Demetria.
Estou mexendo no meu armário, depois da aula, quando minhas amigas
Morgan, Madison e Megan se aproximam. Selena costuma chamá-las de “As 3 M de
Fairfield”. Morgan me abraça:
— Oh, meu Deus, você está bem? — ela pergunta, se afastando um
pouco para me observar.
— Vi quando Colin defendeu você. Ele é incrível. Você tem muita sorte,
Demi — diz Madison. E seus cachos balançam, como se acompanhassem o ritmo das
palavras.
— Não foi tão grave assim — digo, cogitando sobre o tipo de boato
que a essa altura deve estar correndo... Em contraste com o que realmente
aconteceu.
— O que, exatamente, Joe disse? — Megan pergunta. — Caitlin
fotografou, com o celular, o momento em que ele e Colin se encontraram no
corredor...
— Ei, garotas, não vão se atrasar para o ensaio — grita Darlene,
do final do corredor, e desaparece tão rápido quanto chegou.
Megan abre seu armário, que fica perto do meu, e pega seus
pompons:
— Detesto o jeito como Darlene bajula a Sra. Small — ela resmunga.
Fecho meu armário e, junto com elas, caminho em direção à quadra.
— Acho que ela está tentando se concentrar na coreografia, para
não ficar pensando o tempo inteiro na volta de Tyler à faculdade.
Morgan suspira:
— Sei lá! Eu nem tenho um namorado, mas a minha nota para ela é
zero em simpatia.
— Também não sinto a menor simpatia por ela — diz Madison —
Falando sério, me digam quando aquela garota não está namorando
alguém...?
Ao chegar à quadra, encontramos toda a nossa turma sentada no
chão, esperando pela Sra. Small.
Ufa, ainda bem que não estamos atrasadas.
— Ainda não consigo acreditar que Joe Fuentes é seu parceiro em
Química — Darlene me diz, baixinho, enquanto me acomodo no lugar vago, ao lado
dela.
— Quer trocar de parceiro? — pergunto, sabendo que a Sra. Peterson
jamais permitiria.
Darlene põe a língua para fora, num gesto grosseiro e vulgar:
—
Nem em sonhos! Eu nunca me envolvo com o pessoal da zona sul. Misturar-se com
aquela gente só pode trazer problemas. Você se lembra do que aconteceu no ano
passado, quando Alyssa McDaniel começou a sair com aquele garoto... Qual era
mesmo o nome dele?
— Jason Avila? — digo, em voz baixa.
Darlene estremece. E confirma:
— Sim... Em poucas semanas, Alyssa deixou de ser a pessoa
maravilhosa que era, para virar um peixe fora d’água. As meninas da zona sul a
odiaram, por estar namorando um de seus garotos... E ela parou de andar com a
gente. O pobre casal ficou totalmente isolado... Graças a Deus, Alyssa rompeu o
namoro.
A Sra. Small se aproxima, com seu CD player, reclamando que alguém
tirou o aparelho do lugar... E foi por isso que ela se atrasou. Quando a Sra.
Small começa o alongamento, Selena cutuca Darlene, empurrando-a para o lado,
para poder falar comigo.
— Menina, você está encrencada — diz Selena.
— Por quê?
Selena, minha melhor amiga, tem uma “super” audição e uma “super”
visão; sabe tudo o que se passa em Fairfield.
— Há um boato, por aí... — ela me avisa. — Parece que Ashley
Greene está à sua procura.
Oh, não. Ashley é namorada de Joe. Tento não enlouquecer, não
pensar no pior... Mas Ashley é durona, desde suas unhas pintadas de vermelho,
até suas botas de salto agulha. Será que está com ciúmes, por eu ser parceira
de Joe em Química? Ou será que ela pensa que delatei seu namorado para o
diretor?
A verdade é que não entreguei Joe. Fui chamada à sala do Dr.
Aguirre porque hoje de manhã alguém viu o que aconteceu no estacionamento,
depois viu nossa discussão na escada e foi contar para ele... O que, por sinal,
é ridículo, já que nada de mais grave ocorreu.
