The Fault In Our Stars
Depois
disso, fiquei sem falar com o Joseph mais ou menos uma semana. Liguei para ele
na Noite dos Troféus Destroçados e, como manda a tradição, agora era a vez dele
de me ligar. Mas não ligou. Não que eu estivesse com o celular na mão suada o
dia inteiro, olhando para o aparelho, usando meu Vestido Amarelo Especial,
esperando pacientemente que meu cavalheiro fizesse jus à sua alcunha. Segui a
vida normalmente: encontrei com a Miley e com seu (bonitinho mas francamente
nada Josephiano) namorado para tomar um café numa tarde dessas; tomei a dose
diária recomendada de Falanxifor; assisti às aulas em três manhãs no MCC, e
todas as noites sentei à mesa para jantar com minha mãe e meu pai.
Domingo
à noite, comemos pizza com pimentão verde e brócolis. Estávamos sentados em volta
da nossa pequena mesa redonda na cozinha quando meu celular começou a tocar,
mas eu não podia nem colocar a mão nele pois nós seguimos uma regra rígida de
nada-de-telefone-na-hora-do-jantar.
Então
comi um pouco enquanto mamãe e papai conversavam sobre um terremoto que tinha
acabado de acontecer em Papua-Nova Guiné. Eles se conheceram no Corpo da Paz em
Papua-Nova Guiné, por isso, sempre que alguma coisa acontecia por lá, mesmo
sendo algo terrível, era como se, de repente, eles não fossem mais duas criaturas
gordas e sedentárias, mas sim os jovens, idealistas, independentes e radicais
que foram um dia. O êxtase deles era tão grande que nem sequer olharam para mim
enquanto eu comia mais rápido que nunca, passando a comida do prato para a boca
com uma velocidade e uma ferocidade que me fizeram até ficar um pouco sem
fôlego, o que obviamente me deixou com medo de meus pulmões estarem de novo
nadando numa piscina cheia de líquido. Tentei ao máximo afastar esse
pensamento. Eu tinha uma tomografia agendada para dali a duas semanas. Se algo
estivesse errado, eu saberia logo. Não adiantava nada começar a me preocupar
naquela hora.
Por
fim, acabei de comer e disse:
“Vocês
me dão licença?”
Mas
eles não fizeram sequer uma pausa na conversa que estavam tendo sobre o que
funcionava e o que não funcionava na infraestrutura guineana. Peguei o celular
na bolsa, que estava na bancada da cozinha, e conferi as chamadas recentes.
Joseph Jonas.
Saí
pela porta dos fundos, em meio ao crepúsculo. Avistei o balanço, e pensei em
andar até lá e me balançar enquanto falava com ele, mas a distância parecia
muito grande levando em conta o fato de que comer já tinha me deixado cansada.
Em
vez disso, deitei na grama junto à varanda, olhei para Órion, a única
constelação que eu conseguia reconhecer, e liguei para ele.
—
Demetria Lovato — ele disse.
—
Oi — falei. — Tudo bem?
—
Maravilha — respondeu. — Tenho sentido vontade de ligar para você quase de
minuto em minuto, mas estava esperando conseguir elaborar um pensamento
coerente em ref. a Uma aflição imperial. (Ele disse “em ref.”. Sem brincadeira.
Aquele cara.)
—
E? — perguntei.
—
Acho que ele é, tipo. Ao ler esse livro, eu fico sentindo como se, se…
—
Como se? — questionei, de provocação.
—
Como se fosse um presente? — ele completou, num tom interrogativo. — Como se
você tivesse me dado uma coisa importante.
—
Ah — falei baixinho.
—
Isso é brega — ele disse. — Foi mal.
—
Não — falei. — Não. Não precisa se desculpar.
—
Mas o livro não termina.
—
É — concordei.
—
Tortura. Eu entendi totalmente, tipo, entendi que ela morre ou sei lá o quê.
—
Isso mesmo, foi o que eu deduzi — falei.
—
E, tudo bem, é justo, mas existe um contrato silencioso entre autor e leitor, e
acho que o fato de ele não terminar a história do livro meio que viola esse
contrato.
—
Não sei — ponderei, me colocando na defensiva por Peter Van Houten. — De certa
forma, esse é um dos motivos pelos quais eu gosto do livro. Ele registra a
morte com fidelidade. Você morre no meio da vida, no meio de uma frase. Mas eu
quero, ai, como eu quero saber o que acontece com os outros. Foi isso o que
perguntei a ele nas minhas cartas. Mas, sabe como é, ele nunca respondeu...
—
Tá. Você disse que ele vive recluso?
—
Exatamente.
—
Que é impossível de ser localizado?
—
Exatamente.
—
Totalmente inalcançável — o Joseph disse.
—
Infelizmente, sim — falei.
—
“Prezado Sr. Jonas” — ele continuou. — “Escrevo para agradecer sua
correspondência eletrônica, recebida por intermédio da Srta. Vliegenthart neste
dia seis de abril, enviada dos Estados Unidos da América, conquanto se possa
dizer que a geografia ainda exista na nossa contemporaneidade triunfantemente
digitalizada.”
