Era como se tudo naquela saída berrasse para mim
dizendo que ali não era o meu lugar.
As escadas se desfazendo, aquele alvoroço de clientes briguentos, e o ar, uma
mescla de suor, sangue e mofo. As vozes viravam borrões enquanto as pessoas
gritavam números e nomes, num constante vaivém, acotovelando-se para trocar
dinheiro e gesticulando para se comunicar em meio a tanto barulho. Passei
espremida pela multidão, logo atrás da minha melhor amiga.
— Deixe o dinheiro na carteira, Demi! — Selena gritou
para mim.
Seu largo sorriso reluzia mesmo sob aquela fraca
iluminação.
— Fiquem por perto! Vai ficar pior assim que começar!
— Nicholas avisou, bem alto para ser ouvido.
Selena segurou a mão dele e depois a minha, enquanto
Nicholas nos guiava em meio àquele mar de gente.
O som agudo de um megafone cortou o ar repleto de
fumaça. O ruído me deixou alarmada. Tive um sobressalto e comecei a procurar de
onde vinha aquela rajada sonora. Um homem estava em pé sobre uma cadeira de
madeira, com um rolo de dinheiro em uma das mãos e o megafone na outra, colado
à boca.
— Sejam bem-vindos ao banho de sangue! Se estão em
busca de uma aula de economia... estão na merda do lugar errado, meus amigos!
Mas se buscam O Círculo, aqui é a Meca! Meu nome é Adam. Sou eu que faço as
regras e convoco as lutas. As apostas terminam assim que os oponentes estiverem
no chão. Nada de encostar-se aos lutadores, nem ajudar, nem mudar a aposta no
meio da luta, muito menos invadir o ringue. Se quebrarem essas regras, vocês
serão esmagados, espancados e jogados pra fora sem nenhum dinheiro e isso vale
pra vocês também, meninas. Então, não usem suas putinhas para fraudar o
sistema, caras!
Nicholas balançou a cabeça.
— Que é isso, Adam! — ele gritou para o mestre de
cerimônias, em clara desaprovação à escolha de palavras do amigo.
Meu coração batia forte dentro do peito. Com um
cardigã de cashmere cor-de-rosa e brincos de pérola, me sentia uma velha
professora nas praias da Normandia. Eu havia prometido a Selena que conseguiria
lidar com o que quer que acontecesse com a gente, mas, naquele lugar imundo,
senti uma necessidade urgente de agarrar seu braço magro com ambas as mãos. Ela
não me colocaria em perigo, mas estar em um porão com mais ou menos cinquenta
universitários bêbados, sedentos por sangue e dinheiro... Bem, eu não estava
exatamente confiante quanto às nossas chances de sair dali ilesas.
Depois que Selena conheceu Nicholas durante a recepção
aos calouros, com frequência ela o acompanhava às lutas secretas que aconteciam
em diferentes porões da Universidade Eastern. Cada evento era realizado em um
local diferente, que permanecia secreto até exatamente uma hora antes da luta.
Como eu frequentava círculos bem mais comportados, fiquei
surpresa ao tomar conhecimento do submundo da Eastern; mas Nicholas já sabia
daquele mundo antes mesmo de ter se juntado a ele. Joseph, o primo e colega de
quarto dele, participara de sua primeira luta sete meses atrás. Como calouro,
os rumores diziam que ele era o competidor mais letal que Adam tinha visto nos
três anos desde a criação do Círculo. Quando começou o segundo ano, Joseph era imbatível.
Juntos, ele e Nicholas pagavam o aluguel e as contas com o que ganhavam nas
lutas, fácil, fácil.
Adam levou o megafone à boca de novo, e os gritos e
movimentos aumentaram em um ritmo febril.
— Nesta noite temos um novo desafiante! O lutador de
luta livre e astro da Bastem, Marek Young!
Seguiram-se aplausos e gritos eufóricos da torcida. A
multidão se partiu como o mar Vermelho quando Marek entrou na sala. Formou-se
um círculo, como uma clareira, e a galera assobiava, vaiava e zombava do
concorrente. Ele deu uns pulinhos para se preparar e girou o pescoço de um lado
para o outro; o rosto estava sério e compenetrado. A multidão se aquietou, só
restando um rugido abafado. Levantei as mãos depressa para tampar os ouvidos
quando a música começou a retumbar, altíssima, nos grandes alto-falantes do
outro lado da sala.
