quinta-feira, 18 de abril de 2013

Chapter 39

Demetria

Sinto que Jorge e Elena estão loucamente apaixonados. Será que um dia eu também me sentirei assim, apaixonada pelo homem com quem vou me casar?
Penso em Shelley, que nunca terá um marido, nem filhos. Sei que meus filhos aprenderão a amar Shelley, tanto quanto eu a amo. Durante sua vida inteira, ela nunca sentirá falta de amor. Mas será que, no íntimo, minha irmã não sentirá falta de ter sua própria família?
Olho para Joe... E não consigo me imaginar num cenário de violência, gangues, marginalidade e sabe Deus o que mais. Isso não faz parte de mim. Mas esse cara, que vive no centro de todas essas coisas que abomino, está ligado a mim como jamais alguém esteve. Devo fazê-lo mudar de vida para que, um dia, as pessoas possam dizer que somos um casal perfeito.
Enquanto a música se espalha no ar, passo minhas mãos em torno da cintura de Joe e repouso a cabeça em seu peito. Ele afasta um cacho de cabelos do meu pescoço e me abraça com mais força, enquanto nos movemos levemente, ao sabor da música.
Um rapaz se aproxima da noiva, com uma nota de cinco dólares.
— É um velho costume — Joe explica. — Ele está pagando para dançar com a noiva... Chamam isso de “A Dança da Prosperidade”.
Eu observo, fascinada, enquanto o rapaz prende a nota de cinco dólares na cauda do vestido da noiva, com um alfinete de gancho. Minha mãe ficaria horrorizada.
Alguém grita algo para o rapaz, que agora dança com a noiva, e todo mundo ri.
— Qual foi a graça?
— Estão dizendo que ele prendeu a nota muito perto do traseiro de Elena.
Fico vendo os pares dançando num tablado e tento repetir seus movimentos. Quando a noiva termina de dançar com o rapaz, pergunto a Joe se ele também vai tirá-la para dançar.
Joe diz que sim e eu o empurro na direção dela.
— Então, vá. Enquanto isso, quero conversar com sua mãe.
— Você tem certeza...?
— Sim. Vi a Sra. Fuentes, quando chegamos. E seria ridículo fingir que não a conheço. Não se preocupe comigo, eu estarei bem.
Joe abre a carteira e tira uma nota de dez dólares. Tento não olhar, mas a carteira ficou vazia. Ele vai dar todo o dinheiro que tem, para Elena. Será que não vai lhe fazer falta? Sei que ele trabalha naquela oficina, mas provavelmente todo o dinheiro que ganha é para ajudar no sustento da família.
Vou me afastando, até que nossas mãos se separam.
— Volto logo, Joe.
Várias mulheres, inclusive a Sra. Fuentes, estão arrumando as mesas enfileiradas no quintal. Usando um vestido vermelho, com saia tipo envelope, ela parece mais jovem do que minha mãe.
As pessoas acham minha mãe bonita. Mas a Sra. Fuentes tem aquele tipo de beleza atemporal, que lembra uma estrela de cinema, Seus olhos são expressivos e castanhos; os cílios chegam quase a tocar as sobrancelhas; e sua pele, perfeita, é ligeiramente bronzeada.
Toco o ombro da Sra. Fuentes, que está colocando guardanapos sobre as mesas.
— Olá, Sra, Fuentes.
Ela se vira e, sem demonstrar nenhuma surpresa, diz:
— Demetria... não é isso?
Respondo com um aceno de cabeça. A reapresentação já aconteceu.
Agora vá em frente e não enrole, Demetria Ellis, digo a mim mesma.
— Hum... Eu... queria vir cumprimentá-la, desde que cheguei. E agora me pareceu um bom momento. Mas não sei bem o que falar... Acho que estou nervosa.
A mulher me olha como se eu tivesse um parafuso a menos.
— Vá em frente — ela diz.
— Sim... Bem... Sei que nós começamos com o pé esquerdo... E se a senhora se sentiu desrespeitada, em sua casa, peço-lhe desculpas. Mas quero esclarecer que não fui até lá com a intenção de beijar o seu filho.
— Desculpe minha curiosidade, mas... Quais são as suas intenções?
— Como?
— Suas intenções com Joe... Quais são?
