segunda-feira, 22 de abril de 2013

Chapter 41 / Chapter 42

Demetria

Paro num McDonald’s, onde posso passar despercebida. Troco o vestido por um jeans, um suéter pink e sigo para casa.
Estou com medo porque, com Joe, as coisas acontecem rápido demais. Quando estamos juntos, tudo é muito intenso. Meus sentimentos, minhas emoções, meu desejo. Nunca fui “viciada” em Colin, nunca desejei estar com ele vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Mas é isso que sinto por Joe... Essa vontade louca. Oh, Deus. Acho que estou me apaixonando por ele.
Mas sei que amar alguém significa perder uma parte de si mesmo. Nessa noite, no carro, quando Joe me tocou por baixo do vestido, fiquei com medo de perder o controle... Acontece que passei toda a minha vida empenhada, justamente, em manter o controle. O que está acontecendo com Joe vai contra tudo o que sou. E isso me assusta.
Entro em casa, ansiosa para que ninguém me veja. Tudo o que tenho a fazer é me esgueirar até o quarto e guardar esse vestido no armário. Infelizmente, minha mãe está no hall, esperando por mim.
— Onde você esteve? — ela pergunta, num tom severo, segurando meu livro de Química e minha pasta. — Você disse que ia estudar com aquele rapaz, o tal Hernandez.
Acertou no alvo... Tempo para calar a boca ou confessar de uma vez. Engulo em seco e digo:
— O sobrenome dele é Fuentes e não Hernandez. E a resposta é sim, eu estava com ele.
Silêncio. Os lábios de minha mãe se contraem, formando uma linha muito fina.
— Obviamente, você não estava estudando. E o que há nessa bolsa...? — ela pergunta. — Drogas? Você está escondendo drogas, aí?
— Não uso drogas — respondo, rispidamente.
Ela ergue uma sobrancelha, aponta para a bolsa e ordena:
— Abra.
Obedeço, com um suspiro, me sentindo como uma presidiária. Abro a bolsa e mostro o vestido à minha mãe.
—O que significa isso? — ela pergunta.
— Fui a uma festa, com Joe. A prima dele se casou.
— Esse rapaz fez você mentir para mim. Ele a está manipulando, Demetria.
— Ele não me fez mentir, mãe — digo, exasperada. — Posso fazer isso sem ajuda de ninguém, acredite.
Sua fúria atinge o ponto máximo... Vejo isso pelo modo como seus olhos brilham e suas mãos tremem.
— Se eu... Se eu descobrir que você saiu de novo com esse rapaz, não hesitarei em convencer seu pai a mandá-la para um colégio interno, pelo resto do ano. Você não acha que já tenho preocupações suficientes, com Shelley? Prometa-me que não fará mais nenhum tipo de contato com ele, fora da escola.
Prometo. Então, corro para o meu quarto e telefono para Selena.
— O que foi? — ela diz.
— Selena, preciso da minha melhor amiga, neste momento.
— E você me escolheu? — ela rebate, secamente. — Puxa, estou lisonjeada.
— Ok, eu menti para você. Gosto de Joe. Muito.
Silêncio.
Silêncio.
— Selena, você está aí? Ou está me ignorando?
— Não, Demi... Estava só me perguntando por que você resolveu me contar isso agora.
— Porque preciso conversar com você, Selena. Você me odeia?
— Você é a minha melhor amiga — ela responde.
— E você é a minha melhor amiga.
— E boas amigas continuam amigas, mesmo quando uma delas resolve perder o juízo e namorar um cara de gangue... Certo?
— Espero que sim.
— Demi, nunca mais minta para mim.
— Está certo. E, olhe, você pode falar sobre esse assunto com Nick, desde que ele prometa guardar segredo.
— Obrigada pela confiança, Demi. Talvez você não saiba o quanto isso significa, para mim.
Depois de contar toda a história a Selena, desligo o telefone, me sentindo bem melhor. Parece que nossa amizade está salva e que as coisas entre nós começam a voltar ao normal.
O celular toca. É Miley.
— Preciso falar com você — ela me diz, quando atendo.
— Estou ouvindo. Pode falar.
— Você viu Paco, hoje?
Hum... Quantos segredos!
— Sim.
— Você falou de mim?
— Não... Por quê? Você queria que eu falasse?
— Não. Sim. Sei lá... Que confusão!
— Miley, diga a ele o que você sente, sem rodeios, de uma forma simples... E pronto. Isso funcionou, com Joe.
— Sim, mas você é Demetria Ellis.
— E você sabe o que significa ser Demetria Ellis? Vou lhe contar... Sou insegura, como todo mundo. Vivo sob pressão, para manter a imagem que as pessoas têm de mim... E para que não percebam que, na verdade, não sou diferente de ninguém. As garotas me invejam, por eu ser o centro das atenções... Mas não sabem que isso me torna vulnerável e exposta a fofocas, bem mais do que alguém poderia suportar.
— Então é melhor guardar, para mim, as histórias que estão rolando, na minha turma, sobre você e Joe. Acho que você não ficaria nem um pouco feliz, se soubesse... Ou será que você gostaria de ouvir?
— Não.
— Tem certeza?
— Tenho, sim. Se você realmente se considera minha amiga, por favor, não me conte.
Pois, se eu souber dos boatos, terei que enfrentá-los. E, neste exato momento, quero viver em absoluta felicidade e ignorância.

