Joe
Estou
no velho armazém onde os membros da Sangue Latino se encontram, todas as
noites. Acabei de fumar meu segundo ou terceiro cigarro... Já parei de contar.
—
Tome uma cerveja e trate de melhorar essa cara — diz Paco, jogando uma Corona
para mim.
Contei
a ele que Demetria me deixou na mão, hoje de manhã. E tudo o que Paco fez foi
balançar a cabeça, censurando a minha atitude impensada de ir até a zona norte.
Consigo
pegar a lata com uma só mão, mas atiro-a de volta para Paco.
—
Não, obrigado.
—
Ei, o que há? Esta cerveja não é boa o suficiente para você? — diz Javier,
provavelmente o mais estúpido membro da Sangue Latino.
O
corno acha que pode manter o controle sobre as bebidas e as drogas que usa...
Olho para ele com, ar de desafio, e nem respondo.
— Ô,
cara, eu estava só brincando — ele diz, completamente bêbado, enrolando as
palavras.
Ninguém
quer encarar uma briga comigo. Provei meu valor, no meu primeiro ano na Sangue
Latino, numa briga feia com uma gangue inimiga. E pensar que, quando moleque,
eu queria salvar o mundo... Ou, ao menos, salvar minha família.
Nunca
farei parte de uma gangue, eu disse a mim mesmo, quando
cheguei à idade de entrar em uma. Vou proteger minha família com unhas e
dentes. Mas, na zona sul de Fairfield, ou você faz parte de uma gangue, ou
fica sozinho contra todas elas. Na época, eu sonhava com um futuro. Sonhos
enganosos, claro... Achava que poderia ficar longe das gangues e, ainda assim,
proteger minha família. Mas aqueles sonhos, e meu futuro, se acabaram juntos,
na noite em que meu pai foi baleado e morreu a poucos metros do menino que eu
era, então... Um menino de seis anos de idade.
Quando
me inclinei sobre seu corpo caído, tudo o que pude ver foi uma grande mancha
vermelha se espalhando por sua camisa. Aquilo me lembrou um alvo desenhado...
Um alvo que ia se tornando cada vez maior. A próxima coisa de que me lembro é
que meu pai soltou um suspiro... E foi assim: ele estava morto.
Não
tentei erguê-lo, nem tocá-lo. Estava apavorado demais. Não disse uma palavra,
nos dias que se seguiram. Mesmo quando a polícia me interrogou, eu não disse
nada. Falaram que eu estava em estado de choque e que meu cérebro não conseguia
processar o que tinha acontecido. Eles tinham razão. Tantas noites acordado,
tentando me lembrar de como foi tudo aquilo... E nada. Não consigo nem recordar
a cara do sujeito que atirou no meu pai. Se ao menos pudesse me lembrar,
acabaria com aquele desgraçado.
Em
compensação, minha memória hoje está uma beleza. A longa espera por Demetria...
A mãe dela me olhando de cara feia... Coisas que eu quero esquecer, mas ficam
grudadas na minha mente. Paco toma meia lata de cerveja de um só gole... E nem
liga quando ela escapa de sua boca e escorre pela camisa.
Quando
Javier resolve conversar com os outros caras, Paco me diz:
—
Cara... A Ashley deixou você pirado, não foi?
— Do
que você está falando?
—
Você não confia mais nas garotas. Essa estória com a Demetria Ellis, por
exemplo...
Eu
resmungo um palavrão.
—
Pensando bem... Passe essa Corona para cá, Paco.
Tomo
a cerveja que ainda resta e amasso a lata contra o muro.
—
Acho que você não quer me ouvir falar sobre isso... Mas vai, bêbado ou não. Sua
ex-namorada latina, sexy, tagarela y caliente, sacaneou você, com outro
cara. E então você resolveu dar uma volta por cima, sacaneando a Demetria.
Ouço
Paco, relutante, enquanto pego outra cerveja.
—
Você está chamando a minha parceira de Química de... “uma volta por cima”?
—
Estou. Mas o tiro vai sair pela culatra e explodir na sua cara, porque você
realmente gosta dela... Da garota branca e rica. Reconheça isso.
Não
estou a fim de reconhecer nada. E digo:
— Eu
só quero aquela garota... Porque fiz uma aposta.
Paco
ri tanto, que tropeça e cai sentado no chão do armazém. Aponta para mim, com a
cerveja ainda na mão:
—
Você, meu amigo, sabe mentir tão bem, que está começando a acreditar nessa
lorota. Aquelas duas meninas são totalmente diferentes, cara.
Pego
mais uma cerveja. Enquanto abro a lata, penso sobre as diferenças entre Ashley
e Demetria. Carmen tem olhos misteriosos, escuros, ardentes. Já os olhos azuis
e luminosos de Ashley parecem tão inocentes, a gente praticamente pode ver
através deles, pode ver o que se passa dentro dela... Será que vão continuar
assim, quando fizermos amor?