— Nosso próximo lutador dispensa apresentações,
mas, como eu morro de medo dele, vou apresentar o cara mesmo assim! Tremam nas
bases, rapazes, e fiquem de quatro, meninas! Com vocês, Joseph “Cachorro Louco”
Jonas!
Houve uma explosão de sons quando Joseph apareceu
do outro lado da sala, sem camisa, relaxado e confiante. Foi caminhando a
passos largos até o centro do círculo, como se estivesse se apresentando para
mais um dia de trabalho. Com os músculos firmes estirados sob a pele tatuada,
cumprimentou Marek, estalando os punhos cerrados nos nós dos dedos do oponente.
Joseph se inclinou para frente e sussurrou algo no ouvido de Marek, que fez um
grande esforço para manter a expressão austera. Ele estava muito próximo de
Joseph, pronto para o combate. Os dois se encaravam. A expressão de Marek era
assassina; Joseph parecia achar um pouco de graça em tudo aquilo.
Os adversários deram uns passos para trás, e Adam
fez o som que dava início à luta. Marek assumiu uma postura defensiva e Joseph
partiu para o ataque. Fiquei na ponta dos pés quando perdi a linha de visão,
apoiando-me em quem quer que fosse para conseguir enxergar melhor o que estava
acontecendo. Consegui ver alguns centímetros acima, deslizando por entre a
multidão que gritava. Cotovelos golpeavam as laterais do meu corpo e ombros
esbarravam em mim, fazendo com que eu ricocheteasse de um lado para o outro,
como uma bolinha de pinball. Quando consegui ver o topo da cabeça de Marek e
Joseph, continuei abrindo caminho na base do empurrão.
Quando enfim cheguei lá na frente, Marek tinha
agarrado Joseph com seus braços grossos e tentava jogá-lo no chão. Quando ele
se inclinou para fazer esse movimento, Joseph deu uma joelhada no rosto de
Marek. Antes que ele pudesse se recuperar, Joseph o atacou — repetidas vezes,
os punhos cerrados socavam o rosto ensanguentado de Marek.
Senti cinco dedos se afundarem em meu braço e
virei à cabeça para ver quem era.
— Que diabos você está fazendo aqui, Demi? — disse
Nicholas.
— Não consigo ver nada lá de trás!— gritei em
resposta.
E então me virei bem a tempo de ver Marek tentar
acenar Joseph com um soco poderoso, ao que este se virou. Por um instante,
achei que ele tinha desviado de outro golpe, mas ele fez um círculo completo e
esmagou com o cotovelo o nariz do adversário. Cotas de sangue borrifaram o meu
rosto e se espalharam no meu cardigã. Marek caiu no chão de cimento com um som
oco, e, por um breve momento, a sala ficou totalmente em silêncio.
Adam jogou um quadrado de pano vermelho sobre o
corpo caído de Marek, e a multidão explodiu. O dinheiro mudou de mãos
novamente, e as expressões se dividiam entre orgulhosos e frustrados.
Fui empurrada com todo aquele movimento de gente
indo e vindo. Selena gritou meu nome de algum lugar lá atrás, mas eu estava
hipnotizada pela trilha vermelha que ia do meu peito até a cintura.
Um pesado par de botas pretas parou diante de mim,
desviando minha atenção para o chão. Meus olhos foram se voltando para cima:
jeans manchado de sangue, músculos abdominais bem definidos, um peito tatuado
ensopado de suor e, finalmente, um par de cálidos olhos castanhos. Fui empurrada,
mas Joseph me segurou pelo braço antes que eu caísse.
— Ei! Cuidado com ela! — ele franziu a testa,
enxotando qualquer um que chegasse perto de mim.
A expressão séria se derreteu em um sorriso quando
ele viu minha blusa. Limpando meu rosto com uma toalha, ele me disse:
— Desculpe por isso, Beija-Flor.
Adam deu uns tapinhas na nuca de Joseph.
— Vamos lá, Cachorro Louco! Tem uma galera
esperando por você!
Os olhos dele não se desviaram dos meus.