Chapter 42

Joe

Depois que Demetria fugiu de mim daquele jeito, não me sinto com a menor disposição para conversar. E espero evitar minha mãe, quando chegar em casa.
Mas basta olhar para o sofá, na sala, e minha esperança bate asas. Ali está ela, na penumbra, com a televisão desligada. Meus irmãos já devem ter ido dormir.
— Joseph... — ela começa — Aonde você pretende chegar, trazendo aquela moça branca e rica para o nosso meio? Não quero essa vida para nós.
— Eu sei.
— Essa tal de Demetria está pondo ideias estranhas na sua cabeça.
Dou de ombros.
— Demetria detesta drogas, gangues e marginalidade... A senhora acha isso estranho? Mas sabe o que eu acho estranho, mãe...? Vou lhe contar: a senhora pode não ter escolhido essa vida, para mim... Mas também não reclamou muito, quando entrei para a Sangue.
— Não fale assim, Joseph.
— Por que não? A verdade é muito dolorosa? Sou membro de uma gangue e a senhora sabe disso, embora finja ignorar. — Minha voz vai aumentando de volume, à medida que extravaso a frustração contida nesses anos todos. — Fiz essa escolha há muito tempo, porque entendi que era a única maneira de proteger nossa família, neste lugar miserável onde vivemos. Olhe para mim... — Tiro a camisa e mostro as tatuagens da Sangue Latino. — Olhe bem para o que sou, mamá. Sou membro de uma gangue, exatamente como papá. Será que devo traficar drogas, também?
Lágrimas escorrem por sua face.
— Seu pai não teve escolha — ela diz, baixinho. — Quanto a mim, se eu achasse que havia outro jeito, naquela época...
— A senhora estava assustada demais, para sair desse buraco onde vivemos... E agora estamos encurralados, nessa vida desgraçada. Ninguém tem culpa, tudo bem, mas não venha jogar essa carga de medo e aflições em cima de mim e da minha garota.
— Isso não é justo — ela diz, se levantando.
— O que não é justo é a senhora viver como uma viúva em luto perpétuo, desde que Papá morreu. Por que não voltamos para o México? Diga ao tio Julio que foi inútil gastar as economias de uma vida inteira, para nos mandar para cá. Ou a senhora tem medo de voltar para lá e contar à família que fracassou?
— Oh, não. Nós não estamos tendo esse tipo de discussão... Isso não está acontecendo.
— Abra os olhos, mamá — digo, abrindo os braços o máximo que posso. — O que a senhora tem, aqui, que possa valer tanto a pena... Seus filhos? Bem, isso é uma desculpa, porque podemos, todos, voltar para o México. Para nós, já faz tempo que o “sonho americano” se transformou num pesadelo. — Aponto para o retrato do meu pai, acima do pequeno altar improvisado. — A começar por ele, que a senhora venera como se fosse um santo. Mas tudo o que Papá conseguiu, neste país, foi ser membro de uma gangue.
— Já disse que seu pai não teve escolha — ela grita — Ele só queria nos proteger.
— E, agora, é minha vez... A senhora vai fazer um altar para mim, quando eu levar um tiro? E Josh? Porque ele é o próximo da fila, sabe? E, depois, será o Frankie...
Minha mãe me dá um tapa no rosto, com toda a força... E então recua, chorando.
Ah, eu me sinto péssimo quando ela perde o controle por minha causa.
Dou um passo à frente e puxo minha mãe para perto de mim. Quero pedir desculpas e dar-lhe um abraço. Mas, estranhamente, ela estremece e geme de dor.
¿Mamá? O que há de errado com você... Está machucada?
Ela se solta bruscamente, me dá as costas e se afasta. Mas não posso deixá-la ir, assim... Consigo alcançá-la e levanto a manga do seu vestido. Para meu horror, descubro um hematoma em seu braço. Um hematoma de cor púrpura, negro e azul, que parece me encarar...
Tento entender o que está acontecendo. A memória me leva de volta à festa de casamento, quando vi minha mãe e Hector conversando.
— Foi Hector quem fez isso? — pergunto, num tom bem mais suave.
— Você precisa parar de fazer perguntas sobre seu pai — ela me diz, puxando rapidamente a manga, para cobrir o hematoma.
Uma onda de raiva me invade e se espalha por todo meu corpo. Agora entendo a cena entre os dois, na festa... Era um aviso de Hector para mim.