Droga.
Fazer amor? Por que diabos estou pensando em Demetria e em amor, na mesma
frase? Estou realmente perdido. Passo a próxima meia hora bebendo o máximo de
cerveja que consigo. Estou me sentindo bem o suficiente para não pensar... em
nada.
Uma
voz familiar, feminina, interrompe meu estado de torpor:
—
Vai rolar uma festa em Danwood Beach — ela me diz. — Quer ir?
Olho
nos seus olhos cor de chocolate. Mesmo com a mente meio turva, mesmo me
sentindo meio atordoado, estou lúcido o suficiente para perceber que esse
chocolate é justamente o contrário do azul... Não quero o azul. O azul me deixa
confuso. Já o chocolate é mais direto, sem rodeios, fácil de lidar.
Alguma
coisa não está bem, por aqui... Mas não sei dizer ao certo o que é. E quando os
lábios de Chocolate encontram os meus, não quero mais nada, a não ser apagar o
Azul da minha memória... Mesmo que eu me lembre que o Chocolate pode ser bem amargo.
—
Sim — respondo, quando meus lábios se afastam dos dela. — Vamos para a festa.
Uma hora depois, estou dentro d’água, até a cintura... Isso me dá vontade de
ser um pirata e navegar por mares solitários. Claro que no fundo da minha mente
enevoada sei que estou no Lago Michigan e não num oceano.
Mas
agora não quero pensar com clareza, e ser um pirata parece uma opção danada de
boa. Nada de família, nada de preocupações, nada de louras de olhos azuis me
encarando...
Braços
que parecem tentáculos me envolvem pela cintura, apertando meu estômago.
— Em
que meu homem está pensando?
— Em
me tornar um pirata — respondo para o polvo que acaba de me chamar de seu
homem.
As
ventosas do polvo estão coladas às minhas costas e movendo-se em direção ao meu
rosto. Em vez de sentir medo, sinto prazer. Conheço esse polvo, esses beijos,
esses tentáculos...
— Se
você é um pirata, vou ser uma sereia. Você pode vir me salvar.
Penso
que, de algum modo, sou eu quem precisa ser salvo, porque sinto que estou me
afogando nessa garota.
—
Carmen — eu digo ao polvo de olhos cor de chocolate, que se transformou numa
sereia muito sexy... E de repente o corte. Percebo que estou bêbado, nu, com
água até a cintura, no Lago Michigan.
—
Psiu! Deixe rolar... E goze.
Carmen
sabe o que fazer para que eu esqueça a vida real e me entregue à fantasia. Suas
mãos e seu corpo me envolvem.
Ela
flutua na água... Seu corpo parece não ter peso. Minhas mãos tocam os pontos
que já toquei antes e meu corpo pressiona o dela, nos lugares certos, que bem
conheço. Mas o encanto da fantasia não vem... Simplesmente não acontece. Ouço,
então, as conversas e risadas dos caras que estão na margem do lago. Temos
platéia. Meu polvo-sereia adora uma platéia... Eu, não.
Tomando
minha sereia pela mão, começo a andar em direção à margem. Ignorando os
comentários da turma, digo a ela para se vestir, enquanto pego meu jeans.
Quando já estamos vestidos, tomo de novo a mão dela e, assim, caminhamos entre
o pessoal até encontrar um espaço vago para sentar, perto dos nossos amigos.
Eu
me encosto numa grande rocha e estico as pernas. Minha ex-namorada se deita no
meu colo, como se não tivéssemos rompido, como se ela nunca tivesse me
traído... E eu me sinto preso, capturado numa armadilha. Ela dá uma tragada em
algo mais forte que um cigarro... E passa para mim. Olho para o pequenino
cigarro, que ela põe entre meus lábios.
—
Isso aqui não está calibrado... está? — pergunto. — Estou chapado, mas a última
coisa de que preciso é ser preso pelos tiras da Narcóticos, por porte de
maconha e cerveja. Estou a fim de me anestesiar, não de morrer.
— É
só Acapulco gold, meu homem — Ashley garante.
Talvez
o Acapulco gold de Ashley funcione... Talvez apague de minha memória os
tiros, as ex-namoradas e as apostas imbecis, como a de fazer sexo ardente com
uma garota que pensa que sou a escória da Terra.
As
mãos da sereia passeiam por meu peito.
—
Posso fazer você feliz, Joe — ela murmura, tão perto que posso sentir o álcool
em seu hálito. Ou talvez seja no meu... Não tenho certeza. — Você me dá outra
chance?
