terça-feira, 2 de abril de 2013

Chapter 24 / Chapter 25


Joe

É a primeira vez que estamos tendo uma conversa civilizada. Agora preciso encontrar um jeito de derrubar essa muralha de defesa que ela ergueu entre nós. Ô cara... Preciso mostrar a ela que tenho sensibilidade. Se Demetria me vir como um cara sensível, e não como um idiota, talvez eu encontre um jeito de chegar até ela. Mas tenho de ser cuidadoso, pois Demetria é desconfiada. É bem capaz de dizer que estou com conversa mole para o lado dela... É bem capaz de não acreditar em mim.
Não sei se estou pensando em agir assim por causa da aposta, do projeto de Química, ou por minha causa, mesmo. Na verdade, não estou a fim de analisar esse lado da questão.
— Meu pai foi assassinado, na minha frente, quando eu tinha seis anos — digo a ela.
Demetria arregala os olhos:
— Sério?
Faço um gesto afirmativo. Não gosto de tocar nesse assunto. Nem sei se devia falar nisso.
Demetria leva as mãos à boca... Mãos de unhas tratadas e perfeitas.
— Eu não sabia... Oh, Deus! Sinto muito! Deve ter sido horrível.
— Foi. — Engraçado... Sinto um certo alívio por ter falado disso em voz alta.
O sorriso nervoso do meu pai se transformou numa expressão de choque, antes dele ser baleado...
Nossa! Mal consigo acreditar... Acabei de me lembrar da expressão do meu pai, naquela hora. Nunca mais eu tinha recordado esse detalhe. Ainda estou confuso e muito surpreso, quando me viro para Demetria e digo:
— Se eu pensar demais no assunto, se deixar que isso me pegue, vou me sentir de novo como no dia em que meu pai morreu. E não quero que isso aconteça. Nunca mais. Então, é melhor esquecer e levar a vida sem me importar com nada.
A expressão de Demetria é puro pesar, tristeza e compaixão. Não sei dizer se ela está fingindo. Seu rosto ainda está contraído, quando ela diz:
— Obrigada por... Bem, você sabe... Por ter me contado. Mas não posso realmente imaginar você como um cara que não se preocupa com nada. Você não pode se programar, não pode se obrigar a ser assim.
— Quer apostar? — De repente, me sinto desesperado para mudar de assunto. — Agora, é sua vez de compartilhar algum segredo comigo.
Demetria desvia os olhos. Não pressiono mais, com medo que ela caia em si e resolva ir embora.
Será que é mais difícil, para ela, compartilhar seus problemas comigo, ou ao menos uma pequena parte deles? Minha vida tem sido tão desgraçada, que é difícil imaginar que a vida dela possa ser pior, em algum sentido. Vejo uma lágrima solitária correr por seu rosto. Uma lágrima que Demetria se apressa a enxugar.
— Minha irmã, Shelley... — ela começa — sofreu uma paralisia cerebral. É deficiente mental. “Retardada” é a palavra que a maioria das pessoas usam, para definir o que ela é. Shelley não anda e só se comunica através de gestos e do que os médicos chamam de “aproximação verbal”, porque não consegue articular as palavras.
Com isso, outras lágrimas escapam... E, dessa vez, Demetria deixa que escorram livremente. Tenho vontade de enxugar essas lágrimas, mas sinto que ela não quer ser tocada, nesse momento.
— Quando minha irmã fica muito irritada, é melhor manter distância pois ela pode agarrar seus cabelos. — Demetria suspira. — Ontem ela puxou os meus, com tanta força, que arrancou um punhado. Então minha cabeça sangrou e minha mãe começou a gritar comigo.
Ah, esta é a explicação para aquela falha de cabelos... Então não foi para fazer algum exame clínico. Pela primeira vez, sinto pena de Demetria. Imaginei que a vida dela fosse um conto de fadas... E que o pior de seus problemas fosse perder o sono por alguma idiotice, tal como achar um caroço no colchão... Agora vejo que não é bem assim.
Alguma coisa está acontecendo. Percebo uma mudança no ar... Uma compreensão correndo entre nós dois. Nunca me senti assim, em minha vida. Eu limpo a garganta e digo:
— Acho que sua mãe explode na sua frente porque sabe que você vai aguentar.
