sábado, 26 de janeiro de 2013

Capítulo III e Capítulo IV


The Fault In Our Stars

Fiquei acordada até bem tarde lendo O preço do alvorecer. (Para acabar com o suspense: o preço do alvorecer é o sangue.) Não era nenhum Uma aflição imperial, mas o protagonista, o Sargento Max Mayhem, era ligeiramente simpático, apesar de ter matado, pelas minhas contas, nada menos que cento e dezoito indivíduos em duzentas e oitenta quatro páginas.
Por isso acordei tarde na manhã seguinte, uma quinta-feira. Minha mãe seguia a seguinte política: nunca me acordar, pois um dos pré-requisitos do Doente Profissional é dormir muito. O que me deixou meio confusa, num primeiro momento, quando fui despertada pelas mãos dela em meus ombros.
— São quase dez horas da manhã — ela disse.
— O sono combate o câncer. Fiquei acordada até tarde lendo.
— Deve ser um livro e tanto — ela disse ao se ajoelhar ao lado da cama e me desconectar do enorme concentrador de oxigênio retangular, que eu chamava de Felipe, porque simplesmente tinha cara de Felipe. Mamãe me conectou a um cilindro portátil e me lembrou que eu tinha aula. — Foi aquele menino que deu isso para você? — ela perguntou.
— Com isso você quer dizer herpes?
— Você é impossível — mamãe comentou. — O livro, Demetria. Estou falando do livro.
— Sim, ele me deu o livro.
— Está na cara que você gosta dele — ela falou, as sobrancelhas arqueadas, como se uma observação dessas dependesse exclusivamente de um instinto maternal.
Dei de ombros.
— Eu disse que o Grupo de Apoio acabaria valendo a pena — continuou ela.
— Você ficou esperando lá fora o tempo todo?
— Fiquei. Levei coisas para ler. Mas isso não vem ao caso. Hora de sair para aproveitar o dia, minha jovem.
— Mãe. Dormir. Combate. Câncer.
— Eu sei, querida, mas você tem aula agora. Além disso, hoje é… — A alegria na voz da mamãe era evidente.
— Quinta-feira?
— Você esqueceu, de verdade?
— Talvez?
— Hoje é quinta-feira, vinte e nove de março — ela disse aquilo quase gritando, o sorriso estampado no rosto.
— Você parece estar muito feliz só de saber que dia é hoje — gritei também.
— DEMETRIA! HOJE É SEU TRIGÉSIMO TERCEIRO MEIO ANIVERSÁRIO!
— Ahhhhh! — falei. Minha mãe era totalmente adepta da prática de maximizar as celebrações de datas comemorativas. HOJE É O DIA DA ÁRVORE! VAMOS ABRAÇAR ÁRVORES E COMER BOLO! COLOMBO TROUXE VARÍOLA PARA OS NATIVOS DA AMÉRICA; PRECISAMOS FESTEJAR A DATA COM UM PIQUENIQUE! etc. — Já que é assim, feliz trigésimo terceiro meio aniversário para mim — completei.
— O que você quer fazer neste dia tão especial?
— Voltar para casa depois da aula e assistir ao maior número possível de episódios de Top Chef de uma vez só para bater o recorde mundial nessa categoria?
Mamãe esticou o braço e pegou, da prateleira acima da minha cama, o Azulzinho, o urso de pelúcia azul que eu tinha desde, tipo, um ano de idade — quando ainda era socialmente aceitável dar para os bichos de pelúcia nomes inspirados na cor deles.
— Você não quer ir ao cinema com a Miley ou com o Josh? — Esses eram meus amigos.
Era uma ideia.
— Pode ser — respondi. — Vou mandar uma mensagem de texto para a Miley e ver se ela quer ir ao shopping ou fazer alguma coisa depois da aula.
Mamãe sorriu, abraçada ao urso.
— Ir ao shopping ainda é considerado um programa legal? — ela perguntou.
— Eu me orgulho muito de não saber o que é ou não é um programa legal — respondi.

