Demetria
Ligo meu celular e
telefono para casa, antes da aula de Química, para saber como vai minha irmã.
Baghda não está nada feliz, porque Shelley teve um ataque depois de provar o
almoço. Pelo que entendi, Shelley jogou sua tigela de iogurte no chão, em sinal
de protesto.
Seria demais esperar que minha mãe tirasse um dia de folga no
country club, para cuidar da adaptação de Baghda em nossa casa?
O verão começou oficialmente. E não posso estar em casa para
cobrir as falhas da nova enfermeira de Shelley.
Eu bem que deveria me concentrar mais nos meus objetivos.
Entrar na mesma universidade que meu pai cursou, a Northwestern, é minha meta
principal. Assim, poderei estudar perto de casa e ter mais tempo para ficar com
minha irmã.
Depois de fazer algumas sugestões a Baghda, respiro fundo,
colo um sorriso nos lábios e vou para a classe.
— Ei, baby, guardei um lugar para você. — Colin me mostra um
assento ao seu lado.
Mesas altas, de laboratório, com dois lugares cada uma, estão
dispostas na sala. Isso significa que vou me sentar ao lado de Colin, nas aulas
de Química, durante o resto do ano. Significa também que faremos, juntos, o tão
temido projeto sênior de Química.
Sentindo-me uma tola por ter pensado que as coisas não
estavam bem entre nós, eu me acomodo no banco alto, e pego meu pesado livro de
Química.
— Ei, veja, Fuentes está na nossa classe! — diz um garoto, no
fundo da sala. — Ei, Joe, venha para cá!
Tento não olhar enquanto Joe cumprimenta seus amigos com
tapinhas nas costas e apertos de mão complicados demais para serem repetidos.
A presença de Alex atrai todos os olhares.
— Ouvi dizer que ele foi preso na semana passada, por posse
de metanfetamina — Colin cochicha ao meu ouvido.
—Não!
— Sim — ele diz, erguendo as sobrancelhas.
Bem, essa notícia não deveria me surpreender. Ouvi dizer que
Joe sempre passa os fins de semana drogado, desmaiado, ou envolvido em alguma
atividade ilegal.
A Sra. Peterson entra na sala e fecha a porta, com um
estrondo. Todos os olhares se movem, do fundo da sala, onde Joe e seus amigos
estão sentados, até a frente, onde está a Sra. Peterson, em pé. Ela tem cabelos
castanhos-claros, presos num rabo-de-cavalo bem apertado. Deve ter quase trinta
anos, mas os óculos e a expressão de perpétua severidade fazem com que pareça
bem mais velha.
Ouvi dizer que ela ficou assim, muito brava, porque no
primeiro ano em que lecionou aqui os alunos a fizeram chorar. Também, eles não
respeitariam uma professora jovem o suficiente para ser sua irmã mais velha.
— Boa tarde. Sejam bem-vindos à aula de Química. — Ela se
senta na borda da mesa e abre uma pasta. — Vejo que já escolheram seus lugares;
mas acontece que eu mesma resolvi organizar os assentos... em ordem alfabética.
Reclamo, junto com toda a classe, mas a Sra. Peterson não
perde a moral... Parando em frente à primeira mesa, diz:
— Colin Adams, sente-se aqui. Sua parceira será Darlene
Boehm.
Darlene Boehm faz parte do grupo de torcida do colégio, junto
comigo. Sou a líder e ela é uma espécie de co-capitã, ocupando a segunda
posição, no grupo. Darlene me pisca um olho, como se pedisse desculpas, e
senta-se ao lado do meu namorado.
Enquanto a Sra. Peterson vai lendo a lista, os estudantes
relutantemente se deslocam para os lugares por ela designados.
— Demetria Ellis... — A Sra. Peterson, aponta para a mesa
atrás de Colin. — Queira sentar-se ali, por favor.
Sem nenhum entusiasmo, obedeço.
— Joe Fuentes... — E ela indica o banco ao meu lado. — Ali.
Oh, meu Deus! Joe... meu parceiro de Química durante este ano
inteiro? De jeito nenhum, não há como, isso não está direito!
Lanço a Colin um olhar que é um pedido de socorro, enquanto
tento evitar um ataque de pânico. Definitivamente, eu deveria ter ficado em
casa, na cama, debaixo das cobertas.
— Joe — ele diz à professora — me chame de Joe.
Interrompendo a leitura da lista, a Sra. Peterson ergue os
olhos e o observa, por cima dos óculos.
— Joe Fuentes — ela diz, antes de alterar o nome, na
lista. — Sr. Fuentes, tire esse lenço. Tenho uma política de tolerância-zero,
em minhas aulas. Não permito qualquer tipo de acessório relacionado a gangues,
nesta sala. Infelizmente, Joe, sua reputação fala por você. Quanto ao Dr.
Aguirre, ele apoia totalmente minha política de tolerância-zero... Fui clara?
Joe a olha de cima a baixo, antes de fazer deslizar o lenço
que traz na cabeça, expondo cabelos tão negros quanto seus olhos.
— É para esconder os piolhos — Colin cochicha para Darlene,
mas eu o escuto... E Joe também.