— Uma pena ter manchado seu suéter. Fica tão bem
em você...
No instante seguinte, ele foi engolfado pelos fãs,
desaparecendo da mesma maneira como tinha aparecido.
— No que você estava pensando, sua imbecil? —
gritou Selena, me puxando pelo braço.
— Vim até aqui para ver uma luta, não foi? —
respondi, sorrindo.
— Você nem devia estar aqui, Demi — disse Nicholas
em tom de bronca.
— Nem a Selena — retruquei.
— Mas ela não tenta pular dentro do círculo! —
disse ele, franzindo a testa. —Vamos!
Selena sorriu para mim e limpou meu rosto.
— Você é um pé no saco, Demi, mas mesmo assim eu
te amo!
Ela me abraçou e fomos embora.
Selena me acompanhou até o quarto, no dormitório
da faculdade, e olhou com desprezo para minha colega, Kara. Imediatamente tirei
o cardigã e o joguei no cesto de roupa suja.
— Que nojo! Por onde você andou? — Kara perguntou,
sem sair da cama.
Olhei para Selena, que deu de ombros.
— Sangramento de nariz. Você nunca viu os famosos
sangramentos de nariz da Demi?
Kara ajeitou os óculos e balançou a cabeça em
negativa.
— Ah, então vai ver — ela disse, dando uma
piscadela para mim e fechando a porta depois de sair. Nem um minuto tinha se
passado e ouvi o som indicando uma mensagem de texto no meu celular. Como de
costume, era Selena me enviando uma mensagem segundos depois de nos
despedirmos.
“vou ficar com o Nick te vejo amanhã
rainha do ringue”
Dei uma espiada em Kara, que me
olhava como se sangue fosse jorrar do meu nariz a qualquer instante.
— Ela estava brincando — falei.
Kara assentiu com indiferença e
depois baixou o olhar para a bagunça de livros espalhados na cama.
— Acho que vou tomar um banho —
falei, pegando uma toalha e meu necessaire.
— Vou avisar os jornais — ela
respondeu, sem emoção alguma na voz e mantendo a cabeça baixa.
***
No dia seguinte, fui almoçar com
Nicholas e Selena. Eu queria ficar sozinha, mas, conforme os alunos foram
entrando no refeitório, as cadeiras à minha
volta foram ficando cheias de amigos da fraternidade do Nicholas e de membros
do time de futebol americano. Alguns estavam na luta, mas ninguém mencionou
minha experiência na beira do ringue.
— Nick — disse alguém que passava.
Nicholas assentiu, e tanto Selena quanto eu nos
viramos e vimos Joseph se sentando em um lugar na ponta oposta da mesa. Duas
voluptuosas loiras tingidas com camiseta da Sigma Kappa o acompanhavam. Uma
delas se sentou no colo dele, e a outra lhe acariciava a camisa.
— Acho que acabei de vomitar um pouquinho — murmurou
Selena.
A loira que estava no colo do Joseph se virou para
ela:
— Eu ouvi o que você disse, piranha.
Selena pegou um pãozinho e o jogou, errando por muito
pouco o rosto da garota. Antes que a loira pudesse dizer mais alguma coisa,
Joseph abriu as pernas e a garota caiu no chão.
— Ai! — disse ela em um grito agudo, erguendo o olhar
para Joseph.
— A Selena é minha amiga. Você precisa encontrar
outro colo pra se sentar, Lex.
— Joseph! — ela reclamou, esforçando-se para ficar em
pé.
Ele voltou à atenção para o prato, ignorando a garota,
que olhou para a irmã e bufou de raiva. As duas foram embora de mãos dadas.
Joseph deu uma piscadela para Selena e, como se nada
tivesse acontecido, enfiou mais uma garfada na boca. Foi aí que notei um
pequeno corte na sobrancelha dele. Ele e Nicholas trocaram olhares de relance,
e então ele começou uma conversa com um dos caras do futebol do outro lado da
mesa.
Embora a quantidade de pessoas à mesa tivesse
diminuído, Selena, Nicholas e eu ficamos lá ainda um tempo para discutir nossos
planos para o fim de semana. Joseph se levantou como se fosse embora, mas parou
na nossa ponta da mesa.
— Que foi? — Nicholas perguntou em voz alta, colocando
a mão perto do ouvido.