Ficar alto
e bêbado me deixa confuso. E quando a imagem de Demetria e Colin,
abraçados, caminhando pelos corredores da escola, me vem à mente, puxo Ashley
para mais perto de mim. Não preciso de uma garota como Demetria. Preciso da
quente e maliciosa Ashley, minha pequena sereia adormecida.
Chapter 19
Demetria
Consegui convencer
Selena, Nick, Colin, Shane e Darlene a ir ao Club Mystique nesta noite,
o lugar de que Megan me falou. O Mystique fica em Highland Grove. Como
Colin não gosta de dançar, acabei dançando com o resto da turma e também com um
cara chamado Troy, que dança muito bem. Acho até que aprendi uns movimentos
novos, que pretendo adaptar para a turma da torcida organizada.
Agora, estamos na casa de Selena. De outro modo, como justificar
para os pais dela que Selena não voltou para casa, naquela noite em que esteve
em Mi? Minha mãe sabe que vou dormir na casa de Selena, hoje. Portanto, não
tenho que me preocupar com telefonemas ou broncas. Enquanto Selena e eu
estendemos mantas na areia, na praia privativa, atrás da casa, Darlene se
retarda... Fica para trás, com os rapazes que estão descarregando as cervejas e
garrafas de vinho, escondidas no bagageiro do carro de Colin.
— Nick e eu fizemos sexo, na semana passada — Selena me conta.
— Sério?
— Sim. Sabe, eu queria esperar até que entrássemos na faculdade,
mas... simplesmente aconteceu. Fui até a casa de Nick, os pais deles estavam
viajando, uma coisa levou à outra... E acabamos fazendo.
— Uau! E como foi?
— Não sei... Para ser franca, achei meio estranho. Mas Nick foi
muito gentil, depois de tudo, me perguntando a toda hora se eu estava bem. E à
noite apareceu em casa com três dúzias de rosas vermelhas. Tive de mentir para
os meus pais e dizer que as rosas eram um presente pelo nosso aniversário de
namoro. Eu não podia contar, simplesmente, que eram uma comemoração por eu ter
perdido minha virgindade com ele... E quanto a você e Colin?
— Colin quer fazer sexo — eu digo a ela.
— Todos eles querem, depois dos catorze anos — diz Selena.
— A função dos rapazes é querer ter relações sexuais.
— Mas eu... bem... não quero. Ao menos por enquanto.
— Então, a sua função é dizer não — Selena responde, como
se fosse muito fácil fazer isso. Selena não é mais virgem... Ela disse sim. Por
que é tão difícil, para mim, fazer o mesmo? Por que também não digo sim?
— Como vou saber, quando chegar o momento certo?
— Não sou a pessoa mais indicada para responder isso. Acho que,
quando estiver totalmente pronta, você vai querer fazer sexo, sem reservas, sem
perguntas. Nós sabemos que eles querem sexo... Se vai acontecer, ou não,
depende de nós. Sabe, a primeira vez não é nada fácil, nem divertido. Foi uma
coisa meio... incômoda. E, durante a maior parte do tempo, eu me senti uma
idiota. Mas estar disposta a se expor a erros, colocando-se numa posição
vulnerável, com a pessoa amada, é o que torna tudo tão belo e especial.
Será que foi por isso que eu não quis fazer sexo com Colin?
Talvez, no fundo, eu não o ame tanto quanto imaginava. Será que sou capaz de
amar alguém, a ponto de me expor e me tornar vulnerável? Realmente, não sei.
— Tyler rompeu com Darlene, hoje — Selena me conta, baixando a
voz. — Ele começou a ter encontros com uma garota, em seu dormitório.
Se eu antes não sentia pena de Darlene, agora sinto. Sobretudo
porque ela depende demais da atenção dos rapazes, uma atenção que alimenta sua
auto-estima. Não é à toa que, nesta noite, ela está assediando Shane o tempo
inteiro.
Darlene e os outros rapazes surgem no nosso campo de visão e eu
fico observando enquanto eles estendem mantas pela areia. Agarrando Shane pela
camisa, Darlene puxa-o para o lado.
— Vamos fazer amor — ela diz.
Shane, com seus cabelos castanhos encaracolados, está pronto para
atender seu pedido.
Puxo Darlene de lado e digo, para que só ela possa me ouvir:
— Não brinque com Shane.
— Por que não?
— Porque você não gosta dele tanto assim. Não o use... Nem deixe
que ele use você.
Darlene me empurra:
— Você realmente tem uma visão distorcida da realidade, Demi... Ou
talvez você goste de ficar apontando os defeitos de todo mundo, só para se
sentir a Rainha da Perfeição.
Isso não é justo. Não quero apontar os defeitos de Darlene. Mas,
como sua amiga, não é meu dever tentar impedi-la de prosseguir nesse jogo
autodestrutivo?
