sexta-feira, 29 de março de 2013

Chapter 22 + Feliz Pascoa!!


Joe

Ela me ligou. Se não fosse pelo pedaço de papel rasgado, com o nome e número de Demetria rabiscado com a letra de Frankie, meu irmão, eu não acreditaria que ela realmente telefonou. Dar uma bronca em Frankie não vai adiantar nada, porque o moleque tem uma cabeça de pulga e quase nunca se lembra, quando atende uma ligação. A única informação que consegui arrancar dele foi que Demetria pediu que eu telefonasse de volta. Mas isso aconteceu ontem à tarde, antes que ela vomitasse no meu sapato e desmaiasse nos meus braços.
Quando eu disse a Demetria para ser verdadeira, vi o pavor nos seus olhos. Mas do que será que ela tem medo? Preciso penetrar suas defesas, derrubar a fachada de “perfeição” que ela criou para si.
Agora sei que Demetria é bem mais que uma loura fatal, com um corpo de tirar o fôlego. Ela guarda segredos... que parece ansiosa por compartilhar. Pois está na cara que esses segredos a estão sufocando. Nossa... Ela é um mistério que preciso desvendar.
Quando eu disse a Demetria que somos parecidos, não era conversa fiada. Esta conexão que temos não vai acabar, só vai se tornar mais forte a cada dia. Pois quanto mais tempo passo ao lado de Demetria, mais perto dela quero ficar.
Tenho vontade de telefonar, só para ouvir sua voz, mesmo que ela esteja carregada de veneno. Abrindo o celular, enquanto me sento no sofá, na sala de minha casa, gravo o número de Demetria na memória.
— Para quem você está ligando? — Paco pergunta, entrando sem pedir licença, sem bater ou tocar a campainha. Mi vem logo atrás dele.
Fecho o celular e respondo:
— Ninguém.
— Então, levante daí. Vamos jogar futebol.
Jogar futebol é muito melhor do que ficar aqui, sentado, pensando em Demetria e seus mistérios, mesmo que eu ainda esteja sentindo os efeitos da ressaca da noite passada.
Vamos até o parque, onde os jogadores já estão se aquecendo.
Mario, um cara da minha classe, cujo irmão morreu atropelado no ano passado, me dá uma tapa nas costas:
— Quer ser o goleiro, Joe?
— Não. — Tenho o que se costuma chamar de “personalidade ofensiva”... No futebol e na vida. Paco aceita e assume a posição. Mas em vez de ficar em pé, senta-se de cócoras na linha do gol. Como de costume, meu amigo preguiçoso continua sentado, até o momento em que a bola rola para o seu lado do campo.
Quase todos os jogadores são do meu bairro. Crescemos juntos. Brincamos nesse playground desde crianças e entramos para a Sangue Latino praticamente ao mesmo tempo. Ainda me lembro de Lucky nos dizendo que fazer parte de uma gangue era como ter uma segunda família, que nos daria apoio, mesmo quando nossa própria família falhasse. Uma segunda família que nos daria proteção e segurança. Isso parecia perfeito para um garoto que tinha perdido o pai, tão pequeno.
Aprendi, com o tempo, a não pensar nas coisas ruins, Os espancamentos, o negócio sujo das drogas, os tiroteios. E estou falando de todas as gangues, de modo geral. Sei de caras que tentaram sair fora e foram encontrados mortos... Ou tão judiados, por sua própria gangue, que provavelmente desejariam ter morrido. Para ser franco, eu bloqueio tudo isso porque acho uma merda. Esperam que eu seja durão, o suficiente para não me importar... Mas acontece que me importo.
Tomamos nossas posições, no campo. Imagino que a bola seja um talismã e penso: se eu conseguir driblar todo mundo e acertar o gol, vou me transformar num cara rico e poderoso, num passe de mágica... Um cara capaz de manter a família e os amigos a salvo, neste buraco infernal que é o bairro onde moro.
Há jogadores muito bons, nos dois times. O adversário tem uma vantagem, já que Paco é o nosso goleiro... E lá está ele, coçando as bolas, no outro lado do campo.
— Ei, Paco, pare de coçar o saco e preste atenção! — grita Mario.
Como resposta, Paco finge pegar suas bolas e jogá-las para o alto, como num número de malabarismo. Aproveitando o momento, Chris chuta... A bola passa à direita de Paco e entra no gol.
Mario pega a bola lá dentro e atira em cima de Paco:
— Se você estivesse tão interessado no jogo quanto em seus ovos, eles não teriam marcado.
— O que posso fazer, se estou morrendo de coceira, cara? Sua namorada deve ter me passado chatos, ontem à noite.
Mario ri, sem acreditar, nem por um instante, que sua garota possa traí-lo. Paco joga a bola para Mano, que passa para Lucky, que conduz a bola e passa para mim... É minha chance: vou driblando, ao longo do campo, parando apenas para calcular até onde devo ir, antes de chutar no gol.
Fingindo que vou para a esquerda, passo a bola para Mano e ele me devolve. Com um chute certeiro, a bola sobe direto... E marcamos.
— Gooooooooooooooolllllll! — grita o nosso time, enquanto Mario ergue a mão espalmada e bate contra a minha.
Nossa comemoração não dura muito. Um Escalade azul vem subindo a rua, bem devagar, e isso é altamente suspeito.
— Você reconhece aquele carro? — Mario pergunta, tenso.
O jogo para. Os caras percebem que alguma coisa não está bem...
— Pode ser alguém querendo “dar o troco” — digo.