Tentei ignorá-lo quanto pude, mas, quando ergui o
olhar, Joseph estava me encarando.
— Você conhece ela, Joe. A melhor amiga da Selena,
lembra? Ela estava com a gente na outra noite — disse Nicholas.
Joseph sorriu para mim, no que presumi ser sua
expressão mais charmosa. Ele transbordava sexo e rebeldia, com aqueles
antebraços tatuados e os cabelos castanhos cortados bem rente à cabeça. Revirei
os olhos à sua tentativa de me seduzir.
— Desde quando você tem uma melhor amiga, Sel? —
perguntou Joseph.
— Desde o penúltimo ano da escola — ela respondeu,
pressionando os lábios enquanto sorria na minha direção. — Você não lembra, Joseph?
Você destruiu o suéter dela.
Ele sorriu.
— Eu destruo muitos suéteres.
— Que nojo - murmurei.
Joseph girou a cadeira vazia que estava ao meu
lado e se sentou, descansando os braços à sua frente.
— Então você é a Beija-Flor, né?
— Não — respondi com raiva —, eu tenho nome.
Ele parecia se divertir com a forma como eu o
encarava, o que só servia para me deixar mais irritada.
— Tá. E qual é seu nome? — ele me perguntou.
Dei uma mordida no que tinha sobrado da maçã no
meu prato, ignorando-o.
— Então vai ser Beija-Flor — disse ele, dando de
ombros.
Ergui o olhar de relance para a Selena, depois me
virei para o Joseph:
— Estou tentando comer.
Ele topou o desafio que apresentei.
— Meu nome é Joseph. Joseph Jonas.
Revirei os olhos.
— Sei quem você é.
— Sabe, é? — ele falou, erguendo a sobrancelha
ferida.
— Não seja tão convencido. É difícil não perceber
quando cinquenta bêbados entoam seu nome.
Joseph se endireitou na cadeira, ficando um
pouquinho mais alto.
— Isso acontece muito comigo.
Revirei os olhos de novo e ele deu uma risadinha
abafada.
— Você tem um tique?
— Um quê?
— Um tique. Seus olhos ficam se revirando.
Joseph riu de novo quando olhei com ódio para ele.
— Mas são olhos incríveis — ele disse,
inclinando-se e ficando a pouquíssimos centímetros do meu rosto. — De que cor
eles são? Cinza?
Baixei o olhar para o prato, criando uma espécie
de cortina entre a gente com as longas mechas do meu cabelo. Eu
não gostava da forma como ele me fazia sentir quando estava tão perto. Não
queria ser como as outras milhares de garotas da Eastern, que ficavam
ruborizadas na presença dele. Não queria que ele mexesse comigo daquele jeito.
De jeito nenhum.
— Nem pense nisso, Joseph. Ela é como uma irmã pra
mim — Selena avisou.
— Baby — Nicholas disse a ela —, você acabou de
lhe dizer não. Agora é que ele não vai parar.
— Você não faz o tipo dela — Selena disse, mudando
de estratégia.
Joseph se fez de ofendido.
— Eu faço o tipo de todas!
Lancei um olhar para ele e sorri.
— Ah! Um sorriso. Não sou um canalha completo no
fim das contas — ele disse e piscou. — Foi um prazer conhecer você, Flor.
E, dando a volta na mesa, ele se inclinou para
dizer algo no ouvido de Selena.
Nicholas jogou uma batata frita no primo.
— Tire a boca da orelha da minha garota, Joe!
— Conexões! Estou criando conexões — Joseph foi
andando de costas, com as mãos para cima em um gesto inocente.
Algumas garotas o seguiram, dando risadinhas e
passando os dedos nos cabelos na tentativa de chamar sua atenção. Ele abriu a
porta para elas, que quase gritaram de prazer.
Selena deu risada.
— Ah, não. Você está numa enrascada, Demi.
— O que foi que ele disse? — perguntei, temerosa.
— Ele quer que você leve a Demi ao nosso apartamento,
não é? — disse Nicholas.
Selena confirmou com um sinal de cabeça e ele
negou com outro.
— Você é uma garota inteligente, Demi. Estou te
avisando. Se você cair no papo dele e depois acabar ficando brava, não venha
descontar em mim e na Selena, certo?