O Dr. Aguirre não acreditou em mim. Pensou que eu estivesse muito
assustada... E que por isso não contei a verdade. Bem, eu não estava com medo.
Mas agora estou.
Ashley Greene pode me pegar, num dia desses. Ela provavelmente
sabe como usar armas... Quanto a mim, a única arma que conheço são os meus
pompons. E eu seria louca se acreditasse que eles podem assustar uma garota
como Ashley.
Talvez eu pudesse me sair bem, numa maratona de palavras. Mas,
definitivamente, não numa briga corpo a corpo. Os garotos brigam por conta de
um gene inato, primitivo, que os leva a testar sua capacidade física. Talvez
Ashley queira provar algo para mim, mas, falando sério, não há necessidade.
Afinal, eu não represento nenhuma ameaça. Mas como explicar isso a Ashley? Não
posso simplesmente chegar para ela e dizer: “Ei, garota, não pretendo dar em
cima do seu namorado. E nunca reclamei dele para o Dr. Aguirre.” Talvez eu
devesse fazer isso...
A maioria das pessoas pensa que nada pode me tirar do sério. E eu
não vou contar a elas que não é bem assim, que algumas coisas me aborrecem.
Trabalhei muito para criar e manter essa fachada... E não estou a fim de perder
tudo isso só porque a namorada de um cara — que é membro de uma gangue
perigosa! — resolveu me pôr à prova.
— Não estou preocupada com esse assunto — eu digo a Selena.
Minha melhor amiga balança a cabeça:
— Eu te conheço, Demi. Você está
super-nervosa — ela murmura.
As palavras de Selena me deixam mais apreensiva
do que a ideia de ter Ashley em meu encalço. Pois eu realmente tento, com todo
empenho, manter as pessoas à distância... Para que elas não saibam como sou, na
verdade... Para que não saibam o que é viver numa casa como a minha. Mas deixo
que Selena saiba mais sobre minha vida do que qualquer outra pessoa. Ou eu
deveria ser mais reservada, em nossa amizade? Assim, poderia manter Selena a
uma certa distância. A uma distância segura.
Eu
sei, claro, que estou sendo paranóica. Selena é uma amiga de verdade. No ano
passado, chorei muito porque minha mãe sofreu uma crise nervosa... E Selena
estava a meu lado, apesar de eu não ter lhe contado o motivo da crise. Ela me
confortou, deixou que eu chorasse à vontade, mesmo quando me recusei a contar
os detalhes.
Não
quero ser igual a minha mãe, não quero acabar desse jeito... Este é o maior
medo que tenho, na vida.
A
Sra. Small nos manda entrar em formação e aciona o CD player, com a sequência
que o pessoal do Departamento de Música compôs especialmente para a nossa
turma. É uma mistura de hip-hop e rap, especialmente mixada para a nossa
coreografia, que nós batizamos de Big, Bad Bulldogs, pois o símbolo do
nosso time é um buldogue. Meu corpo todo vibra com o ritmo. É por isso que eu
adoro ser líder de torcida.
A
música me conduz e me faz esquecer os problemas de casa. A música é minha
droga, a única coisa que me alivia a dor.
—
Sra. Small, podemos começar a partir da posição Broken T, em vez da
posição T, como fazíamos antes? — pergunto. — A partir daí vamos para o V,
Low e High, com Morgan, Miley e Caitlin avançando para a frente. Acho que
assim ficará melhor.
A
Sra. Small sorri, obviamente encantada com minha sugestão.
—
Boa ideia, Demetria. Vamos tentar... Começaremos com a posição com os cotovelos
dobrados. Durante a transição, quero Morgan, Miley e Caitlin na primeira
fileira. Lembrem-se de manter os ombros relaxados. Selena, por favor, não dobre
os pulsos... Eles devem ser uma extensão, uma continuidade dos braços.
—
Sim, professora — diz Selena, atrás de mim.
A
Sra. Small coloca a música novamente, O ritmo, a letra, os instrumentos... tudo
penetra em minhas veias e me ergue, não importa o quanto eu esteja me sentindo
triste. Enquanto danço, em sincronia com as outras garotas, esqueço Ashley e
Joe e minha mãe e tudo o mais.
