Joe
Hoje depois da
aula, Demetria foi atrás do Cara de Burro.
Antes de sair, vi os dois juntos, numa conversa íntima, no pátio
dos fundos. Então, quer dizer que ela escolheu ficar com ele e não comigo. E
isso não deveria me surpreender.
Na aula de Química, quando Demetria me perguntou o que eu queria
que ela fizesse, eu deveria ter respondido: “Dispense aquele cretino.” E agora
eu estaria feliz, em vez de furioso.
Joseph, você é um imbecil.
Ele não merece Demetria. Ok, eu também não.
Depois da escola, vim até o velho armazém para ver se conseguia
alguma informação sobre meu pai. Mas foi inútil... Os caras que conheceram mi
papá, na época não têm muito a dizer, exceto que ele falava dos filhos o
tempo inteiro.
A conversa acabou quando os caras da Satin Hood abriram
fogo contra o armazém... Eles estão lá fora. Querem uma revanche e não vão
sossegar enquanto não descarregarem a raiva e suas armas contra nós. Não sei
avaliar se é uma vantagem, ou não, o fato deste armazém ficar num local tão
isolado, atrás da velha estação de trens. Ninguém sabe que estamos aqui, nem
mesmo os tiras... Especialmente os tiras. Estou acostumado a esse pipocar de
tiros. Pop! Pop! Pop Aqui no armazém, ou no velho parque, dá no mesmo... Faz
parte. Algumas ruas são mais seguras que outras, mas os inimigos sabem que este
armazém é nosso reduto sagrado. Sabem, também, que vamos dar o troco.
É a lei daqui. Vocês desrespeitam nosso reduto nós desrespeitamos
o seu. Desta vez, ninguém se feriu. Então, não será uma represália por morte...
Mas vai haver, sim. Eles nos esperam. E não vamos desapontar os caras. Neste
meu lado da cidade, o ciclo da vida é diretamente ligado ao ciclo da violência.
Depois que tudo se resolve, tomo o longo caminho de volta para
casa. De repente, me pego passando em frente à casa de Demetria... Não consegui
evitar. Depois, sigo adiante.
Assim que cruzo a linha férrea, a polícia me manda encostar no
meio-fio. Dois caras uniformizados saem da viatura. Não explicam nem mesmo por
que me pararam. Um deles me manda descer da moto e pede minha carteira de
habilitação. Eu entrego.
— Por que me mandaram parar?
O cara olha minha carteira por todos os lados e diz:
— Você pode fazer perguntas, mas só depois que eu fizer as minhas.
Está portando drogas, Joseph?
— Não, senhor.
— Armas? — pergunta o outro.
Hesito por um instante, antes de responder a verdade:
— Sim.
Um dos tiras saca a arma do coldre e aponta para o meu peito. O
outro me diz para erguer as mãos e então me manda deitar no chão, enquanto
chama reforços. Porra. Estou preso.
— Que tipo de arma? Seja específico.
Estremeço, antes de dizer:
— Uma Glock nove milímetros.
Felizmente, já devolvi a Beretta para Wil. Se não, seria pego com duas armas. Minha resposta deixa o tira um pouco nervoso e seu dedo treme no gatilho.
Felizmente, já devolvi a Beretta para Wil. Se não, seria pego com duas armas. Minha resposta deixa o tira um pouco nervoso e seu dedo treme no gatilho.
— Onde está a arma?
— Na minha perna esquerda.
— Não se mexa. Vou desarmá-lo. Se você ficar quieto, não sofrerá
danos. — E ele pega minha arma.
O segundo tira, calçando luvas de borracha, me pergunta:
— Você tomou alguma droga injetável, Joseph? — Sua voz autoritária
deixaria a Sra. Peterson orgulhosa.
— Não, senhor — eu respondo.
Pressionando minhas costas com o joelho, ele me põe as algemas.
— Levante-se — ordena. Em seguida, afasta meus pés um do outro, me
fazendo deitar sobre o capô da viatura.
Eu me sinto humilhado enquanto o cara me revista. Que merda, mesmo
sabendo que a prisão é inevitável, não me sinto preparado para ela. O tira me
mostra a Glock nove milímetros:
— Digamos que foi por isso que mandamos você parar.