—
Joseph, que diabos é isso?
—
Ele tem uma assistente — o Joseph disse. — Lidewij Vliegenthart. Achei o
contato dela. Mandei um e-mail para ela. Ela repassou a mensagem para ele. Ele
respondeu usando a conta dela.
—
Tá, tá. Continue lendo.
—
“Minha resposta está sendo escrita com tinta e papel na tradição gloriosa de
nossos ancestrais e, em seguida, transcrita pela Srta. Vliegenthart numa série
de 1s e 0s que viajam através da rede enfadonha que vem iludindo nossa espécie
nos últimos tempos, por isso peço perdão por quaisquer erros ou omissões que
disso possam resultar.
“Dada
a orgia de entretenimento à disposição dos jovens de sua geração, fico grato
por qualquer um, em qualquer lugar, que destine a quantidade de horas
necessárias para ler meu humilde livro. Mas me sinto especialmente em dívida
com sua pessoa, senhor, tanto por suas gentis palavras a respeito de Uma
aflição imperial quanto por se dar o trabalho de me dizer que o livro, e aqui o
cito ipsis litteris, ‘significou muito mesmo’ para o senhor.
“Esse
comentário, no entanto, leva-me a elucubrar: o que quer dizer com significou?
Dada a frivolidade derradeira de nossa luta pela vida, terá algum valor a
efêmera carga de significado que a arte nos empresta? Ou o único valor estará
em passarmos o tempo o mais confortavelmente possível? O que uma história
ficcional deveria pretender emular, Joseph? O soar de um alarme? Um grito de
guerra? Uma injeção de morfina? Obviamente, como todas as interrogações do
universo, esta linha de investigação inevitavelmente reduz-nos a perguntar o
que significa ser humano e — pegando emprestada uma frase dos jovens
angustiados de dezesseis anos que o senhor sem dúvida repudia — se há algum
sentido nisso tudo.
“Temo
que não haja, caro amigo, e que você receberia alentos insuficientes em
encontros ulteriores com minha composição literária. Porém, respondendo a sua
pergunta: não, não escrevi nada mais, nem escreverei. Não creio que continuar a
compartilhar meus pensamentos com os leitores irá beneficiá-los, ou a mim.
Obrigado, novamente, por seu generoso e-mail.
“Atenciosamente,
Peter Van Houten, por intermédio de Lidewij Vliegenthart.”
—
Uau — falei. — Você está inventando isso?
—
Demetria Lovato, eu seria capaz, com minha capacidade intelectual limitada, de
escrever uma carta fingindo ser o Peter Van Houten, com frases como “nossa
contemporaneidade triunfantemente digitalizada”?
—
Não, não seria — admiti. — Você pode… você pode me passar o endereço de e-mail?
—
Claro — o Joseph respondeu, como se não fosse o melhor presente do mundo.
* *
*
Passei
as duas horas que se seguiram escrevendo um e-mail para o Peter Van Houten.
Parecia piorar a cada vez que eu reescrevia, mas eu não conseguia parar.
Prezado Sr. Peter Van Houten
(a/c Lidewij Vliegenthart),
Meu nome é Demetria Devonne Lovato.
Meu amigo, Joseph Jonas, que leu Uma aflição imperial seguindo minha
recomendação, acabou de receber um e-mail do senhor desse endereço. Espero que
não se importe pelo fato de o Joseph ter compartilhado o e-mail comigo.
Sr. Van Houten, eu entendo, pelo
conteúdo da sua mensagem para o Joseph, que o senhor não planeja publicar
outros livros. De certa forma, estou desapontada, mas também aliviada: não vou
precisar mais temer que seu próximo livro não fique à altura da magnífica
perfeição do primeiro. Como sobrevivente, há três anos, de
um câncer em estágio IV, posso dizer que
o senhor acertou todas as medidas no Uma aflição imperial. Ou pelo menos o
senhor acertou todas as minhas medidas. Seu livro tem um jeito de me dizer o
que estou sentindo antes mesmo de eu sentir, e já o li várias vezes.
No entanto, gostaria de saber se o
senhor se importaria em responder a algumas perguntas sobre o que acontece após
o término do livro. Entendo que acaba porque a Anna morre ou fica tão doente
que não consegue mais escrever, só que eu gostaria muito mesmo de saber o que
acontece com a mãe da Anna — se ela se casa com o Homem das Tulipas Holandês,
se chega a ter outro filho, se continua no endereço 917 W. Temple etc. Além
disso, o Homem das Tulipas Holandês é um vigarista ou ele as ama de verdade? O
que acontece com os amigos da Anna — em especial a Claire e o Jake? Eles ficam
juntos? E, para concluir — imagino que este seja o tipo de pergunta profunda e
significativa que o senhor sempre esperou que seus leitores fizessem —, o que
acontece com Sísifo, o hamster? Essas questões vêm me atormentando há anos — e
não sei quanto tempo vou poder esperar pelas respostas.
