Demetria
Estou tendo um
pesadelo... milhares de pigmeus invadiram minha cabeça e estão martelando meu
cérebro. Abro os olhos e me deparo com uma luz muito forte. Estremeço. Mesmo
estando acordada, os pigmeus continuam aqui dentro.
— Você está de ressaca — diz uma voz, que deve ser de uma garota.
Quando olho para o lado, descubro que essa garota é Miley.
Estamos no que parece ser um pequeno quarto, com paredes pintadas
em tom pastel, amarelo. O vento entra pelas janelas abertas, fazendo esvoaçar
as cortinas, também amarelas, combinando com as paredes.
Não estou em minha casa... Certamente não, pois lá em casa nunca
abrimos as janelas. Sempre usamos o sistema de ar condicionado ou a calefação,
dependendo do clima.
Com os olhos meio fechados, pergunto:
— Onde estou?
— Na minha casa. Se eu fosse você, não me mexeria... Para não
vomitar de novo, sabe? Meus pais vão pirar se você estragar o carpete — diz
Miley. — Sorte nossa que eles estão viajando. Assim, tenho a casa só para mim,
até a noite.
— Como vim parar aqui? — A última coisa de que me lembro é que
estava voltando para a minha casa...
— Você desmaiou, na praia. Então, Joe e eu trouxemos você para cá.
Ao ouvir o nome de Joe, abro totalmente os olhos. Lembro-me
vagamente de ter bebido... de estar andando pela praia... de ver Joe e Ashley,
juntos. E depois Joe e eu... Será que beijei Joe? Sei que me aproximei dele,
mas, então... Acho que comecei a vomitar. Sim, me lembro disso... Nada a ver
com a imagem de perfeição que tento sempre preservar. Eu me sento, lentamente,
esperando que em algum momento minha cabeça pare de girar.
— Eu... cometi alguma estupidez? — pergunto.
Mi encolhe os ombros.
— Não sei, ao certo. Joe não deixou ninguém chegar perto de você.
Agora... Se você acha que desmaiar nos braços dele foi uma estupidez... Então,
sim, você foi bastante estúpida.
Escondo a cabeça entre as mãos.
— Oh, Miley, por favor, não comente sobre isso lá no colégio.
Ela sorri:
— Não se preocupe. Não vou contar a ninguém que Demetria Ellis é humana.
— Por que você está sendo tão legal, comigo? Quero dizer, quando Ashley quis me agredir, você me defendeu... E agora me deixou dormir aqui a noite inteira, mesmo depois de ter ficado bem claro que não somos amigas.
— Por que você está sendo tão legal, comigo? Quero dizer, quando Ashley quis me agredir, você me defendeu... E agora me deixou dormir aqui a noite inteira, mesmo depois de ter ficado bem claro que não somos amigas.
— Também não sou amiga de Ashley. Ao contrário: temos uma
rivalidade antiga... Sou capaz de fazer qualquer coisa para irritar aquela garota.
Ela não consegue entender que Joe não é mais seu namorado.
— Por que eles romperam?
— Pergunte isso a Joe. Ele está dormindo, no sofá da sala... Apagou
logo depois de ter colocado você na minha cama.
Oh, não! Joe está aqui? Na casa de Miley?
— Ele gosta de você, sabe? — diz Miley, observando as unhas, sem
olhar para mim.
As palavras de Miley mexem comigo. Excitação, medo e alegria me
invadem.
— Não é verdade — eu digo, embora esteja tentada a fazer
perguntas, a pedir detalhes.
— Oh, por favor, você sabe disso, mesmo não querendo admitir.
— Para alguém que diz que nunca seremos amigas, você está
compartilhando muitas coisas comigo, nesta manhã.
— Bem, eu até queria que você fosse mesmo a vadia que algumas
pessoas dizem que é...
— Por quê?
— Porque seria mais fácil detestar você.
Um riso breve, incrédulo, escapa da minha boca. Não estou a fim de
contar a verdade a Miley. Não vou falar que minha vida está se desintegrando,
escapando entre meus dedos, como a areia da praia, ontem à noite.
— Preciso ir para casa. Onde está meu celular? — pergunto,
tateando o bolso de trás do jeans. — E minha bolsa?
— Acho que estão com Joe.
