sábado, 13 de abril de 2013

Chapter 34

Joe

Hoje depois da aula, Demetria foi atrás do Cara de Burro.
Antes de sair, vi os dois juntos, numa conversa íntima, no pátio dos fundos. Então, quer dizer que ela escolheu ficar com ele e não comigo. E isso não deveria me surpreender.
Na aula de Química, quando Demetria me perguntou o que eu queria que ela fizesse, eu deveria ter respondido: “Dispense aquele cretino.” E agora eu estaria feliz, em vez de furioso.
Joseph, você é um imbecil.
Ele não merece Demetria. Ok, eu também não.
Depois da escola, vim até o velho armazém para ver se conseguia alguma informação sobre meu pai. Mas foi inútil... Os caras que conheceram mi papá, na época não têm muito a dizer, exceto que ele falava dos filhos o tempo inteiro.
A conversa acabou quando os caras da Satin Hood abriram fogo contra o armazém... Eles estão lá fora. Querem uma revanche e não vão sossegar enquanto não descarregarem a raiva e suas armas contra nós. Não sei avaliar se é uma vantagem, ou não, o fato deste armazém ficar num local tão isolado, atrás da velha estação de trens. Ninguém sabe que estamos aqui, nem mesmo os tiras... Especialmente os tiras. Estou acostumado a esse pipocar de tiros. Pop! Pop! Pop Aqui no armazém, ou no velho parque, dá no mesmo... Faz parte. Algumas ruas são mais seguras que outras, mas os inimigos sabem que este armazém é nosso reduto sagrado. Sabem, também, que vamos dar o troco.
É a lei daqui. Vocês desrespeitam nosso reduto nós desrespeitamos o seu. Desta vez, ninguém se feriu. Então, não será uma represália por morte... Mas vai haver, sim. Eles nos esperam. E não vamos desapontar os caras. Neste meu lado da cidade, o ciclo da vida é diretamente ligado ao ciclo da violência.
Depois que tudo se resolve, tomo o longo caminho de volta para casa. De repente, me pego passando em frente à casa de Demetria... Não consegui evitar. Depois, sigo adiante.
Assim que cruzo a linha férrea, a polícia me manda encostar no meio-fio. Dois caras uniformizados saem da viatura. Não explicam nem mesmo por que me pararam. Um deles me manda descer da moto e pede minha carteira de habilitação. Eu entrego.
— Por que me mandaram parar?
O cara olha minha carteira por todos os lados e diz:
— Você pode fazer perguntas, mas só depois que eu fizer as minhas. Está portando drogas, Joseph?
— Não, senhor.
— Armas? — pergunta o outro.
Hesito por um instante, antes de responder a verdade:
— Sim.
Um dos tiras saca a arma do coldre e aponta para o meu peito. O outro me diz para erguer as mãos e então me manda deitar no chão, enquanto chama reforços. Porra. Estou preso.
— Que tipo de arma? Seja específico.
Estremeço, antes de dizer:
— Uma Glock nove milímetros.
Felizmente, já devolvi a Beretta para Wil. Se não, seria pego com duas armas. Minha resposta deixa o tira um pouco nervoso e seu dedo treme no gatilho.
— Onde está a arma?
— Na minha perna esquerda.
— Não se mexa. Vou desarmá-lo. Se você ficar quieto, não sofrerá danos. — E ele pega minha arma.
O segundo tira, calçando luvas de borracha, me pergunta:
— Você tomou alguma droga injetável, Joseph? — Sua voz autoritária deixaria a Sra. Peterson orgulhosa.
— Não, senhor — eu respondo.
Pressionando minhas costas com o joelho, ele me põe as algemas.
— Levante-se — ordena. Em seguida, afasta meus pés um do outro, me fazendo deitar sobre o capô da viatura.
Eu me sinto humilhado enquanto o cara me revista. Que merda, mesmo sabendo que a prisão é inevitável, não me sinto preparado para ela. O tira me mostra a Glock nove milímetros:
— Digamos que foi por isso que mandamos você parar.