A
música termina muito rápido. A Sra. Small desliga o CD player, mas eu bem que
gostaria de continuar dançando. Na segunda vez em que repetimos, a coreografia
sai melhor. Mas há vários movimentos que ainda precisam ser trabalhados. E
algumas meninas, novatas, estão tendo dificuldade em aprender os passos.
— Demetria, ensine os movimentos básicos para
as novas garotas. E então tentaremos repassar, uma vez mais, a coreografia
inteira — diz a Sra. Small, entregando-me o CD player. — Darlene, revise os
passos mais difíceis com o resto da turma.
Miley está no meu grupo. E se ajoelha para
tomar um gole de sua garrafa de água.
— Não se preocupe com as ameaças de Ashley —
ela me diz. — Em geral, Ashley mais late do que morde.
— Obrigada — eu digo.
Miley parece durona, com seu lenço da Sangue
Latino, três piercings na sobrancelha e os braços geralmente
cruzados sobre o peito, numa postura de quem está sempre pronto a se defender.
Mas tem um olhar suave... E está sempre sorrindo. Seu sorriso suaviza a
aparência rude. Se ela usasse uma fita pink nos cabelos, em vez do lenço
vermelho da gangue, aposto que pareceria bem mais feminina.
—
Você está na mesma classe que eu, na aula de Química, não é mesmo? — pergunto.
Ela
responde com um gesto afirmativo.
— E
você conhece Joe Fuentes?
Ela
responde com o mesmo gesto.
— E
esses boatos que correm sobre ele... são verdadeiros? — pergunto, cautelosamente,
sem saber como Miley vai reagir. Se eu não tomar cuidado, acabarei tendo mais
uma no meu encalço...
Os
longos cabelos castanhos de Miley se movem enquanto ela fala:
—
Depende de que boatos você está falando.
Antes
que eu despeje a lista de fofocas sobre o uso de drogas e as prisões de Joe,
Miley se levanta e diz:
— Escute,
Demetria... Nós nunca seremos amigas. Mas acho importante dizer que apesar de
Joe ter se portado muito mal com você hoje, ele não é tão mau como dizem por
aí... Nem tão mau quanto ele mesmo se acha.
Antes
que eu possa fazer outra pergunta, Miley volta ao seu lugar, na coreografia.
Uma
hora e meia depois, quando estamos exaustas, desgastadas — e até mesmo eu acho
que já dançamos o suficiente —, somos dispensadas do ensaio.
Faço
questão de caminhar ao lado de Miley, que transpira muito, e dizer a ela que
foi muito bem, no ensaio.
—
Verdade? — ela pergunta, aparentando surpresa.
—
Você aprende rápido — eu digo. E é mesmo. Para uma garota que nunca lidou com
pompons, antes, ela pegou os movimentos bem depressa. — Por isso coloquei você
na fila da frente.
Enquanto
Isabel continua de queixo caído com o elogio, eu me pergunto se ela acredita
nos boatos que certamente já ouviu, a meu respeito. Não, nós nunca seremos
amigas... Mas posso dizer, também, que nunca seremos inimigas.
Digo “até logo” a Miley e vou ao encontro de
Selena, que está ocupada com o celular, escrevendo um torpedo para Nick, seu
namorado. Caminhamos juntas em direção ao meu carro.
Encontro um pedaço de papel, dobrado, sob o
limpador de pára-brisas. Abro: é o folheto de suspensão, que Joe recebeu. Eu o
amasso e jogo dentro da minha mochila.
— O que é isso? — Selena pergunta.
— Nada — eu digo, esperando que ela perceba
que não estou a fim de falar sobre o assunto.
— Ei! — grita Darlene, correndo em nossa
direção. — Vi Colin no campo de futebol. Ele disse para você esperá-lo.
Olho para o meu relógio de pulso. Já são seis
horas e preciso ir para casa ajudar Baghda a preparar o jantar de Shelley.
— Não posso — digo.
— Nick respondeu meu torpedo — diz Selena. —
E está nos convidando para comer uma pizza, na casa dele.