Sei que não são perguntas
literariamente importantes e que o livro é cheio de perguntas literariamente
importantes, mas gostaria muito mesmo de saber.
E, é claro, se o senhor algum dia
resolver escrever qualquer outra coisa, mesmo que não queira publicar, eu
adoraria ler. Para ser sincera, eu leria até a sua lista de compras de
supermercado.
Atenciosamente e com grande
admiração,
Demetria Devonne Lovato (16 anos)
Assim
que enviei a mensagem, liguei para o Joseph e nós ficamos acordados até tarde
falando do Uma aflição imperial, e li para ele o poema da Emily Dickinson de
onde o Van Houten tirou um dos versos que usou como título, e ele disse que eu
era ótima recitando poemas e que não fazia pausas muito longas nas quebras dos
versos, e aí ele me disse que o sexto livro da série “O preço do alvorecer” — O
sangue aprova —, começa com a citação de uma parte de um poema. Ele demorou um
pouco para achar o livro, mas por fim leu o trecho para mim: “Dizer que sua
vida acabou. O último beijo bem dado / Você deu e está distante no passado.”
—
Nada mal — falei. — Mas pretensioso. Acho que o Max Mayhem chamaria isso de “coisa
de maricas”.
—
É, e sem dúvida diria isso com os dentes cerrados. Caramba, como o Mayhem cerra
os dentes nesses livros. Com certeza vai acabar tendo distúrbio de ATM se
sobreviver a todos os combates. — E, então, depois de alguns segundos, o Joe
perguntou: — Quando foi seu último beijo bem dado?
Parei
para pensar. Meus beijos — todos pré-diagnóstico — tinham sido meio sem jeito e
muito babados, e, em algum nível, sempre tive a sensação de que éramos crianças
brincando de ser adultos. Mas, obviamente, isso foi há muito tempo.
—
Há muitos anos — respondi, por fim. — E você?
—
Eu dei alguns beijos bem dados na minha ex-namorada, Caroline Mathers.
—
Há muitos anos?
—
O último foi há menos de um ano.
—
O que aconteceu?
—
Durante o beijo?
—
Não, com você e a Caroline.
—
Ah — ele disse. E então, depois de alguns segundos: — A Caroline não sofre mais
de “pessoalidade”.
—
Ah — falei.
—
É — ele disse.
—
Sinto muito — completei.
Eu
conheci várias pessoas que morreram, lógico. Mas nunca namorei uma. Não
conseguia nem imaginar isso, sério.
—
Não é culpa sua, Demetria Lovato. Somos todos apenas efeitos colaterais, certo?
—
Cracas no navio cargueiro da consciência — falei, citando o UAI.
—
O.k. — ele disse. — Preciso ir dormir. Já é quase uma hora.
—
O.k. — falei.
—
O.k. — ele disse.
Eu
ri e repeti:
—
O.k.
Aí
a linha ficou silenciosa, mas não completamente muda. Era quase como se ele
estivesse ali no meu quarto comigo, mas de um jeito ainda melhor — como se eu
não estivesse no meu quarto e ele, não no dele, mas, em vez disso, estivéssemos
juntos numa invisível e tênue terceira dimensão até onde só podíamos ir pelo telefone.
—
O.k. — ele disse, depois do que pareceu ser uma eternidade. — Talvez o.k. venha
a ser o nosso sempre.
—
O.k. — falei.
E
foi o Joseph quem desligou.
* *
*
Peter
Van Houten respondeu ao e-mail do Joseph quatro horas depois, mas já se
tinham passado dois dias e ele ainda não havia respondido ao meu. O Joseph me
garantiu que era porque minha mensagem era melhor e exigia uma resposta mais
elaborada, que o Van Houten estava ocupado redigindo as respostas às minhas
perguntas e que uma prosa genial demorava para ser escrita. Mas, ainda sim,
fiquei tensa.
Na
quarta-feira, durante a aula de Poesia Norte-americana para Leigos 101, recebi
uma mensagem de texto do Joseph:
O
Nicholas saiu da cirurgia. Correu tudo bem. Ele está oficialmente SEC.
SEC
queria dizer “sem evidência de câncer”.
Uma
segunda mensagem de texto chegou alguns segundos depois.
Quer
dizer, ele está cego. Então é ruim.
Naquela
tarde, mamãe concordou em me emprestar o carro para que eu pudesse ir até o
Memorial visitar o Nicholas.
Fui
até o quarto dele no quinto andar, bati à porta mesmo estando aberta e uma voz
de mulher disse:
—
Entre.
Era
uma enfermeira que estava fazendo alguma coisa com as ataduras nos olhos dele.
—
Oi, Nicholas — falei.
—
Selena? — ele perguntou.
—
Ah, não. Foi mal. Não. É a Demetria. A Demetria do Grupo de Apoio? A Demetria
da noite-dos-troféus-destroçados?
—
Ah — ele disse. — Pois é. As pessoas ficam me dizendo que os outros sentidos
vão ficar mais aguçados para compensar, mas ISSO OBVIAMENTE AINDA NÃO ACONTECEU.