Meus olhos estão fixos na janela do carro. O Escalade para. Todos esperamos para ver quem ou o que vai sair por aquela porta. Estamos prontos para a ação.
Mas quem desce do carro é meu irmão, Josh, com um cara da Sangue, o Wil... E para isso eu não estava preparado. Wil anda recrutando novos membros e é melhor que não tenha jogado seu papo furado sobre o meu irmão. Eu sou membro da Sangue Latino... Josh e Frankie, não. Sou capaz de fazer qualquer coisa, para que eles não entrem nessa. Trato de esconder o que estou sentindo e caminho na direção de Wil, esquecendo completamente o jogo de futebol.
— Carro novo? — pergunto, olhando para as rodas.
— É da minha mãe.
— Legal. — Olho para meu irmão. — E aí... Por onde vocês andaram?
Josh encosta no carro; não parece nada à vontade.
— Fomos até o shopping, numa loja nova, que vende guitarras. Hector encontrou a gente lá e...
Será que ouvi direito? Hector?
A última coisa que quero no mundo é ver meu irmão andando por aí com Hector.
Wil, com sua grande camisa para fora das calças, dá um tapa no ombro de Josh, para fazê-lo calar a boca. Meu irmão obedece, mas parece fazer um imenso esforço para se conter.
Juro que vou dar uma prensa em Josh, vou chutar o traseiro dele daqui até o México, se ele continuar com essa estória de entrar na Sangue.
— Fuentes, você vai jogar, ou não? — alguém grita, do campo.
Escondendo minha raiva, pergunto a meu irmão e a Wil, que parece pronto a arrastá-lo para o buraco:
— Querem jogar?
— Não — Wil responde. — Estamos indo para a minha casa.
Fervendo de raiva, dou de ombros, fingindo indiferença:
— Tudo bem...
Volto para o jogo, apesar da vontade de agarrar Josh pela orelha e arrastá-lo de volta para casa. Mas não posso fazer uma cena, que provavelmente chegará ao ouvido de Hector, que vai questionar minha lealdade.
Às vezes minha vida parece uma grande farsa.
Josh vai embora, com Wil. Isso, junto com minha dificuldade de tirar Demetria da cabeça, me deixa louco.
O jogo recomeça e estou inquieto. De repente, parece que os jogadores do outro time são inimigos que atravessam meu caminho, impedindo que eu alcance meus objetivos. Pego a bola...
— Porra, cara! — grita o primo de um amigo, quando dou um tranco nele. — Isso é falta!
Ergo as mãos:
— Não foi falta, não!
— Você quase me derrubou.
— Não seja frouxo — digo, sabendo que estou levando a coisa muito longe. Mas acontece que quero brigar... Estou pedindo por isso. E ele percebe. O cara é do meu tamanho e deve ter o mesmo peso. Minha adrenalina está a mil.
— Você quer me encarar, cretino? — ele diz, abrindo os braços, como um pássaro prestes a voar.
Intimidação é coisa que não funciona comigo.
— Venha...
Paco se coloca entre nós.
— Calma, Joe.
— Vocês vão brigar ou jogar? — alguém grita.
— Ele me chamou de cretino — digo a Paco, enquanto o sangue ferve em minhas veias. — E disse que fiz falta.
Paco dá de ombros:
— Você fez, mesmo.
Ok, meu melhor amigo não está me apoiando... Acho que perdi a parada. Olho ao redor. Todo mundo está esperando para ver o que acontece. E minha adrenalina sobe ainda mais.
Estou a fim de brigar? Claro que sim... Mas só se for para tirar essa coisa ruim do meu corpo... Para esquecer, nem que seja por um momento, que tenho o telefone da minha parceira de Química gravado no celular. E que meu irmão está na mira da Sangue, para ser recrutado.
Meu melhor amigo me separa do cara que quer rachar minha cabeça, me empurra para fora do campo e chama um dos reservas para entrar no meu lugar.
— Por que você se meteu no meio? — pergunto.
— Para salvar sua pele, cara. Joe, você perdeu a noção... Completamente!
— Posso dar conta daquele idiota — eu insisto.
Paco me olha nos olhos e diz:
— Quem está bancando o idiota, aqui, é você.
Afasto as mãos de Paco da minha camisa e me aprumo. Andei fazendo um monte de besteiras, nessas últimas semanas. Minha vida está de pernas para o ar. Preciso consertar as coisas. De Josh eu cuido à noite, quando chegar em casa. Vou dar uma bronca daquelas.
E Demetria... Ok, ela não quis que eu a levasse para casa, porque não queria ser vista comigo. Que se dane. Demetria também vai receber sua dose.
Abro meu celular e ligo para ela.
— Alô?
— Aqui é Joe — embora ela saiba muito bem quem está ligando, é só olhar no identificador de chamadas. — Quero ver você, agora, na biblioteca.
— Não posso.
Mas este não é o Show da Demetria Ellis. É o Show do Joe Fuentes.
— É o seguinte, gracinha... — digo, me aproximando de casa e pegando a moto. — Ou você aparece na biblioteca, em quinze minutos, ou vou convidar cinco amigos para acampar no gramado em frente à sua casa... E talvez a gente passe a noite por aí.
— Como ousa... — Demetria começa a dizer, mas desligo o celular, antes que ela termine a frase.
Acelero a moto e o ruído do motor me ajuda a bloquear as lembranças da noite passada, quando Demetria se aconchegou em mim... De repente, me lembro que não tenho uma estratégia de jogo. E me pergunto se o Show de Joe Fuentes vai acabar em comédia ou em tragédia... O que é bem mais provável. De qualquer forma, será um reality show que não posso perder.