Talvez não seja. Somos amigas, mas não super-íntimas. A única
amiga realmente próxima que possuo é Selena. Como me atrevo a aconselhar
Darlene, se não dou a ela o direito de fazer o mesmo comigo?
Selena, Nick, Colin e eu nos sentamos nas mantas e comentamos
sobre o último jogo de futebol, em volta de uma fogueira que acendemos com
gravetos e velhos pedaços de madeira.
Rimos, recordando os jogos em que levamos a pior e imitando o
treinador do time... Quando ele fica com raiva, seu rosto enrubesce
violentamente. Então ele perde o controle, começa a berrar e a mandar uma chuva
de perdigotos em todo mundo. Nick faz uma imitação hilária dele.
É gostoso estar aqui, sentada, com Colin e meus amigos. Por alguns
instantes consigo esquecer meu parceiro de Química, que ultimamente tem ocupado
demais meus pensamentos.
Pouco depois, Seleana e Nick resolvem dar uma
volta e eu me encosto em Colin, com os olhos fixos na fogueira, que espalha sua
luz generosa, me encantando e fazendo a areia em torno brilhar... A despeito do
meu conselho, Darlene desapareceu com Shane e ainda não voltou.
Pego a garrafa de Chardonnay
que
os rapazes trouxeram. Eles bebem cerveja e as garotas bebem vinho porque Selena
detesta o gosto da cerveja. Levo a garrafa aos lábios e tomo o que resta...
Começo a ficar ligada, mas acho que seria preciso uma garrafa inteira
para que eu me sentisse solta e feliz.
—
Você sentiu minha falta, nesse verão? — pergunto, inclinando-me para Colin,
enquanto ele acaricia meu cabelo que, provavelmente, está despenteado. Gostaria
de estar bêbada o suficiente para não me importar com isso.
Colin
pega minha mão, levando-a até sua virilha... Então geme baixinho e lentamente.
—
Sim — ele responde, com os lábios colados ao meu pescoço. — Demais...
Retiro
a mão... E Colin começa a me acariciar; seus braços deslizam por meu peito,
como cobras. Então ele aperta meus seios, como se fossem balões cheios de água.
Antes, eu não me importava que Colin me tocasse, mas agora me sinto
desconfortável e até irritada com essas mãos que vão e veem. Por isso me
encolho, colocando-me fora de seu alcance.
—
Qual é o problema, Demi?
—
Não sei. — Realmente, não sei. Minha relação com Colin parece tensa, desde o
início das aulas. E os pensamentos sobre Joe continuam passeando por minha
cabeça... Isso me irrita, mais que tudo. Pego uma cerveja. — Isso parece tão...
forçado — digo a Colin, enquanto abro a lata. Tomo um gole e pergunto: — Por
que não podemos ficar aqui, sentados, conversando simplesmente, sem essa
pressão sexual?
Colin
deixa escapar um longo e dramático suspiro.
—
Demi, eu quero fazer isso.
Tento
tomar a cerveja, de uma só vez, mas acabo me engasgando.
—
Você quer dizer... agora?
Se
nossos amigos voltarem, eles poderão nos ver...
—
Por que não? Já esperamos muito...
—
Não sei, Colin — digo, assustada com o rumo da conversa. — Gostaria que isso
acontecesse assim, espontaneamente... de maneira natural.
— O
que poderia ser mais natural do que fazer sexo aqui, ao ar livre, na areia?
—
Você trouxe preservativo?
— Eu
tiro quando for gozar.
Essa
resposta não foi nada romântica... E não me tranquiliza, nem um pouco. Vou
morrer de preocupação o tempo inteiro, com medo de engravidar. E não é isso que
espero, da minha primeira vez.
—
Fazer amor significa muito, para mim — eu digo.
— Para mim também. Então, vamos começar
agora.
— Você mudou muito, neste verão.
— Talvez eu tenha mudado, sim — ele responde,
na defensiva. — Talvez eu queira um pouco mais, da nossa relação. Nossa, Demi...
Onde já se viu uma estudante do curso secundário, ainda virgem? Todo mundo
pensa que já fizemos sexo... E fico me perguntando por que não fazemos. Porra,
Demi... Você até deixou que aquele cara, o Fuentes, pensasse que pode fazer
sexo com você...
Meu coração salta dentro do peito.
— Acha que prefiro o Joe a você? — pergunto.
Meus olhos se enchem de lágrimas. Não sei se o álcool me deixou assim, emotiva,
ou se Colin acertou em cheio. Só consigo pensar no meu parceiro de Química. E
me detesto por isso... E agora fiquei com raiva de Colin, por ter adivinhado o
que está se passando comigo.