Oi, Demetria do Grupo de Apoio. Chegue mais perto para que eu possa examinar
seu rosto com as mãos e enxergar sua alma com mais profundidade do que qualquer
outro ser que tenha o dom da visão.
—
Ele está brincando — disse a enfermeira.
—
É — falei. — Deu para perceber.
Dei
alguns passos na direção do leito. Puxei uma cadeira e me sentei, pegando na
mão dele.
—
E aí? — falei.
—
E aí? — ele disse.
E
aí ficamos em silêncio um tempo.
—
Como você está se sentindo? — perguntei.
—
Bem — ele disse. — Não sei.
—
O que você não sabe?
Olhei
para a mão dele porque não queria encarar o rosto vendado pelas ataduras. O Nicholas
roía as unhas, e pude ver que havia sangue nos cantos de alguns dedos.
—
Ela nem me visitou — ele comentou. — Tipo, nós ficamos juntos um ano e dois
meses. Um ano e dois meses é muito tempo. Cara, isso dói.
O
Nicholas soltou minha mão para tatear à procura da bombinha que você pressiona
para receber uma dose de analgésicos.
A
enfermeira, ao terminar de trocar a atadura, deu um passo atrás.
—
Só faz um dia, Nicholas — ela disse, o tom de voz meio condescendente. — Você
precisa de um tempo para se recuperar. E um ano e dois meses não é tanto tempo
assim, não num contexto maior. Você está só começando a vida, rapaz. Você vai
ver.
A
enfermeira foi embora.
—
Ela já saiu?
Eu
fiz que sim com a cabeça, mas me dei conta de que ele não pôde ver meu gesto.
—
Saiu — falei.
—
Eu vou ver? Sério? Ela disse isso de verdade?
—
Qualidades de uma Boa Enfermeira: Liste — pedi.
—
Primeira: não fazer trocadilhos com a deficiência alheia — o Nicholas começou.
—
Segunda: tirar o sangue na primeira tentativa — continuei.
—
Na moral, essa é megaimportante. Tipo, esse é meu braço ou o alvo de um jogo de
dardos? Terceira: não falar de um jeito condescendente.
—
Como está passando, querido? — perguntei, fazendo cara de nojo. — Vou enfiar
uma agulha em você agora. Pode ser que doa um pouquinho.
—
O queridinho da titia está dodoizinho? — ele continuou. E, então, após alguns
segundos:
—
A maioria delas é legal, na verdade. Mas só o que eu quero é sumir daqui.
—
Daqui, tipo, do hospital?
—
Daqui também — ele disse. E comprimiu os lábios. A dor era visível. — Posso ser
honesto? Eu penso muito mais na Selena que no meu olho. Isso é loucura? É
loucura.
—
É um pouquinho — concordei.
—
Mas eu acredito em amor verdadeiro, sabe? Não acho que todo mundo possa
continuar tendo dois olhos nem que possa evitar ficar doente, e tal, mas todo
mundo deveria ter um amor verdadeiro, que deveria durar pelo menos até o fim da
vida da pessoa.
—
É — falei. — Às vezes eu queria que nada disso tivesse acontecido. Nada de
câncer. A fala dele foi ficando mais lenta. O analgésico estava fazendo efeito.
—
Sinto muito — falei.
—
O Joe veio aqui mais cedo. Ele estava aqui quando eu acordei. Matou aula. Ele…
— A cabeça tombou um tiquinho para o lado. — Melhorou — falou baixinho.
—
A dor? — perguntei.
Ele
fez que sim com a cabeça, bem de leve.
—
Que bom — falei. E aí, como a egoísta que sou: — Você estava dizendo alguma
coisa sobre o Joe?
Mas
o Nicholas já estava fora do ar.
Desci
até a lojinha sem janelas do hospital e perguntei à voluntária idosa sentada
num banco atrás da caixa registradora qual flor tinha o aroma mais marcante.
—
Todas têm o mesmo cheiro. Elas recebem um jato de essência aromatizante — ela
respondeu.
—
Sério?
—
É. Eles borrifam isso nas flores.
Abri
a porta de vidro do refrigerador de flores à esquerda dela, cheirei algumas
rosas e depois me inclinei sobre alguns cravos. Mesmo cheiro. E megaforte. Os
cravos eram mais baratos, então peguei uma dúzia dos amarelos. Custaram
quatorze dólares. Voltei para o quarto; a mãe do Nicholas estava lá, segurando
a mão dele. Ela era jovem e muito bonita.
—
Você é amiga do Nicholas? — perguntou, o que soou para mim como uma daquelas
perguntas involuntariamente genéricas e irrespondíveis.
—
Humm… é… Sou do Grupo de Apoio. As flores são para ele.
Ela
as apanhou e pôs no colo.
—
Você conhece a Selena? — perguntou.
Fiz
que não com a cabeça.
—
Bem, ele está dormindo — ela disse.
—
É. Eu falei com ele alguns minutos atrás, quando estavam trocando as ataduras,
e tal.
