domingo, 19 de maio de 2013

Capítulo 1 – Sinal de Alerta (Parte 1/2)

Era como se tudo naquela saída berrasse para mim dizendo que ali não era o meu lugar. As escadas se desfazendo, aquele alvoroço de clientes briguentos, e o ar, uma mescla de suor, sangue e mofo. As vozes viravam borrões enquanto as pessoas gritavam números e nomes, num constante vaivém, acotovelando-se para trocar dinheiro e gesticulando para se comunicar em meio a tanto barulho. Passei espremida pela multidão, logo atrás da minha melhor amiga.
— Deixe o dinheiro na carteira, Demi! — Selena gritou para mim.
Seu largo sorriso reluzia mesmo sob aquela fraca iluminação.
— Fiquem por perto! Vai ficar pior assim que começar! — Nicholas avisou, bem alto para ser ouvido.
Selena segurou a mão dele e depois a minha, enquanto Nicholas nos guiava em meio àquele mar de gente.
O som agudo de um megafone cortou o ar repleto de fumaça. O ruído me deixou alarmada. Tive um sobressalto e comecei a procurar de onde vinha aquela rajada sonora. Um homem estava em pé sobre uma cadeira de madeira, com um rolo de dinheiro em uma das mãos e o megafone na outra, colado à boca.
— Sejam bem-vindos ao banho de sangue! Se estão em busca de uma aula de economia... estão na merda do lugar errado, meus amigos! Mas se buscam O Círculo, aqui é a Meca! Meu nome é Adam. Sou eu que faço as regras e convoco as lutas. As apostas terminam assim que os oponentes estiverem no chão. Nada de encostar-se aos lutadores, nem ajudar, nem mudar a aposta no meio da luta, muito menos invadir o ringue. Se quebrarem essas regras, vocês serão esmagados, espancados e jogados pra fora sem nenhum dinheiro e isso vale pra vocês também, meninas. Então, não usem suas putinhas para fraudar o sistema, caras!
Nicholas balançou a cabeça.
— Que é isso, Adam! — ele gritou para o mestre de cerimônias, em clara desaprovação à escolha de palavras do amigo.
Meu coração batia forte dentro do peito. Com um cardigã de cashmere cor-de-rosa e brincos de pérola, me sentia uma velha professora nas praias da Normandia. Eu havia prometido a Selena que conseguiria lidar com o que quer que acontecesse com a gente, mas, naquele lugar imundo, senti uma necessidade urgente de agarrar seu braço magro com ambas as mãos. Ela não me colocaria em perigo, mas estar em um porão com mais ou menos cinquenta universitários bêbados, sedentos por sangue e dinheiro... Bem, eu não estava exatamente confiante quanto às nossas chances de sair dali ilesas.
Depois que Selena conheceu Nicholas durante a recepção aos calouros, com frequência ela o acompanhava às lutas secretas que aconteciam em diferentes porões da Universidade Eastern. Cada evento era realizado em um local diferente, que permanecia secreto até exatamente uma hora antes da luta.
Como eu frequentava círculos bem mais comportados, fiquei surpresa ao tomar conhecimento do submundo da Eastern; mas Nicholas já sabia daquele mundo antes mesmo de ter se juntado a ele. Joseph, o primo e colega de quarto dele, participara de sua primeira luta sete meses atrás. Como calouro, os rumores diziam que ele era o competidor mais letal que Adam tinha visto nos três anos desde a criação do Círculo. Quando começou o segundo ano, Joseph era imbatível. Juntos, ele e Nicholas pagavam o aluguel e as contas com o que ganhavam nas lutas, fácil, fácil.
Adam levou o megafone à boca de novo, e os gritos e movimentos aumentaram em um ritmo febril.
— Nesta noite temos um novo desafiante! O lutador de luta livre e astro da Bastem, Marek Young!
Seguiram-se aplausos e gritos eufóricos da torcida. A multidão se partiu como o mar Vermelho quando Marek entrou na sala. Formou-se um círculo, como uma clareira, e a galera assobiava, vaiava e zombava do concorrente. Ele deu uns pulinhos para se preparar e girou o pescoço de um lado para o outro; o rosto estava sério e compenetrado. A multidão se aquietou, só restando um rugido abafado. Levantei as mãos depressa para tampar os ouvidos quando a música começou a retumbar, altíssima, nos grandes alto-falantes do outro lado da sala.