— E quanto a Darlene? — eu rebato, olhando ao
redor, para me certificar de que ela não pode nos ouvir. — Vocês dois parecem
um casalzinho apaixonado, na aula de Química.
— Pare com isso, Demi. Ao menos a Darlene me
dá atenção, na aula de Química... Coisa que você não faz porque, obviamente,
está sempre muito ocupada, discutindo com o Fuentes. Todo mundo sabe que é
assim que começam as transas.
— Isso não foi nada engraçado, Colin.
— Ei, o que está acontecendo? — pergunta
Selena, que estava com Nick atrás de uma grande rocha.
— Nada — eu respondo e recolho minhas
sandálias. — Vou para casa.
Selena pega sua bolsa:
— Vou com você.
— Não — eu digo, firme.
Estou me sentindo diferente, meio aturdida e
meio maravilhada... como ter uma experiência extra-sensorial. E quero
desfrutá-la sozinha. No quero nem preciso de ninguém comigo. Vou andar...
— Ela está bêbada — diz Nick, olhando para a
garrafa vazia e a lata de cerveja a meu lado.
— Não estou — eu digo a eles. Pego outra lata
de cerveja e abro, enquanto me afasto, caminhando pela praia. Sozinha... por
mim mesma... tal como deve ser.
— Não vou deixar você ir sozinha — diz Selena.
— Só quero ficar a sós comigo mesma...
Preciso pensar.
— Demi, volte aqui — diz Colin, mas não se
levanta.
Eu o ignoro.
— Não vá além do quarto píer — Selena me
alerta. — Não é seguro.
— Seguro... grande coisa! E daí, se algo me
acontecer? Colin não se importa comigo... E, pelo que me consta, meus pais também
não.
Fecho os olhos, sinto a areia sob os pés,
penetrando entre meus dedos. Respiro a brisa fresca e agradável que sopra do
Lago Michigan, acariciando meu rosto. Tomo mais um gole de cerveja. Esqueço
tudo, exceto a areia e a cerveja, e continuo andando. Paro, às vezes, para
contemplar as águas escuras, onde a luz da lua se reflete e parece chegar até
meus pés, por uma trilha brilhante e prateadas que divide as águas em duas
partes.
Já passei por dois píers... Talvez três. De
qualquer modo, minha casa não é longe. Talvez um quilômetro e meio, ou menos...
Quando chego ao acesso que dá para a rua onde moro, ouço a música. Alguém está
tocando, logo ali adiante. Eu amo música. E o contato dos meus pés com a areia
é tão agradável... Parece um daqueles travesseiros macios, onde é bom se
recostar.
Fecho os olhos e deixo que meu corpo se mova
em direção à música desconhecida.
Não tenho noção de quanto caminhei e
dancei... Até que o som de risos e de vozes em Espanhol me faz congelar.
Pessoas usando lenços vermelhos e pretos surgem à minha frente... Num claro
sinal de que ultrapassei o quarto píer.
— Vejam só... É Demetria Ellis, a patricinha
mais
gostosa do colégio! — diz um deles. — Venha, gracinha... Dance comigo.
Meus
olhos percorrem o grupo, buscando desesperadamente por um rosto amigo. Joe.
Ele
está aqui. E Ashley Greene está sentada no seu colo. Um quadro realmente
preocupante.
O
cara que me chamou para dançar avança em minha direção.
—
Você não sabe que este lado da praia é dos mexicanos? — ele diz,
chegando ainda mais perto. — Ou talvez você tenha vindo procurar algo mais...
moreno. Você sabe o que dizem, baby: a carne escura é a mais gostosa.
—
Ora, me deixe em paz — digo. E minha voz soa arrastada.
—
Você acha que é boa demais para mim? — O cara está agora muito perto, seus
olhos estão cheios de raiva. A música cessa.
Meio
cambaleante, eu recuo. Estou bêbada, mas não tanto, a ponto de ignorar o
perigo.
—
Javier, pare com isso — diz Joe, em voz baixa. — É uma ordem.
Joe
está acariciando Ashley seus lábios quase roçando a pele dela. Eu me sinto
balançar... Este é um pesadelo e preciso fugir, o mais rápido possível. Começo
a correr... Com o riso dos caras da gangue soando bem atrás de mim. Mas não
consigo correr tão rápido como deveria. Sinto-me como num sonho. Meus pés se
movem, mas não me levam a lugar algum.
—
Demetria, espere! — ouço uma voz dizer.
Eu
me viro e fico face a face com o cara que vem atravessando os sonhos que tenho,
acordada ou não, dia e noite. Joe: o cara a quem tanto detesto... O que não
consigo tirar do pensamento, não importa o quanto eu tenha bebido.
— Não
ligue para o Javier — diz Joe. — Às vezes ele perde a noção das coisas.
Estou atordoada. Joe se aproxima e enxuga uma
lágrima que me escorre pelo rosto.