~*~

Feliz Pascoa, amores <33 e obrigada por comentarem *--*
Se quiserem, postarei amanhã ;D apenas comentem

Answers:

Demetria Devone Lovato: Eles se amam e não admitem u-u hahaha Jornalismo e Turismo parece legal. Medicina, eu não faço nem me pagando, odeio sangue, odeio hospitais, então.. haha Estou pensando em fazer Arquitetura, ou Desenho Industrial, ou  Astrologia, ou Nutrição, ou Design de Interiores... Minha mãe queria que eu fizesse arquitetura pra seguir os passos do meu Pai. Eu até queria também, mas fiquei indecisa esse ano sobre o que eu quero de verdade. :s Postei, beijos
Anônimo: É reconfortante acordar e saber que você vai ficar em casa, ao em vez de ir para aquele inferno de escola. Não que eu odeie minha escola, mas estou cansada de estudar e já estou ficando estressada hahaha postei ;)
Fã Forever: Sim *-* Mas ainda vai acontecer tanta coisa... u-u hahaha postei :)

quinta-feira, 28 de março de 2013

Chapter 21


Demetria

Estou tendo um pesadelo... milhares de pigmeus invadiram minha cabeça e estão martelando meu cérebro. Abro os olhos e me deparo com uma luz muito forte. Estremeço. Mesmo estando acordada, os pigmeus continuam aqui dentro.
— Você está de ressaca — diz uma voz, que deve ser de uma garota.
Quando olho para o lado, descubro que essa garota é Miley.
Estamos no que parece ser um pequeno quarto, com paredes pintadas em tom pastel, amarelo. O vento entra pelas janelas abertas, fazendo esvoaçar as cortinas, também amarelas, combinando com as paredes.
Não estou em minha casa... Certamente não, pois lá em casa nunca abrimos as janelas. Sempre usamos o sistema de ar condicionado ou a calefação, dependendo do clima.
Com os olhos meio fechados, pergunto:
— Onde estou?
— Na minha casa. Se eu fosse você, não me mexeria... Para não vomitar de novo, sabe? Meus pais vão pirar se você estragar o carpete — diz Miley. — Sorte nossa que eles estão viajando. Assim, tenho a casa só para mim, até a noite.
— Como vim parar aqui? — A última coisa de que me lembro é que estava voltando para a minha casa...
— Você desmaiou, na praia. Então, Joe e eu trouxemos você para cá.
Ao ouvir o nome de Joe, abro totalmente os olhos. Lembro-me vagamente de ter bebido... de estar andando pela praia... de ver Joe e Ashley, juntos. E depois Joe e eu... Será que beijei Joe? Sei que me aproximei dele, mas, então... Acho que comecei a vomitar. Sim, me lembro disso... Nada a ver com a imagem de perfeição que tento sempre preservar. Eu me sento, lentamente, esperando que em algum momento minha cabeça pare de girar.
— Eu... cometi alguma estupidez? — pergunto.
Mi encolhe os ombros.
— Não sei, ao certo. Joe não deixou ninguém chegar perto de você. Agora... Se você acha que desmaiar nos braços dele foi uma estupidez... Então, sim, você foi bastante estúpida.
Escondo a cabeça entre as mãos.
— Oh, Miley, por favor, não comente sobre isso lá no colégio.
Ela sorri:
— Não se preocupe. Não vou contar a ninguém que Demetria Ellis é humana.
— Por que você está sendo tão legal, comigo? Quero dizer, quando Ashley quis me agredir, você me defendeu... E agora me deixou dormir aqui a noite inteira, mesmo depois de ter ficado bem claro que não somos amigas.
— Também não sou amiga de Ashley. Ao contrário: temos uma rivalidade antiga... Sou capaz de fazer qualquer coisa para irritar aquela garota. Ela não consegue entender que Joe não é mais seu namorado.
— Por que eles romperam?
— Pergunte isso a Joe. Ele está dormindo, no sofá da sala... Apagou logo depois de ter colocado você na minha cama.
Oh, não! Joe está aqui? Na casa de Miley?
— Ele gosta de você, sabe? — diz Miley, observando as unhas, sem olhar para mim.
As palavras de Miley mexem comigo. Excitação, medo e alegria me invadem.
— Não é verdade — eu digo, embora esteja tentada a fazer perguntas, a pedir detalhes.
— Oh, por favor, você sabe disso, mesmo não querendo admitir.
— Para alguém que diz que nunca seremos amigas, você está compartilhando muitas coisas comigo, nesta manhã.
— Bem, eu até queria que você fosse mesmo a vadia que algumas pessoas dizem que é...
— Por quê?
— Porque seria mais fácil detestar você.
Um riso breve, incrédulo, escapa da minha boca. Não estou a fim de contar a verdade a Miley. Não vou falar que minha vida está se desintegrando, escapando entre meus dedos, como a areia da praia, ontem à noite.
— Preciso ir para casa. Onde está meu celular? — pergunto, tateando o bolso de trás do jeans. — E minha bolsa?
— Acho que estão com Joe.
Então, não poderei sair de mansinho, sem falar com ele. Luto para manter os pigmeus quietos dentro da minha cabeça, enquanto me arrasto para fora do quarto, em busca de Joe.
Foi bem fácil encontrá-lo. A casa inteira é menor do que a piscina de Selena. Joe está deitado num velho sofá, usando apenas um jeans e nada mais. Seus olhos estão abertos, vermelhos e sonolentos.
— Ei... — ele diz, muito amável, enquanto se espreguiça.
Oh, Deus, estou numa grande encrenca. Não consigo deixar de olhar, ansiosamente, para o bíceps e o tríceps e todos os outros “íceps” de Joe. A sensação de medo, alegria e excitação cresce desmesuradamente e meus olhos inquietos encontram os dele.
— Ei... — Eu engulo em seco. — Eu... bem... acho que devo agradecer por você ter me trazido para cá, em vez de me deixar desmaiada lá na praia.
Ele me olha com firmeza, enquanto diz:
— Descobri uma coisa, na noite passada: não somos tão diferentes. Você faz o jogo das aparências, assim como eu. Você usa seu visual, o corpo e o cérebro, para se garantir, para manter o controle da situação.
— Estou de ressaca, Joe. Não consigo nem pensar direito... E você resolve bancar o filósofo para cima de mim?
— Viu? Você está fazendo o jogo, neste exato momento. Seja sincera comigo, gracinha... Aceite meu desafio e seja verdadeira.
Ele só pode estar brincando. Ser verdadeira? Não posso... Pois começaria a chorar, ou talvez pirasse o suficiente para deixar escapar a verdade: que criei uma imagem de perfeição, para me esconder atrás dela...
— Tenho que ir para casa.
— É melhor passar pelo banheiro, antes — ele aconselha.
Antes que eu possa perguntar por que, vejo, de relance, meu reflexo num espelho que pende da parede.
— Droga! — eu grito. Parte do rímel endureceu sob meus olhos e outra parte escorreu, desenhando linhas escuras em minhas faces.
Estou parecendo um cadáver. Passo rápido por Joe, atravesso um corredor, entro no banheiro e me olho no espelho. Meu cabelo está pegajoso e despenteado, parece um ninho de pássaro. Como se o estrago causado pelo rímel já não fosse suficiente, estou tão pálida como minha tia Dolores, quando tira a maquiagem. Tenho bolsas sob os olhos, bolsas tão grandes, que dariam para armazenar água para os meses de estiagem... Em tudo e por tudo, estou horrível... sob qualquer padrão.
Molho um pedaço de papel higiênico, esfrego na área abaixo dos olhos e nas bochechas, até que as linhas desapareçam. Agora preciso de um creme removedor de maquiagem, para conseguir tirá-las por completo. E minha mãe já me avisou que não é bom esfregar a pele sob os olhos, porque isso vai acabar provocando rugas prematuras. Mas uma situação desesperadora requer medidas radicais...