— Eu... Bem, o que a senhora quer que eu diga? Sinceramente, acho que Joe e eu... Quero dizer, nós vamos descobrir o que queremos, um do outro, à medida que nossa relação for se desenvolvendo. Por enquanto, acho que devemos deixar que as coisas aconteçam, naturalmente...
A Sra. Fuentes põe a mão em meu ombro.
— O bom Deus sabe que não sou a melhor mãe do mundo. Mas me preocupo com meus filhos, mais do que com minha própria vida, Demetria. E sou capaz de qualquer coisa, para evitar que eles sofram. Vi o jeito como Joe olha para você... E isso me assusta. Não vou suportar vê-lo sofrer, mais uma vez, por perder alguém que ama.
Ouvir a mãe de Joe falando sobre ele, dessa maneira, desperta em mim comparações inevitáveis. Queria tanto que minha mãe soubesse amar e cuidar de suas filhas desse jeito. Tento engolir a emoção que a atitude da Sra. Fuentes me provocou, mas é difícil. Suas palavras deixaram um nó do tamanho de uma bola de golfe, em minha garganta.
A verdade é que ultimamente me sinto alheia a quase tudo, como se não fizesse parte nem mesmo da minha própria família. Meus pais esperam que eu faça e diga as coisas certas, sempre, o tempo inteiro. Fiz esse papel por toda a minha vida... Pensava que assim meus pais iriam se concentrar mais em Shelley, que certamente precisava de toda a atenção, bem mais do que eu. Mas a coisa não funcionou assim.
Às vezes é tão difícil. Mesmo tentando desesperadamente, a gente falha em cumprir o papel de garota “normal”. Nunca me disseram para ficar tranquila, para esquecer essa obrigação de ser perfeita o tempo inteiro. E então vem a culpa... Pensando bem, minha vida está cheia de imensas, infinitas doses de culpa.
Culpa por ser normal e, Shelley, não. Culpa porque Shelley merece e deveria ser amada, tanto quanto eu.
Culpa por temer que meus próprios filhos sejam como Shelley. Culpa por me sentir constrangida quando as pessoas olham para ela, em lugares públicos.
Isso não vai acabar nunca. Como poderia, se nasci enterrada nessa culpa até o pescoço?
Para a Sra. Fuentes, família significa amor e proteção. Para mim, família significa amor — mas apenas sob determinadas condições — e culpa, na mesma medida.
— Sra. Fuentes, não posso prometer que nunca magoarei Joe. Mas também não posso ficar longe dele, como a senhora deseja. Eu bem que tentei...
Pois quando estou com Joe me sinto arrebatada de minhas próprias trevas. Posso sentir as lágrimas nascendo no canto dos olhos e escorrendo pelo meu rosto.
Abro caminho entre as pessoas; preciso ficar sozinha. Vejo Paco saindo de um reservado que dá para o banheiro. Passo apressada por ele e entro.
— Espere, Demetria... Eu não entraria aí, se fosse você...
Não ouço mais a voz de Paco, porque acabo de entrar no reservado. Tranco a porta, enxugo as lágrimas e me olho no espelho. Meu rosto está uma lástima; o rímel escorreu e... Oh, mas o que é isso? Encosto-me à parede e vou escorregando, até me sentar no chão de ladrilhos. Agora entendo o que Paco queria dizer, quando nos cruzamos, ali fora. Do banheiro vem um cheiro horrível... Realmente cheira mal, quase a ponto de me causar náuseas. Aperto o nariz, tentando ignorar esse cheiro, enquanto as palavras da Sra. Fuentes continuam a soar em meus ouvidos.
Aqui estou eu, sentada no chão do lavabo, secando as lágrimas com papel-toalha e tapando o nariz...
Uma batida forte na porta interrompe minha crise de choro.
— Demetria, você está aí?
A voz de Joe chega até onde estou.
— Não.
— Por favor, saia.
— Não.
— Então, me deixe entrar.
— Não.
— Quero ensinar uma coisa pra você, em Espanhol.
— O quê?
— No es gran cosa.
— O que isso significa? — pergunto, ainda pressionando os olhos com uma folha de papel-toalha.
— Contarei, se você me deixar entrar.
Giro o trinco, até ouvir um “clique”.
Joe entra:
— Significa “não é grande coisa” não foi tão grave assim... Entendeu? — Joe tranca a porta, se senta ao meu lado e me abraça com força. Eu o ouço aspirar forte, algumas vezes.