* * *

Mandei um torpedo para a Miley, tomei banho, vesti uma roupa e mamãe me deu uma carona até a escola. A matéria do dia era Literatura Norte-americana, uma aula sobre Frederick Douglass dada numa sala tipo anfiteatro praticamente vazia. Foi muito difícil manter os olhos abertos. Quarenta minutos depois de iniciada a aula de noventa minutos, a Miley respondeu.
Legal. Feliz Meio Aniversário. Castleton às 3h32?
A Miley possuía uma vida social concorrida, organizada visando o melhor aproveitamento do tempo dela. Respondi:
Boa ideia. Te vejo na praça de alimentação.
Mamãe me levou de carro direto da escola para a livraria ao lado do shopping, onde comprei tanto o Alvoradas à meia-noite quanto o Réquiem para Mayhem, os volumes seguintes da série “O preço do alvorecer”. Depois fui andando até a ampla praça de alimentação e comprei uma Coca Zero. Eram 3h21.
Enquanto lia, dei uma espiada nas crianças que brincavam num navio pirata na área de recreação do shopping. Duas atravessavam um túnel repetidas vezes, engatinhando, e não se cansavam daquilo, o que me fez lembrar do Joseph Jonas e de seus lances livres carregados de existencialismo.
Mamãe também estava na praça de alimentação, sozinha, sentada em um canto, achando que eu não conseguia vê-la, comendo um sanduíche de filé com queijo e lendo alguns papéis. Artigos médicos, provavelmente. Aquelas leituras pareciam não ter fim.
Às 3h32 em ponto, avistei Miley passando, confiante e decidida, em frente ao restaurante Wok House. Ela me viu quando levantei o braço, abriu um sorriso de dentes branquinhos e recém-alinhados, e veio andando na minha direção.
Ela estava com um casaco cinza-escuro que ia até o joelho, perfeitamente ajustado ao corpo, e óculos escuros que cobriam boa parte do rosto. Ela empurrou os óculos para o alto da cabeça quando se abaixou para me abraçar.
— Amada — disse de um jeito levemente afetado. — Como vai?
Ninguém achava aquele modo de falar estranho nem se incomodava. Acontece que a Miley era uma socialite britânica de vinte e cinco anos presa no corpo de uma adolescente de dezesseis e morando em Indianápolis. Todo mundo aceitava aquilo.
— Estou bem. E você?
— Nem sei mais. Isso é Coca Zero? — Fiz que sim com a cabeça e entreguei o copo para ela, que tomou um gole pelo canudo. — Eu adoraria que você estivesse indo à escola nos últimos tempos. Alguns dos meninos ficaram totalmente apetitosos.
— É mesmo? Tipo quem? — perguntei. Ela listou cinco garotos que foram da nossa turma na educação infantil e no ensino fundamental, mas não consegui me lembrar de nenhum deles.
— Estou saindo com o Liam Hemsworth já faz algum tempo — ela disse —, mas não acho que vá durar. Ele é tão infantil... Mas chega de falar de mim. Quais são as novidades no universo Demetria?
— Nenhuma, na verdade — respondi.
— A saúde está boa?
— Na mesma, acho.
— Falanxifor! — ela disse, entusiasmada, sorrindo. — Então você pode acabar vivendo para sempre?
— Talvez não para sempre — ponderei.
— Mas, praticamente — ela falou. — Nenhuma outra novidade?
Pensei em contar para ela que estava saindo com um garoto também, ou pelo menos que tinha assistido a um filme com ele, só porque sabia que o fato de alguém como eu, tão descuidada da aparência, dos bons modos e baixinha, poder, mesmo que por um breve momento, despertar o interesse de um garoto causaria surpresa e espanto na Miley. Mas não tinha muito do que me gabar, na verdade, então só dei de ombros.
— Céus, o que é isso? — ela perguntou, apontando para o livro.
— Ah, é ficção científica. Estou meio que curtindo sci-fi agora. É uma série.
— Estou chocada. Vamos fazer compras?