Quando as marcas deixadas pelo rímel enfim parecem imperceptíveis, tento atenuar as bolsas, com água fria.
Sei que tudo isso vai servir apenas para amenizar os danos... Só posso cobrir as imperfeições e esperar que ninguém me veja desse jeito. Improviso um pente, com os dedos, e o resultado não é lá muito bom. Então, prendo meus cabelos em “puff”, no alto da cabeça, esperando conseguir um visual melhor do que esse ninho de pássaro.
Enxáguo a boca com água, esfrego os dentes com um creme dental, esperando eliminar o pior da noite: o vômito, o sono pesado e a embriaguez... Tudo isso tem que desaparecer, antes que eu chegue em casa. Se ao menos tivesse um brilho para passar nos lábios... Mas, que pena, não tenho.
Endireitando os ombros e mantendo a cabeça erguida, abro a porta e volto à sala onde Joe se encontra, agora em pé. Vejo Miley a caminho do seu quarto.
— Onde está meu celular? — pergunto. — E, por favor, vista uma camisa.
Ele se abaixa e pega meu telefone, que estava no chão.
— Por quê?
— O motivo pelo qual pedi meu celular — eu digo, pegando o aparelho de suas mãos — é que preciso ligar para um táxi. E o motivo pelo qual pedi que vista a camisa... bem...
— Você nunca viu um cara sem camisa, antes?
— Ah... Muito engraçado! Escute, o que vi ou deixei de ver, não é da sua conta.
— Quer apostar? — ele diz, abrindo o botão do jeans.
Miley volta à sala, nesse exato momento.
— Ei, Joe! Você não está pensando em tirar as calças bem aqui, no meio da minha casa... Está?
Ela se vira para mim e eu ergo as mãos:
— Não me olhe assim. Eu ia chamar um táxi, quando ele...
Balançando a cabeça, enquanto Joe abotoa o jeans, Miley pega sua bolsa e retira um molho de chaves.
— Esqueça o táxi. Vou levar você para casa...
Eu levo — Joe interrompe.
Miley parece farta de nós dois. Nesse momento, sua expressão me faz lembrar a Sra. Peterson, na aula de Química.
— Quem você prefere? — ela pergunta. — Eu ou Joe?
Tenho um namorado. Bem, reconheço que a cada vez que Joe me olha sinto uma onda de calor se espalhando por todo o meu corpo. Mas isso é normal. Somos jovens e entre nós existe uma óbvia atração sexual. Desde que fique só nisso, que não aconteça mais nada, não vejo problema algum.
Pois se eu fizesse uma besteira dessas, as consequências seriam desastrosas. Eu perderia Colin, perderia meus amigos... E também o controle que tenho sobre minha vida. Porém, mais que tudo, perderia o que resta do amor que minha mãe tem por mim. Se eu não fosse considerada uma pessoa tão perfeita, o que aconteceu ontem com minha mãe pareceria insignificante. Para ela, quase tudo é aceitável, desde que as aparências sejam mantidas. Ela perderia muitos pontos, na consideração geral, se alguém do clube que frequenta me visse com Joe. Diminuída entre seus amigos, por uma ação minha, acabaria por me rejeitar. E isso eu não suportaria.
— Miley, me leve para casa — eu digo. E então olho para Joe.
Ele aceita minha decisão, com um leve aceno de cabeça. Veste a camisa, pega suas chaves e sai sem dizer uma palavra. Escuto o som de sua moto, se afastando.
Em silêncio, sigo Miley até seu carro.
— Você considera Joe mais do que um amigo, não é? — pergunto.
— Mais como um irmão. Nós nos conhecemos desde crianças.
Dou a ela algumas indicações sobre o trajeto para minha casa. Será que Miley está dizendo a verdade?
— Você acha Joe atraente?
— Conheço Joe desde que ele chorava quando seu sorvete caía no chão... Tínhamos uns quatro anos de idade. E também foi com ele que eu... — Miley se interrompe. — Bem... já passamos por muitas coisas, juntos.
— Muitas coisas? Será que você pode explicar melhor?
— Não para você.
Quase posso ver um muro invisível se erguendo entre nós.
— Então, nossa amizade só vai até aqui?
Ela me olha de lado:
— Nossa amizade está apenas começando, Demetria. Não force a barra.
Já estamos perto de minha casa.
— É a terceira rua, à esquerda — digo.
— Eu sei.
Miley para em frente minha casa, ignorando o rebaixamento na calçada, que permite a entrada de carros. Nós nos olhamos. Será que espera que eu a convide para entrar? Não costumo receber nem mesmo meus melhores amigos, aqui em casa.
— Bem, obrigada pela carona — digo. — E por ter me deixado desabar no seu quarto...
Miley responde com um sorriso não muito alegre:
— Sem problemas.
— Não vou deixar que as coisas se compliquem entre Joe e eu, ok? — Embora, no fundo, alguma coisa já esteja acontecendo...
— Ótimo. Pois, se fizerem alguma besteira, a coisa toda vai acabar explodindo na cara de vocês.
Os pigmeus voltam a martelar meu cérebro... E não consigo pensar direito sobre o que Miley acaba de dizer.
Encontro minha mãe e meu pai sentados em torno da mesa da cozinha. Tudo está muito quieto. Quieto demais, por sinal. Há alguns papéis diante deles, sobre a mesa. Impressos, ou algo parecido. Ao me ver, os dois rapidamente se erguem, como se fossem crianças pegas em flagrante, numa travessura.
— Ora... — diz minha mãe — pensei que você ainda... Bem, que você ainda estivesse na casa de Selena.
Meus sentidos estão alertas. Minha mãe jamais gagueja. E parece nem ter percebido meu visual deplorável... Isso não é nada bom.
— Eu estava, mesmo. Mas acordei com uma dor de cabeça terrível. — E me aproximo, olhando para os estranhos papéis, que parecem interessar tanto a meus pais. Tento decifrar seu conteúdo. Consigo ler: Casa de Repouso Sunny Acres, para Pessoas Especiais.
— O que vocês estão fazendo?
— Discutindo nossas opções — diz meu pai.
— Opções? Mas nós não concordamos que internar Shelley estava fora de questão?
Minha mãe se vira para mim.
— Não. Você decidiu que internar Shelley seria uma má ideia. Nós ainda estamos discutindo o assunto.
— Vou entrar na Northwestern no ano que vem, para poder morar perto de casa e cuidar de Shelley.
— No ano que vem você terá de se concentrar nos estudos e não em sua irmã — diz meu pai, se erguendo. — Escute, Demetria, temos de pensar sobre essa alternativa. Depois do que Shelley fez com você, ontem...
— Não quero ouvir falar desse assunto — digo, interrompendo-o. Não aceito, de modo algum, que minha irmã vá embora desta casa. Apanho os papéis sobre a mesa. Shelley precisa estar com sua família e não numa clínica, na companhia de estranhos. Rasgo os papéis pelo meio, jogo-os na lata de lixo e então corro para o meu quarto.
— Abra essa porta, Demi — diz minha mãe, mexendo na maçaneta.
Eu me sento na borda da cama. Fico atordoada, só de imaginar Shelley sendo posta para fora de nossa casa. Não, isso não pode acontecer. Só de pensar nessa possibilidade, já me sinto doente.
— Você nem mesmo treinou Baghda! Parece que você quer mandar Shelley embora para sempre.
— Não seja ridícula. — A voz de minha mãe atravessa a porta, um tanto amortecida. — Descobrimos uma clínica, no Cobrado, recém-construída... Se você abrir a porta, poderemos discutir sobre isso de maneira civilizada.
— Não quero uma discussão civilizada. Meus pais resolveram mandar minha irmã para uma clínica, nas minhas costas. E minha cabeça parece que vai explodir... Portanto, me deixe sozinha, ok?