—
Fiquei chateada por ter de deixá-lo nesse momento, mas precisei buscar o
Frankie na escola — ela disse.
—
Correu tudo bem — falei. Ela balançou a cabeça afirmativamente.
—
Eu deveria deixá-lo dormir em paz.
Ela
balançou de novo a cabeça. Eu saí.
* *
*
Na
manhã seguinte, acordei cedo e fui logo verificar meus e-mails.
lidewij.vliegenthart@gmail.com
tinha finalmente respondido.
Cara Srta. Lancaster,
Temo que sua fé tenha sido depositada
no lugar errado — mas, para falar a verdade, é isso o que geralmente acontece
com a fé. Não posso responder às suas perguntas, pelo menos não por escrito,
porque redigir tais respostas constituiria uma continuação de Uma aflição
imperial, que a senhorita poderia acabar publicando ou compartilhando na rede
global que substituiu os cérebros de sua geração. Poderíamos utilizar o
telefone, mas, nesse caso, a senhorita poderia acabar gravando a conversa. Não
que eu não confie em você, é claro, mas não confio em você. Ai de mim, cara
Demetria, eu jamais poderia responder a tais perguntas exceto pessoalmente, e
você está aí, ao passo que eu estou aqui.
Dito isso, devo confessar que o
recebimento inesperado de sua correspondência por intermédio da Srta.
Vliegenthart me alegrou: que maravilha saber que criei algo que lhe foi útil —
embora esse livro pareça estar tão distante de mim que sinto como se tivesse
sido escrito por um homem totalmente diferente.
(O autor daquele livro era,
comparativamente falando, tão sensível, tão frágil, tão otimista!)
Entretanto, se algum dia por acaso se
encontrar em Amsterdã, faça-me uma visita em seu tempo livre. Em geral, estou
em casa. Eu até permitiria que você espiasse minha lista de compras.
Atenciosamente,
Peter Van Houten a/c Lidewij
Vliegenthart
—
O QUÊ?! — gritei bem alto. — QUE RAIO DE VIDA É ESSA?
Mamãe
veio correndo.
—
O que aconteceu?
—
Nada — garanti a ela.
Ainda
nervosa, mamãe se ajoelhou para verificar o Felipe e se certificar de que
estava condensando o oxigênio direito. Eu me imaginei sentada num café ao ar
livre num dia de sol com Peter Van Houten, ele com os cotovelos apoiados na
mesa, falando baixinho para que ninguém mais ouvisse o depoimento do que
aconteceu com os outros personagens. Passei vários anos pensando naquilo. Ele
disse que não poderia me contar exceto pessoalmente, e aí me convidou para ir a
Amsterdã. Expliquei tudo para minha mãe e concluí com:
—
Preciso ir.
—
Demetria, eu te amo, e você sabe que eu realizaria todos os seus desejos, mas
nós não temos… não temos dinheiro para uma viagem internacional, e a despesa
que teríamos com o aluguel de equipamentos por lá… meu amor, isso não é…
—
É — falei, interrompendo a frase dela. Percebi o quão absurdo tinha sido eu
sequer considerar aquela possibilidade. — Não se preocupe. — Mas ela parecia
preocupada.
—
É tão importante assim para você? — mamãe perguntou e se sentou, a mão na minha
batata da perna.
—
Seria simplesmente fantástico se eu fosse a única pessoa, além dele, a saber o
que acontece — admiti.
—
Seria fantástico mesmo — ela comentou. — Vou falar com seu pai.
—
Não. Não fale — eu disse. — Sério, por favor, não gaste dinheiro com isso. Vou
pensar em alguma coisa.
Passou
pela minha cabeça o fato de eu ser o motivo pelo qual meus pais estavam sempre
sem dinheiro. Eu havia esgotado as economias da família com as doses de
Falanxifor, e mamãe não podia trabalhar porque tinha assumido o cargo de Pairar
Sobre Mim em expediente integral. Eu não queria deixar os dois mais endividados
ainda.
Disse
à mamãe que eu queria ligar para o Joseph só para que ela saísse do quarto,
porque eu não conseguia suportar aquela cara triste do tipo não-consigo-realizar-os-sonhos-da-minha-filha.
—
Ai, meu Deus! — o Joseph disse. — Não acredito que eu esteja a fim de uma
garota com desejos tão clichês.
—
Eu tinha treze anos — repeti, embora, é claro, só conseguisse pensar no a fim,
a fim, a fim, a fim, a fim. Eu estava lisonjeada mas mudei imediatamente de
assunto. — Você não deveria estar na escola ou coisa assim?
—
Matei aula para fazer companhia ao Nicholas, mas ele está dormindo, por isso
fiquei aqui no saguão estudando geometria.
—
E como andam as coisas por aí? — perguntei.
—
Não dá para saber ao certo se o Nicholas simplesmente não está pronto para
enfrentar a gravidade da deficiência dele ou se está mesmo se importando mais
com o fato de ter levado um fora da Selena, mas ele não fala de outra coisa.
—
É — eu disse. — Ele vai ficar no hospital por quanto tempo?