Então, não poderei sair de mansinho, sem falar com ele. Luto para
manter os pigmeus quietos dentro da minha cabeça, enquanto me arrasto para fora
do quarto, em busca de Joe.
Foi bem fácil encontrá-lo. A casa inteira é menor do que a piscina
de Selena. Joe está deitado num velho sofá, usando apenas um jeans e nada mais.
Seus olhos estão abertos, vermelhos e sonolentos.
— Ei... — ele diz, muito amável, enquanto se espreguiça.
Oh, Deus, estou numa grande encrenca. Não consigo deixar de olhar,
ansiosamente, para o bíceps e o tríceps e todos os outros “íceps” de Joe. A
sensação de medo, alegria e excitação cresce desmesuradamente e meus olhos
inquietos encontram os dele.
— Ei... — Eu engulo em seco. — Eu... bem... acho que devo
agradecer por você ter me trazido para cá, em vez de me deixar desmaiada lá na
praia.
Ele me olha com firmeza, enquanto diz:
— Descobri uma coisa, na noite passada: não
somos tão diferentes. Você faz o jogo das
aparências, assim como eu. Você usa seu visual, o corpo e o cérebro, para se
garantir, para manter o controle da situação.
—
Estou de ressaca, Joe. Não consigo nem pensar direito... E você resolve bancar
o filósofo para cima de mim?
—
Viu? Você está fazendo o jogo, neste exato momento. Seja sincera comigo,
gracinha... Aceite meu desafio e seja verdadeira.
Ele
só pode estar brincando. Ser verdadeira? Não posso... Pois começaria a
chorar, ou talvez pirasse o suficiente para deixar escapar a verdade: que criei
uma imagem de perfeição, para me esconder atrás dela...
—
Tenho que ir para casa.
— É
melhor passar pelo banheiro, antes — ele aconselha.
Antes
que eu possa perguntar por que, vejo, de relance, meu reflexo num
espelho que pende da parede.
—
Droga! — eu grito. Parte do rímel endureceu sob meus olhos e outra parte
escorreu, desenhando linhas escuras em minhas faces.
Estou
parecendo um cadáver. Passo rápido por Joe, atravesso um corredor, entro no
banheiro e me olho no espelho. Meu cabelo está pegajoso e despenteado, parece
um ninho de pássaro. Como se o estrago causado pelo rímel já não fosse
suficiente, estou tão pálida como minha tia Dolores, quando tira a maquiagem.
Tenho bolsas sob os olhos, bolsas tão grandes, que dariam para armazenar água
para os meses de estiagem... Em tudo e por tudo, estou horrível... sob qualquer
padrão.
Molho
um pedaço de papel higiênico, esfrego na área abaixo dos olhos e nas bochechas,
até que as linhas desapareçam. Agora preciso de um creme removedor de
maquiagem, para conseguir tirá-las por completo. E minha mãe já me avisou que
não é bom esfregar a pele sob os olhos, porque isso vai acabar provocando rugas
prematuras. Mas uma situação desesperadora requer medidas radicais...
Quando
as marcas deixadas pelo rímel enfim parecem imperceptíveis, tento atenuar as
bolsas, com água fria.
Sei
que tudo isso vai servir apenas para amenizar os danos... Só posso cobrir as
imperfeições e esperar que ninguém me veja desse jeito. Improviso um pente, com
os dedos, e o resultado não é lá muito bom. Então, prendo meus cabelos em
“puff”, no alto da cabeça, esperando conseguir um visual melhor do que esse
ninho de pássaro.
Enxáguo
a boca com água, esfrego os dentes com um creme dental, esperando eliminar o
pior da noite: o vômito, o sono pesado e a embriaguez... Tudo isso tem que
desaparecer, antes que eu chegue em casa. Se ao menos tivesse um brilho para
passar nos lábios... Mas, que pena, não tenho.
Endireitando
os ombros e mantendo a cabeça erguida, abro a porta e volto à sala onde Joe se
encontra, agora em pé. Vejo Miley a caminho do seu quarto.
—
Onde está meu celular? — pergunto. — E, por favor, vista uma camisa.
Ele se abaixa e
pega meu telefone, que estava no chão.
— Por quê?