Alguma coisa está saindo do meu bolso... É o lenço de Joe. Miley, que não é minha amiga, tem me ajudado muito, nesses dias. E Joe cuidou de mim, ontem à noite, como se fosse meu namorado. Ele me protegeu. E depois me pediu para ser verdadeira... Será que sei o que isso significa? Seguro o lenço de Joe junto ao peito. E me permito chorar.

~*~

I'm back u-u
Como estão, amores?
Recesso escolar é a melhor coisa que existe haha estou feliz por estar livre da escola por 2 dias.
E vocês?

Fiquei  4 dias sem entrar e só teve 1 comentário? Ué, o que aconteceu?
A estória está ruim, é isso?
Bom... tentem comentar ou pelo menos marcar nas opções das reações que tem embaixo de cada post, sei lá :/

Answer:

Demetria Devone Lovato: Obrigada por entender, linda *-* Já pensou em que curso na faculdade vai fazer?? Eu ainda estou indecisa :s Postei ^^ beijos.

sábado, 23 de março de 2013

Chapter 18 / Chapter 19 / Chapter 20


Joe

Estou no velho armazém onde os membros da Sangue Latino se encontram, todas as noites. Acabei de fumar meu segundo ou terceiro cigarro... Já parei de contar.
— Tome uma cerveja e trate de melhorar essa cara — diz Paco, jogando uma Corona para mim.
Contei a ele que Demetria me deixou na mão, hoje de manhã. E tudo o que Paco fez foi balançar a cabeça, censurando a minha atitude impensada de ir até a zona norte.
Consigo pegar a lata com uma só mão, mas atiro-a de volta para Paco.
— Não, obrigado.
— Ei, o que há? Esta cerveja não é boa o suficiente para você? — diz Javier, provavelmente o mais estúpido membro da Sangue Latino.
O corno acha que pode manter o controle sobre as bebidas e as drogas que usa... Olho para ele com, ar de desafio, e nem respondo.
— Ô, cara, eu estava só brincando — ele diz, completamente bêbado, enrolando as palavras.
Ninguém quer encarar uma briga comigo. Provei meu valor, no meu primeiro ano na Sangue Latino, numa briga feia com uma gangue inimiga. E pensar que, quando moleque, eu queria salvar o mundo... Ou, ao menos, salvar minha família.
Nunca farei parte de uma gangue, eu disse a mim mesmo, quando cheguei à idade de entrar em uma. Vou proteger minha família com unhas e dentes. Mas, na zona sul de Fairfield, ou você faz parte de uma gangue, ou fica sozinho contra todas elas. Na época, eu sonhava com um futuro. Sonhos enganosos, claro... Achava que poderia ficar longe das gangues e, ainda assim, proteger minha família. Mas aqueles sonhos, e meu futuro, se acabaram juntos, na noite em que meu pai foi baleado e morreu a poucos metros do menino que eu era, então... Um menino de seis anos de idade.
Quando me inclinei sobre seu corpo caído, tudo o que pude ver foi uma grande mancha vermelha se espalhando por sua camisa. Aquilo me lembrou um alvo desenhado... Um alvo que ia se tornando cada vez maior. A próxima coisa de que me lembro é que meu pai soltou um suspiro... E foi assim: ele estava morto.
Não tentei erguê-lo, nem tocá-lo. Estava apavorado demais. Não disse uma palavra, nos dias que se seguiram. Mesmo quando a polícia me interrogou, eu não disse nada. Falaram que eu estava em estado de choque e que meu cérebro não conseguia processar o que tinha acontecido. Eles tinham razão. Tantas noites acordado, tentando me lembrar de como foi tudo aquilo... E nada. Não consigo nem recordar a cara do sujeito que atirou no meu pai. Se ao menos pudesse me lembrar, acabaria com aquele desgraçado.
Em compensação, minha memória hoje está uma beleza. A longa espera por Demetria... A mãe dela me olhando de cara feia... Coisas que eu quero esquecer, mas ficam grudadas na minha mente. Paco toma meia lata de cerveja de um só gole... E nem liga quando ela escapa de sua boca e escorre pela camisa.
Quando Javier resolve conversar com os outros caras, Paco me diz:
— Cara... A Ashley deixou você pirado, não foi?
— Do que você está falando?
— Você não confia mais nas garotas. Essa estória com a Demetria Ellis, por exemplo...
Eu resmungo um palavrão.
— Pensando bem... Passe essa Corona para cá, Paco.
Tomo a cerveja que ainda resta e amasso a lata contra o muro.
— Acho que você não quer me ouvir falar sobre isso... Mas vai, bêbado ou não. Sua ex-namorada latina, sexy, tagarela y caliente, sacaneou você, com outro cara. E então você resolveu dar uma volta por cima, sacaneando a Demetria.
Ouço Paco, relutante, enquanto pego outra cerveja.
— Você está chamando a minha parceira de Química de... “uma volta por cima”?
— Estou. Mas o tiro vai sair pela culatra e explodir na sua cara, porque você realmente gosta dela... Da garota branca e rica. Reconheça isso.
Não estou a fim de reconhecer nada. E digo:
— Eu só quero aquela garota... Porque fiz uma aposta.
Paco ri tanto, que tropeça e cai sentado no chão do armazém. Aponta para mim, com a cerveja ainda na mão:
— Você, meu amigo, sabe mentir tão bem, que está começando a acreditar nessa lorota. Aquelas duas meninas são totalmente diferentes, cara.
Pego mais uma cerveja. Enquanto abro a lata, penso sobre as diferenças entre Ashley e Demetria. Carmen tem olhos misteriosos, escuros, ardentes. Já os olhos azuis e luminosos de Ashley parecem tão inocentes, a gente praticamente pode ver através deles, pode ver o que se passa dentro dela... Será que vão continuar assim, quando fizermos amor?
Droga. Fazer amor? Por que diabos estou pensando em Demetria e em amor, na mesma frase? Estou realmente perdido. Passo a próxima meia hora bebendo o máximo de cerveja que consigo. Estou me sentindo bem o suficiente para não pensar... em nada.
Uma voz familiar, feminina, interrompe meu estado de torpor:
— Vai rolar uma festa em Danwood Beach — ela me diz. — Quer ir?
Olho nos seus olhos cor de chocolate. Mesmo com a mente meio turva, mesmo me sentindo meio atordoado, estou lúcido o suficiente para perceber que esse chocolate é justamente o contrário do azul... Não quero o azul. O azul me deixa confuso. Já o chocolate é mais direto, sem rodeios, fácil de lidar.
Alguma coisa não está bem, por aqui... Mas não sei dizer ao certo o que é. E quando os lábios de Chocolate encontram os meus, não quero mais nada, a não ser apagar o Azul da minha memória... Mesmo que eu me lembre que o Chocolate pode ser bem amargo.
— Sim — respondo, quando meus lábios se afastam dos dela. — Vamos para a festa. Uma hora depois, estou dentro d’água, até a cintura... Isso me dá vontade de ser um pirata e navegar por mares solitários. Claro que no fundo da minha mente enevoada sei que estou no Lago Michigan e não num oceano.
Mas agora não quero pensar com clareza, e ser um pirata parece uma opção danada de boa. Nada de família, nada de preocupações, nada de louras de olhos azuis me encarando...
Braços que parecem tentáculos me envolvem pela cintura, apertando meu estômago.
— Em que meu homem está pensando?
— Em me tornar um pirata — respondo para o polvo que acaba de me chamar de seu homem.
As ventosas do polvo estão coladas às minhas costas e movendo-se em direção ao meu rosto. Em vez de sentir medo, sinto prazer. Conheço esse polvo, esses beijos, esses tentáculos...
— Se você é um pirata, vou ser uma sereia. Você pode vir me salvar.
Penso que, de algum modo, sou eu quem precisa ser salvo, porque sinto que estou me afogando nessa garota.
— Carmen — eu digo ao polvo de olhos cor de chocolate, que se transformou numa sereia muito sexy... E de repente o corte. Percebo que estou bêbado, nu, com água até a cintura, no Lago Michigan.
— Psiu! Deixe rolar... E goze.
Carmen sabe o que fazer para que eu esqueça a vida real e me entregue à fantasia. Suas mãos e seu corpo me envolvem.
Ela flutua na água... Seu corpo parece não ter peso. Minhas mãos tocam os pontos que já toquei antes e meu corpo pressiona o dela, nos lugares certos, que bem conheço. Mas o encanto da fantasia não vem... Simplesmente não acontece. Ouço, então, as conversas e risadas dos caras que estão na margem do lago. Temos platéia. Meu polvo-sereia adora uma platéia... Eu, não.
Tomando minha sereia pela mão, começo a andar em direção à margem. Ignorando os comentários da turma, digo a ela para se vestir, enquanto pego meu jeans. Quando já estamos vestidos, tomo de novo a mão dela e, assim, caminhamos entre o pessoal até encontrar um espaço vago para sentar, perto dos nossos amigos.
Eu me encosto numa grande rocha e estico as pernas. Minha ex-namorada se deita no meu colo, como se não tivéssemos rompido, como se ela nunca tivesse me traído... E eu me sinto preso, capturado numa armadilha. Ela dá uma tragada em algo mais forte que um cigarro... E passa para mim. Olho para o pequenino cigarro, que ela põe entre meus lábios.
— Isso aqui não está calibrado... está? — pergunto. — Estou chapado, mas a última coisa de que preciso é ser preso pelos tiras da Narcóticos, por porte de maconha e cerveja. Estou a fim de me anestesiar, não de morrer.
— É só Acapulco gold, meu homem — Ashley garante.
Talvez o Acapulco gold de Ashley funcione... Talvez apague de minha memória os tiros, as ex-namoradas e as apostas imbecis, como a de fazer sexo ardente com uma garota que pensa que sou a escória da Terra.
As mãos da sereia passeiam por meu peito.
— Posso fazer você feliz, Joe — ela murmura, tão perto que posso sentir o álcool em seu hálito. Ou talvez seja no meu... Não tenho certeza. — Você me dá outra chance?
Ficar alto e bêbado me deixa confuso. E quando a imagem de Demetria e Colin, abraçados, caminhando pelos corredores da escola, me vem à mente, puxo Ashley para mais perto de mim. Não preciso de uma garota como Demetria. Preciso da quente e maliciosa Ashley, minha pequena sereia adormecida.
Chapter 19