Eu sorri e disse:
— Não vou cair na dele, Nick. Você acha que eu
pareço uma daquelas Barbies gêmeas?
— Ela não vai cair na dele — Selena confirmou,
tranquilizando Nick e encostando no braço dele.
— Não é a primeira vez que passo por uma dessas,
Sel. Você sabe quantas vezes ele ferrou as coisas pro meu lado por causa de
transas de uma noite com a melhor amiga da minha namorada? De repente, vira
conflito de interesse sair comigo, porque seria confraternizar com o inimigo!
Estou te falando, Demi — ele olhou para mim. — Não venha me dizer depois que a
Sel não pode ir no meu apartamento nem ser minha namorada porque você caiu no
papo do Joe. Considere-se avisada.
— Desnecessário, mas obrigada — respondi.
Tentei tranquilizar Nicholas com um sorriso, mas o
pessimismo dele era resultado de muitos anos de prejuízo por causa do Joseph.
Selena se despediu de mim com um aceno, saindo com
Nicholas enquanto eu seguia para a aula da tarde. Apertei os olhos para
enxergar sob o sol brilhante, segurando com força as tiras da mochila. A
Eastern era exatamente o que eu esperava, desde as salas de aula menores até os
rostos desconhecidos. Era um novo começo para mim. Finalmente eu podia andar em
algum lugar sem os sussurros daqueles que sabiam — ou achavam que sabiam —
alguma coisa do meu passado. Eu era tão comum quanto qualquer outra caloura
ingênua e estudiosa, sem ninguém para me encarar, sem boatos, nada de pena ou
julgamento. Apenas a ilusão do que eu queria que vissem: a Demi Lovato que
vestia cashmere sem nenhum resquício de insensatez.
Coloquei a mochila no chão e desabei na cadeira, me
curvando para pegar o laptop na mochila. Quando ergui a cabeça para colocá-lo
na mesa, Joseph se sentou sorrateiramente na carteira ao lado.
— Que bom. Você pode tomar notas pra mim — disse ele,
mordendo uma caneta e sorrindo, sem dúvida com o máximo de seu charme.
Meu olhar para ele foi de desprezo.
— Você nem está matriculado nessa aula...
— Claro que estou! Geralmente eu sento lá — disse ele,
apontando com a cabeça para a última fileira.
Um pequeno grupo de garotas estava me encarando, e
percebi que havia uma cadeira vazia bem no meio delas.
— Não vou anotar nada pra você — eu disse, ligando o
computador. Joseph se inclinou tão perto de mim que eu podia sentir sua
respiração na minha bochecha.
— Me desculpa... Ofendi você de alguma maneira?
Soltei um suspiro e fiz que não com a cabeça.
— Então qual é o problema?
Mantive o tom de voz baixo.
— Não vou transar com você. Pode desistir.
Um lento sorriso se formou em seu rosto antes de ele
se pronunciar.
— Não pedi para você transar comigo — pensativo,
os olhos dele se voltaram para o teto —, ou pedi?
— Não sou uma dessas Barbies gêmeas nem uma de
suas fãs ali — respondi, olhando de relance para as garotas atrás de nós. — Não
estou impressionada com as suas tatuagens, nem com o seu charme de garotinho,
nem com a sua indiferença forçada, então pode parar com as gracinhas, ok?
— Ok, Beija-Flor.
Ele ficou impassível diante da minha atitude rude,
de um jeito que me enfureceu.
— Por que você não passa lá no meu apê com a
Selena hoje à noite?
Olhei com desdém para ele, que se aproximou ainda
mais.
— Não estou tentando te comer. Só quero passar um
tempo com você.
— Me comer? Como você consegue fazer sexo falando
assim?
Joseph caiu na gargalhada, balançando a cabeça.
— Só vem, tá? Não vou nem te paquerar, prometo.
— Vou pensar
O professor Chaney entrou a passos largos, e
Joseph voltou à atenção para frente da sala. Resquícios de um sorriso
permaneciam em seu rosto, tomando mais nítida a covinha da bochecha. Quanto
mais ele sorria, mais eu queria odiá-lo, e no entanto era esse o motivo pelo
qual odiá-lo era impossível.