— Eu vou! — diz Darlene. — Tenho me sentido
tão entediada, agora que Tyler voltou a Purdue... Provavelmente, só nos veremos
daqui a algumas semanas.
— Pensei que você iria visitá-lo no próximo
sábado — diz Selena, que continua a escrever no celular.
Darlene põe as mãos nos quadris.
— Bem, isso foi antes dele me ligar dizendo
que precisaria dormir na casa da Fraternidade, por conta de um daqueles rituais
malucos de iniciação. Desde que o pênis de Tyler esteja intacto, quando tudo
isso acabar, para mim está tudo bem.
Ao ouvir a palavra “pênis” procuro minhas
chaves na bolsa. Quando Darlene começa a falar de sexo, o jeito é bater em
retirada, porque ela não para nunca mais. E como não costumo compartilhar
minhas experiências sexuais, ou a falta delas, com ninguém, é melhor dar o
fora... E este me parece o momento perfeito para escapar.
Enquanto giro o chaveiro no dedo, Selena me
avisa que vai pegar uma carona com Nick, de modo que voltarei para casa
sozinha. Gosto de estar só. Ninguém para me ver ou julgar. Posso até ouvir
música, no máximo volume, se quiser. Porém, esse prazer dura pouco, pois meu
celular vibra. Tiro-o do bolso e olho o display. Duas mensagens de voz e uma
mensagem de texto... Todas de Colin.
Retorno a ligação e ele atende:
— Demi, onde você está?
— A caminho de casa.
— Vá para a casa do Nick.
— Minha irmã está com uma nova enfermeira —
explico. — Preciso ajudá-la.
— Você ainda está zangada por eu ter ameaçado
aquele marginal que é seu parceiro de Química?
— Não estou zangada. Só aborrecida. Eu disse
que podia lidar com a situação, mas você me ignorou totalmente... E provocou
aquela cena no corredor. Você sabe que não pedi para ser parceira dele, Colin.
— Eu sei, Demi. Acontece que detesto aquele
cara. Por favor, não fique zangada.
— Não estou — eu digo. — Apenas, detestei ver
você furioso daquele jeito... E sem nenhuma razão.
— Detestei ver aquele cara falando bem perto
do seu ouvido.
Sinto uma dor de cabeça se aproximando... com
força total. Não preciso de Colin fazendo uma cena, toda vez que um cara falar
comigo. Ele nunca agiu assim, antes. Sua atitude me deixou bem exposta a
críticas e fofocas... Coisa que, para mim, é detestável.
— Vamos esquecer isso — eu proponho.
— Por mim, tudo bem. Então, me ligue à noite
— ele diz. — Mas se você puder dar um pulo até o Nick, eu estarei por lá.
Quando chego em casa, Baghda está no quarto
de Shelley, no primeiro andar, tentando trocar sua calcinha à prova de
vazamentos... Mas colocou Shelley na posição errada, com a cabeça onde
geralmente ficam os pés, e uma perna pendendo para fora da cama. Em resumo, um
desastre. Baghda está arfando, como se essa fosse a tarefa mais difícil que ela
já realizou na vida.
Será que minha mãe checou as referências dessa
moça?
— Pode deixar que eu faço isso — digo a
Baghda, afastando-a para o lado e assumindo o controle da situação. Costumo
trocar minha irmã desde que nós éramos crianças. Não é nada divertido trocar as
roupas íntimas de uma pessoa que pesa mais do que você. Mas se você fizer
direito, isso não levará muito tempo e nem será muito trabalhoso.
Minha irmã abre um imenso sorriso, quando me
vê:
— Deee!
Ela não consegue pronunciar bem as palavras, por
isso só pronuncia as duas primeiras letras do meu nome, porque é mais fácil pra
ela.
— Ei, menina... Como está seu apetite, para o
jantar? — pergunto, pegando alguns lenços umedecidos e tentando não pensar no
que estou fazendo.
Enquanto ponho uma nova calcinha e um moletom
em Shelley, Baghda me observa. Tento explicar tudo em detalhes, enquanto
executo a tarefa, mas basta-me um olhar para Baghda, para concluir que ela não
está me ouvindo.