— Não chore. Javier não ia fazer mal a
você... De qualquer forma, eu não deixaria.
Devo contar a Joe que não estou com medo de
me machucar e sim de perder o controle?
Embora eu não tenha corrido muito, estamos
longe dos amigos de Joe. Eles não podem me ver, nem me ouvir.
— Por que você gosta da Ashley? — pergunto,
enquanto o mundo balança e caio sentada na areia. — Ela é má.
Alex estende as mãos para me ajudar... E eu
recuso. Então ele põe as mãos nos bolsos.
— Por que porra você se importa com a Ashley?
Você me deixou na mão.
— Tive que cuidar de umas coisas...
— Como lavar o cabelo, ou ir à manicure?
Algo
como ter um tufo de cabelos arrancado pela minha irmã, ou levar uma dura de
minha mãe...
Bato
com meu dedo no peito de Alex:
—
Você é um imbecil.
— E
você é uma vadia... — ele diz. — Uma vadia com um sorriso capaz de enlouquecer
qualquer um... E olhos que podem fazer um cara perder a cabeça. — As palavras
parecem escapar de sua boca, sem nenhum controle, e até mesmo ele parece
assustado com o que acabou de dizer.
Eu
esperava que Joe me falasse muitas coisas... menos isso. Sobretudo, não isso.
Reparo em seus olhos injetados:
—
Você está alto, Joe.
—
Sim. E você também não parece muito sóbria. Talvez este seja um bom momento
para me pagar aquele beijo...
—
Sem chance.
—
Por que não? Está com medo de gostar demais e acabar esquecendo aquele seu
namorado idiota?
Beijar
Joe? Nunca... Embora eu tenha pensando nisso, ultimamente. Muito mesmo. Mais do
que deveria. Seus lábios são carnudos e tentadores. Cara, ele é demais. E eu
estou bêbada. Definitivamente, não me sinto bem. Já passei daquele torpor
inicial e agora estou delirando, porque penso em coisas que não deveria pensar,
de jeito nenhum... Coisas do tipo... Bem, penso no quanto desejo sentir os
lábios de Joe sobre os meus.
—
Tudo bem... me beije, Joe — digo, avançando um passo e me inclinando para ele.
— E então ficaremos quites.
Ele
segura meus braços... É isso. Estou prestes a descobrir como é um beijo de Joe.
Ele é perigoso e costuma zombar de mim. Mas é sexy e moreno e bonito. Ficar
assim, tão perto de Joe, faz meu corpo estremecer de desejo e minha cabeça
rodar... Enrosco meu dedo na
cintura do jeans de Joe, para me equilibrar, e faço com que ele gire comigo,
numa dança bêbada... É como se estivéssemos rodando num carrossel.
— Assim você vai acabar passando mal — ele
avisa.
— Que nada... Estou adorando este passeio.
— Não estamos passeando.
— Oh — eu digo, totalmente confusa.
Desprendendo o dedo, olho para os meus pés, que parecem se mover por conta
própria, flutuando sobre a areia. — Estou zonza, só isso... Mas estou bem.
— Está nada...
— Vou me sentir melhor, se você parar de se
mexer.
— Não estou me mexendo... E detesto dar uma
má notícia, gracinha, mas acho que você vai vomitar.
Ele tem razão. Meu estômago está revoltado.
Joe me segura com uma das mãos... Com a outra, afasta meus cabelos, enquanto eu
me curvo e começo a vomitar.
Não consigo acalmar meu estômago. Vomito e me
ergo, ofegante. Borbulhas e sons desconexos brotam da minha boca, mas estou
bêbada demais para me importar com isso...
— Veja só... — digo, entre um acesso de vômito e outro
— meu jantar caiu todo no
seu sapato!
Chapter 20
Joe
Olho para o vômito, no
meu sapato:
— Já passei por coisas piores...
Demetria se endireita e eu solto seus cabelos, que consegui manter
afastados de seu rosto, enquanto ela vomitava. Tento não pensar na sensação
desses cabelos deslizando entre meus dedos, como fios de seda.
Imagino que sou um pirata, sequestrando e levando Demetria para o
meu navio. Acontece que não sou um pirata e ela não é minha princesa raptada.
Somos apenas dois adolescentes que se odeiam. Ok, eu realmente não odeio essa
garota.
Tiro o lenço da Sangue Latino que trago na cabeça e dou
para ela:
— Tome, limpe o rosto.
Ela pega o lenço como se pegasse um guardanapo, num restaurante de
primeira classe... Enxuga os cantos da boca, enquanto lavo meu sapato nas águas
geladas do Lago Michigan. Não sei o que dizer ou fazer. Aqui estou, com uma
Demetria Ellis completamente bêbada. Não estou acostumado a ficar sozinho com
garotas brancas e chapadas. Ainda mais com esta, que me deixa doido de
excitação. Com Demetria nessas condições, posso me aproveitar dela e ganhar
aquela aposta que fiz... Seria bem fácil, neste momento.