— Nosso próximo lutador dispensa apresentações, mas, como eu morro de medo dele, vou apresentar o cara mesmo assim! Tremam nas bases, rapazes, e fiquem de quatro, meninas! Com vocês, Joseph “Cachorro Louco” Jonas!
Houve uma explosão de sons quando Joseph apareceu do outro lado da sala, sem camisa, relaxado e confiante. Foi caminhando a passos largos até o centro do círculo, como se estivesse se apresentando para mais um dia de trabalho. Com os músculos firmes estirados sob a pele tatuada, cumprimentou Marek, estalando os punhos cerrados nos nós dos dedos do oponente. Joseph se inclinou para frente e sussurrou algo no ouvido de Marek, que fez um grande esforço para manter a expressão austera. Ele estava muito próximo de Joseph, pronto para o combate. Os dois se encaravam. A expressão de Marek era assassina; Joseph parecia achar um pouco de graça em tudo aquilo.
Os adversários deram uns passos para trás, e Adam fez o som que dava início à luta. Marek assumiu uma postura defensiva e Joseph partiu para o ataque. Fiquei na ponta dos pés quando perdi a linha de visão, apoiando-me em quem quer que fosse para conseguir enxergar melhor o que estava acontecendo. Consegui ver alguns centímetros acima, deslizando por entre a multidão que gritava. Cotovelos golpeavam as laterais do meu corpo e ombros esbarravam em mim, fazendo com que eu ricocheteasse de um lado para o outro, como uma bolinha de pinball. Quando consegui ver o topo da cabeça de Marek e Joseph, continuei abrindo caminho na base do empurrão.
Quando enfim cheguei lá na frente, Marek tinha agarrado Joseph com seus braços grossos e tentava jogá-lo no chão. Quando ele se inclinou para fazer esse movimento, Joseph deu uma joelhada no rosto de Marek. Antes que ele pudesse se recuperar, Joseph o atacou — repetidas vezes, os punhos cerrados socavam o rosto ensanguentado de Marek.
Senti cinco dedos se afundarem em meu braço e virei à cabeça para ver quem era.
— Que diabos você está fazendo aqui, Demi? — disse Nicholas.
— Não consigo ver nada lá de trás!— gritei em resposta.
E então me virei bem a tempo de ver Marek tentar acenar Joseph com um soco poderoso, ao que este se virou. Por um instante, achei que ele tinha desviado de outro golpe, mas ele fez um círculo completo e esmagou com o cotovelo o nariz do adversário. Cotas de sangue borrifaram o meu rosto e se espalharam no meu cardigã. Marek caiu no chão de cimento com um som oco, e, por um breve momento, a sala ficou totalmente em silêncio.
Adam jogou um quadrado de pano vermelho sobre o corpo caído de Marek, e a multidão explodiu. O dinheiro mudou de mãos novamente, e as expressões se dividiam entre orgulhosos e frustrados.
Fui empurrada com todo aquele movimento de gente indo e vindo. Selena gritou meu nome de algum lugar lá atrás, mas eu estava hipnotizada pela trilha vermelha que ia do meu peito até a cintura.
Um pesado par de botas pretas parou diante de mim, desviando minha atenção para o chão. Meus olhos foram se voltando para cima: jeans manchado de sangue, músculos abdominais bem definidos, um peito tatuado ensopado de suor e, finalmente, um par de cálidos olhos castanhos. Fui empurrada, mas Joseph me segurou pelo braço antes que eu caísse.
— Ei! Cuidado com ela! — ele franziu a testa, enxotando qualquer um que chegasse perto de mim.
A expressão séria se derreteu em um sorriso quando ele viu minha blusa. Limpando meu rosto com uma toalha, ele me disse:
— Desculpe por isso, Beija-Flor.
Adam deu uns tapinhas na nuca de Joseph.
— Vamos lá, Cachorro Louco! Tem uma galera esperando por você!
