As paredes pingavam água da chuva que
vinha da rua acima. As gotículas caíam em poças profundas, como se estivessem
chorando por ele, o bastardo deitado no meio do porão em uma poça de seu
próprio sangue.
Eu respirava com dificuldade, olhando
para ele, mas não por muito tempo. Mas minhas duas armas Glock estavam
apontadas em direções opostas, mantendo os homens de Benny no local até o resto
da minha equipe chegar.
O fone de ouvido enterrado no meu
ouvido zumbia.
— O prazo estimado é de dez segundos, Jonas. Bom trabalho. — O chefe da minha equipe, Henry Givens, falou em voz baixa,
sabendo assim como eu sabia, que, com Benny morto, estava tudo acabado.
Uma dúzia de homens com rifles
automáticos e vestidos de preto da cabeça aos pés entraram, e eu abaixei minhas
armas.
— Eles são apenas capangas. Leve-os daqui.
Após colocar minhas pistolas no coldre,
eu puxei a fita restante dos meus pulsos e subi as escadas do porão. Kevin
esperava por mim no topo, seu casaco cáqui e cabelo encharcado da tempestade.
— Você fez o que tinha que fazer — disse
ele, seguindo-me para o carro. — Você está bem? — Kevin disse olhando o corte na minha sobrancelha.
Eu estive sentado na cadeira de madeira
por duas horas, tendo minha bunda chutada enquanto Benny me questionava. Eles
me descobriram naquela manhã — tudo parte do plano, é claro —,
mas o fim de seu interrogatório deveria resultar em sua prisão, não em sua
morte.
Minhas mandíbulas trabalharam
violentamente sob a pele. Eu vinha de um longo tempo sem perder a paciência e
bater em alguém que despertasse a minha raiva.
Mas, em poucos segundos, todo o meu
treinamento tinha sumido, e só bastou Benny falar o nome dela para que isso
acontecesse.
— Eu tenho que ir pra casa, Kev. Estive fora por semanas, e é
o nosso aniversário... ou o que sobrou dele.
Eu escancarei a porta do carro, mas
Kevin agarrou meu pulso.
— Você precisa ser interrogado, primeiro. Você passou anos no
caso.
— Desperdicei. Eu desperdicei anos.
Thomas suspirou.
— Você não quer levar isso para casa com você, não é?
Eu suspirei.
— Não, mas eu tenho que ir. Eu prometi a ela.
— Vou ligar para ela. Vou explicar.
— Você vai mentir.
— É o que nós fazemos.
A verdade sempre foi feia. Kevin estava
certo. Ele praticamente me criou, mas eu não o conheci realmente até que fui
recrutado pelo FBI.
Quando Kevin foi para a faculdade, eu
pensei que ele estivesse estudando publicidade, e mais tarde ele nos disse que
era um executivo de publicidade, na Califórnia. Ele estava tão longe, era fácil
para ele manter seu disfarce.
Olhando para trás, faz sentido agora,
por que Kevin tinha decidido voltar para casa uma vez sem precisar de uma
ocasião especial, a noite em que ele conheceu Demi. Naquela época, ele tinha
recém começado investigar Benny e suas múltiplas atividades ilegais, foi apenas
uma sorte cega que seu irmão menor havia conhecido e se apaixonado pela filha
de um dos mutuários de Benny. Ainda melhor que acabássemos presos em seu
negócio.
No segundo em que eu me formei em
justiça criminal, fez sentido que FBI tenha me contatado. A honra foi perdida
em mim. Nunca ocorreu a mim ou a Demi que eles tivessem milhares de aplicações
por ano, e não tinham o hábito de recrutamento.
Mas eu já era um agente secreto
embutido, já tinha conexões com Benny.
Anos de treinamento e tempo fora de
casa culminaram com Benny deitado no chão, com os olhos mortos olhando para o
teto do subsolo. Uma parte inteira da minha Glock foi enterrada no fundo de seu
torso. Acendi um cigarro.
— Ligue para Sarah no escritório. Diga a ela para me reservar
o próximo voo. Eu quero estar em casa antes da meia-noite.
— Ele ameaçou sua família, Joseph. Nós todos sabemos do que
Benny é capaz. Ninguém culpa você.
— Ele sabia que tinha sido pego, Kevin. Ele sabia que não
tinha para onde ir. Ele lançou uma isca para mim. Ele lançou e eu caí.
— Talvez. Mas detalhar a tortura e morte da esposa de seu
comparsa mais letal não foi exatamente um bom negócio. Ele tinha que saber que
não poderia intimidá-lo.
— Sim — eu disse com os dentes cerrados, lembrando a imagem vívida
de Benny falando em sequestrar Demi e tirar a carne dela dos ossos, pedaço por
pedaço. — Eu
aposto que ele desejaria não ser tão bom contador de histórias, agora.