* * *

Fomos à sapataria. Enquanto escolhíamos os modelos, a Miley ia me mostrando sapatilhas abertas na frente e dizendo: “Essas ficariam lindas em você”, o que me fez lembrar do fato de que ela nunca usava sandálias porque odiava os próprios pés. Achava que os dedos ao lado dos dedões eram compridos demais, como se fossem uma janela para a alma, ou coisa assim. Então, quando apontei para um par de sandálias que combinavam com seu tom de pele, a Miley reagiu com:
— É, mas… — O “mas” querendo dizer “mas eles vão deixar meus dedos medonhos à mostra”.
— Miley, você é a única pessoa que eu conheço que tem dismorfofobia do dedo do pé — falei, e ela perguntou:
— O que é isso?
— Sabe quando você olha no espelho e o que vê não é exatamente o que é de verdade?
— Ah. Ah — ela disse. — O que acha desses aqui? — Segurou um par de sapatos estilo boneca bonitinhos, mas nada de mais, eu fiz que sim com a cabeça, ela achou um par do tamanho dela, calçou e andou de um lado para outro pelo corredor da loja, olhando os pés refletidos num espelho que ia até a altura do joelho. Depois pegou um par de sapatos altíssimos, com várias tiras, à la prostituta, e perguntou: — Será humanamente possível andar com isso aqui? Quer dizer, eu simplesmente morreria… — E então parou no meio da frase e olhou para mim como que pedindo desculpas, como se mencionar a morte para quem está morrendo fosse algum tipo de crime. — Você deveria experimentá-los — continuou, tentando abafar o caso.
— Eu morreria mais rápido — garanti.
Acabei escolhendo um par de chinelos só para ter o que comprar, sentei num dos bancos em frente a uma prateleira cheia de sapatos e fiquei observando a Miley serpenteando pelos corredores da loja, escolhendo calçados com a intensidade e a concentração normalmente associadas ao xadrez profissional. Eu meio que queria tirar o Alvoradas à meia-noite da bolsa e ler um pouco, mas sabia que isso não seria muito educado de minha parte, então fiquei só olhando a Miley. De vez em quando ela ia até onde eu estava, carregando algum sapato fechado, e perguntava: “Esse?”, e eu tentava fazer algum comentário inteligente sobre ele, até que, por fim, ela comprou três pares e eu, meus chinelos.
Enquanto saíamos da loja, ela perguntou:
— Vamos à Starbucks agora?
— Está na hora de ir para casa, na verdade — falei. — Estou meio cansada.
— Claro, sem problemas — ela disse. — Preciso vê-la mais vezes, amada. — Colocou as mãos nos meus ombros, beijou minhas bochechas e bateu em retirada, rebolando os quadris.
Só que não fui para casa. Pedi para a mamãe me buscar às seis, e mesmo sabendo que ela deveria estar ou dentro do shopping ou no estacionamento, ainda queria as duas horas seguintes só para mim.
Eu gostava da minha mãe, mas a proximidade perpétua dela às vezes me deixava estranhamente nervosa. Também gostava da Miley. De verdade. Mas, depois de três anos afastada da convivência em tempo integral com meus colegas de turma, era como se uma distância intransponível tivesse se estabelecido entre nós. Acho que meus amigos da escola queriam me ajudar a superar essa fase do câncer, mas acabaram percebendo que não era possível. Pelo simples fato de não ser uma fase.
Então me safei usando a velha desculpa da dor e do cansaço, como fiz várias vezes nos últimos anos quando saía com a Miley ou com algum dos outros. Na verdade, sempre doía. Sempre doía não respirar como uma pessoa normal, tendo a toda hora de lembrar a seus pulmões que eles devem agir como pulmões, fazendo força para aceitar como insolúvel a dor lancinante que vem lá de dentro por causa da falta de oxigenação. Eu não estava mentindo de todo. Estava só escolhendo uma das verdades.
Achei um banco entre uma loja de suvenires irlandeses, chamada Fountain Pen Emporium, e uma loja de bonés de beisebol — um canto do shopping que nem mesmo a Miley frequentaria, e comecei a ler o Alvoradas à meia-noite.
O livro tinha uma taxa de condenação-a-cadáver de quase 1:1, e eu o devorei sem tirar os olhos da página uma vez sequer. Gostava do Sargento Max Mayhem, mesmo a conduta dele não sendo muito “técnica”, mas o que eu gostava, principalmente, era das suas aventuras, que não paravam de acontecer. Sempre havia mais caras do mal para matar e mais caras do bem para salvar. Novas guerras começavam antes mesmo de as antigas serem ganhas. Eu não lia uma série de verdade assim desde pequena, e estava animada por viver de novo numa ficção infinita.
A vinte páginas do fim do Alvoradas à meia-noite as coisas começaram a ficar um tanto ruins para o lado do Mayhem, quando ele foi atingido dezessete vezes na tentativa de resgatar uma refém (loira, norte-americana) que estava nas mãos do inimigo. Mas, no papel de leitora, não me desesperei. O esforço de guerra continuaria sem ele. Poderiam ser — e seriam — feitas continuações da história estrelando seus companheiros de grupo: o recruta Manny Loco, o soldado Jasper Jacks e os outros.
Eu estava para terminar o livro quando uma menininha de tranças surgiu na minha frente e perguntou:
— O que é isso no seu nariz?
— Humm. O nome disso é cânula. Esses tubos me dão oxigênio e me ajudam a respirar — respondi.
A mãe dela tomou a frente e disse:
— Madison — demonstrando total desaprovação.
Mas eu falei:
— Não, não, está tudo bem. — Porque estava tudo bem mesmo.
E quando a Madison perguntou:
— Eles me ajudariam a respirar também?
Respondi:
— Não sei. Vamos tentar.
Tirei a cânula e deixei a Jackie enfiá-la no nariz e respirar.
— Faz cosquinha — ela disse.
— Faz, não faz?
— Acho que estou respirando melhor — ela comentou.
— Mesmo?
— Mesmo.
— Bom — falei. — Eu gostaria de poder dar minha cânula para você, mas eu meio que preciso muito mesmo da ajuda dela.
Já começava a sentir falta de ar. Concentrei toda a atenção na minha respiração enquanto Madison me devolvia os tubos. Dei uma limpadinha básica neles com a minha camiseta, encaixei-os atrás das orelhas e enfiei o cateter nas narinas.
— Obrigada por me deixar experimentar — ela disse.
— De nada.
— Madison — a mãe falou de novo, e dessa vez eu a deixei ir.
Voltei para o livro, onde o Sargento Max Mayhem se lamentava por ter apenas uma vida para dar por seu país, mas continuei pensando na menininha e no quanto tinha gostado dela.
A outra coisa estranha em relação à Miley, acho, era que conversar com ela não parecia mais uma coisa natural. Quaisquer tentativas de simular interações sociais normais eram deprimentes porque ficava óbvio que todo mundo com quem eu falava em qualquer momento da minha vida se sentia constrangido e desconfortável comigo, exceto talvez crianças como a Madison, que simplesmente não sabem nada da vida como ela é.
De qualquer forma, eu gostava mesmo de ficar sozinha. Gostei de ficar sozinha com o pobre Sargento Max Mayhem, que — ai, peraí, ele não vai sobreviver a dezessete ferimentos a bala, vai?
(Para acabar com o suspense: ele sobrevive.)