—
Alguns dias. Depois disso vai para uma clínica de reabilitação ou coisa do
gênero por um tempo, mas tem permissão para dormir em casa.
—
Que droga isso — eu disse.
—
A mãe dele está vindo. Tenho que ir.
—
O.k.
—
O.k. — ele respondeu, e pude ouvir o sorriso torto em sua voz.
* *
*
No
sábado, meus pais e eu fomos à feira em Broad Ripple. O dia estava ensolarado,
o que é raro em Indiana no mês de abril, e todo mundo lá na feira estava de
manga curta, ainda que a temperatura não justificasse isso. Nós, habitantes de
Indiana — os famosos hoosiers —, somos excessivamente otimistas com relação ao
verão. Mamãe e eu nos sentamos num banco de frente para um fabricante de
sabonete de leite de cabra — um homem de macacão que tinha de explicar a cada
uma das pessoas que passava por ali que, sim, as cabras eram dele e, não,
sabonete de leite de cabra não cheira a cabra.
Meu
celular tocou.
—
Quem é? — Mamãe perguntou antes mesmo que eu olhasse para o aparelho.
—
Não sei — respondi, mas era o Joe.
—
Você está em casa? — ele perguntou.
—
Ah, não — eu disse.
—
Essa era uma pergunta retórica. Eu já sabia a resposta porque estou na sua
casa.
—
Ah. Humm. Bem, nós estamos a caminho, acho.
—
Beleza. Vejo você daqui a pouco.
* *
*
Vimos
o Joseph Jonas sentado na escada quando embicamos na entrada de carros. Ele
segurava um buquê de tulipas cor de laranja prestes a desabrochar e estava
usando uma camiseta do Indiana Pacers por baixo do casaco, uma escolha de
indumentária que parecia totalmente despropositada, mas até que caía bem nele.
Ele fez força para se levantar, me entregou as tulipas e perguntou:
—
Vamos sair para um piquenique?
Eu
fiz que sim com a cabeça, pegando as flores. Meu pai veio por trás de mim e
cumprimentou o Joe com um aperto de mão.
—
Essa é a camiseta do Rik Smits? — perguntou.
—
Essa mesma.
—
Nossa, eu adorava esse cara — papai disse, e os dois engrenaram imediatamente
uma conversa sobre basquete da qual eu não tinha condições de (e nem queria)
participar, então levei minhas tulipas para dentro de casa.
—
Você quer que eu as coloque num vaso? — mamãe perguntou assim que entrei,
sorrindo de orelha a orelha.
—
Não, obrigada — respondi.
Se
colocássemos as tulipas num vaso na sala de estar, elas seriam de todos. E eu
queria que fossem só minhas.
Fui
para o meu quarto mas não troquei de roupa. Penteei o cabelo, escovei os
dentes, coloquei brilho labial e a menor quantidade de perfume possível, o
tempo todo espiando as flores. Elas eram excessivamente laranja, corriam até o
risco de serem consideradas feias de tão laranja que eram. Eu não tinha um vaso
nem nada parecido, então tirei a escova de dente de dentro do porta-escova de
dente e o enchi até a metade com
água,
deixando as flores lá no banheiro.
Quando
voltei para o quarto ouvi vozes, então me sentei na beira da cama por alguns
instantes e fiquei escutando a conversa pela porta entreaberta.
Papai:
“Então você conheceu a Demetria no Grupo de Apoio.”
Joseph:
“Foi, sim, senhor. Sua casa é adorável. Gostei muito das pinturas nas paredes.”
Mamãe:
“Obrigada, Joseph.”
Papai:
“Então, você também é um sobrevivente?”
Joseph:
“Sou. Não cortei fora essa camarada aqui pelo simples prazer de fazer isso,
embora seja uma estratégia de perda de peso excelente. Pernas pesam!”
Papai:
“E como anda a saúde?”
Joseph:
“SEC (Sem evidencia de câncer). Há um ano e dois meses.”
Mamãe:
“Isso é maravilhoso. As opções de tratamento disponíveis hoje… é realmente
impressionante.”
Joseph:
“Eu sei. Tenho sorte.”
Papai:
“Você precisa entender que a Hazel ainda está doente, Joseph, e que ficará
assim para o resto da vida. Ela vai querer acompanhar seu ritmo, mas os
pulmões…”
Foi
quando apareci, e ele parou de falar.
—
Então, aonde é que vocês vão? — mamãe perguntou.
O
Joseph ficou em pé e aproximou a boca do ouvido dela, sussurrando a resposta, e
depois encostou o indicador nos lábios.
—
Shh… — ele disse. — É segredo.
Mamãe
sorriu.
—
Você está levando o celular? — ela me perguntou.
Mostrei
o aparelho para provar que estava, apoiei o carrinho do oxigênio nas rodinhas
da frente e comecei a andar. O Joseph se apressou para me alcançar e me
ofereceu o braço, que aceitei. Segurei no bíceps dele. Infelizmente ele
insistiu em dirigir, para que a surpresa pudesse continuar sendo surpresa.