— Vou arranjar alguém que leve você para casa — eu digo, antes que
e minha mente detonada comece a pensar nos milhões de modos com que eu poderia
ter Demetria, nesta noite. Estou zonzo de álcool e também um pouco alto.
Quando fizer sexo com essa garota, quero estar totalmente lúcido.
Ela morde os lábios, amuada como uma criança.
— Não... Não quero ir para casa. Vou para qualquer lugar, menos
para casa.
Cara... Estou em apuros. Tengo un problema.
Ela me olha, e seus olhos brilham como jóias raras, à luz do luar.
— Colin acha que eu quero ficar com você. Ele diz que nossas
brigas são só desculpas para... bem, você sabe.
— E você... O que pensa sobre isso? — pergunto, com a respiração
suspensa, ansioso para ouvir a resposta. Por favor, por favor, preciso me
lembrar dessa resposta amanhã cedo.
Ela ergue o dedo e diz:
— Não sei. Ainda estou pensando no que ele disse. — Então se
ajoelha no chão e vomita de novo... Quando termina, está fraca demais para
andar. Ela mais parece uma boneca de pano desconjuntada. Sem saber mais o que
fazer, levo Demetria até a enorme fogueira que meus amigos armaram.
Ela passa os braços em volta do meu pescoço... E sinto que ela
precisa de alguém para ser seu campeão, seu herói, na vida. Certamente esse
herói não é Colin... Nem eu, tampouco.
Ouvi dizer que, antes de Colin, durante o primeiro ano do curso
secundário, Demetria namorou um cara do terceiro ano. É... A garota tem alguma
experiência... Mas, então, por que ela parece assim, inocente? Tremendamente
sexy, mas inocente.
Chego perto dos amigos... E todos me olham. Estou com uma garota
branca, rica e bêbada nos braços. Eles pensam no pior... E eu não conto que,
enquanto caminhávamos, minha parceira de Química resolveu cair no sono.
— O que você fez com ela? — pergunta Paco.
Lucky se levanta, furioso:
— Que merda, Joe... Então eu perdi meu RX-7?
— Não, seu cretino. Não me aproveito de garotas desmaiadas.
Pelo canto do olho, vejo Ashley... fervendo de raiva. Merda. Eu realmente
acabei com a noite dela e mereço sua fúria.
Faço um gesto para Miley:
— Mi, preciso de você.
Mi lança um olhar na direção de Demetria:
— O que você quer que eu faça?
— Que me ajude a levar essa garota para casa. Estou chapado e não
posso dirigir.
Mi balança a cabeça.
— Você sabe que ela tem um namorado? E que é rica? E branca? E usa
roupas de grife, do tipo que você nunca poderá comprar?
Sim, eu sei. E estou cansado de me lembrar disso a toda hora.
— Preciso de ajuda, Mi... E não de um sermão. Paco já me falou de
toda essa merda, hoje.
Isa levanta as mãos:
— Tudo bem, só estou apontando os fatos. Você é um cara
inteligente, Joe... Então, ponha isso na cabeça: não importa o quanto você
queira essa menina, em sua vida... Ela não vai pertencer a você. Um triângulo
não se ajusta a um quadrado. E agora vou calar a boca.
— Gracias — respondo, sem contestar a teoria de Mi... Mas
se um quadrado for suficientemente grande, um triângulo pequeno pode muito bem
caber dentro dele. Tudo o que se precisa fazer são alguns pequenos ajustes, na
equação. Só que estou muito bêbado e alto, para argumentar sobre esse
assunto.
— Deixei meu carro do outro lado da rua — diz Mi, com um longo suspiro
de frustração. — Venha.
Levando Demetria, sigo Isabel até o carro,
rezando para que ela não fale mais nada. Mas não tenho essa sorte...
— Eu estudei com essa garota, no ano passado
— diz Mi.
— Hum-hum...
Ela dá de ombros:
— Boa menina. Mas usa maquiagem demais.
— A maioria das meninas detestam Demetria.
— A maioria das meninas gostariam de ser
iguais a Demetria. Gostariam de ter o dinheiro dela, o namorado dela.
Paro e olho para Isa, com repulsa:
— O Cara de Burro?
—
Oh, por favor, Joe... Colin Adams é bonito, é capitão do time de futebol, é o
herói do Colégio Fairfield. E você é como o Danny Zuko, em Grease - No Tempo
da Brilhantina. Você fuma, você faz parte de uma gangue, e já namorou as
piores e mais quentes garotas da cidade. Já Demetria é como Sandy, a heroína do
Grease... Uma Sandy que nunca vai aparecer na escola usando jaqueta de
couro preta, com um cigarrinho na boca... Portanto, é melhor você desistir
dessa fantasia.
