Joe
É a primeira vez que estamos tendo uma conversa
civilizada. Agora preciso encontrar um jeito de derrubar essa muralha de defesa
que ela ergueu entre nós. Ô cara... Preciso mostrar a ela que tenho
sensibilidade. Se Demetria me vir como um cara sensível, e não como um idiota,
talvez eu encontre um jeito de chegar até ela. Mas tenho de ser cuidadoso, pois
Demetria é desconfiada. É bem capaz de dizer que estou com conversa mole para o
lado dela... É bem capaz de não acreditar em mim.
Não sei se estou pensando em agir assim por causa da aposta, do
projeto de Química, ou por minha causa, mesmo. Na verdade, não estou a fim de
analisar esse lado da questão.
— Meu pai foi assassinado, na minha frente, quando eu tinha seis
anos — digo a ela.
Demetria arregala os olhos:
— Sério?
Faço um gesto afirmativo. Não gosto de tocar nesse assunto. Nem
sei se devia falar nisso.
Demetria leva as mãos à boca... Mãos de unhas tratadas e
perfeitas.
— Eu não sabia... Oh, Deus! Sinto muito! Deve ter sido horrível.
— Foi. — Engraçado... Sinto um certo alívio por ter falado disso
em voz alta.
O sorriso nervoso do meu pai se transformou numa expressão de
choque, antes dele ser baleado...
Nossa! Mal consigo acreditar... Acabei de me lembrar da expressão
do meu pai, naquela hora. Nunca mais eu tinha recordado esse detalhe. Ainda
estou confuso e muito surpreso, quando me viro para Demetria e digo:
— Se eu pensar demais no assunto, se deixar que isso me pegue, vou
me sentir de novo como no dia em que meu pai morreu. E não quero que isso
aconteça. Nunca mais. Então, é melhor esquecer e levar a vida sem me importar
com nada.
A expressão de Demetria é puro pesar, tristeza e compaixão. Não
sei dizer se ela está fingindo. Seu rosto ainda está contraído, quando ela diz:
— Obrigada por... Bem, você sabe... Por ter me contado. Mas não
posso realmente imaginar você como um cara que não se preocupa com nada. Você
não pode se programar, não pode se obrigar a ser assim.
— Quer apostar? — De repente, me sinto desesperado para mudar de
assunto. — Agora, é sua vez de compartilhar algum segredo comigo.
Demetria
desvia os olhos. Não pressiono mais, com medo que ela caia em si e resolva ir
embora.
Será
que é mais difícil, para ela, compartilhar seus problemas comigo, ou ao menos
uma pequena parte deles? Minha vida tem sido tão desgraçada, que é difícil
imaginar que a vida dela possa ser pior, em algum sentido. Vejo uma lágrima
solitária correr por seu rosto. Uma lágrima que Demetria se apressa a enxugar.
— Minha irmã, Shelley... — ela começa — sofreu uma paralisia
cerebral. É deficiente mental. “Retardada” é a palavra que a maioria das
pessoas usam, para definir o que ela é. Shelley não anda e só se comunica
através de gestos e do que os médicos chamam de “aproximação verbal”, porque
não consegue articular as palavras.
Com isso, outras lágrimas escapam... E, dessa vez, Demetria deixa
que escorram livremente. Tenho vontade de enxugar essas lágrimas, mas sinto que
ela não quer ser tocada, nesse momento.
— Quando minha irmã fica muito irritada, é melhor manter distância
pois ela pode agarrar seus cabelos. — Demetria suspira. — Ontem ela puxou os
meus, com tanta força, que arrancou um punhado. Então minha cabeça sangrou e
minha mãe começou a gritar comigo.
Ah, esta é a explicação para aquela falha de cabelos... Então não
foi para fazer algum exame clínico. Pela primeira vez, sinto pena de Demetria.
Imaginei que a vida dela fosse um conto de fadas... E que o pior de seus
problemas fosse perder o sono por alguma idiotice, tal como achar um caroço no
colchão... Agora vejo que não é bem assim.
Alguma coisa está acontecendo. Percebo uma mudança no ar... Uma
compreensão correndo entre nós dois. Nunca me senti assim, em minha vida. Eu
limpo a garganta e digo:
— Acho que sua mãe explode na sua frente porque sabe que você vai
aguentar.
— Provavelmente você está certo. Antes comigo, do que com a minha
irmã.
— Mas isso não é desculpa para sua mãe despejar os problemas dela
em cima de você. — Estou sendo bem sincero, neste momento, espero que Demetria
também esteja. — Escute, não quero continuar bancando o durão com você — eu
digo e logo me arrependo. Isso é um pouco demais para o Joe Fuentes Show...
— No fundo, eu entendo seu comportamento — ela diz. — É uma
questão de imagem, do que significa ser Joe Fuentes. A atitude é sua
marca registrada, seu logotipo... O mexicano perigoso, mortal, gostoso e sexy.