— Provavelmente você está certo. Antes comigo, do que com a minha irmã.
— Mas isso não é desculpa para sua mãe despejar os problemas dela em cima de você. — Estou sendo bem sincero, neste momento, espero que Demetria também esteja. — Escute, não quero continuar bancando o durão com você — eu digo e logo me arrependo. Isso é um pouco demais para o Joe Fuentes Show...
— No fundo, eu entendo seu comportamento — ela diz. — É uma questão de imagem, do que significa ser Joe Fuentes. A atitude é sua marca registrada, seu logotipo... O mexicano perigoso, mortal, gostoso e sexy. Sou perita nessa estória de criar imagem... A que tento passar não é exatamente a da patricinha loura e vazia. Está mais para “a perfeita e intocável” compreende?
Uau! Replay, por favor... Demetria me chamou de gostoso e sexy. Por essa eu não esperava. Talvez ainda tenha uma chance de ganhar aquela aposta idiota.
— Você percebeu que me chamou de gostoso?
— Como se você não soubesse!
Bem, eu não sabia que Demetria Ellis me achava gostoso.
— Eu tenho um namorado, Joe.
— E se não tivesse... Você daria uma chance a este mexicano?
Demetria cora. Seu rosto inteiro assume um tom pink profundo. Será que Colin a faz corar assim?
— Olhe, eu não vou responder essa pergunta. — ela diz.
— Por que não? É tão simples...
— Oh, por favor, nada é muito simples, quando se trata de você, Joe. Não vamos chegar tão longe. — Ela engata a primeira marcha. — Podemos ir, agora?
— Se é isso o que você quer... Está tudo bem, entre nós, não é verdade?
— Acho que sim.
Estendo a mão, num cumprimento. Demetria olha as tatuagens que tenho nos dedos e então a aperta, forte.
— Aos aquecedores de mãos — diz, com um sorriso nos lábios.
— Aos aquecedores de mãos — eu repito. “E ao sexo”, digo, em pensamento. — Quer dirigir? Não conheço o caminho.
Fazemos o trajeto de volta, num silêncio confortável, enquanto o sol se põe. Nossa trégua me coloca mais perto de minhas metas: a esta altura, a aposta... E algo mais, que não estou pronto para admitir.
Enquanto entro com esse carro poderoso no estacionamento da biblioteca, digo:
— Obrigado por... você sabe... bem, por me deixar sequestrar você. Até qualquer hora...
Tiro as chaves do bolso, pensando se algum dia poderei comprar um carro que não esteja enferrujado, usado, ou muito velho. Desço do carro, tiro o retrato de Colin do meu bolso de trás e jogo no assento onde estava sentado, até agora.
— Espere! — Demetria me chama, enquanto me afasto.
Eu me viro... Ela está bem na minha frente.
— O que é?
Demetria sorri, sedutora, como se desejasse algo mais, além de uma trégua. Muito mais... Porra, será que ela vai me beijar? Fui tomado de supresa, coisa que geralmente não me acontece.
Demetria morde o lábio inferior, como se estudasse seu próximo movimento. Estou totalmente a fim de qualquer coisa que venha dela.
Enquanto minha mente passeia por todas as possibilidades, ela chega ainda mais perto... E pega as chaves que trago na mão.
— O que você pensa que está fazendo? — pergunto.
— Dando o troco, por você ter me sequestrado. — Demetria recua alguns passos e, com toda a força de que é capaz, atira minhas chaves no bosque.
— Não... Você não pode ter feito isso.
Ela continua a recuar, me encarando o tempo todo, enquanto se aproxima do carro. — Sem ressentimentos. Vingança é uma merda, não, Joe? — ela diz, contendo o riso.
Chocado, vejo minha parceira de Química entrar no seu BMW. O carro se afasta do estacionamento, sem nenhum solavanco, sem arranques bruscos, sem problemas. Foi uma partida perfeita.
Estou furioso porque terei que rastejar no escuro para encontrar minhas chaves, nesse bosque. Ou ligar para Enrique vir me buscar.
Mas também estou achando a maior graça. Demetria Ellis me deu o troco, direitinho.
— Sim — eu digo a ela, que provavelmente está a quase dois quilômetros de distância e não pode me ouvir. — Vingança é uma merda... ¡Carajo!