— Sua mãe falou que eu poderia ir embora,
assim que você chegasse — diz Baghda.
— Tudo bem — respondo, enquanto lavo as mãos.
E Baghda desaparece, como num passe de mágica, bem no estilo de Houdini...
Levo
Shelley, na cadeira de rodas, até a cozinha que, em geral, é imaculadamente
limpa... Mas agora está um caos. Baghda não lavou a louça, que está empilhada
na pia, nem limpou direito a
bagunça que Shelley fez, quando jogou sua tigela de iogurte no chão.
Preparo o jantar de Shelley e limpo a
sujeira.
Com a voz arrastada, Shelley tenta pronunciar
a palavra “escola” que na verdade soa como “cola” mas entendi o que ela quis
dizer.
— Sim, hoje foi meu primeiro dia de aula —
conto a Shelley, enquanto mexo a sopa e coloco-a na mesa. Levo a colher de sopa
à sua boca e continuo: — Minha nova professora de Química, a Sra. Peterson,
deveria ser monitora de acampamento, sabe? Dei uma olhada em sua planilha...
Pelo que vi, não vai se passar uma semana sem que ela nos dê uma prova ou um
questionário. Este ano não vai ser nada fácil, menina...
Minha irmã me olha, compreendendo aos poucos
o que acabo de dizer. Seu olhar intenso significa que ela está me dando apoio e
compreensão, sem que seja necessário falar... Pois Shelley precisa de um
esforço imenso para pronunciar cada palavra. Às vezes tenho vontade de apressar
as coisas, de dizer as palavras por ela, porque sinto sua frustração como se fosse
minha.
— Você não gostou de Baghda? — pergunto, num
tom calmo.
Shelley sacode a cabeça, num gesto de
negação. E não quer falar sobre o assunto; percebo isso pelo modo com que ela
contrai a boca.
— Tenha paciência com Baghda — eu digo. — Não
é nada fácil chegar numa casa desconhecida, sem saber ao certo o que fazer.
Quando Shelley termina de tomar a sopa, eu
lhe dou algumas revistas. Ela adora revistas. Aproveito que Shelley está
ocupada e preparo para mim um sanduíche de queijo. Começo a fazer meu dever de
casa, enquanto como.
Escuto a porta da garagem se abrir, no
momento em que estou começando meu trabalho sobre “respeito” solicitado pela
Sra. Peterson.
— Demi, onde você está? — minha mãe grita, do
hall.
—Na cozinha! — eu respondo.
Minha mãe aparece na cozinha, com uma sacola
da Neiman
Marcus no braço:
—
Isto é para você...
Pego
a sacola e abro: é um top azul-claro, assinado por Geren Ford.
—
Obrigada — eu digo, discretamente, para não fazer muito alarde na frente de
Shelley, que não ganhou nada de minha mãe. Não que Shelley pudesse se importar
com isso, no momento... Pois está concentrada nas fotos das celebridades mais
bem vestidas e mais mal vestidas do ano, nas jóias reluzentes, no glamour
estampado numa revista.
—
Esse top vai combinar com aquela calça que eu lhe dei, na semana passada — diz
minha mãe, retirando do freezer alguns filés e colocando-os no microondas, para
que descongelem. — E então, como foram as coisas com Baghda, depois que você
voltou para casa?
—
Não muito bem — eu digo. — Você realmente deveria ter ficado com ela, nesse
primeiro dia, para dar uma orientação, uma assistência. Minha mãe não responde. E isso não me
surpreende.
No minuto seguinte, meu pai entra na cozinha,
resmungado sobre seus problemas no trabalho. Ele tem uma empresa que fabrica
chips para computação. E já nos preveniu, dizendo que este seria um ano de
vacas magras. Só que, minha mãe continua fazendo compras, com frequência. E ele
me deu um BMW de aniversário.
— O que há para o jantar? — meu pai pergunta,
afrouxando o nó da gravata. Parece exausto e desgastado, como sempre.
Minha mãe lança um olhar ao microondas:
— Filés. Steak.
—
Não estou com disposição para alimentos pesados — ele diz. — Quero fazer apenas
uma refeição leve.