Sou perita nessa estória de criar imagem... A que tento passar não é exatamente
a da patricinha loura e vazia. Está mais para “a perfeita e intocável”
compreende?
Uau! Replay, por favor... Demetria me chamou de gostoso e sexy.
Por essa eu não esperava. Talvez ainda tenha uma chance de ganhar aquela aposta
idiota.
— Você percebeu que me chamou de gostoso?
— Como se você não soubesse!
Bem,
eu não sabia que Demetria Ellis me achava gostoso.
—
Eu tenho um namorado, Joe.
— E se não tivesse... Você daria uma chance a este mexicano?
Demetria cora. Seu rosto inteiro assume um tom pink profundo.
Será que Colin a faz corar assim?
— Olhe, eu não vou responder essa pergunta. — ela diz.
— Por que não? É tão simples...
— Oh, por favor, nada é muito simples, quando se trata de você,
Joe. Não vamos chegar tão longe. — Ela engata a primeira marcha. — Podemos ir,
agora?
— Se é isso o que você quer... Está tudo bem, entre nós, não é
verdade?
— Acho que sim.
Estendo a mão, num cumprimento. Demetria olha as tatuagens que
tenho nos dedos e então a aperta, forte.
— Aos aquecedores de mãos — diz, com um sorriso nos lábios.
— Aos aquecedores de mãos — eu repito. “E ao sexo”, digo, em
pensamento. — Quer dirigir? Não conheço o caminho.
Fazemos o trajeto de volta, num silêncio confortável, enquanto o
sol se põe. Nossa trégua me coloca mais perto de minhas metas: a esta altura, a
aposta... E algo mais, que não estou pronto para admitir.
Enquanto entro com esse carro poderoso no estacionamento da
biblioteca, digo:
— Obrigado por... você sabe... bem, por me deixar sequestrar você.
Até qualquer hora...
Tiro as chaves do bolso, pensando se algum dia poderei comprar um
carro que não esteja enferrujado, usado, ou muito velho. Desço do carro, tiro o
retrato de Colin do meu bolso de trás e jogo no assento onde estava sentado,
até agora.
— Espere! — Demetria me chama, enquanto me afasto.
Eu me viro... Ela está bem na minha frente.
— O que é?
Demetria sorri, sedutora, como se desejasse algo mais, além de uma
trégua. Muito mais... Porra, será que ela vai me beijar? Fui tomado de supresa,
coisa que geralmente não me acontece.
Demetria morde o lábio inferior, como se estudasse seu próximo
movimento. Estou totalmente a fim de qualquer coisa que venha dela.
Enquanto minha mente passeia por todas as possibilidades, ela
chega ainda mais perto... E pega as chaves que trago na mão.
— O que você pensa que está fazendo? — pergunto.
— Dando o troco, por você ter me sequestrado. — Demetria recua
alguns passos e, com toda a força de que é capaz, atira minhas chaves no
bosque.
— Não... Você não pode ter feito isso.
Ela
continua a recuar, me encarando o tempo todo, enquanto se aproxima do carro. —
Sem ressentimentos. Vingança é uma merda, não, Joe? — ela diz, contendo o riso.
Chocado, vejo minha parceira de Química entrar no seu BMW.
O carro se afasta do estacionamento, sem nenhum solavanco, sem arranques
bruscos, sem problemas. Foi uma partida perfeita.
Estou furioso porque terei que rastejar no escuro para encontrar
minhas chaves, nesse bosque. Ou ligar para Enrique vir me buscar.
Mas também estou achando a maior graça. Demetria Ellis me deu o
troco, direitinho.
—
Sim — eu digo a ela, que provavelmente está a quase dois quilômetros de
distância e não pode me ouvir. — Vingança é uma merda... ¡Carajo!
Chapter 25
Demetria
O som da respiração pesada de Shelley, ao meu
lado, é a primeira coisa que ouço, nesta manhã. Vim ao quarto de minha irmã e
me deitei perto dela, durante horas, velando seu sono tranquilo, antes de
relaxar e adormecer. Quando eu era muito pequena, corria para cá, nas noites de
tempestade... Não para proteger Shelley, mas para que ela me protegesse e
confortasse. Eu segurava em sua mão e, de algum modo, meus temores iam
desaparecendo.
Vendo minha irmã dormir assim, tão indefesa, não consigo acreditar
que meus pais querem mandá-la embora de casa. Shelley é uma parte importante de
mim mesma; a ideia de viver sem ela me parece absurda... E muito errada.
Às vezes sinto que Shelley e eu temos uma ligação que poucas
pessoas podem entender. Mesmo quando nossos pais não conseguem perceber o que
Shelley diz, ou quando não entendem por que ela fica irritada, eu geralmente
compreendo.
