domingo, 29 de setembro de 2013

Easy – Capítulo 24

A maioria das pessoas decolariam assim que passasse na última final. Selena estava saindo no sábado, mas eu ia ficar, porque o meu aluno favorito do ensino médio tinha me convidado para seu show na noite de segunda, pegou a primeira fileira, e queria se exibir. Fomos obrigados a desocupar os dormitórios para as férias de inverno na terça-feira, assim eu ia para casa naquele dia, quisesse eu ou não.
Maggie, Selena e eu nos encontramos na biblioteca para estudar para o último exame de astronomia do semestre. Cerca de duas da manhã, Maggie caiu de cara no seu livro aberto com um suspiro dramático.
— Uuuuugh ... Se não fizer uma pausa nesta merda, meu cérebro vai virar um buraco negro!
Selena não disse nada, e quando eu olhei para ela, ela estava verificando seu telefone, rolando através de um texto, e depois respondendo. Ela apertou enviar e percebeu que eu estava olhando para ela.
— Hein? — Seus olhos castanhos estavam um pouco grandes. — Hum, Nick estava apenas me contando que os garotos estão se revezando pra ficar de olho em Buck. Certificar-se de que ele não vai sair de casa.
— Eu pensei que você não estivesse falando com Nick. — Maggie murmurou sonolenta, com olhos fechados, bochecha apertada contra a página que estávamos revisando.
Os olhos de Selena estavam em qualquer lugar, menos em mim. E eu soube que ela tinha abandonado o plano. Eu decidi deixá-la incomodada um pouco mais antes de eu tirá-la da berlinda. Eu sempre gostei de Nick e só podia ser uma falha gostar. Eu também não gostaria de acreditar que meu melhor amigo era um monstro.
Verificando o meu telefone, eu reli os textos que eu enviei pra Joseph mais cedo, e suas respostas.

Eu: Final em Econ: HUMILHEI!
Joseph: Tudo por causa de mim, certo?
Eu: Não, por causa daquele cara, o Jace.
Joseph: ;)
Eu: Meu cérebro dói. Eu tenho mais três provas.
Joseph: Só mais uma pra mim. Sexta. Em seguida, trabalho.
Vejo você no sábado.
A última final da Mindi é amanhã. — Selena rabiscou um desenho em volta de uma equação em seu caderno.
— Eu ouvi que o pai dela estava sentado na sala durante todas suas provas finais. — Disse Maggie.
Eu ouvi o mesmo rumor.
— Eu não posso culpá-lo, se isso for verdade.
Nós observamos Selena, que sabia a verdade entre o fato e as fofocas do campus. Ela assentiu.
— Ele estava. E ela não vai voltar, a não ser para depor. Ela está se transferindo para alguma pequena comunidade universitária perto de sua casa. — O arrependimento em seus olhos era fundo. — A mãe dela disse que ela ainda está tendo pesadelos todas as noites. Eu não acredito que eu a deixei lá.
Maggie sentou-se.
— Hey. Deixamos um monte de gente lá. Não foi culpa nossa, Selena.
— Eu sei, mas...
— Ela está certa. — Eu fiz Selena olhar para mim. — Ponha a culpa em quem tem culpa. Nele.