— Joseph Fuentes, você tem o direito de permanecer calado — um
deles recita. — Qualquer coisa que disser poderá e será usada contra você no
tribunal...
A cela provisória cheira a urina e fumo. Ou talvez sejam os caras
trancados comigo nesta gaiola. De qualquer modo, mal posso esperar para cair
fora daqui.
Quem chamarei, para pagar a fiança? Paco nunca tem dinheiro.
Enrique pôs tudo o que tinha na oficina. Minha mãe me mataria, se soubesse que
fui preso. Pensativo, eu me encosto nas barras da cela, embora seja quase
impossível raciocinar neste lugar nojento.
A polícia chama isso de “cela provisória”, mas este é só um jeito
mais sofisticado de dizer “gaiola”. Gracias a Dios, esta é minha
primeira passagem por aqui... E rezo para que seja a última. ¡Lo juro!
Esse pensamento é perturbador. Afinal, eu sempre soube que estava
me sacrificando por meus irmãos... Então, por que me importaria de ficar preso
até o fim dos meus dias, se fosse para proteger aqueles dois?
Porque, no fundo, eu não quero essa vida.
Quero que minha mãe se orgulhe de mim, quero ser algo mais do que um membro de
gangue.
Quero um futuro, para me orgulhar dele. E
quero, desesperadamente, que Demetria me ache um cara legal.
Bato a cabeça contra as barras metálicas da
cela, mas não consigo afastar esses pensamentos.
— Vi você lá no Colégio
Fairfield — diz um cara branco, baixo, que deve ter mais ou menos a
minha idade. — Também sou aluno de lá.
O
idiota está usando uma camisa de golfe, vermelho-coral, e calças brancas, como
se tivesse acabado de chegar de um torneio.
O
branquelo tenta parecer legal, mas, com essa camisa vermelha... Cara, parecer
legal não vai resolver seus problemas, neste ambiente pesado. É como se
estivesse escrito, em sua testa: “sou mais um daqueles rapazes ricos da zona
norte”.
—
Por que você foi preso? — O branquelo pergunta, com a maior simplicidade, como
se esta fosse uma conversa comum, num dia qualquer, entre duas pessoas que se
conhecem.
—
Porte e ocultação de arma.
—
Faca ou revólver?
Eu
fuzilo o cara com os olhos:
—
Isso importa, porra?
—
Estou só tentando conversar — diz o branquelo.
Será
que todos os brancos fazem isso... Ficam falando, falando, só para ouvir o som
da própria voz?
— Em
que você se meteu? — pergunto.
O
branquelo suspira:
—
Meu pai chamou os tiras e contou a eles que roubei seu carro.
Eu
me espanto:
— O
seu próprio velho mandou você para este buraco infernal? E de propósito?
—
Ele quis me dar uma lição.
—
Sei! — eu digo. — A lição é que seu velho é um cretino.
E é
mesmo. Em vez de fazer uma besteira dessas, o pai desse cara devia ensinar a
ele como se vestir.
—
Minha mãe virá me soltar.
—
Tem certeza?
O
branquelo se apruma:
—
Ela é advogada... E meu pai já fez isso antes. No fundo, ele só quer provocar
minha mãe, ganhar um pouco de atenção dela. Eles são divorciados, sabe?
Eu
balanço a cabeça. Essa gente branca...
— É
verdade — diz o branquelo.
— Tenho
certeza que sim.
— Fuentes, pode dar seu telefonema, agora —
rosna o tira do lado de fora da cela.
Mierda...
Com todo esse falatório do branquelo, ainda não decidi quem vou chamar para me
tirar daqui. Isso me perturba, tanto quanto aquele grande “F” vermelho, na
prova de Química. Só existe uma pessoa com dinheiro e recursos para me tirar
dessa encrenca: Hector. O cabeça da Sangue Latino.
Nunca
pedi um favor a Hector. Porque nunca se sabe quando ele vai cobrar... Nem o que
vai querer, em troca. Ter uma dívida com Hector não é coisa que se pague com
dinheiro.
Mas
existem ocasiões, na vida, em que todas as opções são indesejáveis. É escolher
uma e aguentar as consequências.