Demetria

Consegui convencer Selena, Nick, Colin, Shane e Darlene a ir ao Club Mystique nesta noite, o lugar de que Megan me falou. O Mystique fica em Highland Grove. Como Colin não gosta de dançar, acabei dançando com o resto da turma e também com um cara chamado Troy, que dança muito bem. Acho até que aprendi uns movimentos novos, que pretendo adaptar para a turma da torcida organizada.
Agora, estamos na casa de Selena. De outro modo, como justificar para os pais dela que Selena não voltou para casa, naquela noite em que esteve em Mi? Minha mãe sabe que vou dormir na casa de Selena, hoje. Portanto, não tenho que me preocupar com telefonemas ou broncas. Enquanto Selena e eu estendemos mantas na areia, na praia privativa, atrás da casa, Darlene se retarda... Fica para trás, com os rapazes que estão descarregando as cervejas e garrafas de vinho, escondidas no bagageiro do carro de Colin.
— Nick e eu fizemos sexo, na semana passada — Selena me conta.
— Sério?
— Sim. Sabe, eu queria esperar até que entrássemos na faculdade, mas... simplesmente aconteceu. Fui até a casa de Nick, os pais deles estavam viajando, uma coisa levou à outra... E acabamos fazendo.
— Uau! E como foi?
— Não sei... Para ser franca, achei meio estranho. Mas Nick foi muito gentil, depois de tudo, me perguntando a toda hora se eu estava bem. E à noite apareceu em casa com três dúzias de rosas vermelhas. Tive de mentir para os meus pais e dizer que as rosas eram um presente pelo nosso aniversário de namoro. Eu não podia contar, simplesmente, que eram uma comemoração por eu ter perdido minha virgindade com ele... E quanto a você e Colin?
— Colin quer fazer sexo — eu digo a ela.
— Todos eles querem, depois dos catorze anos — diz Selena. — A função dos rapazes é querer ter relações sexuais.
— Mas eu... bem... não quero. Ao menos por enquanto.
— Então, a sua função é dizer não — Selena responde, como se fosse muito fácil fazer isso. Selena não é mais virgem... Ela disse sim. Por que é tão difícil, para mim, fazer o mesmo? Por que também não digo sim? — Como vou saber, quando chegar o momento certo?
— Não sou a pessoa mais indicada para responder isso. Acho que, quando estiver totalmente pronta, você vai querer fazer sexo, sem reservas, sem perguntas. Nós sabemos que eles querem sexo... Se vai acontecer, ou não, depende de nós. Sabe, a primeira vez não é nada fácil, nem divertido. Foi uma coisa meio... incômoda. E, durante a maior parte do tempo, eu me senti uma idiota. Mas estar disposta a se expor a erros, colocando-se numa posição vulnerável, com a pessoa amada, é o que torna tudo tão belo e especial.
Será que foi por isso que eu não quis fazer sexo com Colin? Talvez, no fundo, eu não o ame tanto quanto imaginava. Será que sou capaz de amar alguém, a ponto de me expor e me tornar vulnerável? Realmente, não sei.
— Tyler rompeu com Darlene, hoje — Selena me conta, baixando a voz. — Ele começou a ter encontros com uma garota, em seu dormitório.
Se eu antes não sentia pena de Darlene, agora sinto. Sobretudo porque ela depende demais da atenção dos rapazes, uma atenção que alimenta sua auto-estima. Não é à toa que, nesta noite, ela está assediando Shane o tempo inteiro.
Darlene e os outros rapazes surgem no nosso campo de visão e eu fico observando enquanto eles estendem mantas pela areia. Agarrando Shane pela camisa, Darlene puxa-o para o lado.
— Vamos fazer amor — ela diz.
Shane, com seus cabelos castanhos encaracolados, está pronto para atender seu pedido.
Puxo Darlene de lado e digo, para que só ela possa me ouvir:
— Não brinque com Shane.
— Por que não?
— Porque você não gosta dele tanto assim. Não o use... Nem deixe que ele use você.
Darlene me empurra:
— Você realmente tem uma visão distorcida da realidade, Demi... Ou talvez você goste de ficar apontando os defeitos de todo mundo, só para se sentir a Rainha da Perfeição.
Isso não é justo. Não quero apontar os defeitos de Darlene. Mas, como sua amiga, não é meu dever tentar impedi-la de prosseguir nesse jogo autodestrutivo?
Talvez não seja. Somos amigas, mas não super-íntimas. A única amiga realmente próxima que possuo é Selena. Como me atrevo a aconselhar Darlene, se não dou a ela o direito de fazer o mesmo comigo?
Selena, Nick, Colin e eu nos sentamos nas mantas e comentamos sobre o último jogo de futebol, em volta de uma fogueira que acendemos com gravetos e velhos pedaços de madeira.
Rimos, recordando os jogos em que levamos a pior e imitando o treinador do time... Quando ele fica com raiva, seu rosto enrubesce violentamente. Então ele perde o controle, começa a berrar e a mandar uma chuva de perdigotos em todo mundo. Nick faz uma imitação hilária dele.
É gostoso estar aqui, sentada, com Colin e meus amigos. Por alguns instantes consigo esquecer meu parceiro de Química, que ultimamente tem ocupado demais meus pensamentos.
Pouco depois, Seleana e Nick resolvem dar uma volta e eu me encosto em Colin, com os olhos fixos na fogueira, que espalha sua luz generosa, me encantando e fazendo a areia em torno brilhar... A despeito do meu conselho, Darlene desapareceu com Shane e ainda não voltou.
Pego a garrafa de Chardonnay que os rapazes trouxeram. Eles bebem cerveja e as garotas bebem vinho porque Selena detesta o gosto da cerveja. Levo a garrafa aos lábios e tomo o que resta... Começo a ficar ligada, mas acho que seria preciso uma garrafa inteira para que eu me sentisse solta e feliz.
— Você sentiu minha falta, nesse verão? — pergunto, inclinando-me para Colin, enquanto ele acaricia meu cabelo que, provavelmente, está despenteado. Gostaria de estar bêbada o suficiente para não me importar com isso.
Colin pega minha mão, levando-a até sua virilha... Então geme baixinho e lentamente.
— Sim — ele responde, com os lábios colados ao meu pescoço. — Demais...
Retiro a mão... E Colin começa a me acariciar; seus braços deslizam por meu peito, como cobras. Então ele aperta meus seios, como se fossem balões cheios de água. Antes, eu não me importava que Colin me tocasse, mas agora me sinto desconfortável e até irritada com essas mãos que vão e veem. Por isso me encolho, colocando-me fora de seu alcance.
— Qual é o problema, Demi?
— Não sei. — Realmente, não sei. Minha relação com Colin parece tensa, desde o início das aulas. E os pensamentos sobre Joe continuam passeando por minha cabeça... Isso me irrita, mais que tudo. Pego uma cerveja. — Isso parece tão... forçado — digo a Colin, enquanto abro a lata. Tomo um gole e pergunto: — Por que não podemos ficar aqui, sentados, conversando simplesmente, sem essa pressão sexual?
Colin deixa escapar um longo e dramático suspiro.
— Demi, eu quero fazer isso.
Tento tomar a cerveja, de uma só vez, mas acabo me engasgando.
— Você quer dizer... agora?
Se nossos amigos voltarem, eles poderão nos ver...
— Por que não? Já esperamos muito...
— Não sei, Colin — digo, assustada com o rumo da conversa. — Gostaria que isso acontecesse assim, espontaneamente... de maneira natural.
— O que poderia ser mais natural do que fazer sexo aqui, ao ar livre, na areia?
— Você trouxe preservativo?
— Eu tiro quando for gozar.
Essa resposta não foi nada romântica... E não me tranquiliza, nem um pouco. Vou morrer de preocupação o tempo inteiro, com medo de engravidar. E não é isso que espero, da minha primeira vez.
— Fazer amor significa muito, para mim — eu digo.
— Para mim também. Então, vamos começar agora.
— Você mudou muito, neste verão.
— Talvez eu tenha mudado, sim — ele responde, na defensiva. — Talvez eu queira um pouco mais, da nossa relação. Nossa, Demi... Onde já se viu uma estudante do curso secundário, ainda virgem? Todo mundo pensa que já fizemos sexo... E fico me perguntando por que não fazemos. Porra, Demi... Você até deixou que aquele cara, o Fuentes, pensasse que pode fazer sexo com você...