***

Finalmente, eu contei aos meus pais sobre Buck. Eu não tinha falado com eles desde antes do dia de Ação de Graças. Por causa de algo deixado fora de ordem na despensa, mamãe descobriu que eu tinha estado em casa, e me ligou. Eu acho que ela queria ter certeza que nenhum estranho havia arrombado a casa e desarrumado seus grãos e condimentos que estavam em ordem alfabética. Então, eu tinha que confessar.
— Mas... Você me disse que estava indo para casa de Selena?
Em vez de dizer que ela tinha chegado a essa conclusão sozinha, que eu só tinha mencionado Selena uma vez, que ela nunca se preocupou em verificar o que eu estava fazendo no feriado de Ação de Graças, eu menti. Era mais fácil para todos nós assim.
— Ir pra casa foi uma decisão de última hora. Nada demais.
Ela começou a tagarelar sobre as coisas que precisávamos para fazer durante as férias: eu tinha quer ir a uma consulta odontológica e que o registro da minha caminhonete iria expirar em janeiro.
— Você precisa de uma consulta com Kevin, ou você encontrou um estilista aí? — Ela perguntou.
Em vez de responder sua pergunta, eu soltei tudo: o ataque de Buck no estacionamento, Joseph me salvando, Buck estuprando outra garota, as acusações que foram fazendo, o caso criminal abrindo. Não havia como parar, uma vez que comecei.
No começo eu achei que ela não tivesse me ouvido, e eu agarrei meu telefone, pensando que eu não iria repetir tudo aquilo, se ela estava muito ocupada com a merda de decoração de sua festa, para me ouvir por dez segundos.
Então ela engasgou.
— Por que você não me contou?
Ela sabia por que, eu acho. Eu não precisava dizer isso. Eles não tinham sido os melhores pais. Não tinham sido os piores, também.
Eu exalei.
— Estou contando pra você agora.
Ela ficou em silêncio por um momento tenso, mas eu a ouvi andando pela casa. Eles iam realizar a sua festa anual de férias com uma ceia no sábado. E eu sabia como a mamãe é obcecada com limpeza e que a casa tinha que estar perfeita para isso. Conforme fui crescendo, eu aprendi a aparecer menos durante toda a semana que antecedia a essa festa.
— Eu estou chamando Marty agora para dizer que eu não vou trabalhar amanhã. — Marty era o chefe da mamãe em sua empresa de consultoria de software. — Eu posso estar aí perto das 11. — Eu reconheci o som que ela fazia arrastando a mala com rodinhas para fora do armário embaixo das escadas.
Eu estava boquiaberta ao telefone por um momento antes de gaguejar para a vida.
— Não, não, mãe. Eu estou bem. Eu voltarei pra casa em menos de uma semana.
Sua voz tremeu quando ela respondeu, chocando-me ainda mais.
— Eu sinto muito, Demetria! — Ela disse meu nome como se ela estivesse tentando encontrar alguma maneira de me tocar através do telefone. — Eu sinto muito que isso aconteceu com você. — Meu Deus, pensei. Ela está chorando? Minha mãe não era uma chorona. — E eu sinto muito, por não estar aqui quando chegou em casa. Você precisou de mim e eu não estava aqui!
Sozinha no meu quarto, eu sentei na minha cama, atordoada.
— Está tudo bem, mãe! Você não tinha como saber. — Ela sabia sobre o meu rompimento com Kennedy... Mas eu estava pronta para esquecer também. — Você me criou para ser forte, certo? Eu estou bem. — Eu percebi, quando eu disse, que isso era verdade.
— Posso-posso marcar uma consulta para você, com o meu terapeuta? Ou um de seus parceiros, se você preferir?
Eu tinha esquecido as sessões ocasionais de terapia da mamãe. Ela teve um diagnóstico de transtorno alimentar quando eu era muito jovem. Eu nem sabia o que era. Bulimia, anorexia? Nós nunca tínhamos falado sobre isso.
— Claro! Isso seria bom.
Ela suspirou, e eu pensei que era de alívio. Eu tinha dado a ela algo para fazer.