— Joseph Fuentes, você tem o direito de permanecer calado — um deles recita. — Qualquer coisa que disser poderá e será usada contra você no tribunal...
A cela provisória cheira a urina e fumo. Ou talvez sejam os caras trancados comigo nesta gaiola. De qualquer modo, mal posso esperar para cair fora daqui.
Quem chamarei, para pagar a fiança? Paco nunca tem dinheiro. Enrique pôs tudo o que tinha na oficina. Minha mãe me mataria, se soubesse que fui preso. Pensativo, eu me encosto nas barras da cela, embora seja quase impossível raciocinar neste lugar nojento.
A polícia chama isso de “cela provisória”, mas este é só um jeito mais sofisticado de dizer “gaiola”. Gracias a Dios, esta é minha primeira passagem por aqui... E rezo para que seja a última. ¡Lo juro!
Esse pensamento é perturbador. Afinal, eu sempre soube que estava me sacrificando por meus irmãos... Então, por que me importaria de ficar preso até o fim dos meus dias, se fosse para proteger aqueles dois?
Porque, no fundo, eu não quero essa vida. Quero que minha mãe se orgulhe de mim, quero ser algo mais do que um membro de gangue.
Quero um futuro, para me orgulhar dele. E quero, desesperadamente, que Demetria me ache um cara legal.
Bato a cabeça contra as barras metálicas da cela, mas não consigo afastar esses pensamentos.
— Vi você lá no Colégio Fairfield — diz um cara branco, baixo, que deve ter mais ou menos a minha idade. — Também sou aluno de lá.
O idiota está usando uma camisa de golfe, vermelho-coral, e calças brancas, como se tivesse acabado de chegar de um torneio.
O branquelo tenta parecer legal, mas, com essa camisa vermelha... Cara, parecer legal não vai resolver seus problemas, neste ambiente pesado. É como se estivesse escrito, em sua testa: “sou mais um daqueles rapazes ricos da zona norte”.
— Por que você foi preso? — O branquelo pergunta, com a maior simplicidade, como se esta fosse uma conversa comum, num dia qualquer, entre duas pessoas que se conhecem.
— Porte e ocultação de arma.
— Faca ou revólver?
Eu fuzilo o cara com os olhos:
— Isso importa, porra?
— Estou só tentando conversar — diz o branquelo.
Será que todos os brancos fazem isso... Ficam falando, falando, só para ouvir o som da própria voz?
— Em que você se meteu? — pergunto.
O branquelo suspira:
— Meu pai chamou os tiras e contou a eles que roubei seu carro.
Eu me espanto:
— O seu próprio velho mandou você para este buraco infernal? E de propósito?
— Ele quis me dar uma lição.
— Sei! — eu digo. — A lição é que seu velho é um cretino.
E é mesmo. Em vez de fazer uma besteira dessas, o pai desse cara devia ensinar a ele como se vestir.
— Minha mãe virá me soltar.
— Tem certeza?
O branquelo se apruma:
— Ela é advogada... E meu pai já fez isso antes. No fundo, ele só quer provocar minha mãe, ganhar um pouco de atenção dela. Eles são divorciados, sabe?
Eu balanço a cabeça. Essa gente branca...
— É verdade — diz o branquelo.
— Tenho certeza que sim.
— Fuentes, pode dar seu telefonema, agora — rosna o tira do lado de fora da cela.
Mierda... Com todo esse falatório do branquelo, ainda não decidi quem vou chamar para me tirar daqui. Isso me perturba, tanto quanto aquele grande “F” vermelho, na prova de Química. Só existe uma pessoa com dinheiro e recursos para me tirar dessa encrenca: Hector. O cabeça da Sangue Latino.
Nunca pedi um favor a Hector. Porque nunca se sabe quando ele vai cobrar... Nem o que vai querer, em troca. Ter uma dívida com Hector não é coisa que se pague com dinheiro.
Mas existem ocasiões, na vida, em que todas as opções são indesejáveis. É escolher uma e aguentar as consequências.
Três horas mais tarde, um juiz estipula minha fiança, depois de um longo sermão, que quase me estoura os tímpanos.
