sexta-feira, 29 de março de 2013

Chapter 22 + Feliz Pascoa!!


Joe

Ela me ligou. Se não fosse pelo pedaço de papel rasgado, com o nome e número de Demetria rabiscado com a letra de Frankie, meu irmão, eu não acreditaria que ela realmente telefonou. Dar uma bronca em Frankie não vai adiantar nada, porque o moleque tem uma cabeça de pulga e quase nunca se lembra, quando atende uma ligação. A única informação que consegui arrancar dele foi que Demetria pediu que eu telefonasse de volta. Mas isso aconteceu ontem à tarde, antes que ela vomitasse no meu sapato e desmaiasse nos meus braços.
Quando eu disse a Demetria para ser verdadeira, vi o pavor nos seus olhos. Mas do que será que ela tem medo? Preciso penetrar suas defesas, derrubar a fachada de “perfeição” que ela criou para si.
Agora sei que Demetria é bem mais que uma loura fatal, com um corpo de tirar o fôlego. Ela guarda segredos... que parece ansiosa por compartilhar. Pois está na cara que esses segredos a estão sufocando. Nossa... Ela é um mistério que preciso desvendar.
Quando eu disse a Demetria que somos parecidos, não era conversa fiada. Esta conexão que temos não vai acabar, só vai se tornar mais forte a cada dia. Pois quanto mais tempo passo ao lado de Demetria, mais perto dela quero ficar.
Tenho vontade de telefonar, só para ouvir sua voz, mesmo que ela esteja carregada de veneno. Abrindo o celular, enquanto me sento no sofá, na sala de minha casa, gravo o número de Demetria na memória.
— Para quem você está ligando? — Paco pergunta, entrando sem pedir licença, sem bater ou tocar a campainha. Mi vem logo atrás dele.
Fecho o celular e respondo:
— Ninguém.
— Então, levante daí. Vamos jogar futebol.
Jogar futebol é muito melhor do que ficar aqui, sentado, pensando em Demetria e seus mistérios, mesmo que eu ainda esteja sentindo os efeitos da ressaca da noite passada.
Vamos até o parque, onde os jogadores já estão se aquecendo.
Mario, um cara da minha classe, cujo irmão morreu atropelado no ano passado, me dá uma tapa nas costas:
— Quer ser o goleiro, Joe?
— Não. — Tenho o que se costuma chamar de “personalidade ofensiva”... No futebol e na vida. Paco aceita e assume a posição. Mas em vez de ficar em pé, senta-se de cócoras na linha do gol. Como de costume, meu amigo preguiçoso continua sentado, até o momento em que a bola rola para o seu lado do campo.
Quase todos os jogadores são do meu bairro. Crescemos juntos. Brincamos nesse playground desde crianças e entramos para a Sangue Latino praticamente ao mesmo tempo. Ainda me lembro de Lucky nos dizendo que fazer parte de uma gangue era como ter uma segunda família, que nos daria apoio, mesmo quando nossa própria família falhasse. Uma segunda família que nos daria proteção e segurança. Isso parecia perfeito para um garoto que tinha perdido o pai, tão pequeno.
Aprendi, com o tempo, a não pensar nas coisas ruins, Os espancamentos, o negócio sujo das drogas, os tiroteios. E estou falando de todas as gangues, de modo geral. Sei de caras que tentaram sair fora e foram encontrados mortos... Ou tão judiados, por sua própria gangue, que provavelmente desejariam ter morrido. Para ser franco, eu bloqueio tudo isso porque acho uma merda. Esperam que eu seja durão, o suficiente para não me importar... Mas acontece que me importo.
Tomamos nossas posições, no campo. Imagino que a bola seja um talismã e penso: se eu conseguir driblar todo mundo e acertar o gol, vou me transformar num cara rico e poderoso, num passe de mágica... Um cara capaz de manter a família e os amigos a salvo, neste buraco infernal que é o bairro onde moro.
Há jogadores muito bons, nos dois times. O adversário tem uma vantagem, já que Paco é o nosso goleiro... E lá está ele, coçando as bolas, no outro lado do campo.
— Ei, Paco, pare de coçar o saco e preste atenção! — grita Mario.