Capítulo IV


Deitei cedo aquela noite, depois de trocar de roupa, colocar um short, uma camiseta e me enfiar debaixo das cobertas na minha cama de casal enorme, cheia de travesseiros — de todos os lugares no mundo, o meu preferido. Então comecei a ler Uma aflição imperial pela milionésima vez.
UAI é sobre uma menina chamada Anna e sua mãe de um olho só — uma paisagista obcecada por tulipas. As duas levam uma vida típica de classe média baixa numa cidadezinha da Califórnia, até que um dia a Anna é diagnosticada com um tipo raro de leucemia.
Mas esta não é uma história de câncer, porque livros assim são um horror. Tipo, em livros com histórias de câncer, a pessoa que tem o câncer abre uma instituição de caridade para arrecadar dinheiro e ajudar na pesquisa da cura da doença, certo? E o comprometimento com a caridade faz com que essa pessoa seja relembrada da bondade inerente ao ser humano, e se sinta amada e encorajada porque deixará um legado para a erradicação do câncer. Mas, no UAI, a Anna resolve que ser uma pessoa com câncer que abre uma instituição de caridade para ajudar nas pesquisas da própria doença é um tanto narcisista, então monta uma instituição chamada Fundação Anna para Pessoas com Câncer que Querem Curar o Cólera.
Além disso, a Anna é honesta em todos os aspectos, de um jeito que ninguém mais é de verdade: durante todo o livro ela se refere a si mesma como um efeito colateral, o que está absolutamente certo. Crianças com câncer são, no fundo, efeitos colaterais da mutação incessante que tornou a diversidade da vida na face da Terra possível. Aí, no decorrer da história, ela adoece ainda mais, a doença e os tratamentos competindo para ver quem a mata primeiro, e a mãe se apaixona por um vendedor de tulipas holandês que a Anna chama de o Homem das Tulipas Holandês. O Homem das Tulipas Holandês tem muito dinheiro e ideias bastante excêntricas a respeito de como tratar o câncer, mas a Anna acha que esse cara pode ser um vigarista e que talvez não seja nem mesmo holandês, e aí, no momento em que o provável holandês e a mãe dela estão prestes a se casar, e Anna está à beira de iniciar um novo tratamento doido envolvendo grama de trigo e pequenas doses de arsênico, o livro termina bem no meio de uma.
Sei que essa é uma decisão bastante literária, e tal, e muito provavelmente parte do motivo pelo qual eu amo tanto esse livro, mas há um certo atrativo nas histórias que terminam. E se não dá para terem um fim, então pelo menos deveriam continuar indefinidamente, como as aventuras do pelotão do Sargento Max Mayhem.
Entendi que a história acabou porque a Anna morreu ou ficou tão mal que não conseguiu mais escrever, e que essa coisa de interromper a frase no meio pretendia refletir o modo como a vida acaba de verdade, e sei lá o quê, mas havia outros personagens além da Anna, e parecia injusto eu não poder saber o que aconteceu com eles. Escrevi, por intermédio do editor dele, várias cartas para o Peter Van Houten, cada uma pedindo respostas para perguntas relativas ao que acontece após o término do livro: se o Homem das Tulipas Holandês é um vigarista, se a mãe da Anna acaba se casando com ele, o que acontece com o hamster da Anna (que a mãe odeia), se os amigos da Anna concluem o ensino médio… essas coisas. Mas ele nunca respondeu a nenhuma das minhas cartas.
UAI foi o único livro escrito por Peter Van Houten, e tudo o que as pessoas pareciam saber a respeito do autor era que depois do lançamento do livro ele se mudou dos Estados Unidos para a Holanda e passou a viver recluso. Imaginei que ele estaria trabalhando numa continuação da história, ambientada na Holanda — talvez a mãe da Anna e o Homem das Tulipas Holandês tivessem se mudado para lá e estivessem tentando começar uma vida nova. Mas já fazia dez anos que Uma aflição imperial tinha sido lançado, e depois disso o Van Houten não publicou nenhum post num blog sequer. Eu não poderia esperar para sempre.
Enquanto lia o livro aquela noite, de vez em quando me distraía ao imaginar o Joseph Jonas lendo as mesmas palavras que eu. Será que estava gostando, ou tinha parado no meio por achar o livro pretensioso? Aí me lembrei da promessa que fiz de ligar para ele assim que terminasse O preço do alvorecer, então peguei o número do telefone na primeira página do livro e mandei um torpedo para ele.