— E há sempre Patrick. Ele é o próximo da lista.
— Eu disse a você, Kevin. Posso ser um consultor neste caso.
Não é uma boa ideia para eu participar.
Kevin apenas sorriu, disposto a esperar
mais um tempo para ter essa discussão. Eu sentei no banco traseiro do carro que
estava à espera para me levar para o aeroporto. Uma vez que a porta se fechou
atrás de mim, e o motorista se afastou do meio-fio, eu disquei o número de Demi.
— Oi, baby — Demi disse. Imediatamente, respirei profundamente. Sua voz
era tudo que eu precisava para melhorar.
— Feliz aniversário, Beija-Flor. Eu estou indo para casa.
— Você está? — ela perguntou, sua voz subindo uma oitava. — O
melhor presente, de todos.
— Como está indo tudo aí?
— Nós estamos no seu pai. James acabou de ganhar mais uma
rodada de pôquer. Estou começando a me preocupar.
— Ele é seu filho, Flor. Será que você se surpreende que seja
bom no jogo?
— Ele ganhou de mim, Joe. Ele é bom.
Fiz uma pausa.
— Ele ganhou de você?
— Sim.
— Eu pensei que você tinha uma regra sobre isso.
— Eu sei. — Ela suspirou. — Eu sei. Eu não jogo mais, mas ele teve um dia ruim, e foi uma
boa maneira de fazê-lo falar sobre isso.
— Como foi isso?
— Há uma criança na escola. Fez um comentário sobre mim hoje.
— Não é a primeira vez um menino fala algo sobre a professora
de matemática gostosa.
— Não, mas eu acho que foi particularmente bruto. Jay
disse-lhe para se calar. Houve uma briga.
— Jay chutou a bunda dele?
— Joseph!
Eu ri.
— Apenas perguntei!
— Eu o vi de minha sala de aula. Jessica chegou lá antes de
mim. Ela pode ter... humilhado o irmão. Um pouco. Não de propósito.
Fechei os olhos. Jessica, com seus
grandes olhos castanho-mel, cabelos longos e escuros, 40 kg de pura maldade,
quer dizer, era a minha miniatura. Ela tinha um temperamento igualmente ruim e
nunca perdeu tempo com palavras. Sua primeira luta foi no jardim de infância,
defendendo seu irmão gêmeo, James, contra uma menina pobre desavisada que
estava brincando com ele. Nós tentamos explicar a ela que a menina
provavelmente só tinha uma queda por ele, mas Jessie não queria saber de nada
disso. Não importa quantas vezes James pediu a ela para deixá-lo lutar suas
próprias batalhas, ela era ferozmente protetora, mesmo que ele fosse oito minutos
mais velho. Eu fumava.
— Deixe-me falar com ela.
— Jess! Papai está no telefone!
A voz doce e pequena veio sobre a
linha. Era incrível para mim que ela poderia ser tão selvagem como eu sempre
fui, e ainda soar — e olhar — como um anjo.
— Oi, papai.
— Baby... você teve algum problema hoje?
— Não foi minha culpa, papai.
— Nunca é.
— Jay estava sangrando. Ele estava caído, preso.
Meu sangue ferveu, mas orientar meus filhos
na direção certa veio primeiro.
— O que papai disse?
— Ele disse: “É hora de alguém humilhar Steven Matese".
Eu estava feliz que ela não podia me
ver sorrir por se impor para impressionar Paul Jonas.
— Eu não culpo você por querer defender o seu irmão, Jess, mas
você tem que deixa-lo lutar algumas batalhas por conta própria.
— Eu vou. Quando ele não estiver no chão.
Eu sufoquei outra onda de risadas.
— Deixe-me falar com a mamãe. Eu estarei em casa em poucas
horas. Amo você, baby.
— Eu também te amo, papai!
O telefone arranhou um pouco quando fez
a transição de Jessica para Demi, e depois a minha esposa de voz suave estava
de volta na linha.
— Você não ajuda em nada, não é? — ela perguntou, já sabendo a resposta.
— Provavelmente não. Ela tinha um bom argumento.
— Ela sempre tem.
— Verdade. Ouça: nós estamos indo para o aeroporto. Vejo você
em breve. Te amo.
Quando o motorista estacionou junto ao
meio-fio no terminal, eu corri para puxar a minha mala do banco. Sarah, a
assistente de Kevin, tinha enviado meu itinerário por e-mail, e meu voo estaria
saindo em meia hora. Corri através do check-in e segurança, e cheguei ao
portão, assim que eles estavam chamando o primeiro grupo.
O voo de volta pareceu durar uma
eternidade, como sempre. Mesmo que eu usasse um quarto dele para me refrescar e
trocar de roupa no banheiro, o que era sempre um desafio, o tempo de sobra
ainda estava se arrastando.