***

Depois que terminamos várias caixas de comida chinesa e uma conversa sobre como escolhemos nossas respectivas graduações, Joseph pescou seu iPod do bolso da frente e me entregou os fones de ouvido.
— Eu quero que você ouça essa banda que eu encontrei. Você pode gostar deles. — Estávamos sentados no chão, com as costas para a minha cama.
Quando coloquei os fones, ele ligou e me observou enquanto eu escutava.
Seus olhos se encontraram com os meus quando a música aumentou em meus ouvidos. Eu não conseguia ouvir nada do lado de fora. Não conseguia ver nada, exceto seus olhos em mim.
Ele se inclinou para mais perto e eu inalei o aroma calmante dele. Colocando meu rosto em sua mão, ele moveu sua boca para a minha, me beijando em um ritmo que de alguma forma combinava com o ritmo da música. Ele tinha gosto de TIC TAC de menta que ele estava chupando.
Entregando-me o iPod, ele me pegou, me colocou na cama e deitou ao meu lado, puxando-me em seus braços e me beijando até que a primeira música se misturou com a próxima e a próxima. Quando ele me afastou para traçar um dedo sobre a borda do meu ouvido, eu removi um fone e entreguei a ele. Ficamos deitados lado a lado na minha cama estreita, mal acomodou o comprimento do seu corpo confortavelmente, ouvindo juntos, imersos. Ele abriu uma nova lista de reprodução, e eu sabia que aquela música era algo que ele escolheu para mim, muito além de uma banda que ele queria compartilhar, ou algo para se discutir musicalmente.
Meu coração o alcançou enquanto ouvíamos, olhando um para o outro, e eu senti os fios de conexão entre nós, frágeis filamentos que tão facilmente quebrariam. Como o poema gravado em seu lado, cada curva nossa foi feita para caber dentro do outro, e essa fusão e mudança de forma poderia ser mais profunda, mais adaptável. Eu me perguntava se ele sentia isso, e quando eu escutei a letra dessa música que ele escolheu, eu pensei que talvez ele sentisse. Agora não era uma piada porque eu só poderia ser... A curva suave em sua linha dura.
O corredor do lado de fora da minha porta estava a maior parte em silêncio, finalmente. Depois de um dia inteiro de pessoas fazendo as malas e se mudando que tinha começado cedo. Nós conversamos recentes histórias apenas, e Joseph falou da história de como Francis se tornou seu companheiro de quarto.
— Uma noite ele apareceu pedindo para deixá-lo entrar. Cochilou no sofá por uma hora, em seguida, pediu para sair. Isso se transformou em um ritual noturno, cada vez ele ficava mais e mais. Até que uma hora eu percebi que ele tinha se mudado. Ele é basicamente o posseiro mais descarado que conheci.
Eu ri e ele me beijou, rindo também. Ainda sorrindo, ele me beijou de novo, mãos vagando sobre a minha cintura e quadril. Quando começamos a nos entender, eu lembrei que Selena só sairia do campus amanhã e, portanto, podia entrar a qualquer momento.
— Eu pensei que você disse que ela tinha ido hoje.
Eu balancei a cabeça.
— Ela ia. Mas seu ex-namorado está fazendo uma campanha implacável para que ela volte, e ele queria vê-la esta noite.
Sua mão vagou sob minha camisa, explorando.
— Então o que aconteceu com eles? Por que eles terminaram?
Meus lábios se separaram quando sua mão pegou um seio, moldando sua palma como se ela fosse feita para isso.
— Sobre mim.
Seus olhos se arregalaram um pouco e eu sorri.
— Não, não desse jeito! Nick foi... O melhor amigo de Buck. — Eu odiava como meu corpo enrijecia quando eu pensava em Buck, como os meus dentes apertavam quando eu disse o nome dele. Mesmo sem estar presente, ele desencadeou respostas que eu não poderia sufocar, e isso me enfureceu.
— Ele já foi né? — Ele perguntou. — Ele deixou o campus? — Passando o braço em volta de mim, Joseph me apertou pra mais perto, com a mão na parte de trás do meu pescoço. Fechando meus olhos, eu enterrei a cabeça sob o queixo, confirmando.
— Eu duvido que vão permitir que ele volte no próximo semestre, mesmo antes do julgamento. — Ele disse.
Eu respirei nele, fechando a boca bem apertada e inalando o cheiro dele. Eu me senti protegida com ele. Segura.
— Eu estou sempre olhando por cima do meu ombro. Ele é como um desses palhaços de caixa de surpresa... Eu nunca te contei sobre o vão da escada, contei?
Eu não era a única incapaz de reprimir reações físicas. Seu corpo ficou rígido, e seu aperto em mim foi de repente menos gentil e mais carregado.
— Não.