Chapter 25

Demetria

O som da respiração pesada de Shelley, ao meu lado, é a primeira coisa que ouço, nesta manhã. Vim ao quarto de minha irmã e me deitei perto dela, durante horas, velando seu sono tranquilo, antes de relaxar e adormecer. Quando eu era muito pequena, corria para cá, nas noites de tempestade... Não para proteger Shelley, mas para que ela me protegesse e confortasse. Eu segurava em sua mão e, de algum modo, meus temores iam desaparecendo.
Vendo minha irmã dormir assim, tão indefesa, não consigo acreditar que meus pais querem mandá-la embora de casa. Shelley é uma parte importante de mim mesma; a ideia de viver sem ela me parece absurda... E muito errada.
Às vezes sinto que Shelley e eu temos uma ligação que poucas pessoas podem entender. Mesmo quando nossos pais não conseguem perceber o que Shelley diz, ou quando não entendem por que ela fica irritada, eu geralmente compreendo.
Por isso fiquei tão arrasada quando ela puxou meu cabelo. Nunca pensei, nunca mesmo, que ela pudesse fazer isso comigo... Mas fez.
— Não vou deixar que eles levem você embora — digo, suavemente, para minha querida irmã, que continua dormindo. — Sempre protegerei você, minha querida.
Salto da cama de Shelley. Se ela acordar, vai logo perceber o quanto estou perturbada. Então, vou para o meu quarto, me apronto e saio de casa.
Confiei em Joe ontem e o céu não desabou sobre minha cabeça... Realmente me senti melhor, depois de contar a ele sobre Shelley. E se eu pude fazer isso com um estranho, com certeza posso tentar me abrir um pouco mais com Selena e Darlene.
Quando estaciono o carro em frente à casa de Selena, começo a pensar em minha vida. As coisas não vão muito bem. Este último ano deveria ser o máximo: fácil e divertido. Mas está sendo tudo, menos isso. Colin vem me pressionando demais; Joe está se tornando mais do que um parceiro de Química; e meus pais querem mandar Shelley para longe de Chicago. O que mais pode acontecer, de errado?
Percebo um movimento na janela do segundo andar da casa de Selena. Vejo primeiro umas pernas e, depois, uma bunda... Oh, Deus, Nick Jonas, tentando apoiar os pés na grade, para descer pelo lado de fora da casa. Nick deve ter me visto, porque Selena aparece na janela, gesticulando e me fazendo sinal para esperar.
Os pés de Nick ainda não se firmaram na grade; Selena está segurando uma de suas mãos. Por fim, Nick parece ter conseguido se apoiar, mas os ramos e flores da trepadeira, que sobe pela grade, o confundem. Ele escorrega e cai no jardim. No entanto, não se machucou; percebo quando ele faz um sinal de “positivo” a Selena, antes de sair correndo.
Será que Colin seria capaz de escalar as paredes de minha casa, para ficar comigo? A porta da casa de Selena se abre, três minutos depois. Ela caminha em minha direção, usando calcinha e camiseta regata.
— Demi, o que está fazendo aqui? São sete da manhã! Você se esqueceu que hoje é dia de reunião de professores e não temos aula?
— Eu sei, mas precisava falar com você. Minha vida está totalmente fora de controle.
— Entre, vamos conversar — diz Selena, abrindo a porta do carro, para que eu desça. — Estou congelando, aqui fora. Oh, por que os verões em Chicago duram tão pouco?
Já dentro da casa, tiro os sapatos para não acordar os pais de Selena.
— Não se preocupe, eles foram para a academia, há uma hora.
— Então, por que Nick escapou pela janela?
— Para manter a relação excitante. — Selena pisca um olho para mim. — Garotos adoram aventuras, você sabe.
Sigo Selena até seu amplo dormitório, decorado em fúcsia e maçã verde, cores escolhidas especialmente para ela, por um decorador que sua mãe, contratou. Eu me atiro na cama, enquanto Selena liga para Darlene:
— Dar, venha até aqui. Demi está em crise.
Darlene, usando pijama e chinelos, chega em poucos minutos, já que ela mora a apenas duas casas de distância, na mesma rua.
— Ok, pode falar — diz Selena, quando nós três já estamos juntas. De repente, com todos os olhares voltados para mim, já não tenho tanta certeza de querer compartilhar o que sinto.
— Na verdade, não é nada...
Darlene endireita os ombros:
— Escute, Demi, você me fez sair da cama às sete da manhã. Agora, lave a roupa suja...
— Isso mesmo — diz Selena. — Nós somos amigas. Se você não puder compartilhar os problemas com suas amigas, então, com quem mais?
Joe Fuentes. Mas eu nunca diria isso a elas.
— Que tal assistirmos a um daqueles filmes antigos? — Selena sugere. — Se Audrey Hepburn não conseguir fazer Demi abrir as comportas, ninguém mais conseguirá.
Darlene resmunga:
— Não acredito que vocês me acordaram por causa de uma crise que não existe e de uns filmes velhos. Meninas, vocês realmente precisam levar a vida mais a sério. O mínimo que podem fazer, agora, é me contar uma fofoca nova... Alguém tem alguma?