Irritada,
minha mãe desliga o microondas:
—
Ovos? Espaguete? — Ela faz várias sugestões... em vão.
Meu
pai sai da cozinha. Mesmo quando ele está aqui, fisicamente, sua mente continua
ligada no trabalho.
—Tanto
faz — ele responde, do corredor. — Algo leve, apenas.
Em
momentos assim, eu lamento muito por minha mãe, que nunca recebe uma verdadeira
atenção do meu pai. Quando ele não está trabalhando, ou em viagem de negócios,
parece sempre distante e alheio. Talvez simplesmente não goste de estar com a
família.
—
Vou fazer uma salada — eu digo, abrindo a geladeira e pegando um pé de alface.
Minha
mãe parece grata pela ajuda... Se é que seu pequeno sorriso pode servir de
indicação. Trabalhamos, ambas, lado a lado, em silêncio.
Arrumo
a mesa, enquanto ela traz a salada, os ovos mexidos e as torradas. Em seguida
começa a se queixar, dizendo que não está sendo valorizada... Mas compreendo
que ela só quer que eu a escute, sem dar palpites.
Shelley
continua entretida com suas revistas, alheia à tensão entre meus pais.
— Na
sexta-feira irei para a China, por duas semanas — meu pai anuncia, ao voltar à
cozinha, usando moletom e camiseta T-shirt. Senta-se pesadamente no
lugar costumeiro, à cabeceira da mesa, e serve-se de ovos mexidos. — Nosso
fornecedor de lá está enviando material com defeito... E vou descobrir por que.
— E
quanto ao casamento do filho dos DeMaio? Será no próximo fim de semana e nós já
confirmamos presença.
Meu
pai deixa cair o garfo no prato e olha para minha mãe:
—
Sim, tenho certeza de que esse casamento é mais importante do que o bom
andamento dos meus negócios.
—
Bill, eu não quis dizer isso — minha mãe argumenta, soltando seu próprio garfo
no prato. É um milagre que nossos pratos não tenham trincas permanentes. —
Apenas, não fica bem cancelar um compromisso desses assim, de última hora.
—
Você pode ir sozinha, se quiser.
— E deixar que as pessoas comecem a especular
o motivo da sua ausência? Não, obrigada.
Esta é um conversa típica do jantar dos
Ellis: meu pai contando sobre o quanto seu trabalho é árduo, minha mãe tentando
manter nossa fachada de família feliz, e eu e Shelley quietinhas, nos
bastidores...
— Como foi o colégio, hoje? — minha mãe
finalmente me pergunta.
— Tudo bem — eu digo, omitindo a parceria com
Joe Fuentes. — Minha professora de Química é uma fera.
— Talvez você nem devesse ter aulas de
Química, neste ano — meu pai comenta. — Se você não conseguir uma média alta,
nessa matéria, seu histórico escolar estará irremediavelmente comprometido. A
Northwestern é uma universidade difícil... E eles não vão facilitar as coisas
para você, só porque eu estudei lá.
— Eu sei, papai — digo, agora me sentindo
totalmente deprimida. Se Joe não levar nosso projeto de Química a sério, como
poderei tirar um “A”?
— A nova enfermeira de Shelley começou hoje —
diz minha mãe. — Você se lembrou disso, Bill?
Meu pai dá de ombros. Quando a última
enfermeira se demitiu, ele disse que deveríamos internar Shelley numa
instituição. Não me lembro de ter gritado tanto, em minha vida, como naquele
dia. Pois eu nunca deixaria que mandassem Shelley para um lugar onde ela
pudesse ser negligenciada ou incompreendida. Preciso manter um olho nela, o
tempo inteiro. Por isso é tão importante, para mim, entrar na Northwestern,
que é aqui perto. Ficando próxima de casa, posso continuar morando aqui, posso
me certificar de que meus pais não mandarão Shelley embora.
Às
nove, Megan me liga para se queixar de Darlene. Diz que Darlene mudou muito,
durante o verão, e agora está se achando o máximo, só porque começou a sair com
um cara da Universidade. Às nove e meia, Darlene me liga para dizer que acha
que Megan está com ciúmes, só porque ela está saindo com um cara da
Universidade. Às nove e quarenta e cinco, Selena me liga para dizer que
conversou com Megan e também com Darlene, nesta noite... E que não devemos nos
envolver nessa história... Eu concordo, mas acho que já nos envolvemos.