Os olhos dele não se desviaram dos meus.
— Uma pena ter manchado seu suéter. Fica tão bem em você...
No instante seguinte, ele foi engolfado pelos fãs, desaparecendo da mesma maneira como tinha aparecido.
— No que você estava pensando, sua imbecil? — gritou Selena, me puxando pelo braço.
— Vim até aqui para ver uma luta, não foi? — respondi, sorrindo.
— Você nem devia estar aqui, Demi — disse Nicholas em tom de bronca.
— Nem a Selena — retruquei.
— Mas ela não tenta pular dentro do círculo! — disse ele, franzindo a testa. —Vamos!
Selena sorriu para mim e limpou meu rosto.
— Você é um pé no saco, Demi, mas mesmo assim eu te amo!
Ela me abraçou e fomos embora.
Selena me acompanhou até o quarto, no dormitório da faculdade, e olhou com desprezo para minha colega, Kara. Imediatamente tirei o cardigã e o joguei no cesto de roupa suja.
— Que nojo! Por onde você andou? — Kara perguntou, sem sair da cama.
Olhei para Selena, que deu de ombros.
— Sangramento de nariz. Você nunca viu os famosos sangramentos de nariz da Demi?
Kara ajeitou os óculos e balançou a cabeça em negativa.
— Ah, então vai ver — ela disse, dando uma piscadela para mim e fechando a porta depois de sair. Nem um minuto tinha se passado e ouvi o som indicando uma mensagem de texto no meu celular. Como de costume, era Selena me enviando uma mensagem segundos depois de nos despedirmos.
“vou ficar com o Nick te vejo amanhã rainha do ringue”
Dei uma espiada em Kara, que me olhava como se sangue fosse jorrar do meu nariz a qualquer instante.
— Ela estava brincando — falei.
Kara assentiu com indiferença e depois baixou o olhar para a bagunça de livros espalhados na cama.
— Acho que vou tomar um banho — falei, pegando uma toalha e meu necessaire.
— Vou avisar os jornais — ela respondeu, sem emoção alguma na voz e mantendo a cabeça baixa.

***

No dia seguinte, fui almoçar com Nicholas e Selena. Eu queria ficar sozinha, mas, conforme os alunos foram entrando no refeitório, as cadeiras à minha volta foram ficando cheias de amigos da fraternidade do Nicholas e de membros do time de futebol americano. Alguns estavam na luta, mas ninguém mencionou minha experiência na beira do ringue.
— Nick — disse alguém que passava.
Nicholas assentiu, e tanto Selena quanto eu nos viramos e vimos Joseph se sentando em um lugar na ponta oposta da mesa. Duas voluptuosas loiras tingidas com camiseta da Sigma Kappa o acompanhavam. Uma delas se sentou no colo dele, e a outra lhe acariciava a camisa.
— Acho que acabei de vomitar um pouquinho — murmurou Selena.
A loira que estava no colo do Joseph se virou para ela:
— Eu ouvi o que você disse, piranha.
Selena pegou um pãozinho e o jogou, errando por muito pouco o rosto da garota. Antes que a loira pudesse dizer mais alguma coisa, Joseph abriu as pernas e a garota caiu no chão.
— Ai! — disse ela em um grito agudo, erguendo o olhar para Joseph.
— A Selena é minha amiga. Você precisa encontrar outro colo pra se sentar, Lex.
— Joseph! — ela reclamou, esforçando-se para ficar em pé.
Ele voltou à atenção para o prato, ignorando a garota, que olhou para a irmã e bufou de raiva. As duas foram embora de mãos dadas.
Joseph deu uma piscadela para Selena e, como se nada tivesse acontecido, enfiou mais uma garfada na boca. Foi aí que notei um pequeno corte na sobrancelha dele. Ele e Nicholas trocaram olhares de relance, e então ele começou uma conversa com um dos caras do futebol do outro lado da mesa.
Embora a quantidade de pessoas à mesa tivesse diminuído, Selena, Nicholas e eu ficamos lá ainda um tempo para discutir nossos planos para o fim de semana. Joseph se levantou como se fosse embora, mas parou na nossa ponta da mesa.