Meu coração salta dentro do peito.
— Acha que prefiro o Joe a você? — pergunto. Meus olhos se enchem de lágrimas. Não sei se o álcool me deixou assim, emotiva, ou se Colin acertou em cheio. Só consigo pensar no meu parceiro de Química. E me detesto por isso... E agora fiquei com raiva de Colin, por ter adivinhado o que está se passando comigo.
— E quanto a Darlene? — eu rebato, olhando ao redor, para me certificar de que ela não pode nos ouvir. — Vocês dois parecem um casalzinho apaixonado, na aula de Química.
— Pare com isso, Demi. Ao menos a Darlene me dá atenção, na aula de Química... Coisa que você não faz porque, obviamente, está sempre muito ocupada, discutindo com o Fuentes. Todo mundo sabe que é assim que começam as transas.
— Isso não foi nada engraçado, Colin.
— Ei, o que está acontecendo? — pergunta Selena, que estava com Nick atrás de uma grande rocha.
— Nada — eu respondo e recolho minhas sandálias. — Vou para casa.
Selena pega sua bolsa:
— Vou com você.
— Não — eu digo, firme.
Estou me sentindo diferente, meio aturdida e meio maravilhada... como ter uma experiência extra-sensorial. E quero desfrutá-la sozinha. No quero nem preciso de ninguém comigo. Vou andar...
— Ela está bêbada — diz Nick, olhando para a garrafa vazia e a lata de cerveja a meu lado.
— Não estou — eu digo a eles. Pego outra lata de cerveja e abro, enquanto me afasto, caminhando pela praia. Sozinha... por mim mesma... tal como deve ser.
— Não vou deixar você ir sozinha — diz Selena.
— Só quero ficar a sós comigo mesma... Preciso pensar.
— Demi, volte aqui — diz Colin, mas não se levanta.
Eu o ignoro.
— Não vá além do quarto píer — Selena me alerta. — Não é seguro.
— Seguro... grande coisa! E daí, se algo me acontecer? Colin não se importa comigo... E, pelo que me consta, meus pais também não.
Fecho os olhos, sinto a areia sob os pés, penetrando entre meus dedos. Respiro a brisa fresca e agradável que sopra do Lago Michigan, acariciando meu rosto. Tomo mais um gole de cerveja. Esqueço tudo, exceto a areia e a cerveja, e continuo andando. Paro, às vezes, para contemplar as águas escuras, onde a luz da lua se reflete e parece chegar até meus pés, por uma trilha brilhante e prateadas que divide as águas em duas partes.
Já passei por dois píers... Talvez três. De qualquer modo, minha casa não é longe. Talvez um quilômetro e meio, ou menos... Quando chego ao acesso que dá para a rua onde moro, ouço a música. Alguém está tocando, logo ali adiante. Eu amo música. E o contato dos meus pés com a areia é tão agradável... Parece um daqueles travesseiros macios, onde é bom se recostar.
Fecho os olhos e deixo que meu corpo se mova em direção à música desconhecida.
Não tenho noção de quanto caminhei e dancei... Até que o som de risos e de vozes em Espanhol me faz congelar. Pessoas usando lenços vermelhos e pretos surgem à minha frente... Num claro sinal de que ultrapassei o quarto píer.
— Vejam só... É Demetria Ellis, a patricinha mais gostosa do colégio! — diz um deles. — Venha, gracinha... Dance comigo.
Meus olhos percorrem o grupo, buscando desesperadamente por um rosto amigo. Joe.
Ele está aqui. E Ashley Greene está sentada no seu colo. Um quadro realmente preocupante.
O cara que me chamou para dançar avança em minha direção.
— Você não sabe que este lado da praia é dos mexicanos? — ele diz, chegando ainda mais perto. — Ou talvez você tenha vindo procurar algo mais... moreno. Você sabe o que dizem, baby: a carne escura é a mais gostosa.
— Ora, me deixe em paz — digo. E minha voz soa arrastada.
— Você acha que é boa demais para mim? — O cara está agora muito perto, seus olhos estão cheios de raiva. A música cessa.
Meio cambaleante, eu recuo. Estou bêbada, mas não tanto, a ponto de ignorar o perigo.
— Javier, pare com isso — diz Joe, em voz baixa. — É uma ordem.
Joe está acariciando Ashley seus lábios quase roçando a pele dela. Eu me sinto balançar... Este é um pesadelo e preciso fugir, o mais rápido possível. Começo a correr... Com o riso dos caras da gangue soando bem atrás de mim. Mas não consigo correr tão rápido como deveria. Sinto-me como num sonho. Meus pés se movem, mas não me levam a lugar algum.
— Demetria, espere! — ouço uma voz dizer.
Eu me viro e fico face a face com o cara que vem atravessando os sonhos que tenho, acordada ou não, dia e noite. Joe: o cara a quem tanto detesto... O que não consigo tirar do pensamento, não importa o quanto eu tenha bebido.
— Não ligue para o Javier — diz Joe. — Às vezes ele perde a noção das coisas.
Estou atordoada. Joe se aproxima e enxuga uma lágrima que me escorre pelo rosto.
— Não chore. Javier não ia fazer mal a você... De qualquer forma, eu não deixaria.
Devo contar a Joe que não estou com medo de me machucar e sim de perder o controle?
Embora eu não tenha corrido muito, estamos longe dos amigos de Joe. Eles não podem me ver, nem me ouvir.
— Por que você gosta da Ashley? — pergunto, enquanto o mundo balança e caio sentada na areia. — Ela é má.
Alex estende as mãos para me ajudar... E eu recuso. Então ele põe as mãos nos bolsos.
— Por que porra você se importa com a Ashley? Você me deixou na mão.
— Tive que cuidar de umas coisas...
— Como lavar o cabelo, ou ir à manicure?
Algo como ter um tufo de cabelos arrancado pela minha irmã, ou levar uma dura de minha mãe...
Bato com meu dedo no peito de Alex:
— Você é um imbecil.
— E você é uma vadia... — ele diz. — Uma vadia com um sorriso capaz de enlouquecer qualquer um... E olhos que podem fazer um cara perder a cabeça. — As palavras parecem escapar de sua boca, sem nenhum controle, e até mesmo ele parece assustado com o que acabou de dizer.
Eu esperava que Joe me falasse muitas coisas... menos isso. Sobretudo, não isso. Reparo em seus olhos injetados:
— Você está alto, Joe.
— Sim. E você também não parece muito sóbria. Talvez este seja um bom momento para me pagar aquele beijo...
— Sem chance.
— Por que não? Está com medo de gostar demais e acabar esquecendo aquele seu namorado idiota?
Beijar Joe? Nunca... Embora eu tenha pensando nisso, ultimamente. Muito mesmo. Mais do que deveria. Seus lábios são carnudos e tentadores. Cara, ele é demais. E eu estou bêbada. Definitivamente, não me sinto bem. Já passei daquele torpor inicial e agora estou delirando, porque penso em coisas que não deveria pensar, de jeito nenhum... Coisas do tipo... Bem, penso no quanto desejo sentir os lábios de Joe sobre os meus.
— Tudo bem... me beije, Joe — digo, avançando um passo e me inclinando para ele. — E então ficaremos quites.
Ele segura meus braços... É isso. Estou prestes a descobrir como é um beijo de Joe. Ele é perigoso e costuma zombar de mim. Mas é sexy e moreno e bonito. Ficar assim, tão perto de Joe, faz meu corpo estremecer de desejo e minha cabeça rodar... Enrosco meu dedo na cintura do jeans de Joe, para me equilibrar, e faço com que ele gire comigo, numa dança bêbada... É como se estivéssemos rodando num carrossel.
— Assim você vai acabar passando mal — ele avisa.
— Que nada... Estou adorando este passeio.
— Não estamos passeando.
— Oh — eu digo, totalmente confusa. Desprendendo o dedo, olho para os meus pés, que parecem se mover por conta própria, flutuando sobre a areia. — Estou zonza, só isso... Mas estou bem.
— Está nada...
— Vou me sentir melhor, se você parar de se mexer.
— Não estou me mexendo... E detesto dar uma má notícia, gracinha, mas acho que você vai vomitar.
Ele tem razão. Meu estômago está revoltado. Joe me segura com uma das mãos... Com a outra, afasta meus cabelos, enquanto eu me curvo e começo a vomitar.
Não consigo acalmar meu estômago. Vomito e me ergo, ofegante. Borbulhas e sons desconexos brotam da minha boca, mas estou bêbada demais para me importar com isso...
— Veja só... — digo, entre um acesso de vômito e outro — meu jantar caiu todo no seu sapato!