Opinião sobre O preço do alvorecer: muitos corpos. Quantidade insuficiente de adjetivos. Como vai o UAI?

Ele respondeu um minuto depois:

Se lembro bem, você prometeu me LIGAR quando terminasse de ler o livro, e não me mandar um SMS.

Aí eu liguei.
— Demetria Lovato — ele disse ao atender.
— Você leu tudo?
— Não acabei ainda. O livro tem seiscentas e cinquenta e uma páginas e eu só tive vinte e quatro horas.
— Até onde chegou?
— Página quatrocentos e cinquenta e três.
— E?
— Nada de opiniões antes do fim. Mas tenho de admitir que estou meio envergonhado de ter dado O preço do alvorecer para você ler.
— Não fique. Já estou no Réquiem para Mayhem.
— Um acréscimo brilhante à série. Então tá, me diga, o cara das tulipas é um vigarista ou não é? Estou tendo um mau pressentimento com relação a ele. — Nada de estragar o suspense — eu disse.
— Se ele for qualquer coisa diferente de um completo cavalheiro, vou arrancar os olhos dele fora.
— Então você está gostando do livro.
— Nada de opiniões antes do fim! Quando posso ver você?
— Com certeza, não até terminar Uma aflição imperial. — Eu adorava fazer jogo duro.
— Então é melhor eu desligar e começar a ler.
— Melhor mesmo — falei, e o telefonema acabou ali.
Paquerar era uma coisa nova para mim, mas eu estava gostando.
* * *
Na manhã seguinte eu tinha aula de Poesia Norte-americana do Século XX no MCC. Uma professora bem mais velha conseguiu falar noventa minutos da Sylvia Plath sem citar uma palavra da Sylvia Plath.
Quando saí da aula, mamãe estava parada no meio-fio na frente do prédio.
— Você ficou esperando aqui o tempo todo? — perguntei quando ela se apressou em me ajudar a puxar o carrinho e o cilindro para dentro do carro.
— Não. Peguei algumas roupas na lavanderia e fui à agência dos correios.
— E depois?
— Trouxe um livro para ler — ela disse.
— E sou eu quem precisa viver a minha vida. — Sorri, e ela tentou sorrir também, mas havia algo estranho em seu sorriso. Depois de alguns segundos, falei: — Que tal um cineminha?
— Boa ideia. Tem alguma coisa que você queira ver?
— Vamos fazer o de sempre: ir até lá e assistir ao filme que estiver para começar.
Ela fechou a porta do carro para mim e andou até o lado do motorista. Fomos ao cinema Castleton e assistimos a um filme 3-D sobre roedores falantes. No fim das contas, o filme até que era engraçado.

* * *

Quando saímos do cinema, vi que tinha recebido quatro torpedos do Joseph.

Diga que meu exemplar veio com as últimas vinte páginas faltando ou algo assim.

Demetria Lovato, diga que eu não cheguei ao fim deste livro.

AI MEU DEUS ELES SE CASAM OU NÃO AI MEU DEUS O QUE É ISSO

A Anna morreu e a história acabou, é isso? CRUEL.

Ligue para mim quando puder. Espero que esteja tudo bem.

Então, quando cheguei à minha casa, fui direto para o quintal, me sentei numa cadeira de vime trançado meio velhinha que havia na varanda, e liguei para ele. O dia estava nublado, como sempre está em Indiana: o tipo de clima que deixa qualquer um deprimido. Ocupando quase toda a área do quintal ficava o balanço que eu usava na infância, e que agora tinha uma aparência toda alagada e patética.
O Joseph atendeu no terceiro toque.
— Demetria Lovato — falou.
— Seja bem-vindo à doce tortura que é ler Uma aflição… — Parei ao ouvir um choro convulsivo do outro lado da linha. — Você está bem? — perguntei.
— Ah, maravilha — o Joseph respondeu. — Mas estou aqui com o Nicholas, que está meio descompensado. — Mais choro. Como o grito de morte de algum animal ferido. O Joe deu atenção para o Nicholas. — Cara. Cara. A Demetria do Grupo de Apoio ajuda ou atrapalha? Nicholas. Preste. Atenção. Em. Mim. — Um minuto depois o Joe me perguntou: — Você pode vir até a minha casa em mais ou menos vinte minutos?
— Claro — respondi, e desliguei.