Por isso fiquei tão arrasada quando ela puxou meu cabelo. Nunca
pensei, nunca mesmo, que ela pudesse fazer isso comigo... Mas fez.
— Não vou deixar que eles levem você embora — digo, suavemente,
para minha querida irmã, que continua dormindo. — Sempre protegerei você, minha
querida.
Salto da cama de Shelley. Se ela acordar, vai logo perceber o
quanto estou perturbada. Então, vou para o meu quarto, me apronto e saio de
casa.
Confiei em Joe ontem e o céu não desabou sobre minha cabeça...
Realmente me senti melhor, depois de contar a ele sobre Shelley. E se eu pude
fazer isso com um estranho, com certeza posso tentar me abrir um pouco mais com
Selena e Darlene.
Quando estaciono o carro em frente à casa de Selena, começo a
pensar em minha vida. As coisas não vão muito bem. Este último ano deveria ser
o máximo: fácil e divertido. Mas está sendo tudo, menos isso. Colin vem me
pressionando demais; Joe está se tornando mais do que um parceiro de Química; e
meus pais querem mandar Shelley para longe de Chicago. O que mais pode
acontecer, de errado?
Percebo um movimento na janela do segundo andar da casa de Selena.
Vejo primeiro umas pernas e, depois, uma bunda... Oh, Deus, Nick Jonas,
tentando apoiar os pés na grade, para descer pelo lado de fora da casa. Nick deve
ter me visto, porque Selena aparece na janela, gesticulando e me fazendo sinal
para esperar.
Os
pés de Nick ainda não se firmaram na grade; Selena está segurando uma de suas
mãos. Por fim, Nick parece ter conseguido se apoiar, mas os ramos e flores da
trepadeira, que sobe pela grade, o confundem. Ele escorrega e cai no jardim. No
entanto, não se machucou; percebo quando ele faz um sinal de “positivo” a
Selena, antes de sair correndo.
Será que Colin seria capaz de escalar as paredes de minha casa,
para ficar comigo? A porta da casa de Selena se abre, três minutos depois. Ela
caminha em minha direção, usando calcinha e camiseta regata.
— Demi, o que está fazendo aqui? São sete da manhã! Você se
esqueceu que hoje é dia de reunião de professores e não temos aula?
— Eu sei, mas precisava falar com você. Minha vida está totalmente
fora de controle.
— Entre, vamos conversar — diz Selena, abrindo a porta do carro,
para que eu desça. — Estou congelando, aqui fora. Oh, por que os verões em
Chicago duram tão pouco?
Já dentro da casa, tiro os sapatos para não acordar os pais de
Selena.
— Não se preocupe, eles foram para a academia, há uma hora.
— Então, por que Nick escapou pela janela?
— Para manter a relação excitante. — Selena pisca um olho para
mim. — Garotos adoram aventuras, você sabe.
Sigo Selena até seu amplo dormitório, decorado em fúcsia e maçã
verde, cores escolhidas especialmente para ela, por um decorador que sua mãe,
contratou. Eu me atiro na cama, enquanto Selena liga para Darlene:
— Dar, venha até aqui. Demi está em crise.
Darlene, usando pijama e chinelos, chega em poucos minutos, já que
ela mora a apenas duas casas de distância, na mesma rua.
— Ok, pode falar — diz Selena, quando nós três já estamos juntas.
De repente, com todos os olhares voltados para mim, já não tenho tanta certeza
de querer compartilhar o que sinto.
— Na verdade, não é nada...
Darlene endireita os ombros:
— Escute, Demi, você me fez sair da cama às sete da manhã. Agora,
lave a roupa suja...
— Isso mesmo — diz Selena. — Nós somos amigas. Se você não puder
compartilhar os problemas com suas amigas, então, com quem mais?
Joe Fuentes. Mas eu nunca diria isso a elas.
— Que tal assistirmos a um daqueles filmes antigos? — Selena
sugere. — Se Audrey Hepburn não conseguir fazer Demi abrir as comportas,
ninguém mais conseguirá.
Darlene resmunga:
— Não acredito que vocês me acordaram por causa de uma crise que
não existe e de uns filmes velhos. Meninas, vocês realmente precisam levar a
vida mais a sério. O mínimo que podem fazer, agora, é me contar uma fofoca
nova... Alguém tem alguma?
Selena nos leva até a sala. E nos acomodamos no sofá.
— Ouvi dizer que Samantha Jacoby foi vista beijando alguém, no
banheiro da escola, na terça-feira...
—
Nossa! — diz Darlene, nem um pouco impressionada.
—
O que não contei ainda é que esse alguém era Chuck, um dos seguranças.
— Ah, agora sim, esta é uma boa fofoca, Selena!