Coloco
“minha fantasia” no banco traseiro do carro e me sento ao lado dela.
Demetria
se aconchega em mim, como se eu fosse seu travesseiro; seus cabelos louros se
espalham em meu colo. Fecho os olhos por um segundo, tentando afastar essa
imagem da cabeça. E não sei o que fazer com minhas mãos. A direita está apoiada
no descanso da porta. A esquerda está suspensa sobre Demetria. Vacilo. A quem
estou tentando enganar? Não sou virgem. Sou um cara de dezoito anos. E o fato
de ter uma garota sexy, desmaiada, a meu lado, não me assusta... Mas, então,
por que estou com medo de deixar meu braço na posição mais confortável, bem aqui,
sobre o diafragma de Demetria?
Com
a respiração suspensa, coloco meu braço sobre ela.
Demetria
se aconchega ainda mais em mim... Começo a me sentir estranho, meio zonzo. Ou
isso é algum efeito retardado daquele cigarrinho, ou... Não quero pensar sobre
o “ou”. Os longos cabelos de Demetria se espalham em minhas coxas. Sem pensar,
enrosco minhas mãos neles e fico vendo os fios sedosos deslizando entre meus
dedos.
Paro
abruptamente ao ver que em seu couro cabeludo, bem perto da nuca, há uma falha
de cabelos... E o local está irritado. É como se tivessem arrancado um punhado
de seus cabelos, ao invés de apenas alguns, para um teste anti-doping ou
qualquer coisa assim.
Enquanto
Isa manobra o carro, Paco se aproxima, faz sinal para ela parar e se acomoda no
banco do passageiro. Eu me apresso a cobrir a falha nos cabelos de Demetria;
não quero que ninguém veja esse seu defeito. Também não quero analisar meus
motivos para fazer isso... Teria que pensar muito, para entender. E, nas
condições em que me encontro, pensar é doloroso demais.
— Ei, crianças, resolvi dar esse passeio com
vocês — diz Paco. Olha para trás e me vê com Demetria. Então balança a cabeça e
faz um som com os lábios: tsk, tsk, tsk...
— Cale a boca — eu aviso.
— Não falei nada.
Um celular toca. Posso sentir a vibração, no
jeans de Demetria.
— É o celular dela — digo.
— Atende — Isa me diz.
Porra, já estou me sentindo o sequestrador da
garota... E agora vou atender seu celular?
Virando Demetria ligeiramente, sinto o volume
no seu bolso traseiro.
— Contesta — Mi
torna a dizer, agora em Espanhol.
—
Estou atendendo — digo, baixinho, tateando desajeitadamente o bolso de Demetria,
para pegar o telefone.
— Eu
cuido disso — diz Paco, inclinando-se sobre o assento e levando a mão ao traseiro
de Demetria.
Eu o
afasto com um tapa:
—
Tire a mão daí.
—
Nossa, cara eu só estava tentando ajudar.
Como
resposta, olho para ele de um jeito que não deixa dúvidas sobre o que pode
acontecer, se ele quiser bancar o besta de novo. Meus dedos escorregam para
dentro do bolso traseiro de Demetria, e tento não pensar em como seria fazer
isso, sem esse jeans atrapalhando. Puxo o celular devagar, centímetro por
centímetro. O celular continua vibrando. Quando finalmente consigo sacá-lo,
olho para o display.
— É
Selena, amiga dela.
—
Responda — diz Paco.
—
Ficou louco, cara? Não vou conversar com nenhum deles.
—
Então, por que pegou o telefone?
É
uma boa pergunta... Que não sei como responder. Mi balança a cabeça.
— É
isso que dá misturar triângulos e quadrados.
—
Temos que levar Demetria para a casa dela — diz Paco. — Você não pode ficar com
essa menina, Joe.
Eu
sei. Mas ainda não estou pronto para me separar de Demetria... Ainda não.
— Mi, vamos
para a sua casa.
~*~
Gente, eu não vou postar na segunda, nem terça, nem quarta. Só quinta, então postei 3 chapter pra compensar, ok?! Tenho que estudar muito essa semana, é meu ultimo ano antes de ir pra faculdade, então preciso dar meu máximo. Espero que me entendam.
Answers:
Anônimo: Que bom que amou, anony *-* Postei!
Gabs: Posteeeeeeei hahahaha
Demetria Devone Lovato: Yaaay \O/ que bom que está amando a história!!! haha bjos
Ps: Não deixem de comentar, amores. Quem sabe eu posto 2 quinta-feira...? ;)