Às
dez e quarenta e cinco, finalmente termino meu texto sobre “respeito” para
entregar à Sra. Peterson, e então ajudo minha mãe a pôr Shelley na cama. Estou
tão exausta, que minha cabeça parece prestes a se desprender do pescoço e
cair... me enfio na cama, depois de vestir o pijama, e ligo para Colin.
—
Ei, baby — ele diz. — O que você andou fazendo?
—
Não muita coisa... Estou na cama. E você se divertiu, lá no Nick?
—
Nem tanto quanto eu me divertiria, se você estivesse junto.
—
Quando você voltou?
— Há
mais ou menos uma hora. Estou tão feliz por você me ligar!
Puxo
meu edredom até o queixo e afundo a cabeça no meu travesseiro macio.
— É mesmo? — digo, num tom sedutor, tentando
ganhar um elogio. — E por quê?
Faz muito tempo que ele não diz que me ama.
Sei que ele não é a pessoa mais carinhosa deste mundo... Meu pai também não.
Mas preciso ouvir isso de Colin. Quero que ele diga que sentiu minha falta. Que
sou a garota dos seus sonhos.
Colin limpa a garganta, antes de dizer:
— Nós nunca fizemos sexo por telefone, não é,
Demi?
Bem, não eram essas as palavras que eu
esperava ouvir. Mas não devo me decepcionar, nem me surpreender. Afinal, Colin
é um rapaz. E sei que os rapazes só pensam em fazer sexo e se divertir. Hoje à
tarde, quando li o que Joe escreveu no meu caderno, sobre ter sexo quente,
senti algo esquisito, que logo sufoquei... Claro que ele nem imagina que sou
virgem.
Colin e eu nunca fizemos sexo. Nem de
verdade, nem por telefone. Chegamos bem perto disso, em abril do ano passado,
na praia, nos fundos da casa de Selena... Mas eu me acovardei. Não estava
preparada.
— Sexo por telefone?
— Sim... Comece a se tocar, Demi. E, depois,
me conte o que estiver fazendo. Isso vai me deixar muito excitado.
— E o que você vai fazer, enquanto eu estiver
me tocando? — pergunto.
— Ora, o que você acha que farei... meu dever
de casa? Vou me masturbar, é claro.
Começo a rir... Um riso que é mais nervoso do
que divertido, pois não nos vemos há algum tempo, nem sequer conversamos
muito... E agora ele quer que a gente passe do simples “olá, que bom nos
encontrarmos depois de um verão inteiro separados” para “comece a se tocar
enquanto me masturbo” em um só dia. Sinto-me no meio de uma música de Pat
McCurdy.
— Ora, vamos, Demi — diz Colin. — Encare isso
como um ensaio, antes de partirmos para a prática real... Tire sua camisola e
comece a se tocar.
— Colin... — eu digo.
— O quê?
— Desculpe, mas não vou fazer isso... Ao
menos não neste momento.
— Tem certeza?
— Sim... Você ficou zangado?
— Não — ele responde. — Mas achei que isso
seria bom para esquentar um pouco o nosso relacionamento.
— Eu nem sabia que estávamos frios.
— Os estudos, os treinos, os encontros com a
turma... Acho que depois de passar o verão fora, não aguento mais a velha
rotina. Pratiquei esqui aquático, wakeboarding e
viagens off-road... Coisas que fazem o coração bater e o sangue bombar,
você sabe... Pura adrenalina!
—
Parece incrível.
— E foi
mesmo. Demi...?
— Sim?
—
Estou pronto para essa viagem de adrenalina... com você.
~*~
Esqueci de avisar que ia ter uns Hots na fic. Mas nada muito "rawr" kkkk mas enfim, quem não gosta de Hot (ou Hentai, para aqueles que liam/leem fics no fanfiction), não se preocupem que não conta muito (:
Cês podiam comentar né?! ):