Como resposta, Paco finge pegar suas bolas e jogá-las para o alto, como num número de malabarismo. Aproveitando o momento, Chris chuta... A bola passa à direita de Paco e entra no gol.
Mario pega a bola lá dentro e atira em cima de Paco:
— Se você estivesse tão interessado no jogo quanto em seus ovos, eles não teriam marcado.
— O que posso fazer, se estou morrendo de coceira, cara? Sua namorada deve ter me passado chatos, ontem à noite.
Mario ri, sem acreditar, nem por um instante, que sua garota possa traí-lo. Paco joga a bola para Mano, que passa para Lucky, que conduz a bola e passa para mim... É minha chance: vou driblando, ao longo do campo, parando apenas para calcular até onde devo ir, antes de chutar no gol.
Fingindo que vou para a esquerda, passo a bola para Mano e ele me devolve. Com um chute certeiro, a bola sobe direto... E marcamos.
— Gooooooooooooooolllllll! — grita o nosso time, enquanto Mario ergue a mão espalmada e bate contra a minha.
Nossa comemoração não dura muito. Um Escalade azul vem subindo a rua, bem devagar, e isso é altamente suspeito.
— Você reconhece aquele carro? — Mario pergunta, tenso.
O jogo para. Os caras percebem que alguma coisa não está bem...
— Pode ser alguém querendo “dar o troco” — digo.
Meus olhos estão fixos na janela do carro. O Escalade para. Todos esperamos para ver quem ou o que vai sair por aquela porta. Estamos prontos para a ação.
Mas quem desce do carro é meu irmão, Josh, com um cara da Sangue, o Wil... E para isso eu não estava preparado. Wil anda recrutando novos membros e é melhor que não tenha jogado seu papo furado sobre o meu irmão. Eu sou membro da Sangue Latino... Josh e Frankie, não. Sou capaz de fazer qualquer coisa, para que eles não entrem nessa. Trato de esconder o que estou sentindo e caminho na direção de Wil, esquecendo completamente o jogo de futebol.
— Carro novo? — pergunto, olhando para as rodas.
— É da minha mãe.
— Legal. — Olho para meu irmão. — E aí... Por onde vocês andaram?
Josh encosta no carro; não parece nada à vontade.
— Fomos até o shopping, numa loja nova, que vende guitarras. Hector encontrou a gente lá e...
Será que ouvi direito? Hector?
A última coisa que quero no mundo é ver meu irmão andando por aí com Hector.
Wil, com sua grande camisa para fora das calças, dá um tapa no ombro de Josh, para fazê-lo calar a boca. Meu irmão obedece, mas parece fazer um imenso esforço para se conter.
Juro que vou dar uma prensa em Josh, vou chutar o traseiro dele daqui até o México, se ele continuar com essa estória de entrar na Sangue.
— Fuentes, você vai jogar, ou não? — alguém grita, do campo.
Escondendo minha raiva, pergunto a meu irmão e a Wil, que parece pronto a arrastá-lo para o buraco:
— Querem jogar?
— Não — Wil responde. — Estamos indo para a minha casa.
Fervendo de raiva, dou de ombros, fingindo indiferença:
— Tudo bem...
Volto para o jogo, apesar da vontade de agarrar Josh pela orelha e arrastá-lo de volta para casa. Mas não posso fazer uma cena, que provavelmente chegará ao ouvido de Hector, que vai questionar minha lealdade.
Às vezes minha vida parece uma grande farsa.
Josh vai embora, com Wil. Isso, junto com minha dificuldade de tirar Demetria da cabeça, me deixa louco.
O jogo recomeça e estou inquieto. De repente, parece que os jogadores do outro time são inimigos que atravessam meu caminho, impedindo que eu alcance meus objetivos. Pego a bola...
— Porra, cara! — grita o primo de um amigo, quando dou um tranco nele. — Isso é falta!
Ergo as mãos:
— Não foi falta, não!
— Você quase me derrubou.
— Não seja frouxo — digo, sabendo que estou levando a coisa muito longe. Mas acontece que quero brigar... Estou pedindo por isso. E ele percebe. O cara é do meu tamanho e deve ter o mesmo peso. Minha adrenalina está a mil.