Enquanto pulávamos aos trancos em direção ao nosso destino, falei:
—
Minha mãe ficou totalmente encantada com você.
—
É, e seu pai é fã do Smits, o que ajuda muito. Você acha que eles gostaram de
mim?
—
Com toda certeza. Mas, quem se importa? Eles são só pais.
—
Eles são seus pais — o Joseph falou, olhando de relance para mim. — Além disso,
eu gosto de ser gostado. Isso é loucura?
—
Bem, você não precisa sair correndo para abrir a porta para mim ou me encher de
elogios para que eu goste de você.
Ele
pisou bruscamente no freio e eu voei para a frente com tanta violência que meu
fôlego ficou esquisito, quase o perdi. Pensei na tomografia. Não se preocupe.
Não adianta se preocupar. Mas me preocupei mesmo assim. Fritamos o pneu dando
uma arrancada quando o sinal abriu e viramos à esquerda na erroneamente
designada Avenida Bela Vista (ela dá vista para um campo de golfe, mas não é
nada bela). O único lugar que vinha à minha cabeça naquela direção era o
cemitério. O Joseph enfiou a mão no console, abriu um maço cheio de cigarros e
tirou um.
—
Você nunca joga os cigarros fora? — perguntei.
—
Um dos benefícios de não fumar é que os maços duram para sempre — ele
respondeu. — Já tenho esse aqui há quase um ano. Alguns cigarros estão rachados
perto do filtro, mas acho que esse maço consegue chegar até meu aniversário de
dezoito anos. — Ele segurou o filtro entre os dedos e o colocou na boca.
—
Então tá — falou.
—
Tá. Liste as coisas que você nunca vê em Indianápolis.
—
Humm. Adultos magros — falei.
Ele
riu.
—
Boa. Continue.
—
Humm. Praias. Restaurantes que passam de pai para filho. Relevo.
—
Todos excelentes exemplos de coisas que faltam por aqui. E, também, programas
culturais.
—
Ah, é. Nós ficamos um pouco a desejar no quesito programas culturais — falei,
deduzindo, enfim, aonde ele estaria me levando. — Estamos indo ao museu?
—
De certa forma.
—
Ah, nós vamos àquele parque, e tal?
O
Joe pareceu esvaziar.
—
É. Nós vamos àquele parque, e tal — falou. — Você já descobriu, não descobriu?
—
Humm. Descobri o quê?
—
Nada.
* *
*
Havia
um parque atrás do museu onde vários artistas fizeram grandes esculturas. Já
tinha ouvido falar dessa instalação, mas nunca a visitara. Passamos de carro
pela porta do museu e estacionamos perto de uma quadra de basquete repleta de
arcos de aço enormes, azuis e vermelhos, que simulavam a trajetória de uma bola
quicando. Andamos por um caminho que, para os padrões de Indianápolis, é
considerado uma ladeira, até chegar a uma clareira onde crianças escalavam a
escultura de um esqueleto de proporções gigantescas. Os ossos iam mais ou menos
até a altura da cintura e o fêmur era mais comprido que eu. Parecia o desenho,
feito por uma criança, de um esqueleto brotando do chão.
Meu
ombro doía. Fiquei com medo de o câncer ter se espalhado para além dos pulmões.
Imaginei meu tumor metastatizando para os ossos, abrindo buracos no meu
esqueleto, uma enguia rastejante com intenções perversas.
—
“Ossos Maneiros” — o Augustus disse. — Criado por Joep Van Lieshout.
—
Parece holandês.
—
E é — o Joe falou. — Assim como o Rik Smits. E as tulipas.
O
Joe parou no meio da clareira com os ossos bem na nossa frente e tirou a alça
da mochila de um dos ombros, e depois do outro. Abriu o fecho e tirou de lá uma
toalha cor de laranja, uma garrafa de suco de laranja e alguns sanduíches de
pão de forma sem casca embalados em plástico filme.
—
Qual é a desse laranja todo? — perguntei, ainda não querendo me permitir
imaginar que tudo aquilo levaria a Amsterdã.
—
É a cor nacional da Holanda, obviamente. Você se lembra de Guilherme I, o
Príncipe de Orange, e tal?
—
Ele não caiu no teste que fiz para conseguir o diploma do ensino médio. —
Sorri, tentando conter minha empolgação.
—
Vai um sanduíche? — ele perguntou.
—
Deixe eu adivinhar... — falei.
—
Queijo holandês. E tomate. Os tomates vieram do México. Foi mal.
—
Você é sempre tão decepcionante, Joseph. Não podia pelo menos ter comprado
tomates cor de laranja?
Ele
riu, e nós comemos os sanduíches em silêncio, vendo as crianças brincando na
escultura. Eu não podia simplesmente perguntar nada a respeito daquilo, por
isso só continuei sentada ali, rodeada de holandesidades, meio constrangida,
meio esperançosa.
A
distância, banhado pela luz solar imaculada, tão rara e preciosa em nossa
cidade natal, um bando de crianças barulhentas fazia um esqueleto de
playground, pulando para a frente e para trás entre os ossos protéticos.