— Que foi? — Nicholas perguntou em voz alta, colocando a mão perto do ouvido.
Tentei ignorá-lo quanto pude, mas, quando ergui o olhar, Joseph estava me encarando.
— Você conhece ela, Joe. A melhor amiga da Selena, lembra? Ela estava com a gente na outra noite — disse Nicholas.
Joseph sorriu para mim, no que presumi ser sua expressão mais charmosa. Ele transbordava sexo e rebeldia, com aqueles antebraços tatuados e os cabelos castanhos cortados bem rente à cabeça. Revirei os olhos à sua tentativa de me seduzir.
— Desde quando você tem uma melhor amiga, Sel? — perguntou Joseph.
— Desde o penúltimo ano da escola — ela respondeu, pressionando os lábios enquanto sorria na minha direção. — Você não lembra, Joseph? Você destruiu o suéter dela.
Ele sorriu.
— Eu destruo muitos suéteres.
— Que nojo - murmurei.
Joseph girou a cadeira vazia que estava ao meu lado e se sentou, descansando os braços à sua frente.
— Então você é a Beija-Flor, né?
— Não — respondi com raiva —, eu tenho nome.
Ele parecia se divertir com a forma como eu o encarava, o que só servia para me deixar mais irritada.
— Tá. E qual é seu nome? — ele me perguntou.
Dei uma mordida no que tinha sobrado da maçã no meu prato, ignorando-o.
— Então vai ser Beija-Flor — disse ele, dando de ombros.
Ergui o olhar de relance para a Selena, depois me virei para o Joseph:
— Estou tentando comer.
Ele topou o desafio que apresentei.
— Meu nome é Joseph. Joseph Jonas.
Revirei os olhos.
— Sei quem você é.
— Sabe, é? — ele falou, erguendo a sobrancelha ferida.
— Não seja tão convencido. É difícil não perceber quando cinquenta bêbados entoam seu nome.
Joseph se endireitou na cadeira, ficando um pouquinho mais alto.
— Isso acontece muito comigo.
Revirei os olhos de novo e ele deu uma risadinha abafada.
— Você tem um tique?
— Um quê?
— Um tique. Seus olhos ficam se revirando.
Joseph riu de novo quando olhei com ódio para ele.
— Mas são olhos incríveis — ele disse, inclinando-se e ficando a pouquíssimos centímetros do meu rosto. — De que cor eles são? Cinza?
Baixei o olhar para o prato, criando uma espécie de cortina entre a gente com as longas mechas do meu cabelo. Eu não gostava da forma como ele me fazia sentir quando estava tão perto. Não queria ser como as outras milhares de garotas da Eastern, que ficavam ruborizadas na presença dele. Não queria que ele mexesse comigo daquele jeito. De jeito nenhum.
— Nem pense nisso, Joseph. Ela é como uma irmã pra mim — Selena avisou.
— Baby — Nicholas disse a ela —, você acabou de lhe dizer não. Agora é que ele não vai parar.
— Você não faz o tipo dela — Selena disse, mudando de estratégia.
Joseph se fez de ofendido.
— Eu faço o tipo de todas!
Lancei um olhar para ele e sorri.
— Ah! Um sorriso. Não sou um canalha completo no fim das contas — ele disse e piscou. — Foi um prazer conhecer você, Flor.
E, dando a volta na mesa, ele se inclinou para dizer algo no ouvido de Selena.
Nicholas jogou uma batata frita no primo.
— Tire a boca da orelha da minha garota, Joe!
— Conexões! Estou criando conexões — Joseph foi andando de costas, com as mãos para cima em um gesto inocente.
Algumas garotas o seguiram, dando risadinhas e passando os dedos nos cabelos na tentativa de chamar sua atenção. Ele abriu a porta para elas, que quase gritaram de prazer.
Selena deu risada.
— Ah, não. Você está numa enrascada, Demi.
— O que foi que ele disse? — perguntei, temerosa.
— Ele quer que você leve a Demi ao nosso apartamento, não é? — disse Nicholas.
Selena confirmou com um sinal de cabeça e ele negou com outro.