— Por que, mamá? Quem Hector está tentando proteger? —eu insisto.
Será alguém da Sangue Latino, ou um figurão de alguma gangue aliada? Gostaria de perguntar isso a Hector. E gostaria, mais ainda, de arrebentar com ele, por ter deixado a marca de seus dedos sujos no braço de minha mãe. Mas o cara é intocável. Todos sabem que desafiar Hector é entrar em guerra com a Sangue Latino inteira.
Minha mãe me olha:
— Não me pergunte sobre isso. Há coisas que você não sabe, Joseph. Coisas que não deve saber. Deixe estar...
— Depois de saber que papá traficava drogas, a senhora acha que alguma verdade ainda pode me assustar? Acha que é bom viver na ignorância? Porra, por que será que todo mundo está tentando me esconder a verdade, se eu não tenho medo dela?
Minhas mãos estão frias e úmidas, caídas ao longo do corpo. Um som no pequeno corredor me chama a atenção. Eu me viro e vejo meus irmãos, com os olhos arregalados. Pronto. Acabou. Ao ver os dois, minha mãe quase perde o fôlego. Puxa, eu seria capaz de qualquer coisa, para aliviar seu sofrimento.
Perdón, Mamá — digo, pondo a mão em seu ombro.
Sufocando um soluço, ela afasta minha mão e corre para o seu quarto.
— É verdade? — Josh pergunta, com um aperto na voz.
Eu confirmo:
— É, sim.
Confuso, Frankie balança a cabeça e franze a testa.
— Não entendo o que vocês dois estão dizendo... Pensei que papá fosse um homem bom. Mamá sempre disse que ele era um homem bom.
Abraço meu irmão caçula, aconchegando-o em meu peito.
— Então era tudo mentira! — diz Josh, transtornado. — Vocês mentiram para mim!
Solto Frankie e seguro Josh pelo braço:
— Joshua...
Ele olha para minha mão, com raiva:
— Pensei que você estivesse na Sangue Latino para proteger nossa família. Que nada... Você estava só seguindo o mesmo caminho de papá... Grande herói que você é! Você gosta de ser Sangue Latino... Mas me proibiu de entrar. Isso não é hipocrisia, mano?
— Talvez...
Afrouxo a pressão e Josh corre para a porta dos fundos.
A voz de Frankie quebra o silêncio:
— Às vezes os homens bons precisam fazer coisas que não são boas... É isso, Joe?
Eu afago seu cabelo. Frankie é mais inocente do que eu era, quando tinha sua idade.
— Sabe, acho que você é o Fuentes mais inteligente dessa família, meu irmãozinho. Agora, vá para a cama e me deixe falar com Josh.
Encontro Josh sentado na varanda dos fundos, que dá para o quintal do vizinho.
— Então foi assim que nosso pai morreu... traficando drogas? — Josh pergunta, quando me sento ao seu lado.
— Sim.
— E você estava junto?
Respondo que sim, com um aceno de cabeça.
— Mas você tinha apenas seis anos, naquela época... Como ele teve coragem de levar você para um negócio desses? Que bastardo! — Josh exclama, entre revoltado e cínico. Em seguida, me diz: — Sabe, eu vi Hector, hoje, na quadra de basquete, perto da avenida.
— Fique longe dele. Eu não tive chance. Fui obrigado a entrar nisso e agora estou encrencado. Se você pensa que acredito cegamente nas leis da Sangue, está muito enganado. Tudo o que peço a você, nessa vida, é que não entre...
— Joe...
— Não quero isso para você, entendeu?
— Sim. Agora sei do que você está falando — ele responde, baixinho, Encaro Josh com o mesmo olhar que minha mãe me lançava, quando eu começava a aprontar demais, em casa.
— Quero que você me escute, Joshua... E me escute bem. Dê um jeito de estudar bastante, para chegar à faculdade. Seja alguma coisa, na vida... Ao contrário de seu irmão mais velho, que já está ferrado.
Depois de um longo momento de silêncio, Josh me diz:
— A Destiny também é totalmente contra essa estória de eu entrar na Sangue. Ela quer que eu me forme em Enfermagem. — Carlos ri. — E disse que seria maravilhoso se nós dois entrássemos na mesma universidade.
Eu escuto, compreendendo que chegou o momento de parar com meus conselhos e deixar que Josh trace seus planos de vida, por si mesmo. No fim, ele diz:
— Sabe, eu gosto da Demetria.