Saber que a minha família estava
esperando por mim era uma espera brutal. Mas o fato de que era o 11º
aniversário meu e da Demi era pior ainda. Eu só queria abraçar minha esposa.
Era tudo o que eu sempre queria fazer. Eu estava tão apaixonado por ela no
nosso décimo primeiro ano quanto eu estava no primeiro.
Cada aniversário era uma vitória, um
dedo do meio para todos que pensaram que não iria durar. Demi me cativou, o
casamento me estabilizou, e quando me tornei pai, minha visão mudou totalmente.
Eu olhei para o meu pulso e puxei meu punho.
O apelido de Demi ainda estava lá, e
ele ainda me fazia sentir melhor sabendo que estava ali.
O avião pousou, e eu tive que me
segurar de sair correndo através do terminal.
Depois que eu entrei no carro, minha
paciência tinha acabado. Pela primeira vez em anos, eu passei por semáforos e
costurava dentro e fora do tráfego. Foi realmente divertido, lembrando-me de
meus tempos de faculdade.
Subi na entrada e desliguei os faróis.
A luz da varanda da frente acendeu quando me aproximei. Demi abriu a porta, seu
cabelo caramelo apenas alcançando seus ombros, e seus grandes olhos cinzentos,
embora um pouco cansados, mostrou o quão aliviada estava em me ver. Eu a puxei
para os meus braços, tentando não apertar com muita força.
— Oh meu Deus — eu suspirei, enterrando meu rosto em seu cabelo. —Eu senti tanto sua falta.
Demi se afastou, tocando o corte na
minha testa.
— Você caiu?
— Foi um dia difícil no trabalho. Eu posso ter corrido contra
a porta do carro quando eu estava saindo para o aeroporto.
Demi me puxou contra ela de novo,
cavando seus dedos em minhas costas.
— Estou tão feliz que você está em casa. As crianças estão na
cama, mas eles se recusam a ir dormir até que você vá vê-los.
Eu inclinei para trás e acenei com a
cabeça, e então me abaixei na cintura, colocando a mão no estômago de Demi.
— E você? — eu perguntei ao meu terceiro filho. Eu beijei a barriga
saliente de Demi, e então me levantei novamente. Demi esfregou sua barriga, em
um movimento circular. — Ele ainda está esperando.
— Ótimo. — eu puxei uma caixa pequena da minha bagagem de mão e a
segurei na frente de mim. — Onze anos atrás, estávamos em Vegas. Ainda é o melhor dia da
minha vida.
Demi pegou a caixa e, em seguida, puxou
da minha mão até que estávamos na entrada. Cheirava uma combinação de limpeza,
velas, e crianças. Cheirava como um lar.
— Eu tenho uma coisa, também.
— Ah, é?
— É. — ela sorriu. Ela me deixou por um momento, desaparecendo para
o escritório, e depois voltou com um envelope pardo. — Abra-o.
— Você pegou meu correio? Melhor esposa de todas — eu
provoquei.
Demi simplesmente sorriu.
Eu abri o lábio, e tirei uma pequena
pilha de papéis dentro. Datas, horários, transações, até mesmo e-mails. De
Benny, e o pai de Demi, Patrick. Ele trabalhava para Benny durante anos. Ele
tinha pegado mais dinheiro emprestado com ele, e depois teve que trabalhar por
sua dívida para não ser morto quando Demi se recusou a pagar. Havia apenas um
problema: Demi sabia com o que Kevin trabalhava... Mas até onde eu sabia, ela
pensou que eu trabalhava em publicidade.
— O que é isso? — eu perguntei, fingindo confusão. Demi ainda tinha uma
perfeita cara de paisagem.
— É a conexão que você precisa para ligar Patrick a Benny.
Este aqui — disse
ela puxando o segundo papel da pilha — É o prego no caixão.
— Tudo bem... mas o que é que eu vou fazer com isso?
A expressão de Demi se transformou em
um sorriso duvidoso.
— Tudo o que você faz com essas coisas, querido. Eu apenas
pensei que se eu fizesse uma pequena pesquisa, você poderia ficar em casa um
pouco mais desta vez.
Minha mente correu, tentando descobrir
uma maneira de sair disto. Eu tinha de alguma forma, esconder o meu disfarce.
— Há quanto tempo você sabe?
— Será que isso importa?
— Você está brava?
Demi encolheu os ombros.
— Eu fiquei um pouco magoada no início. Você tem muitas mentiras
brancas sob sua história.
Abracei-a, puxando-a para perto de mim,
os papéis e envelopes ainda na minha mão.
— Eu sinto muito, Flor. Eu sinto muito, muito mesmo. — eu
me afastei. — Você
não disse a ninguém, não é?
Ela balançou a cabeça.
— Nem mesmo a Selena ou Nicholas? Nem ao pai ou até mesmo as
crianças?