— Você é uma garota inteligente, Demi. Estou te avisando. Se você cair no papo dele e depois acabar ficando brava, não venha descontar em mim e na Selena, certo?
Eu sorri e disse:
— Não vou cair na dele, Nick. Você acha que eu pareço uma daquelas Barbies gêmeas?
— Ela não vai cair na dele — Selena confirmou, tranquilizando Nick e encostando no braço dele.
— Não é a primeira vez que passo por uma dessas, Sel. Você sabe quantas vezes ele ferrou as coisas pro meu lado por causa de transas de uma noite com a melhor amiga da minha namorada? De repente, vira conflito de interesse sair comigo, porque seria confraternizar com o inimigo! Estou te falando, Demi — ele olhou para mim. — Não venha me dizer depois que a Sel não pode ir no meu apartamento nem ser minha namorada porque você caiu no papo do Joe. Considere-se avisada.
— Desnecessário, mas obrigada — respondi.
Tentei tranquilizar Nicholas com um sorriso, mas o pessimismo dele era resultado de muitos anos de prejuízo por causa do Joseph.
Selena se despediu de mim com um aceno, saindo com Nicholas enquanto eu seguia para a aula da tarde. Apertei os olhos para enxergar sob o sol brilhante, segurando com força as tiras da mochila. A Eastern era exatamente o que eu esperava, desde as salas de aula menores até os rostos desconhecidos. Era um novo começo para mim. Finalmente eu podia andar em algum lugar sem os sussurros daqueles que sabiam — ou achavam que sabiam — alguma coisa do meu passado. Eu era tão comum quanto qualquer outra caloura ingênua e estudiosa, sem ninguém para me encarar, sem boatos, nada de pena ou julgamento. Apenas a ilusão do que eu queria que vissem: a Demi Lovato que vestia cashmere sem nenhum resquício de insensatez.
Coloquei a mochila no chão e desabei na cadeira, me curvando para pegar o laptop na mochila. Quando ergui a cabeça para colocá-lo na mesa, Joseph se sentou sorrateiramente na carteira ao lado.
— Que bom. Você pode tomar notas pra mim — disse ele, mordendo uma caneta e sorrindo, sem dúvida com o máximo de seu charme.
Meu olhar para ele foi de desprezo.
— Você nem está matriculado nessa aula...
— Claro que estou! Geralmente eu sento lá — disse ele, apontando com a cabeça para a última fileira.
Um pequeno grupo de garotas estava me encarando, e percebi que havia uma cadeira vazia bem no meio delas.
— Não vou anotar nada pra você — eu disse, ligando o computador. Joseph se inclinou tão perto de mim que eu podia sentir sua respiração na minha bochecha.
— Me desculpa... Ofendi você de alguma maneira?
Soltei um suspiro e fiz que não com a cabeça.
— Então qual é o problema?
Mantive o tom de voz baixo.
— Não vou transar com você. Pode desistir.
Um lento sorriso se formou em seu rosto antes de ele se pronunciar.
— Não pedi para você transar comigo — pensativo, os olhos dele se voltaram para o teto —, ou pedi?
— Não sou uma dessas Barbies gêmeas nem uma de suas fãs ali — respondi, olhando de relance para as garotas atrás de nós. — Não estou impressionada com as suas tatuagens, nem com o seu charme de garotinho, nem com a sua indiferença forçada, então pode parar com as gracinhas, ok?
— Ok, Beija-Flor.
Ele ficou impassível diante da minha atitude rude, de um jeito que me enfureceu.
— Por que você não passa lá no meu apê com a Selena hoje à noite?
Olhei com desdém para ele, que se aproximou ainda mais.
— Não estou tentando te comer. Só quero passar um tempo com você.
— Me comer? Como você consegue fazer sexo falando assim?
Joseph caiu na gargalhada, balançando a cabeça.
— Só vem, tá? Não vou nem te paquerar, prometo.
— Vou pensar
O professor Chaney entrou a passos largos, e Joseph voltou à atenção para frente da sala. Resquícios de um sorriso permaneciam em seu rosto, tomando mais nítida a covinha da bochecha. Quanto mais ele sorria, mais eu queria odiá-lo, e no entanto era esse o motivo pelo qual odiá-lo era impossível.