* * *

Se desse para ir em linha reta, eu levaria só uns cinco minutos da minha casa até a do Joseph de carro, mas não dá porque o Holliday Park está entre nós.
Mesmo sendo uma inconveniência geográfica, eu gostava muito do Holliday Park. Quando era pequena, costumava brincar no rio White com o papai, e sempre havia um momento fantástico em que ele me lançava no alto, me jogando para longe, eu esticava os braços durante o voo e papai, os dele, e então ambos víamos que nossos braços não iriam se tocar e que ninguém iria me pegar, o que nos assustava da melhor maneira possível, e aí eu, as pernas agitadas no ar, mergulhava na água e depois subia para respirar, ilesa, a corrente me levando de volta para ele enquanto eu dizia de novo, papai, de novo.
Estacionei na entrada de carros ao lado de um Toyota preto meio antigo modelo sedã. Imaginei que fosse o carro do Nicholas. Levando o cilindro no carrinho atrás de mim, andei até a porta de entrada. Bati. O pai do Joe atendeu.
— Só Demetria — exclamou. — Que bom ver você.
— O Joseph disse que eu poderia vir aqui.
— É. Ele e o Nicholas estão no porão. — Naquele momento ouvi um choro vindo lá de baixo.
— E esse é o Nicholas — disse o pai do Joe, balançando a cabeça devagar. — Denise precisou sair para dar uma volta de carro. O barulho… — ele falou, divagando. — Bem, de qualquer maneira, acho que você está sendo requisitada lá embaixo. Posso carregar seu cilindro? — ele perguntou.
— Não precisa, estou bem. Obrigada mesmo assim, Sr. Jonas.
— Paul — ele disse.
Eu estava meio com medo de descer. Ouvir gente chorando convulsivamente não é um dos meus passatempos favoritos. Mas fui mesmo assim.
— Demetria Lovato — disse o Joseph ao ouvir o ruído dos meus passos.
— Nicholas, a Demetria do Grupo de Apoio está descendo. Demetria, só para lembrar: o Nicholas está no meio de um surto psicótico.
O Joseph e o Nicholas estavam sentados em poltronas em formato de L, daquelas próprias para se jogar videogame, olhando para cima, para uma televisão gigantesca. A tela estava dividida entre o ponto de vista do Nicholas, à esquerda, e o do Joseph, à direita. Eles eram soldados em guerra numa cidade contemporânea toda bombardeada. Reconheci o cenário como sendo o de O preço do alvorecer. Ao me aproximar, o que vi não tinha nada de anormal: só dois caras sentados, banhados pela luz de uma televisão enorme, fingindo matar pessoas.
Só quando fiquei bem ao lado deles pude ver o rosto do Nicholas. Lágrimas corriam num fluxo contínuo por suas bochechas vermelhas, a cara dele uma máscara de dor. Ele olhava vidrado para a tela, sem virar nem um instantinho na minha direção, aos prantos, o tempo todo apertando os botões do controle.
— Está tudo bem, Demetria? — perguntou o Joseph.
— Estou bem — respondi. — Nicholas?
Nenhuma resposta. Nem mesmo uma pista que determinasse se ele estava ou não consciente da minha presença ali. Só lágrimas descendo pelo rosto e encharcando a camiseta preta.
O Joseph tirou os olhos da tela só por um instante.
— Você está bonita — ele disse. Eu usava um vestido que ia até um pouquinho abaixo dos joelhos e que eu tinha há séculos. — As garotas pensam que só podem usar vestidos em ocasiões formais, mas eu gosto da mulher que diz, tipo: Estou indo ver um cara em meio a um colapso nervoso, um cara cuja ligação com o sentido da visão é tênue, e, que se dane, vou usar esse vestido para ele.
— E mesmo assim — falei — o Nicholas não é nem capaz de dar uma olhada rápida em mim. Apaixonado demais pela Selena, só pode ser. — Comentário esse que resultou num choro catastrófico.
— Este é um assunto delicado — o Joseph explicou. — Nicholas, não sei por você, mas tenho a vaga impressão de que estamos sendo flanqueados. — E voltou a falar comigo: — O Nicholas e a Selena não são mais um casal, mas ele não quer falar sobre isso. Só quer chorar e jogar Counterinsurgence 2: O preço do alvorecer.
— É justo — falei.
— Nicholas, estou começando a ficar preocupado com a nossa localização. Caso concorde com isso, vá até aquela usina termoelétrica, e eu cubro você.
O Nicholas correu para uma construção indistinta enquanto o Augustus atirava enlouquecidamente com uma metralhadora, numa série de rajadas rápidas, e corria atrás dele.
— De qualquer forma — o Joseph se dirigiu a mim —, não vai fazer nenhum mal falar com ele. Se tiver alguma palavra sábia, algum conselho feminino.
— Para falar a verdade, acho que a reação dele é, provavelmente, a mais apropriada — comentei, enquanto uma rajada da metralhadora do Nicholas matou um inimigo que havia colocado a cabeça para fora da carcaça incendiada de um caminhão.