Ela balançou a cabeça de novo.
— Eu fui inteligente o suficiente para descobrir isso, Joseph.
Você acha que eu não sou inteligente o suficiente para mantê-lo para mim? A sua
segurança está em jogo.
Eu coloquei seu rosto na minha mão.
— O que isso significa?
Ela sorriu.
— Isso significa que você pode parar de dizer que você tem
outra convenção para ir. Algumas de suas histórias para sair são absolutamente insultantes.
Beijei-a de novo, ternamente tocando
meus lábios nos dela.
— E agora?
— Beije as crianças, e então você e eu podemos comemorar os 11
anos de “nós conseguimos”. Que tal isso?
Minha boca se abriu em um largo
sorriso, e então olhei para os papéis.
— Você vai ficar bem com isso? Ajudar derrubar o seu pai?
Demi franziu a testa.
— Ele disse isso um milhão de vezes. Eu era o fim dele. Pelo menos
eu posso fazê-lo orgulhoso sobre estar certo. E as crianças estão mais seguras assim.
Eu coloquei os papéis na mesa de
entrada.
— Nós vamos falar sobre isso mais tarde.
Eu andei pelo corredor, puxando Demi
pela mão atrás de mim. O quarto de Jessica era o mais próximo, eu parei e
beijei sua bochecha, cuidando para não acordá-la, e então eu cruzei o corredor
até o quarto de James. Ele ainda estava acordado, deitado calmamente.
— Ei, amigo — eu sussurrei.
— Ei, papai.
— Ouvi dizer que você teve um dia difícil. Você está bem? — ele
acenou com a cabeça.
— Tem certeza?
— Steven Matese é um babaca.
Eu balancei a cabeça.
— Você está certo, mas você poderia provavelmente encontrar uma
forma mais adequada para descrevê-lo.
James puxou a boca para o lado.
— Então. Você bateu sua mãe no pôquer hoje, hein?
James sorriu.
— Duas vezes.
— Ela não me contou essa parte — eu disse, virando-se para Demi. Sua silhueta escura, curvilínea
enfeitou a iluminação da porta. — Amanhã você pode me contar em detalhes.
— Sim, senhor.
— Eu te amo.
— Eu também te amo, papai.
Eu beijei o nariz do meu filho e então
segui sua mãe pelo corredor até o quarto. As paredes estavam cheias de retratos
de família e da escola, e obras de arte emolduradas.
Demi ficou no meio da sala, a barriga grande
com nosso terceiro filho, estonteantemente bonita e feliz em me ver, mesmo
depois que descobriu o que eu estava escondendo dela durante a maior parte do
nosso casamento. Eu nunca tinha me apaixonado antes de Demi, e ninguém tinha sequer
despertado meu interesse desde então. Minha vida era a mulher que estava diante
de mim, e da família que tínhamos feito juntos.
Demi abriu a caixa, e olhou para mim,
com lágrimas nos olhos.
— Você sempre sabe exatamente o que comprar. É perfeito — disse
ela, seus dedos graciosos tocando as três pedras de nascimento de nossos
filhos. Ela colocou-o em seu dedo anelar direito, estendendo a mão para admirar
sua nova bugiganga.
— Não tão bom como você me conseguir uma promoção. Eles vão
saber o que você fez, você sabe, e isso vai ficar complicado.
— Parece que será sempre assim com a gente — ela
disse, não se afetando.
Eu respirei fundo, e fechei a porta do
quarto atrás de mim. Mesmo que nós tivéssemos colocado um ao outro através de
um inferno, nós tínhamos encontrado o céu. Talvez fosse mais do que um par de
pecadores merecia, mas eu não ia reclamar.
Fim.
~*~
Acabou ):
O que acharam do final?
Para aqueles que queriam miniaturas Jemi, espero que estejam felizes, pois tem dois e meio haha
Comentem, amores <33
Answers:
Gabs: hahahaha também quero ele pra mim <33 Postado.
Demetria Devone Lovato: Eu também me apaixonei pela pulseira *-* Ah, esqueci de falar contigo, mas os capítulos extras que eu estou postando são todos de Walking Disaster - o segundo livro de Beautiful Disaster-, e eu escolhi justamente os capítulos que não tinha em BD. Como pode ver, não são muitos os capítulos que são diferentes. haha Postado, beijos <33
Nanda Carol: Pessoas assim estão cada vez mais raras nesse mundo. É triste isso, pois é haha Obrigada pelos selos *-* Amanhã eu posto eles, porque hoje estou sem tempo ^^ Cap. postado, beijos <3
Pâm Lovato: E se passaram mais 10 anos aqui kkkkk Suas miniaturas Jemi estão aí!! u_u "3" para a sua alegria hahahaha Espero que tenha gostado do final. Beijos <3