— Quem sabe me dizer que presidente teve uma esposa vesga e feia de doer? — perguntou Chaney.
— Anota isso — sussurrou Joseph. — Vou precisar saber disso pra usar nas entrevistas de emprego.
— Shhh — falei, digitando cada palavra dita pelo professor.
Joseph abriu um largo sorriso e relaxou na cadeira. Conforme a hora passava, ele alternava entre bocejar e se apoiar no meu braço para dar uma olhada no monitor do meu laptop. Eu me concentrei, me esforcei para ignorá-lo, mas a proximidade dele e aqueles músculos saltando de seu braço tornavam a tarefa difícil. Ele ficou mexendo na faixa de couro preta que tinha em volta do pulso até que Chaney nos dispensou.
Eu me apressei porta afora e atravessei o corredor. Justo quando tive certeza de que estava a uma distância segura, Joseph Jonas apareceu ao meu lado.
— Já pensou no assunto? — ele quis saber, colocando os óculos de sol.
Uma morena baixinha parou à nossa frente, ingênua e cheia de esperança.
— Oi, Joseph — ela disse em um tom cantado e brincando com os cabelos.
Parei, exasperada com o tom meloso dela, e então desviei da garota, que eu já tinha visto antes, conversando de maneira normal na área comum do dormitório das meninas, o Morgan Hall. O tom que ela usava lá soava muito mais maduro, e fiquei me perguntando por que ela acharia que a voz de uma criancinha seria atraente para Joseph. Ela continuou tagarelando uma oitava acima por mais um tempo, até que ele estava ao meu lado de novo.
Puxando um isqueiro do bolso, ele acendeu um cigarro e soprou uma espessa nuvem de fumaça.
— Onde eu estava? Ah, é... você estava pensando.
Fiz uma careta.
— Do que você está falando?
— Já pensou se vai dar uma passada lá em casa hoje?
— Se eu disser que vou, você para de me seguir?
Ele ponderou sobre a minha condição e então assentiu.
— Sim.
— Então eu vou.
— Quando?
Soltei um suspiro.
— Hoje à noite. Vou passar lá hoje à noite.
Joseph sorriu e parou de andar por um instante.
— Legal. A gente se vê depois então, Flor — ele me disse.
Virei uma esquina e vi Selena parada com Finch do lado de fora do nosso dormitório. Nós três acabamos ficando na mesma mesa durante a orientação aos calouros, e eu soube na hora que ele seria o providencial terceiro elemento da nossa amizade. Ele não era muito alto, mas passava bem dos meus 1,62 metro. Os olhos redondos equilibravam as feições longas e esguias, e os cabelos descoloridos geralmente estavam espetados na parte da frente.
— Joseph Jonas? Meu Deus, Demi, desde quando você começou a pescar nas profundezas do oceano? — Finch perguntou, com um olhar de desaprovação.
Selena puxou o chiclete da boca, fazendo um fio bem longo.
— Você só está piorando as coisas ao rejeitar o cara. Ele não está acostumado com isso.
— O que você sugere que eu faça? Durma com ele?
Selena deu de ombros.
— Vai poupar tempo.
— Eu disse pra ele que vou lá hoje à noite.
Finch e Selena trocaram olhares de relance.
— Que foi? Ele prometeu parar de me encher se eu dissesse que ia. Você vai lá hoje à noite, não é?
— É, vou — disse Selena. — Você vem mesmo?
Sorri e fui andando. Passei por eles e entrei no dormitório, me perguntando se Joseph cumpriria a promessa de não flertar comigo. Não era difícil sacar qual era a dele: ou ele me via como um desafio, ou como sem graça o bastante para ser apenas uma boa amiga. Eu não tinha certeza de qual das alternativas me incomodava mais. 

~*~

Postei hoje, porque essa semana vai estar muito complicada pra mim.
Vou ter prova todos os dias :/
Mas fiquem ligados que mesmo assim vou postar, só não sei o dia específico.

Fico feliz que tenham gostado do banner *-*
Fiz uns 4 banners, mas esse ficou melhor do que os outros kkk
Obrigada, amores!

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