Três
horas mais tarde, um juiz estipula minha fiança, depois de um longo sermão, que
quase me estoura os tímpanos.
Hector
vem me buscar. Ele é um homem vigoroso, com cabelos lisos, mais escuros que os
meus, penteados para trás. Basta um olhar para Hector... E a gente já vê que ele
é um durão. O cara não conta história... faz.
Tenho
respeito por Hector... E um certo temor. Foi ele que me iniciou na Sangue
Latino. Meu pai e Hector cresceram na mesma cidade e se conheceram quando
crianças. Ele ficou de olho em mim e na minha família, depois que meu pai
morreu. E me ensinou o significado de expressões novas, como “legado”, “segunda
geração” e outras coisas mais. Nunca me esquecerei disso.
Hector
me dá um tapinha nas costas, enquanto caminhamos pelo estacionamento.
—
Você pegou o Juiz Garret... O filho da puta é durão. Sorte sua que a fiança não
foi maior...
Eu
concordo. Não desejo nada, além de ir para casa. Quando já estamos longe do
tribunal, digo:
—
Vou pagar minha dívida com você, Hector.
—
Não se preocupe com isso, cara — diz Hector. — Irmãos têm que se ajudar. Para
ser franco, estou surpreso por saber que essa foi sua primeira prisão. Você é o
cara mais limpo da Sangue. Mais do que todos os outros.
Olho
pela janela do carro de Hector; as ruas estão calmas e escuras, como o Lago
Michigan.
—
Você é um garoto esperto. E tem potencial suficiente para subir de posto, na Sangue
— diz Hector.
Brigar
e até arriscar a vida por alguns caras da Sangue, eu topo, mas... ser
promovido?
Vender
drogas e armas são algumas das transações ilegais que estão em alta, na gangue.
Mas gosto de estar onde estou, surfando a onda perigosa, sem mergulhar de
cabeça na água.
Se
bem que eu devia ficar feliz por Hector pensar em me promover...
Demetria,
e tudo o que ela representa, é pura fantasia.
— Pense nisso — diz Hector, parando em frente
à minha casa.
— Vou pensar. Obrigado por pagar minha
fiança, cara — eu digo.
— Olhe, fique com esta... — Hector tira uma
pistola de baixo do banco. — A polícia tomou a sua.
Eu vacilo, recordando o momento em que o tira
me perguntou se eu estava armado.
Dios
mío...
Foi humilhante ter uma arma apontada para a minha cabeça, enquanto os tiras
pegavam a Glock. Mas recusar a arma de Hector é desacato... E eu nunca
desacato Hector. Pego a Glock e ponho na cintura.
—
Ouvi dizer que você andou fazendo perguntas sobre seu papá. Meu conselho
é que você esqueça esse assunto, Joe.
—
Não posso. Você sabe disso.
—
Bem, se você descobrir alguma coisa, me conte. Estou sempre aí, segurando a
retaguarda.
— Eu
sei. Obrigado, cara.
A
casa está em silêncio. Caminho até meu quarto, onde meus irmãos estão dormindo.
Abrindo minha gaveta, a primeira da cômoda, escondo a arma sob o tampo de
madeira, onde ninguém poderá encontrá-la, nem mesmo por acaso. É um truque que
Paco me ensinou.
Deito
em minha cama e cubro os olhos com o braço. Tomara que eu consiga dormir.
O
dia de ontem passa diante de meus olhos, como num filme. A imagem de Demetria,
seus lábios nos meus, sua respiração suave se misturando com a minha: este é o
único quadro que permanece em minha mente. E eu me deixo levar... E seu rosto
de anjo é a única imagem capaz de mandar para longe desse pesadelo que é o meu
passado.
~*~
Vocês vão amar o próximo chapter *-* kkkkkk Comentem u_u
Answer:
Fã Forever: É por aí hahahah Ah, e eu acho que você vai gostar do próximo chapter u-u just saying
Tadinho do Joe
ResponderExcluirestá PERFEITO
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se você disse que eu vou amar o proximo então eu já estou super ansiosa!
Beijos
Obs: desculpe não ter comentado no outro cap, mas eu fui para casa do meu pai na sexta e cheguei hoje e fiquei sem net lá