sobrou nada para
mim?
Eu poderia dar várias respostas. Ou nenhuma. Mas eu
precisaria buscar a verdade lá no fundo de minha alma e estar de peito aberto
para aceitar a realidade. Quem procura demais acaba encontrando e eu tinha
receio de não gostar do que veria.
— Eu ainda não tenho uma definição específica a seu
respeito. — Resposta mais em cima do muro impossível.
Joe se sobressaltou.
— Sério? Nossa, estou me sentindo rejeitado.
Bem feito. Quem mandou ser tão volúvel? Ou bipolar, na pior
das hipóteses.
— Sério, Joe. Embora a gente esteja tendo uns momentos
legais, como agora, por exemplo, ou quando a gente sai por aí e você me
apresenta todas as facetas da Krósvia, há momentos em que você se retrai, fica calado,
vago, até rude. Ainda não consegui te desvendar direito.
— Isso quer dizer que você está tentando? — arriscou ele. —
Tentando me desvendar?
— Ah, não fique convencido! — Voltei a ficar de pé. — E está
na minha hora. Nosso bate-papo foi ótimo, mas tenho que ir.
Não consegui ir muito longe. Joseph prendeu meu braço com
seus dedos fortes e me fez ficar paradinha perto dele. Depois, esticou-se até ficar
de pé, a dez centímetros de mim.
— É impressão minha ou você está tentando fugir de mim, Demi?
— questionou Joe, malicioso como ele só.
— É impressão minha ou você está tentando me confundir, Joe?
— devolvi a pergunta, mas não esperei a resposta.
Soltei meu braço abruptamente, retirei o paletó de meus
ombros — mesmo sofrendo muito para tomar essa decisão, pois ele já estava se tornando
parte de meu corpo — e tratei de fugir dali. Joseph era uma ameaça à minha
saúde mental — e talvez até corporal, já que Nome de Cachorro deixara meio
implícito que não se acanharia em acabar com minha raça caso eu me engraçasse
para o lado dele.
Mas, pelo menos, descobri o nome do que eu vinha sentindo
por Joe. Obsessão. Menos mal, porque se fosse outra coisa — paixão, por exemplo
—, eu estaria correndo um enorme risco de me machucar gravemente.
~*~
POSTO MAIS AMANHÃ HEHE <3333
O meu deus!! Poste loogo!! Bjs
ResponderExcluirÊeeeeeee você postou \O/ *-*-*-*
ResponderExcluirJemi lindos juntos
já to vendo os chifres na nome de cachorro
POSTA LOGO!!!
AAAAHHHH MEU DEUS QUE PERFEITO
ResponderExcluirMomento Jemi *-*-*-*-*-*-*
Tava na expectativa de um beijo mas continua perfeito.
Já to vendo os chifres na cabeça da nome de cachorro, aquela chifruda invejosa queria tá no lugar da demi mas não tá, então se coloca no teu lugar meu bem.
POSTA LOGO!!!
Amei cara quero mais por favor!!!
ResponderExcluirFabíola Barboza