—
Tem duas coisas que eu adoro nessa escultura — o Joseph disse. Ele segurava o
cigarro apagado entre os dedos, dando batidinhas nele como se descartasse as
cinzas. E o colocou de novo na boca. — Em primeiro lugar, a distância entre os
ossos é tal que, se você é criança, não consegue resistir à tentação de pular
entre eles. Tipo, você simplesmente tem que pular da caixa torácica até o
crânio. O que significa que, em segundo lugar, essa escultura essencialmente
força as crianças a brincar nos ossos. As ressonâncias simbólicas são
infinitas, Demetria Lovato.
—
Você gosta mesmo de símbolos — falei, na esperança de conduzir a conversa de
volta na direção dos muitos símbolos da Holanda presentes em nosso piquenique.
—
Certo. Por falar nisso, você deve estar se perguntando por que está comendo um
sanduíche de queijo ruim e bebendo suco de laranja, e por que eu estou usando a
camiseta de um holandês que praticava um esporte que eu aprendi a odiar.
—
É, isso passou pela minha cabeça — falei.
—
Demetria Lovato, como várias crianças já fizeram, e digo isso com todo
respeito, você gastou seu Desejo precipitadamente, sem se preocupar muito com
as consequências. O ceifador a encarava e o medo de morrer ainda carregando o
Desejo não concedido em seu bolso proverbial fez com que corresse atrás do
primeiro Desejo em que conseguiu pensar, e você, como tantos outros, escolheu
os prazeres inexpressivos e artificiais do parque temático.
—
Na verdade, eu me diverti muito naquela viagem. Eu conheci o Pateta e a Minn…
—
Estou no meio de um monólogo! Eu escrevi isso e decorei, e se você me interromper
vou errar tudo — o Joseph me cortou. — Por favor, continue comendo o sanduíche
e prestando atenção. — (O sanduíche estava tão seco que não dava nem para
morder, mas eu sorri e tirei um pedaço mesmo assim.) — Certo. Onde eu estava?
—
Nos prazeres artificiais.
Ele
guardou o cigarro no maço.
—
Certo. Os prazeres inexpressivos e artificiais do parque temático. Mas deixe-me
ressaltar que os verdadeiros heróis da Fábrica de Desejos são os jovens homens
e mulheres que esperam, como Vladimir e Estragon esperam Godot, e como boas
moças cristãs esperam o casamento. Esses jovens heróis esperam estoicamente, e
sem reclamar, até que seu único e verdadeiro Desejo venha até eles. É certo que
talvez o Desejo nunca chegue, mas pelo menos esses jovens podem descansar em
paz em seu túmulo sabendo que fizeram sua parte na preservação da integridade
do Desejo como um ideal. Porém, pensando bem, talvez seu Desejo vá se revelar,
no fim das contas: talvez você perceba que seu único e verdadeiro Desejo é
visitar o genial Peter Van Houten em seu exílio amsterdamês, e você ficará
feliz, de fato, por ter poupado seu Desejo.
O
Joseph fez uma pausa longa no discurso, o suficiente para que eu percebesse que
o monólogo tinha chegado ao fim.
—
Mas eu não poupei o meu Desejo — falei.
—
Ah — ele disse. E, então, após o que pareceu ser uma pausa calculada,
acrescentou: — Mas eu poupei o meu.
—
Sério?
Fiquei
surpresa com o fato de o Joseph ser elegível para um Desejo, afinal de contas
ele ainda estava estudando e a remissão do câncer dele já durava mais de um
ano. Era preciso estar muito doente para que os Gênios lhe concedessem algo.
—
Ganhei o meu em troca da perna — ele explicou. Um facho de luz batia no rosto
do Joe, de uma forma que o fazia apertar os olhos para me olhar, o nariz
enrugando de um jeito adorável. — Bem, eu não vou dar meu Desejo para você nem
nada. Mas também tenho interesse em conhecer o Peter Van Houten, e não faria
sentido conhecer o homem sem a menina que me apresentou ao livro dele.
—
Definitivamente não faria sentido — falei.
—
Por isso conversei com os Gênios e eles concordaram em gênero, número e grau.
Disseram que Amsterdã fica linda no início de maio. E sugeriram que viajássemos
no dia três e voltássemos no dia sete.
—
Joseph, isso é sério?
Ele
estendeu o braço, tocou minha bochecha e, por um instante, pensei que iria me
beijar. Meu corpo todo ficou tenso, e acho que ele percebeu, porque afastou a
mão.
—
Joseph — falei. — Sério. Você não precisa fazer isso.
—
Claro que preciso — ele disse. — Eu encontrei o meu Desejo.
—
Cara, você é demais — falei para ele.
—
Aposto que diz isso para todos os garotos que bancam viagens internacionais
para você — ele retrucou.
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Gente minha aulas começam amanhã '-'
Vou postar segunda do mesmo jeito, haha mas depois dessa semana
acho que devo postar somente 3 vezes por semana
hm.. depois eu vejo isso direito... :*
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