quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Prólogo - Simplesmente Demi


Durante minha vida inteira, desde que era muito pequena, tive um sonho recorrente, daqueles que são sempre iguais e você nunca sabe quando virão. É um sonho tranquilo, mas misterioso, e nada nele muda. Nunca. É sempre a mesma cena: estou sozinha num campo muito verde, com flores de todas as cores plantadas numa espécie de canteiro nas laterais. Uso um vestido amarelo-ouro, longo, tomara que caia e bem rodado a partir da cintura. Ele é lindo. O tecido é tão fino e sedoso que consigo senti-lo enquanto sonho. Meus cabelos estão presos num coque perfeito. Nenhum fio ficou de fora. Atrás de mim, há uma escadaria cujo fim não consigo enxergar. Não sei para onde ela vai, nem imagino o que há depois dela. Só sei que fico olhando para o alto, primeiro com uma expressão confusa, mas depois acabo por sorrir. Então, de repente, começa a ventar, e venta tanto que meus cabelos se soltam e disparam a rodopiar em volta de minha cabeça. Olho para cima outra vez e fico transtornada. Não sei o que vejo, mas não deve ser coisa boa. Em seguida, algo chama minha atenção do outro lado do campo e eu me viro. Alegro-me com seja lá o que for que tenha surgido e estendo a mão. Sei que vou tocar alguma coisa, mas, quando estou prestes a saber o que é, acordo.
Por causa desse sonho, já fiz sessões de psicanálise e a psicanalista disse que, inconscientemente, eu estava em busca de algo para minha vida que só eu poderia descobrir o que era. Não diga! Fui a cartomantes, médiuns e videntes e todos afirmaram que me prendi a algum carma deixado por minhas vidas passadas. Pois é! Um padre disse que eu precisava frequentar mais a igreja. Sem tempo. E então minha melhor amiga, Selena, depois de anos de convivência comigo, concluiu que o sonho não tinha nenhum significado específico e que eu deveria deixá-lo para lá, uma vez que ele não revelava nada importante, tipo com quem eu me casaria — se é que eu faria isso —, nem nada bombástico, como a data de minha morte, por exemplo.
Mas o mais sinistro de tudo isso era a cara que minha mãe fazia sempre que eu anunciava que tinha sonhado com aquilo outra vez. Ela simplesmente arregalava os olhos e dizia:
— Esqueça isso!
Assim que entrei para a faculdade, parei mesmo de dar atenção a essa história. Não que o sonho tivesse desaparecido, mas resolvi assumir para mim mesma que todos nós temos uma pedra no caminho, e até que a minha não era tão grande assim. Afinal, não passava de um sonho.
Um sonho bobo, sem significado. Não era uma mensagem, um sinal ou coisa assim. Bom, era isso que eu achava.
Até hoje.

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