— Puta merda... Paco esteve aqui?
Eu aceno, afirmativamente.
Joe aspira o perfume de meus cabelos e murmura algo em Espanhol, antes de perguntar:
— O que foi que minha mãe disse?
Escondo meu rosto em seu peito.
— Ela só estava sendo sincera comigo — respondo, baixinho.
Uma forte batida na porta nos interrompe.
Abre la puerta, soy Elena.
— Quem é? — pergunto.
— A noiva.
— Ei, me deixe entrar! — Elena ordena.
Joe abre a porta. Uma figura toda de branco, e com dólares presos como escamas na cauda do vestido, faz sua entrada no lavabo... E fecha a porta.
— Ok, o que está acontecendo? — Também ela aspira forte, assim como fez Joe. — Paco esteve aqui?
Joe e eu acenamos, afirmativamente.
— Minha nossa... O que será que esse cara come? — diz Elena, pegando um papel-toalha para tapar o nariz.
— A cerimônia foi muito bonita — eu digo, por baixo do meu papel-toalha. Esta é a situação mais embaraçosa e surreal que já vivi.
Elena segura minha mão.
— Vamos sair daqui e aproveitar a festa. Minha tia pode ser durona, mas não quis ofendê-la. Acho até que, no fundo, ela gosta de você.
— Vou levar Demetria para casa — diz Joe, no papel de meu herói... Um papel que não sei por quanto tempo vai durar.
— Não — diz Elena. E parece estar falando sério. — Você não vai levar essa menina embora.
Outra batida na porta...
— Não perturbe! — grita Elena.
— Soy Jorge...
— É o noivo — Joe me explica.
Jorge entra no lavabo. Ao contrário de nós três, parece ignorar esse cheiro mortal. Mas aspira o ar com força, por várias vezes, e seus olhos começam a lacrimejar.
— Venha, Elena — diz Jorge, tentando cobrir disfarçadamente nariz, sem muito sucesso. — Os convidados estão perguntando por você.
— Você não vê que estou conversando com meu primo e sua namorada?
— Sim, mas...
Elena ergue a mão, pedindo silêncio. Jorge se cala. E ela continuou tapando o nariz, enquanto repete:
— Já disse que estou conversando com meu primo e a namorada... Ainda não terminei. — Apontando para mim, diz: — Você, venha comigo. E você bem que podia cantar para nós, Joe, junto com seus irmãos.
Joe balança a cabeça, negando.
— Elena, acho que...
— Não pedi sua opinião. Só quero que você, Josh e Frankie cantem para mim e para meu marido.
Elena abre a porta e me puxa pela mão. Caminhamos pela casa e chegamos ao quintal, onde ela finalmente me solta, para tirar o microfone do cantor.
— Paco! — ela diz, em voz bem alta. — Sim, você mesmo! — E aponta para Paco, que está conversando com algumas garotas. — Na próxima vez em que quiser descarregar alguma coisa... Vá procurar outro banheiro!
As garotas riem e se afastam, deixando Paco sozinho.
Jorge sobe no palco e tenta conter sua esposa. Ela reage. Todos caem na risada e aplaudem. A festa segue seu curso.
Elena finalmente desce do palco e Joe sobe para conversar com os músicos. Seus irmãos o seguem. Aplausos e gritos encorajam os Fuentes a cantar.
Paco se aproxima de mim e diz, muito tímido:
— Ei, me desculpe por aquela história do banheiro. Eu bem que tentei avisar...
— Tudo bem. Acho que Elena já castigou você, mais que o suficiente. — Chego mais perto de Paco e pergunto: — Falando sério, o que você acha do meu namoro com Joe?
— Falando sério? Você é, provavelmente, a melhor coisa que já aconteceu na vida dele.

~*~

Comentem, amores <333

Answers:

vick: a~sdçksljaf]gs muito muito muito obrigada <3333 *----*
Demetria Devone Lovato: No próximo chapter, porém... enfim kkkkkk Postei ;D Beijos

2 comentários:

  1. awn que fofo o que o Paco disse!!
    está Perfeito
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    estou ansiosa para o proximo capitulo!!!
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    Beijos

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