O Joseph fez que sim com a cabeça, ainda olhando para a tela.
— A dor precisa ser sentida — ele disse, e esta era uma frase do Uma aflição imperial. — Você tem certeza de que não há ninguém atrás de nós? — ele perguntou ao Nicholas. Momentos depois, balas traçantes começaram a zumbir acima da cabeça deles. — Ai, que droga, Nicholas — o Joseph disse. — Não quero criticar você num momento tão sensível como esse, mas deixou que fôssemos flanqueados, e agora não há nada entre os terroristas e a escola.
O personagem do Nicholas partiu correndo na direção do fogo cruzado, ziguezagueando por uma passagem estreita.
— Vocês poderiam atravessar a ponte e dar a volta por trás — palpitei, uma tática que conhecia graças à minha leitura de O preço do alvorecer.
O Nicholas suspirou.
— Infelizmente, a ponte já está sob o controle dos rebeldes devido à estratégia questionável do meu parceiro desconsolado aqui.
— Eu? — o Nicholas disse, ofegante. — Eu?! Foi você quem sugeriu que nos metêssemos no raio da usina termoelétrica.
Joe desviou o olhar da tela por um segundo e deu seu sorriso torto para o Joseph.
— Eu sabia que você conseguia falar, meu chapa — ele disse. — Agora vamos salvar alguns estudantes mirins ficcionais.
Juntos, eles correram pela passagem estreita, atirando e se escondendo nos momentos certos, até chegarem a uma escola de um andar só e com apenas uma sala. Eles se agacharam atrás de uma parede do outro lado da rua e acertaram os inimigos, um a um.
— Por que eles querem entrar na escola? — perguntei.
— Pretendem fazer as crianças de reféns — o Joseph respondeu.
Os ombros dele estavam curvados e ele apertava os botões do controle, os antebraços rijos, as veias visíveis. O Nicholas se inclinou para a frente, para a tela, o controle dançando nas mãos dele.
— Vai vai vai — o Joseph disse.
Ondas de terroristas continuaram surgindo, e eles dizimaram todos, os tiros surpreendentemente precisos, como tinham de ser, para que não acabassem atirando na escola.
— Granada! Granada! — o Joseph gritou quando alguma coisa passou desenhando um arco pela tela, quicou no caminho que levava à entrada da escola e então rolou, parando encostada na porta.
O Nicholas largou o controle, de tão frustrado.
— Se esses desgraçados não conseguirem fazer reféns, vão matar todos eles e colocar a culpa em nós.
— Nicholas, me cubra! — o Joseph falou ao pular de trás da parede e correr na direção da escola.
O Nicholas pegou de volta o controle, sem jeito, e começou a atirar enquanto choviam balas em cima do Joseph, que foi atingido uma vez e depois duas, mas continuou a correr, gritando: “VOCÊS NÃO PODEM MATAR MAX MAYHEM!”, e com uma combinação final e afobada de apertos nos botões ele mergulhou em cima da granada, que detonou. Seu corpo desmembrado explodiu como um gêiser e a tela ficou toda vermelha. Uma voz gutural disse: “MISSÃO FRACASSADA”, mas o Joseph não parecia concordar com isso enquanto sorria, vendo seus restos mortais na tela. Ele enfiou a mão no bolso, pegou um cigarro e colocou-o entre os dentes.
— Salvamos as crianças — ele disse.
— Por enquanto — observei.
— Todo salvamento é temporário — o Joseph retrucou. — Eu proporcionei a elas mais um minuto. Talvez esse seja o minuto que vai proporcionar a elas mais uma hora, que é a hora que vai proporcionar a elas mais um ano. Ninguém vai dar a elas uma quantidade infinita de tempo, Demetria Lovato, mas a minha vida deu a elas mais um minuto. E isso não é pouco.
— Opa, peraí — eu disse. — Estamos falando de pixels aqui.
Ele deu de ombros, como se acreditasse que o jogo pudesse ser realmente de verdade. O Nicholas estava chorando de novo. O Joseph se virou para ele:
— Vamos tentar completar a missão mais uma vez, cabo?
O Nicholas fez que não. Ele se inclinou pela frente do Joseph para olhar para mim e disse, as cordas vocais exigidas ao extremo:
— Ela não quis deixar para depois.
— Ela não quis terminar o namoro com um cara cego — falei.
Ele concordou, as lágrimas caindo na cadência de um metrônomo silencioso: constante, interminável.
— Ela disse que não conseguiria lidar com isso — o Nicholas falou. — Estou prestes a perder a visão e ela não consegue lidar com isso.
Eu fiquei pensando no verbo lidar, e em todas as coisas não lidáveis com que se tem de lidar.
— Sinto muito — falei.