Selena nos leva até a sala. E nos acomodamos no sofá.
— Ouvi dizer que Samantha Jacoby foi vista beijando alguém, no banheiro da escola, na terça-feira...
— Nossa! — diz Darlene, nem um pouco impressionada.
— O que não contei ainda é que esse alguém era Chuck, um dos seguranças.
— Ah, agora sim, esta é uma boa fofoca, Selena!
Então é isso que ocorreria, se eu contasse sobre o que me aconteceu, ontem. Seria mesmo o fim: compartilhar meus problemas, para que virassem assunto de fofoca e motivo de riso.
Na sala da casa de Selena, depois de quatro horas, dois filmes e muito sorvete Ben & Jerry’s Confection Connection, estou me sentindo melhor. Talvez tenha sido por conta de Audrey Hepburn, no papel de Sabrina, mas de algum modo sinto que tudo é possível. E isso me faz pensar...
— Meninas, o que vocês acham de Joe Fuentes? — pergunto.
Selena joga uma pipoca na boca.
— O que você quer dizer com o que “nós achamos” dele?
— Não sei — digo, sem conseguir parar de pensar na intensa, inegável atração que existe entre nós. — Joe é meu parceiro de Química.
— E...? — Selena pergunta, gesticulando, como se dissesse: “Onde você pretende chegar?”
Pego o controle remoto e aperto a tecla “pause” interrompendo o filme.
— Ele é gostoso... Isso você tem que reconhecer.
— Ugh, Demi! — diz Darlene, fingindo colocar o dedo na garganta a pra vomitar.
— Ok, Joe é bonito. Mas é também uma pessoa com quem nunca devemos sair. Pois ele pertence a uma gangue, você sabe.
— E lá no colégio ele está sempre alto — Darlene comenta.
— Eu me sento perto de Joe na aula de Química, Darlene... E nunca reparei nisso — digo.
— Está brincando, Demi? Joe se droga antes de ir para a escola, também no banheiro, quando consegue cavar uma brecha, entre uma aula e outra. E não estou falando só de maconha. Ele usa drogas pesadas. — Darlene afirma, como se isso fosse mesmo verdade.
— Você já viu Joe se drogando? — eu a desafio.
— Escute, eu não preciso dormir com Joe para saber que ele bebe e cheira. O cara é perigoso. Além do mais, garotas como nós não devem se misturar com o pessoal da Sangue Latino.
Eu me recosto nas almofadas do sofá.
— Sim, eu sei.
— O Colin ama você — diz Selena, mudando de assunto.
Será? Sinto que o amor é algo bem diferente do que Colin estava querendo me dar, na praia... E eu recusei.
Minha mãe já tentou falar comigo três vezes. Primeiro no meu celular, que desliguei. Mas nem por isso ela desistiu. Já ligou para o fixo de Selena duas vezes.
— Se você não atender, sua mãe acabará vindo aqui — diz Selena, fazendo o telefone balançar entre os dedos.
— Se ela entrar pela porta da frente, saio pela porta dos fundos.
Selena me dá o telefone:
— Vou sair, com Darlene, para deixar você mais à vontade. Não sei o que está acontecendo, mas... Bem, fale com ela.
Pego o telefone:
— Alô, mãe.
— Escute, Demetria, sei que você está chateada. Mas seu pai e chegamos a uma resolução sobre Shelley, ontem à noite. Sei que está sendo difícil para você, mas o fato é que sua irmã tem se mostrado cada vez mais intratável, a cada dia que passa.
— Mãe, Shelley tem vinte e um anos de idade e fica irritada quando as pessoas não conseguem entendê-la. Você não acha que isso é normal?
— Você irá para a faculdade, no próximo ano. Não vejo como continuar mantendo Shelley aqui em casa. Tente enxergar o problema sob a nossa ótica... Deixe de ser egoísta.
Pela tal ótica dos meus pais, Shelley vai ser mandada embora de nossa casa porque eu irei para a faculdade. Conclusão: a culpa é minha.
— O que eu sinto não tem a menor importância — digo. — Vocês vão fazer isso, de qualquer jeito, não é mesmo?
— Sim. Já está resolvido.

~*~

Que lindo, cês comentáram *---*
Continuem comentando e me fazendo feliz, agradeço u-u
E aí amores, ganharam muitos ovos de páscoa?

Answers:

Demetria Devone Lovato: Postei ^^ sim, deve ser incrível!!! Agora fiquei animada em fazer esse curso na facul hahaha bjos
Anônimo: Paciência, gafanhoto u-u tudo ao seu tempo kk
Fã Forever: Agora ambos compartilharam um pouco da história deles hahaha postei (:

2 comentários:

  1. PERFEITO
    tão fofo eles contando os segredo <3
    tadinha da Demi vai ter que ficar longe da irmã
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    Beijos

    Se você ficou animada então faz esse curso sim, porque é uma coisa que você gosta e não tem nada melhor do que fazer uma coisa que você gosta!!

    Obs: só ganhei um ovo de pascoa da minha vó e mais nada nem uma caixa de bombom =(

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  2. Ai sim Ain tadinha da Shelley ... acho q o Joe vai ajudar a Demi POSTA LOGO

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