— O motivo pelo qual pedi meu celular — eu
digo, pegando o aparelho de suas mãos — é que preciso ligar para um táxi. E o
motivo pelo qual pedi que vista a camisa... bem...
— Você nunca viu um cara sem camisa, antes?
— Ah... Muito engraçado! Escute, o que vi ou
deixei de ver, não é da sua conta.
— Quer apostar? — ele diz, abrindo o botão do
jeans.
Miley volta à sala, nesse exato momento.
— Ei, Joe! Você não está pensando em tirar as
calças bem aqui, no meio da minha casa... Está?
Ela se vira para mim e eu ergo as mãos:
— Não me olhe assim. Eu ia chamar um táxi,
quando ele...
Balançando a cabeça, enquanto Joe abotoa o
jeans, Miley pega sua bolsa e retira um molho de chaves.
— Esqueça o táxi. Vou levar você para casa...
— Eu levo
— Joe interrompe.
Miley parece farta de nós dois. Nesse momento, sua expressão me faz lembrar a Sra.
Peterson, na aula de Química.
—
Quem você prefere? — ela pergunta. — Eu ou Joe?
Tenho
um namorado. Bem, reconheço que a cada vez que Joe me olha sinto uma onda de
calor se espalhando por todo o meu corpo. Mas isso é normal. Somos jovens e
entre nós existe uma óbvia atração sexual. Desde que fique só nisso, que não
aconteça mais nada, não vejo problema algum.
Pois
se eu fizesse uma besteira dessas, as consequências seriam desastrosas. Eu
perderia Colin, perderia meus amigos... E também o controle que tenho sobre
minha vida. Porém, mais que tudo, perderia o que resta do amor que minha mãe
tem por mim. Se eu não fosse considerada uma pessoa tão perfeita, o que
aconteceu ontem com minha mãe pareceria insignificante. Para ela, quase tudo é
aceitável, desde que as aparências sejam mantidas. Ela perderia muitos pontos,
na consideração geral, se alguém do clube que frequenta me visse com Joe.
Diminuída entre seus amigos, por uma ação minha, acabaria por me rejeitar. E
isso eu não suportaria.
—
Miley, me leve para casa — eu digo. E então olho para Joe.
Ele
aceita minha decisão, com um leve aceno de cabeça. Veste a camisa, pega suas
chaves e sai sem dizer uma palavra. Escuto o som de sua moto, se afastando.
Em
silêncio, sigo Miley até seu carro.
—
Você considera Joe mais do que um amigo, não é? — pergunto.
—
Mais como um irmão. Nós nos conhecemos desde crianças.
Dou
a ela algumas indicações sobre o trajeto para minha casa. Será que Miley está
dizendo a verdade?
— Você acha Joe
atraente?
— Conheço Joe desde que ele chorava quando
seu sorvete caía no chão... Tínhamos uns quatro anos de idade. E também foi com
ele que eu... — Miley se interrompe. — Bem... já passamos por muitas coisas,
juntos.
— Muitas coisas? Será que você pode explicar
melhor?
— Não para você.
Quase posso ver um muro invisível se erguendo
entre nós.
— Então, nossa amizade só vai até aqui?
Ela me olha de lado:
— Nossa amizade está apenas começando,
Demetria. Não force a barra.
Já estamos perto de minha casa.
— É a terceira rua, à esquerda — digo.
— Eu sei.
Miley para em frente minha casa, ignorando o
rebaixamento na calçada, que permite a entrada de carros. Nós nos olhamos. Será
que espera que eu a convide para entrar? Não costumo receber nem mesmo meus
melhores amigos, aqui em casa.
— Bem, obrigada pela carona — digo. — E por
ter me deixado desabar no seu quarto...
Miley
responde com um sorriso não muito alegre:
—
Sem problemas.
—
Não vou deixar que as coisas se compliquem entre Joe e eu, ok? — Embora, no
fundo, alguma coisa já esteja acontecendo...
—
Ótimo. Pois, se fizerem alguma besteira, a coisa toda vai acabar explodindo na
cara de vocês.
Os
pigmeus voltam a martelar meu cérebro... E não consigo pensar direito sobre o
que Miley acaba de dizer.