Ele enxugou o rosto todo molhado na manga da camisa. Por trás dos óculos, os olhos do Nicholas pareciam tão grandes que tudo mais no rosto dele meio que desaparecia, e ficavam só aqueles dois olhos flutuantes e incorpóreos olhando para mim: um de verdade, um de vidro.
— Isso é inaceitável — ele me disse. — Isso é totalmente inaceitável.
— Bem, para ser honesta — falei —, quer dizer, ela não deve mesmo conseguir lidar com isso. Você também não, mas ela não precisa. E você, sim.
— Eu ficava dizendo “sempre” para ela hoje, “sempre, sempre, sempre”, e ela só continuava falando ao mesmo tempo que eu, sem me escutar, e não disse “sempre” para mim. Era como se eu não estivesse mais ali, sabe? “Sempre” era uma promessa! Como é que você pode não cumprir uma promessa desse jeito?
— Às vezes as pessoas não têm noção das promessas que estão fazendo no momento em que as fazem — falei.
O Nicholas me lançou um olhar ferino.
— Tá, tem razão. Mas você cumpre a promessa mesmo assim. Amar é isso. Amar é cumprir a promessa mesmo assim. Você não acredita em amor verdadeiro?
Não respondi. Não tinha uma resposta para aquela pergunta. Mas tive a sensação de que se o amor verdadeiro existisse, aquela seria uma definição bastante boa para ele.
— Eu acredito em amor verdadeiro — o Nicholas disse. — Eu amo a Selena. E ela fez uma promessa. Ela me prometeu para sempre.
Ele ficou de pé e deu um passo na minha direção. Eu me levantei, achando que ele queria um abraço ou coisa assim, mas aí ele simplesmente deu meia-volta, como se não conseguisse se lembrar de por que tinha ficado em pé, e então o Joseph e eu vimos uma expressão de ódio tomar conta do rosto dele.
— Nicholas — o Joe disse.
— O quê?
— Você parece um pouco… Não leve a mal o duplo sentido, amigo, mas há algo preocupante no seu olhar.
De repente, o Nicholas começou a chutar enlouquecidamente a poltrona do videogame, que deu uma cambalhota para trás e foi parar perto da cama do Joe.
— E lá vamos nós — disse o Joseph. O Nicholas seguiu a poltrona e chutou a coitada mais uma vez. — Isso aí — falou o Joseph. — Atrás dela. Chute a poltrona até não poder mais!
O Nicholas chutou a poltrona de novo, até que ela bateu na cama do Joe, e aí ele pegou um dos travesseiros e começou a bater com ele na parede entre a cama e a prateleira de troféus. O Joseph olhou para mim, o cigarro ainda na boca, e deu aquele sorrisinho típico dele.
— Eu não consigo parar de pensar naquele livro.
— Nem me fale!
— Ele nunca disse o que acontece com os outros personagens?
— Não — respondi. O Nicholas ainda estava batendo na parede com o travesseiro. — Ele se mudou para Amsterdã, o que me fez imaginar que talvez estivesse escrevendo a continuação da história, com o Homem das Tulipas Holandês como personagem principal, mas ele não publicou nada. Ele nunca é entrevistado. E não parece estar on-line. Já escrevi várias cartas perguntando o que acontece com todo mundo, mas ele nunca responde. Então… é isso.
Parei de falar porque o Joseph não parecia mais estar prestando atenção. Em vez disso, olhava para o Nicholas com os olhos semicerrados.
— Espere um instante — ele murmurou para mim, andou até onde o Nicholas estava e o agarrou pelos ombros. — Cara, travesseiros não quebram. Tente alguma coisa que quebre.
O Nicholas pegou um troféu de basquete da prateleira acima da cama e o segurou no alto da cabeça, como se esperasse uma permissão. — Isso — o Joseph disse.
— Isso! — O troféu se espatifou no chão, o braço de plástico do jogador de basquete separado do corpo, ainda segurando a bola. O Nicholas começou a pisotear o troféu. — Isso! — disse o Joseph. — Acabe com ele! — E, se virando para mim: — Já faz algum tempo que venho procurando uma forma de dizer ao meu pai que, na verdade, eu meio que odeio basquete, e acho que encontrei.
Os troféus vieram todos abaixo, um a um, e o Nicholas pulava neles e gritava enquanto o Joseph e eu mantínhamos uma certa distância, as testemunhas daquela insanidade. Corpos mutilados de jogadores de basquete de plástico lotaram o chão acarpetado: num canto, uma bola sendo espalmada por uma mão sem corpo; no outro, duas pernas sem tronco no meio de um salto. O Nicholas continuou atacando os troféus, pulando neles com os dois pés, gritando, ofegante, suado, até que, por fim, cansou e caiu em cima dos destroços.
O Joseph deu um passo na direção dele e olhou para baixo.
— Está se sentindo melhor? — perguntou.
— Não — murmurou o Nicholas, o peito inflando por causa da respiração ofegante.
— Esse é o problema da dor — o Joseph disse, e aí olhou para mim.
— Ela precisa ser sentida.


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