— Eu também. — Penso no que aconteceu, hoje, quando estávamos no carro. Nossa, foi um grande momento. E eu me empolguei... Espero não ter estragado tudo.
— Vi Demetria conversando com mamá, no casamento — diz Josh. — Puxa, ela encarou a mamá... E fez isso muito bem!
— É, mas se você quer mesmo saber, depois ela chorou muito, no banheiro. Talvez eu devesse ter impedido que ela e Mamá...
— Para um cara que se acha esperto, você está sendo bem burro... — Josh me interrompe. — Não dá para controlar tudo, Joe... Nem para carregar o mundo nas costas.
— Não se preocupe, mano... Eu aguento; estou sempre preparado pra enfrentar o que vier.
Josh põe a mão no meu ombro:
— Mano... Acho que, de algum modo, namorar uma garota da zona norte é mais arriscado do que entrar numa gangue.
Este é o momento perfeito para contar umas verdades ao meu irmão:
— Você ouviu os caras da Sangue Latino falando de irmandade, honra, lealdade... E tudo soa muito bonito. Mas eles não são como uma família, sabe? E a irmandade só funciona enquanto você está disposto a fazer o que eles querem.
Minha mãe abre a porta e olha para nós. Parece tão triste. Como eu gostaria de poder mudar sua vida e acabar com esse sofrimento, para sempre. Mas sei que não posso.
— Joshua, me deixe conversar com Joseph.
Quando Josh entra em casa, minha mãe se senta ao meu lado, com um cigarro na mão. Que eu saiba, é o primeiro que ela fuma, depois de muito tempo.
Espero que ela comece a falar...
— Cometi muitos erros em minha vida, Joseph — ela diz, soltando a fumaça para cima, na direção da lua, que brilha lá no alto. — E alguns deles não podem ser corrigidos, por mais que eu reze, pedindo a Deus uma luz. — Ela ajeita meu cabelo, atrás das orelhas. — Você ainda é tão jovem... E, no entanto, tem as responsabilidades de um homem. Sei que isso não é justo.
Está bien, mamá. Eu posso aguentar.
— Não... não está nada bem. Eu também tive que crescer rápido demais, sabe? Não consegui nem mesmo terminar o segundo grau, porque fiquei grávida de você. — Ela me olha, como se visse a si mesma, quando jovem. — E pensar que não faz tanto tempo assim... Puxa, eu queria tanto um bebê! Seu pai era contra, achava que eu devia me formar, primeiro. Mas dei um jeito de apressar as coisas... Pois tudo o que eu mais desejava, neste mundo, era ser mãe.
— E a senhora se arrependeu? — pergunto.
— De ser mãe? Nunca. Mas me arrependi de enganar seu pai e dar um jeito para que ele não usasse preservativo.
— Não quero ouvir isso.
— É, mas eu já disse e você já ouviu. Preste atenção, meu filho... Seja cuidadoso.
— Eu sou.
Ela traga novamente o cigarro, enquanto balança a cabeça:
— Você não entendeu. Você pode ser cuidadoso, mas a garotas talvez não sejam. Garotas são manipuladoras... Sei disso porque fui assim, também.
— Demetria é...
— O tipo de garota que pode levar você a fazer o que não quer.
— Demetria não quer engravidar. Pode acreditar nisso, mãe.
— Sim, mas vai querer outras coisas, que você jamais poderá lhe dar.
Olho para cima: para as estrelas, a lua, o infinito universo.
— Mas e se eu quiser dar tudo para ela?
Minha mãe suspira, soltando lentamente a fumaça.
— Aos trinta e cinco anos, já vivi o suficiente para ver pessoas morrendo por acreditar que podiam mudar as regras do mundo... Não importa o que você pense, a verdade é que seu pai morreu tentando consertar sua própria vida, O que você sabe sobre ele são fatos distorcidos, Joseph. Você era apenas um menino, pequeno demais para compreender.
— É, mas agora já cresci.
Uma lágrima escapa de seus olhos. Enxugando-a, ela me diz:
— Sim, mas agora é tarde demais.

~*~

Deveria ter postado no final de semana, mas não deu.
2 chapters pra compensar ^^

Answer:

Demetria Devone Lovato: Por enquanto você vai ficar curiosa sobre isso kkkk MUAHAHAHA postei, linda <33 \O/ bjos.

Um comentário:

  1. PERFEITO
    tadinho do Joe eu to triste por ele, com essa briga toda da familia, espero que o Josh não entre para a gangue.
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    Beijos

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