Encontro
minha mãe e meu pai sentados em torno da mesa da cozinha. Tudo está muito
quieto. Quieto demais, por sinal. Há alguns papéis diante deles, sobre a mesa.
Impressos, ou algo parecido. Ao me ver, os dois rapidamente se erguem, como se
fossem crianças pegas em flagrante, numa travessura.
—
Ora... — diz minha mãe — pensei que você ainda... Bem, que você ainda estivesse
na casa de Selena.
Meus
sentidos estão alertas. Minha mãe jamais gagueja. E parece nem ter
percebido meu visual deplorável... Isso não é nada bom.
— Eu
estava, mesmo. Mas acordei com uma dor de cabeça terrível. — E me aproximo,
olhando para os estranhos papéis, que parecem interessar tanto a meus pais.
Tento decifrar seu conteúdo. Consigo ler: Casa de Repouso Sunny Acres, para
Pessoas Especiais.
— O
que vocês estão fazendo?
—
Discutindo nossas opções — diz meu pai.
— Opções? Mas nós não concordamos que
internar Shelley estava fora de questão?
Minha mãe se vira para mim.
— Não. Você decidiu
que internar Shelley seria uma má ideia. Nós ainda estamos discutindo o
assunto.
—
Vou entrar na Northwestern no ano que vem, para poder morar perto de casa e
cuidar de Shelley.
— No
ano que vem você terá de se concentrar nos estudos e não em sua irmã — diz meu
pai, se erguendo. — Escute, Demetria, temos de pensar sobre essa alternativa.
Depois do que Shelley fez com você, ontem...
—
Não quero ouvir falar desse assunto — digo, interrompendo-o. Não aceito, de
modo algum, que minha irmã vá embora desta casa. Apanho os papéis sobre a mesa.
Shelley precisa estar com sua família e não numa clínica, na companhia de
estranhos. Rasgo os papéis pelo meio, jogo-os na lata de lixo e então corro
para o meu quarto.
—
Abra essa porta, Demi — diz minha mãe, mexendo na maçaneta.
Eu
me sento na borda da cama. Fico atordoada, só de imaginar Shelley sendo posta
para fora de nossa casa. Não, isso não pode acontecer. Só de pensar nessa
possibilidade, já me sinto doente.
—
Você nem mesmo treinou Baghda! Parece que você quer mandar Shelley embora para
sempre.
—
Não seja ridícula. — A voz de minha mãe atravessa a porta, um tanto amortecida.
— Descobrimos uma clínica, no Cobrado, recém-construída... Se você abrir a
porta, poderemos discutir sobre isso de maneira civilizada.
—
Não quero uma discussão civilizada. Meus pais resolveram mandar minha irmã para
uma clínica, nas minhas costas. E minha cabeça parece que vai
explodir... Portanto, me deixe sozinha, ok?
Alguma coisa está saindo do meu bolso... É o lenço de
Joe. Miley, que não é minha amiga, tem me ajudado muito, nesses dias. E Joe
cuidou de mim, ontem à noite, como se fosse meu namorado. Ele me protegeu. E
depois me pediu para ser verdadeira... Será que sei o que isso significa?
Seguro o lenço de Joe junto ao peito. E me permito chorar.
~*~
I'm back u-u
Como estão, amores?
Recesso escolar é a melhor coisa que existe haha estou feliz por estar livre da escola por 2 dias.
E vocês?
Fiquei 4 dias sem entrar e só teve 1 comentário? Ué, o que aconteceu?
A estória está ruim, é isso?
A estória está ruim, é isso?
Bom... tentem comentar ou pelo menos marcar nas opções das reações que tem embaixo de cada post, sei lá :/
Answer:
Demetria Devone Lovato: Obrigada por entender, linda *-* Já pensou em que curso na faculdade vai fazer?? Eu ainda estou indecisa :s Postei ^^ beijos.
PERFEITO
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ela ta gostando dele lalalala kkkkk
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Eu to pensando em fazer jornalismo ou turismo ainda to decidindo, minha mãe quer que eu faça medicina, mas sei lá não to muito afim!!
e vc ta pensando em fazer o que?
Beijos
Ameiii tbm amo ficar sem escola hah posta mais hein ..
ResponderExcluirQue lindo a Demi ja quase amando o Joe e virando amiga da Mi <3 POSTA LOGO
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