Hector vem me buscar. Ele é um homem vigoroso, com cabelos lisos, mais escuros que os meus, penteados para trás. Basta um olhar para Hector... E a gente já vê que ele é um durão. O cara não conta história... faz.
Tenho respeito por Hector... E um certo temor. Foi ele que me iniciou na Sangue Latino. Meu pai e Hector cresceram na mesma cidade e se conheceram quando crianças. Ele ficou de olho em mim e na minha família, depois que meu pai morreu. E me ensinou o significado de expressões novas, como “legado”, “segunda geração” e outras coisas mais. Nunca me esquecerei disso.
Hector me dá um tapinha nas costas, enquanto caminhamos pelo estacionamento.
— Você pegou o Juiz Garret... O filho da puta é durão. Sorte sua que a fiança não foi maior...
Eu concordo. Não desejo nada, além de ir para casa. Quando já estamos longe do tribunal, digo:
— Vou pagar minha dívida com você, Hector.
— Não se preocupe com isso, cara — diz Hector. — Irmãos têm que se ajudar. Para ser franco, estou surpreso por saber que essa foi sua primeira prisão. Você é o cara mais limpo da Sangue. Mais do que todos os outros.
Olho pela janela do carro de Hector; as ruas estão calmas e escuras, como o Lago Michigan.
— Você é um garoto esperto. E tem potencial suficiente para subir de posto, na Sangue — diz Hector.
Brigar e até arriscar a vida por alguns caras da Sangue, eu topo, mas... ser promovido?
Vender drogas e armas são algumas das transações ilegais que estão em alta, na gangue. Mas gosto de estar onde estou, surfando a onda perigosa, sem mergulhar de cabeça na água.
Se bem que eu devia ficar feliz por Hector pensar em me promover...
Demetria, e tudo o que ela representa, é pura fantasia.
— Pense nisso — diz Hector, parando em frente à minha casa.
— Vou pensar. Obrigado por pagar minha fiança, cara — eu digo.
— Olhe, fique com esta... — Hector tira uma pistola de baixo do banco. — A polícia tomou a sua.
Eu vacilo, recordando o momento em que o tira me perguntou se eu estava armado.
Dios mío... Foi humilhante ter uma arma apontada para a minha cabeça, enquanto os tiras pegavam a Glock. Mas recusar a arma de Hector é desacato... E eu nunca desacato Hector. Pego a Glock e ponho na cintura.
— Ouvi dizer que você andou fazendo perguntas sobre seu papá. Meu conselho é que você esqueça esse assunto, Joe.
— Não posso. Você sabe disso.
— Bem, se você descobrir alguma coisa, me conte. Estou sempre aí, segurando a retaguarda.
— Eu sei. Obrigado, cara.
A casa está em silêncio. Caminho até meu quarto, onde meus irmãos estão dormindo. Abrindo minha gaveta, a primeira da cômoda, escondo a arma sob o tampo de madeira, onde ninguém poderá encontrá-la, nem mesmo por acaso. É um truque que Paco me ensinou.
Deito em minha cama e cubro os olhos com o braço. Tomara que eu consiga dormir.
O dia de ontem passa diante de meus olhos, como num filme. A imagem de Demetria, seus lábios nos meus, sua respiração suave se misturando com a minha: este é o único quadro que permanece em minha mente. E eu me deixo levar... E seu rosto de anjo é a única imagem capaz de mandar para longe desse pesadelo que é o meu passado.

~*~

Vocês vão amar o próximo chapter *-* kkkkkk Comentem u_u

Answer:

Fã Forever: É por aí hahahah Ah, e eu acho que você vai gostar do próximo chapter u-u just saying 

Um comentário:

  1. Tadinho do Joe
    está PERFEITO
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    se você disse que eu vou amar o proximo então eu já estou super ansiosa!
    Beijos

    Obs: desculpe não ter comentado no outro cap, mas eu fui para casa do meu pai na sexta e cheguei hoje e fiquei sem net lá

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