Divulgações:
Só sentimos saudade em português?
Foi muito mais complicado deixar
a Krósvia do que ir embora do Brasil. Naquele dia, na festa surpresa no salão
de eventos do prédio de meus avós, as despedidas foram dolorosas, mas suportáveis,
pois eu tinha me dado um prazo de permanência fora do país. No entanto, no
momento em que me vi diante de Irina e Karenina, de Jorgensen e de todos os
demais funcionários do castelo, meu mundo virou uma cambalhota. Pois ao virar
as costas para aquelas pessoas que se tornaram parte de minha vida, eu não
sabia quando — nem se — voltaria a encontrá-las.
Ninguém entendeu direito minha
partida repentina. Pedi a meu pai que desse uma desculpa qualquer, mas acabei
me justificando de uma forma bem boba: estava com saudade de casa.
Karenina estreitou o olhar e
pareceu ver em meu rosto o tamanho da mentira. Sei que desconfiou de algo, mas
deixou passar. A ausência de Joe em minha despedida também foi notada e só
aumentou a suspeita de todos.
Mais cedo, ainda a sós, meu pai
contou que tinha conversado com Joseph logo depois que eu fora dormir. Eles
se encontraram no escritório de Andrej no castelo e os dois tiveram um papo de homem
para homem, sem considerar a relação afetiva ou o grau de parentesco.
Levei um susto ao saber que Joe
havia estado tão perto. Poderíamos ter nos esbarrado, o que me mataria de
desgosto. Mas não deixei de me abalar por ele não ter me procurado. Se Joe
fosse mesmo inocente, será não tentaria me convencer de qualquer jeito?
Meu pai disse que a conversa só
comprovou o que ele já sabia: Joe era tão vítima da situação como eu e estava,
além de chocado e com raiva, muito, mas muito mesmo, magoado comigo.
Ora, faça-me um favor! O cara
apronta uma megaemboscada para cima de mim e depois vai dar um de coitado com
meu pai? Fique sabendo, que mágoa maior do que a minha estava para existir!
— Escute o que estou dizendo,
Demi. Você ainda vai se arrepender por não ter acreditado no Joe. Ele é
inocente, disso eu tenho certeza.
— Pai, vai me desculpar, mas esse
seu enteado é um ator e tanto. Hollywood não sabe o que está perdendo.
— É por isso que ele está
chateado. Pela sua falta de confiança, seu descrédito, como se ele não tivesse
lhe dado provas suficientes do tamanho do amor que sente por você.
Fiquei constrangida. Esse não é
um tema ideal para se discutir com um pai. Mas Andrej prosseguiu, um advogado
de defesa nato:
— Demi, ele desmanchou o namoro
com a Laika. Não enganou você.
— Ha, ha, ha! — desdenhei. — Isso
é o que ele disse para você. Aposto que neste exato momento os dois estão
tomando café da manhã de frente um para o outro, envolvidos por roupões felpudos
e macios, com os cabelos molhados.
— Filha, não seja cínica. Essa
característica não combina com você.
Ah,
que seja!
— Pai, por favor, não vamos mais
falar do Joe — pedi. — Pretendo esquecê-lo e vou ser bem forte para alcançar
esse objetivo. E o primeiro passo é não pronunciar o nome dele, nem em
pensamento. Posso contar com você?
Andrej fez que sim. Mas sua
contrariedade ficou bem explícita.
— Só uma última notícia. Na
verdade, é um recado, um pedido do Joe.
— Pai...
— Demi, ele quer que você
descubra que está errada e diz que vai conseguir provar isso em breve.
— Até parece — retruquei,
sufocando uma vontade louca de atirar um objeto qualquer na parede. — Pois diga
a ele que não precisa se preocupar tanto. Não quero mais saber. E diga também
que já estou deixando vago o lugarzinho dele, que, no fim das contas, é o que
ele sempre quis.
— Jesus, quanto rancor! —
exclamou meu pai. — Mas fique tranquila. Joe sabe que você está indo embora.
Contei para ele ontem.
— Então, já deu tempo de ele
organizar uma festa para comemorar.
Dessa vez Andrej riu.
— Do jeito que ele recebeu a
notícia, é mais fácil o pobre coitado estar agarrado a uma garrafa de tequila,
tentando esquecer essa minha filha cabeça-dura e turrona. Nesse aspecto, você é
igualzinha à sua mãe.
Não pude deixar de conectar as
duas histórias: a de minha mãe, há 20 anos, e a minha. A diferença era que ela
abandonara meu pai por medo de um futuro com ele. Enquanto que, no meu caso,
não havia futuro nenhum com Joe. O resultado? Dois corações partidos em duas gerações
seguidas.
Meu pai não me acompanhou até o
aeroporto.
Como escolhi viajar por uma
companhia aérea comercial e não no avião da família real da Krósvia, ele achou
melhor que eu fosse sozinha para não despertar a atenção das pessoas. Mas fez questão
de me comprar uma passagem na primeira classe, para que eu tivesse privacidade.
Ah! Também me obrigou a levar
Boris e Zlafer comigo, pelo menos para ficarem por perto, como quem não quer
nada, e agirem caso fosse necessário. Não gostei, mas deixei passar. Seria inútil
discutir.
Tentei parecer bem normal. Então,
vesti um figurino básico e não tirei os óculos escuros do rosto. Se eles
escondiam celebridades que viviam com a cara nas telas de cinema, por que não
eu?
Embarquei às 9h da manhã do dia 2
de dezembro. Exatamente quatro meses depois de eu ter colocado meus pés, pela
primeira vez, em solo krosviano. Lá do alto, no meio das nuvens, Perla foi diminuindo
até se tornar um pontinho minúsculo abaixo do avião. Eu não fora até lá para
encontrar um amor, mas acabara me apaixonando. Também não percorrera
quilômetros e mais quilômetros para ser decepcionada. De um modo ordinário, eu tinha
aprendido que do futuro não sabemos nada. Pois, se eu tivesse previsto tudo
aquilo, jamais teria aceitado passar nem um único dia com meu pai na Krósvia.
POSTA POR FAVOOOOOOR!!!
ResponderExcluirs2 s2 s2 s2 s2