— Vete a la verga [Não meta o focinho
onde não é chamado. Em Espanhol, no contexto: “Vá para o inferno.”
(N. de T.)] — diz Joe a Colin,
com os olhos negros incandescentes de raiva.
— Qual é, cara? — Colin rebate. E então se dirige a
todos: — Ele nem sabe falar Inglês.
— Já chega, Colin. Sente-se, Joe. — A Sra. Peterson olha para
o resto da classe. — Isso vale para todos vocês. Não posso controlar o que
fazem fora daqui, mas, na minha aula, quem manda sou eu. — E volta-se para Joe.
— Fui clara?
— Sí, señora — ele responde,
lentamente.
A Sra. Peterson continua a ler a lista, enquanto faço de tudo
para evitar qualquer tipo de contato visual com o cara sentado ao meu lado. Foi
uma pena deixar minha bolsa no meu armário; eu poderia fingir que estava
procurando alguma coisa, como fez Selena, nesta manhã.
— Que droga — Joe resmunga, mais para si mesmo. Sua voz é
sombria e áspera... Ou será que ele fala desse jeito, de propósito?
Como vou explicar à minha mãe que sou parceira de Joe
Fuentes?
Oh, Deus, espero que ela não pense que isso aconteceu por
minha culpa.
Olho para meu namorado, totalmente entretido numa conversa
com Darlene. Sou tão ciumenta! Por que meu sobrenome não é Allis, em vez de
Ellis? Assim eu poderia me sentar ao lado dele.
Seria bom se Deus desse a cada pessoa um Do Over Day: um
dia para corrigir o que está errado, para reviver o que é bom. E então a gente
poderia gritar: “Recomeçando!” E um novo dia teria início. Hoje é um dia em que
eu, definitivamente, faria isso: começaria tudo de novo. Será que a Sra.
Peterson realmente acha justo colocar a líder da torcida organizada como
parceira do cara mais perigoso do colégio? Ela só pode estar delirando!
A Sra. Delirante termina, finalmente, de designar os
lugares.
— Sei que vocês, estudantes do último ano, pensam que sabem
tudo. Mas não se considerem pessoas bem-sucedidas... Não antes de contribuir
para a cura de doenças que afligem a humanidade, não antes de fazer da Terra um
lugar mais seguro para se viver. A Química tem um papel crucial no
desenvolvimento de remédios, nos tratamentos de radiação para pacientes com
câncer, na utilização do petróleo, na camada de ozônio.
Joe levanta a mão.
— Sim, Joe? — diz a professora. — Quer fazer uma pergunta?
— A senhora está dizendo que o presidente dos Estados Unidos
não é um homem bem-sucedido?
— Estou dizendo que dinheiro e status não são tudo.
Use seu cérebro para fazer algo pela humanidade, ou pelo planeta onde vive. Aí,
sim, você será um homem bem-sucedido e ganhará meu respeito, coisa da qual
pouca gente pode se gabar.
— Tenho algumas coisas de que posso me gabar, Sra. Peterson —
diz Joe, obviamente se divertindo.
A Sra. Peterson ergue a mão:
— Por favor, poupem-nos dos detalhes, Joe.
Francamente, se Joe pensa que o fato de hostilizar a
professora vai nos render uma boa nota, está enganado. É óbvio que a Sra.
Peterson não gosta de espertinhos... E que meu parceiro já está na sua mira.
— Agora... — diz a Sra. Delirante — quero que cada um
olhe para a pessoa sentada a seu lado.
Oh, tudo menos isso. Mas não tenho escolha. Olho de novo para Colin, que parece
bastante satisfeito com a parceira que a professora escolheu para ele. Darlene
já tem um namorado... Senão, eu a questionaria, seriamente, sobre por que ela
está se inclinando desse jeito para Colin, ou jogando os cabelos para trás,
tantas vezes seguidas. Digo a mim mesma que estou sendo paranóica.
—Vocês não precisam gostar do parceiro — diz a Sra. Peterson.
— Mas terão de trabalhar juntos, durante os próximos dez meses. Reservem cinco
minutos para se conhecer e, então, cada um apresentará seu parceiro, para toda
a classe. Falem sobre o que fizeram durante o verão, se têm hobbies, ou sobre
qualquer outra coisa interessante ou original, que talvez seus colegas não
saibam... Seus cinco minutos começam agora.
Abro meu caderno e o empurro na direção de Joe:
— Escreva alguma coisa sobre você, aqui, e eu farei o mesmo
no seu caderno.
Antes isso, do que tentar conversar com ele.
Joe acena em concordância — embora eu perceba uma leve
contração, nos cantos de sua boca — e me dá seu caderno. Será que imaginei esse
riso, ou ele realmente aconteceu? Respiro fundo, afasto esse pensamento e me
concentro em escrever, até que a Sra. Peterson nos pede para parar e ouvir as
apresentações.
— Esta é a Darlene Boehm — diz Colin, o primeiro a falar.
Mas
não escuto o resto do discurso de Colin sobre Darlene, sua viagem à Itália,
suas aulas de dança neste verão. Em vez disso, olho para o caderno que Joe me
devolve e, de queixo caído, leio o que ele escreveu.
~*~
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omg omg omg omg
LANÇOU!!!!!
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