Então é isso que ocorreria, se eu contasse sobre o que me
aconteceu, ontem. Seria mesmo o fim: compartilhar meus problemas, para que
virassem assunto de fofoca e motivo de riso.
Na sala da casa de Selena, depois de quatro horas, dois filmes e
muito sorvete Ben & Jerry’s Confection Connection, estou me sentindo
melhor. Talvez tenha sido por conta de Audrey Hepburn, no papel de Sabrina, mas
de algum modo sinto que tudo é possível. E isso me faz pensar...
— Meninas, o que vocês acham de Joe Fuentes? — pergunto.
Selena joga uma pipoca na boca.
— O que você quer dizer com o que “nós achamos” dele?
— Não sei — digo, sem conseguir parar de pensar na intensa, inegável atração que existe entre nós. — Joe é meu parceiro de Química.
— E...? — Selena pergunta, gesticulando, como se dissesse: “Onde
você pretende chegar?”
Pego o controle remoto e aperto a tecla “pause” interrompendo o
filme.
— Ele é gostoso... Isso você tem que reconhecer.
— Ugh, Demi! — diz Darlene, fingindo colocar o dedo na garganta a
pra vomitar.
— Ok, Joe é bonito. Mas é também uma pessoa com quem nunca devemos
sair. Pois ele pertence a uma gangue, você sabe.
— E lá no colégio ele está sempre alto — Darlene comenta.
— Eu me sento perto de Joe na aula de Química, Darlene... E nunca
reparei nisso — digo.
— Está brincando, Demi? Joe se droga antes de ir para a escola,
também no banheiro, quando consegue cavar uma brecha, entre uma aula e outra. E
não estou falando só de maconha. Ele usa drogas pesadas. — Darlene afirma, como
se isso fosse mesmo verdade.
— Você já viu Joe se drogando? — eu a desafio.
— Escute, eu não preciso dormir com Joe para saber que ele bebe e
cheira. O cara é perigoso. Além do mais, garotas como nós não devem se misturar
com o pessoal da Sangue Latino.
Eu me recosto nas almofadas do sofá.
— Sim, eu sei.
— O Colin ama você — diz Selena, mudando de assunto.
Será? Sinto que o amor é algo bem diferente do que Colin estava
querendo me dar, na praia... E eu recusei.
Minha mãe já tentou falar comigo três vezes. Primeiro no meu
celular, que desliguei. Mas nem por isso ela desistiu. Já ligou para o fixo de
Selena duas vezes.
—
Se você não atender, sua mãe acabará vindo aqui — diz Selena, fazendo o
telefone balançar entre os dedos.
—
Se ela entrar pela porta da frente, saio pela porta dos fundos.
Selena me dá o telefone:
— Vou sair, com Darlene, para deixar você mais à vontade. Não sei
o que está acontecendo, mas... Bem, fale com ela.
Pego o telefone:
— Alô, mãe.
— Escute, Demetria, sei que você está chateada. Mas seu pai e
chegamos a uma resolução sobre Shelley, ontem à noite. Sei que está sendo
difícil para você, mas o fato é que sua irmã tem se mostrado cada vez mais
intratável, a cada dia que passa.
— Mãe, Shelley tem vinte e um anos de idade e fica irritada quando
as pessoas não conseguem entendê-la. Você não acha que isso é normal?
— Você irá para a faculdade, no próximo ano. Não vejo como
continuar mantendo Shelley aqui em casa. Tente enxergar o problema sob a nossa
ótica... Deixe de ser egoísta.
Pela tal ótica dos meus pais, Shelley vai ser mandada embora de
nossa casa porque eu irei para a faculdade. Conclusão: a culpa é minha.
— O que eu sinto não tem a menor importância — digo. — Vocês vão
fazer isso, de qualquer jeito, não é mesmo?
—
Sim. Já está resolvido.
~*~
Que lindo, cês comentáram *---*
Continuem comentando e me fazendo feliz, agradeço u-u
E aí amores, ganharam muitos ovos de páscoa?
Answers:
Demetria Devone Lovato: Postei ^^ sim, deve ser incrível!!! Agora fiquei animada em fazer esse curso na facul hahaha bjos
Anônimo: Paciência, gafanhoto u-u tudo ao seu tempo kk
Fã Forever: Agora ambos compartilharam um pouco da história deles hahaha postei (:
PERFEITO
ResponderExcluirtão fofo eles contando os segredo <3
tadinha da Demi vai ter que ficar longe da irmã
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Beijos
Se você ficou animada então faz esse curso sim, porque é uma coisa que você gosta e não tem nada melhor do que fazer uma coisa que você gosta!!
Obs: só ganhei um ovo de pascoa da minha vó e mais nada nem uma caixa de bombom =(
Ai sim Ain tadinha da Shelley ... acho q o Joe vai ajudar a Demi POSTA LOGO
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