Murmurando a história em seu peito, tentando ater aos fatos e nada mais, eu pude moderar minha própria resposta, acabei com:
— Ele fez parecer que nós tínhamos feito na escadaria. E por causa dos olhares nos rostos de todos no corredor... E das histórias que circularam depois... Eles acreditaram nele. — Forcei as lágrimas de volta. Eu não queria mais chorar por causa de Buck. — Mas pelo menos ele não entrou no meu quarto.
Em silêncio por tanto tempo que eu achei que ele não fosse comentar. Ele finalmente empurrou-me para trás, colocando um joelho entre os meus e me beijou duramente. Seu cabelo fez cócegas no lado do meu rosto, e eu libertei minhas mãos, que estavam presas entre nós, e as enfiei em seu cabelo como se eu pudesse puxá-lo para mais perto. A maneira como ele me beijou parecia uma marca. Como se ele estivesse tatuando-se sob a minha pele.
Ele sabia todos os meus segredos e eu sabia os dele.
Mas essa reciprocidade aparente era uma mentira, porque não foi ele que os revelou. Eu os escavei. E o pior: ele não estava consciente disso.
Minha culpa multiplicou entre nós, junto com o desejo que ele pudesse compartilhar essa parte dele. Para confiar em mim nesse aspecto. Eu iria para casa em três dias. Eu não podia falar nisso com quilômetros e horas entre nós, ou manter isso para mim por mais semanas.
Quando nós desaceleramos novamente, enroscados, permitimos que nossas libidos e que a velocidade dos nossos corações desacelerasse, eu vi uma abertura.
— Então você meio que vive com os Hellers, e eles são amigos da família?
Ele me observou e confirmou. — Como seus pais se conheceram?
Virando-se de costas, seus dentes deslizaram sobre o piercing em seu lábio e ele o chupou. Eu reconheci isso como sendo equivalente a forma de revelar o estresse assim com a coceira no pescoço de Kennedy.
— Eles estudaram juntos na faculdade.
Os fones de ouvido tinham sido retirados em algum momento durante a última meia hora. Ele desligou o iPod e enrolou os fios ao redor dele com força.
— Então você os conheceu toda a sua vida.
Ele empurrou seu iPod pra dentro do seu bolso da frente.
— Sim.
Imagens do que eu li, e que o Dr. Heller revelou, brilhou na frente dos meus olhos. Joseph precisava de conforto, eu nunca conheci ninguém que precisasse mais, mas eu não podia consolá-lo sobre algo que ele não tinha compartilhado.
— Como era a sua mãe?
Ele olhou para o teto, e depois fechou os olhos, imóvel.
— Demetria…
O ruído de uma chave na porta nos assustou. A luz do quarto estava apagada, com exceção de uma lâmpada fraca de cabeceira. Quando a porta foi aberta, um bloco de luz, preenchido com a silhueta de Selena, que caiu sobre o chão no centro do quarto.
— D, você já está dormindo? — Ela sussurrou, com os olhos ainda se ajustando do corredor brilhante, ou ela teria visto que eu não estava sozinha na cama.
— Hum, não…
Joseph sentou-se e colocou os pés no chão, e eu segui. Sincronismo é tudo, pensei.
Depois de lançar sua bolsa sobre a cama e chutar os sapatos, Selena virou para nós.
— Oh! Hey... Er. Eu acho que eu devo ter alguma roupa que eu preciso lavar... — Ela encolheu os ombros e tirou seu casaco e logo agarrou seu cesto de roupa quase vazio.
— Eu estava de saída. — Joseph se inclinou para puxar suas botas pretas e amarrá-las.
Oh meu Deus, eu sinto muito! Articulou sobre a cabeça dele, Selena era a imagem do remorso.
Dei de ombros e articulei de volta: “Tudo bem”.
Após seguir Joseph pelo corredor, me abracei. Frio após o calor de deitar ao lado dele.
— Amanhã?
Ele fechou sua jaqueta de couro antes de virar para mim, seus lábios apertados. Seus olhos saíram de mim e eu senti a parede entre nós, tarde demais. Nossos olhares se encontraram, ele suspirou.
— É oficialmente férias de Inverno. Nós provavelmente devemos usá-la para fazer uma férias um do outro também.
Tentei fazer um protesto inteligível, mas não tinha certeza do que dizer. Eu só o empurrei para isso, depois de tudo.
— Por quê? — A palavra saiu de mim.
— Você vai viajar. Eu também vou, pelo menos uma semana. Você precisa arrumar as coisas e eu vou ajudar o Charles a publicar as notas finais no próximo dia ou no outro. — Sua justificativa era tão lógica. Não havia parte oculta de emoção que eu pudesse puxar. — Deixe-me saber quando você estiver de volta à cidade. — Ele se inclinou para me beijar rapidamente. — Tchau, Demetria.

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