— Você quer me encarar, cretino? — ele diz, abrindo os braços, como um pássaro prestes a voar.
Intimidação é coisa que não funciona comigo.
— Venha...
Paco se coloca entre nós.
— Calma, Joe.
— Vocês vão brigar ou jogar? — alguém grita.
— Ele me chamou de cretino — digo a Paco, enquanto o sangue ferve em minhas veias. — E disse que fiz falta.
Paco dá de ombros:
— Você fez, mesmo.
Ok, meu melhor amigo não está me apoiando... Acho que perdi a parada. Olho ao redor. Todo mundo está esperando para ver o que acontece. E minha adrenalina sobe ainda mais.
Estou a fim de brigar? Claro que sim... Mas só se for para tirar essa coisa ruim do meu corpo... Para esquecer, nem que seja por um momento, que tenho o telefone da minha parceira de Química gravado no celular. E que meu irmão está na mira da Sangue, para ser recrutado.
Meu melhor amigo me separa do cara que quer rachar minha cabeça, me empurra para fora do campo e chama um dos reservas para entrar no meu lugar.
— Por que você se meteu no meio? — pergunto.
— Para salvar sua pele, cara. Joe, você perdeu a noção... Completamente!
— Posso dar conta daquele idiota — eu insisto.
Paco me olha nos olhos e diz:
— Quem está bancando o idiota, aqui, é você.
Afasto as mãos de Paco da minha camisa e me aprumo. Andei fazendo um monte de besteiras, nessas últimas semanas. Minha vida está de pernas para o ar. Preciso consertar as coisas. De Josh eu cuido à noite, quando chegar em casa. Vou dar uma bronca daquelas.
E Demetria... Ok, ela não quis que eu a levasse para casa, porque não queria ser vista comigo. Que se dane. Demetria também vai receber sua dose.
Abro meu celular e ligo para ela.
— Alô?
— Aqui é Joe — embora ela saiba muito bem quem está ligando, é só olhar no identificador de chamadas. — Quero ver você, agora, na biblioteca.
— Não posso.
Mas este não é o Show da Demetria Ellis. É o Show do Joe Fuentes.
— É o seguinte, gracinha... — digo, me aproximando de casa e pegando a moto. — Ou você aparece na biblioteca, em quinze minutos, ou vou convidar cinco amigos para acampar no gramado em frente à sua casa... E talvez a gente passe a noite por aí.
— Como ousa... — Demetria começa a dizer, mas desligo o celular, antes que ela termine a frase.
Acelero a moto e o ruído do motor me ajuda a bloquear as lembranças da noite passada, quando Demetria se aconchegou em mim... De repente, me lembro que não tenho uma estratégia de jogo. E me pergunto se o Show de Joe Fuentes vai acabar em comédia ou em tragédia... O que é bem mais provável. De qualquer forma, será um reality show que não posso perder.

~*~

Feliz Pascoa, amores <33 e obrigada por comentarem *--*
Se quiserem, postarei amanhã ;D apenas comentem

Answers:

Demetria Devone Lovato: Eles se amam e não admitem u-u hahaha Jornalismo e Turismo parece legal. Medicina, eu não faço nem me pagando, odeio sangue, odeio hospitais, então.. haha Estou pensando em fazer Arquitetura, ou Desenho Industrial, ou  Astrologia, ou Nutrição, ou Design de Interiores... Minha mãe queria que eu fizesse arquitetura pra seguir os passos do meu Pai. Eu até queria também, mas fiquei indecisa esse ano sobre o que eu quero de verdade. :s Postei, beijos
Anônimo: É reconfortante acordar e saber que você vai ficar em casa, ao em vez de ir para aquele inferno de escola. Não que eu odeie minha escola, mas estou cansada de estudar e já estou ficando estressada hahaha postei ;)
Fã Forever: Sim *-* Mas ainda vai acontecer tanta coisa... u-u hahaha postei :)

Um comentário:

  1. Perfeito
    Posta Logo estou doida para ver o Show de Joe Fuentes!!
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    Arquitetura é muito legal, mas acho Design de Interiores eu acho mais interessante!!!

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    Beijos

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