Chapter 20

Joe

Olho para o vômito, no meu sapato:
— Já passei por coisas piores...
Demetria se endireita e eu solto seus cabelos, que consegui manter afastados de seu rosto, enquanto ela vomitava. Tento não pensar na sensação desses cabelos deslizando entre meus dedos, como fios de seda.
Imagino que sou um pirata, sequestrando e levando Demetria para o meu navio. Acontece que não sou um pirata e ela não é minha princesa raptada. Somos apenas dois adolescentes que se odeiam. Ok, eu realmente não odeio essa garota.
Tiro o lenço da Sangue Latino que trago na cabeça e dou para ela:
— Tome, limpe o rosto.
Ela pega o lenço como se pegasse um guardanapo, num restaurante de primeira classe... Enxuga os cantos da boca, enquanto lavo meu sapato nas águas geladas do Lago Michigan. Não sei o que dizer ou fazer. Aqui estou, com uma Demetria Ellis completamente bêbada. Não estou acostumado a ficar sozinho com garotas brancas e chapadas. Ainda mais com esta, que me deixa doido de excitação. Com Demetria nessas condições, posso me aproveitar dela e ganhar aquela aposta que fiz... Seria bem fácil, neste momento.
— Vou arranjar alguém que leve você para casa — eu digo, antes que e minha mente detonada comece a pensar nos milhões de modos com que eu poderia ter Demetria, nesta noite. Estou zonzo de álcool e também um pouco alto. Quando fizer sexo com essa garota, quero estar totalmente lúcido.
Ela morde os lábios, amuada como uma criança.
— Não... Não quero ir para casa. Vou para qualquer lugar, menos para casa.
Cara... Estou em apuros. Tengo un problema.
Ela me olha, e seus olhos brilham como jóias raras, à luz do luar.
— Colin acha que eu quero ficar com você. Ele diz que nossas brigas são só desculpas para... bem, você sabe.
— E você... O que pensa sobre isso? — pergunto, com a respiração suspensa, ansioso para ouvir a resposta. Por favor, por favor, preciso me lembrar dessa resposta amanhã cedo.
Ela ergue o dedo e diz:
— Não sei. Ainda estou pensando no que ele disse. — Então se ajoelha no chão e vomita de novo... Quando termina, está fraca demais para andar. Ela mais parece uma boneca de pano desconjuntada. Sem saber mais o que fazer, levo Demetria até a enorme fogueira que meus amigos armaram.
Ela passa os braços em volta do meu pescoço... E sinto que ela precisa de alguém para ser seu campeão, seu herói, na vida. Certamente esse herói não é Colin... Nem eu, tampouco.
Ouvi dizer que, antes de Colin, durante o primeiro ano do curso secundário, Demetria namorou um cara do terceiro ano. É... A garota tem alguma experiência... Mas, então, por que ela parece assim, inocente? Tremendamente sexy, mas inocente.
Chego perto dos amigos... E todos me olham. Estou com uma garota branca, rica e bêbada nos braços. Eles pensam no pior... E eu não conto que, enquanto caminhávamos, minha parceira de Química resolveu cair no sono.
— O que você fez com ela? — pergunta Paco.
Lucky se levanta, furioso:
— Que merda, Joe... Então eu perdi meu RX-7?
— Não, seu cretino. Não me aproveito de garotas desmaiadas.
Pelo canto do olho, vejo Ashley... fervendo de raiva. Merda. Eu realmente acabei com a noite dela e mereço sua fúria.
Faço um gesto para Miley:
— Mi, preciso de você.
Mi lança um olhar na direção de Demetria:
— O que você quer que eu faça?
— Que me ajude a levar essa garota para casa. Estou chapado e não posso dirigir.
Mi balança a cabeça.
— Você sabe que ela tem um namorado? E que é rica? E branca? E usa roupas de grife, do tipo que você nunca poderá comprar?
Sim, eu sei. E estou cansado de me lembrar disso a toda hora.
— Preciso de ajuda, Mi... E não de um sermão. Paco já me falou de toda essa merda, hoje.
Isa levanta as mãos:
— Tudo bem, só estou apontando os fatos. Você é um cara inteligente, Joe... Então, ponha isso na cabeça: não importa o quanto você queira essa menina, em sua vida... Ela não vai pertencer a você. Um triângulo não se ajusta a um quadrado. E agora vou calar a boca.
Gracias — respondo, sem contestar a teoria de Mi... Mas se um quadrado for suficientemente grande, um triângulo pequeno pode muito bem caber dentro dele. Tudo o que se precisa fazer são alguns pequenos ajustes, na equação. Só que estou muito bêbado e alto, para argumentar sobre esse assunto.
— Deixei meu carro do outro lado da rua — diz Mi, com um longo suspiro de frustração. — Venha.
Levando Demetria, sigo Isabel até o carro, rezando para que ela não fale mais nada. Mas não tenho essa sorte...
— Eu estudei com essa garota, no ano passado — diz Mi.
— Hum-hum...
Ela dá de ombros:
— Boa menina. Mas usa maquiagem demais.
— A maioria das meninas detestam Demetria.
— A maioria das meninas gostariam de ser iguais a Demetria. Gostariam de ter o dinheiro dela, o namorado dela.
Paro e olho para Isa, com repulsa:
— O Cara de Burro?
— Oh, por favor, Joe... Colin Adams é bonito, é capitão do time de futebol, é o herói do Colégio Fairfield. E você é como o Danny Zuko, em Grease - No Tempo da Brilhantina. Você fuma, você faz parte de uma gangue, e já namorou as piores e mais quentes garotas da cidade. Já Demetria é como Sandy, a heroína do Grease... Uma Sandy que nunca vai aparecer na escola usando jaqueta de couro preta, com um cigarrinho na boca... Portanto, é melhor você desistir dessa fantasia.
Coloco “minha fantasia” no banco traseiro do carro e me sento ao lado dela.
Demetria se aconchega em mim, como se eu fosse seu travesseiro; seus cabelos louros se espalham em meu colo. Fecho os olhos por um segundo, tentando afastar essa imagem da cabeça. E não sei o que fazer com minhas mãos. A direita está apoiada no descanso da porta. A esquerda está suspensa sobre Demetria. Vacilo. A quem estou tentando enganar? Não sou virgem. Sou um cara de dezoito anos. E o fato de ter uma garota sexy, desmaiada, a meu lado, não me assusta... Mas, então, por que estou com medo de deixar meu braço na posição mais confortável, bem aqui, sobre o diafragma de Demetria?
Com a respiração suspensa, coloco meu braço sobre ela.
Demetria se aconchega ainda mais em mim... Começo a me sentir estranho, meio zonzo. Ou isso é algum efeito retardado daquele cigarrinho, ou... Não quero pensar sobre o “ou”. Os longos cabelos de Demetria se espalham em minhas coxas. Sem pensar, enrosco minhas mãos neles e fico vendo os fios sedosos deslizando entre meus dedos.
Paro abruptamente ao ver que em seu couro cabeludo, bem perto da nuca, há uma falha de cabelos... E o local está irritado. É como se tivessem arrancado um punhado de seus cabelos, ao invés de apenas alguns, para um teste anti-doping ou qualquer coisa assim.
Enquanto Isa manobra o carro, Paco se aproxima, faz sinal para ela parar e se acomoda no banco do passageiro. Eu me apresso a cobrir a falha nos cabelos de Demetria; não quero que ninguém veja esse seu defeito. Também não quero analisar meus motivos para fazer isso... Teria que pensar muito, para entender. E, nas condições em que me encontro, pensar é doloroso demais.
— Ei, crianças, resolvi dar esse passeio com vocês — diz Paco. Olha para trás e me vê com Demetria. Então balança a cabeça e faz um som com os lábios: tsk, tsk, tsk...
— Cale a boca — eu aviso.
— Não falei nada.
Um celular toca. Posso sentir a vibração, no jeans de Demetria.
— É o celular dela — digo.
— Atende — Isa me diz.
Porra, já estou me sentindo o sequestrador da garota... E agora vou atender seu celular?
Virando Demetria ligeiramente, sinto o volume no seu bolso traseiro.
Contesta — Mi torna a dizer, agora em Espanhol.
— Estou atendendo — digo, baixinho, tateando desajeitadamente o bolso de Demetria, para pegar o telefone.
— Eu cuido disso — diz Paco, inclinando-se sobre o assento e levando a mão ao traseiro de Demetria.
Eu o afasto com um tapa:
— Tire a mão daí.
— Nossa, cara eu só estava tentando ajudar.
Como resposta, olho para ele de um jeito que não deixa dúvidas sobre o que pode acontecer, se ele quiser bancar o besta de novo. Meus dedos escorregam para dentro do bolso traseiro de Demetria, e tento não pensar em como seria fazer isso, sem esse jeans atrapalhando. Puxo o celular devagar, centímetro por centímetro. O celular continua vibrando. Quando finalmente consigo sacá-lo, olho para o display.
— É Selena, amiga dela.
— Responda — diz Paco.
— Ficou louco, cara? Não vou conversar com nenhum deles.
— Então, por que pegou o telefone?
É uma boa pergunta... Que não sei como responder. Mi balança a cabeça.
— É isso que dá misturar triângulos e quadrados.
— Temos que levar Demetria para a casa dela — diz Paco. — Você não pode ficar com essa menina, Joe.
Eu sei. Mas ainda não estou pronto para me separar de Demetria... Ainda não.
— Mi, vamos para a sua casa.

~*~

Gente, eu não vou postar na segunda, nem terça, nem quarta. Só quinta, então postei 3 chapter pra compensar, ok?! Tenho que estudar muito essa semana, é meu ultimo ano antes de ir pra faculdade, então preciso dar meu máximo. Espero que me entendam.

Answers:

Anônimo: Que bom que amou, anony *-* Postei!
Gabs: Posteeeeeeei hahahaha
Demetria Devone Lovato: Yaaay \O/ que bom que está amando a história!!! haha bjos

Ps: Não deixem de comentar, amores. Quem sabe eu posto 2 quinta-feira...? ;)