— Quem sabe me dizer que presidente teve uma
esposa vesga e feia de doer? — perguntou Chaney.
— Anota isso — sussurrou Joseph. — Vou precisar
saber disso pra usar nas entrevistas de emprego.
— Shhh — falei, digitando cada palavra dita pelo
professor.
Joseph abriu um largo sorriso e relaxou na
cadeira. Conforme a hora passava, ele alternava entre bocejar e se apoiar no
meu braço para dar uma olhada no monitor do meu laptop. Eu me concentrei, me
esforcei para ignorá-lo, mas a proximidade dele e aqueles músculos saltando de
seu braço tornavam a tarefa difícil. Ele ficou mexendo na faixa de couro preta
que tinha em volta do pulso até que Chaney nos dispensou.
Eu me apressei porta afora e atravessei o
corredor. Justo quando tive certeza de que estava a uma distância segura,
Joseph Jonas apareceu ao meu lado.
— Já pensou no assunto? — ele quis saber,
colocando os óculos de sol.
Uma morena baixinha parou à nossa frente, ingênua
e cheia de esperança.
— Oi, Joseph — ela disse em um tom cantado e
brincando com os cabelos.
Parei, exasperada com o tom meloso dela, e então
desviei da garota, que eu já tinha visto antes, conversando de maneira normal na
área comum do dormitório das meninas, o Morgan Hall. O tom que ela usava lá
soava muito mais maduro, e fiquei me perguntando por que ela acharia que a voz
de uma criancinha seria atraente para Joseph. Ela continuou tagarelando uma
oitava acima por mais um tempo, até que ele estava ao meu lado de novo.
Puxando um isqueiro do bolso, ele acendeu um
cigarro e soprou uma espessa nuvem de fumaça.
— Onde eu estava? Ah, é... você estava pensando.
Fiz uma careta.
— Do que você está falando?
— Já pensou se vai dar uma passada lá em casa
hoje?
— Se eu disser que vou, você para de me seguir?
Ele ponderou sobre a minha condição e então
assentiu.
— Sim.
— Então eu vou.
— Quando?
Soltei um suspiro.
— Hoje à noite. Vou passar lá hoje à noite.
Joseph sorriu e parou de andar por um instante.
— Legal. A gente se vê depois então, Flor — ele me
disse.
Virei uma esquina e vi Selena parada com Finch do
lado de fora do nosso dormitório. Nós três acabamos ficando na mesma mesa
durante a orientação aos calouros, e eu soube na hora que ele seria o
providencial terceiro elemento da nossa amizade. Ele não era muito alto, mas
passava bem dos meus 1,62 metro. Os olhos redondos equilibravam as feições
longas e esguias, e os cabelos descoloridos geralmente estavam espetados na
parte da frente.
— Joseph Jonas? Meu Deus, Demi, desde quando você
começou a pescar nas profundezas do oceano? — Finch perguntou, com um olhar de
desaprovação.
Selena puxou o chiclete da boca, fazendo um fio
bem longo.
— Você só está piorando as coisas ao rejeitar o
cara. Ele não está acostumado com isso.
— O que você sugere que eu faça? Durma com ele?
Selena deu de ombros.
— Vai poupar tempo.
— Eu disse pra ele que vou lá hoje à noite.
Finch e Selena trocaram olhares de relance.
— Que foi? Ele prometeu parar de me encher se eu
dissesse que ia. Você vai lá hoje à noite, não é?
— É, vou — disse Selena. — Você vem mesmo?
Sorri e fui andando. Passei por eles e entrei no
dormitório, me perguntando se Joseph cumpriria a promessa de não flertar comigo.
Não era difícil sacar qual era a dele: ou ele me via como um desafio, ou como
sem graça o bastante para ser apenas uma boa amiga. Eu não tinha certeza de
qual das alternativas me incomodava mais.
~*~
Postei hoje, porque essa semana vai estar muito complicada pra mim.
Vou ter prova todos os dias :/
Mas fiquem ligados que mesmo assim vou postar, só não sei o dia específico.
Fico feliz que tenham gostado do banner *-*
Fiz uns 4 banners, mas esse ficou melhor do que os outros kkk
Obrigada, amores!
COMENTEM <3
Nenhum comentário:
Postar um comentário