domingo, 26 de maio de 2013

MARATONA – Capítulo 3 – Golpe Baixo (Parte 2/2)

— Meu nome é Ethan.
— Demi — falei, apertando sua mão estendida.
Ele ergueu dois dedos para o barman, e sorri.
— Obrigada.
— Então, você mora por aqui? — ele me perguntou.
— No Morgan Hall, na Eastern.
— Tenho um apartamento em Hinley.
— Você estuda na Estadual? — perguntei. — Que fica... tipo... há uma hora daqui? O que está fazendo por esses lados?
— Me formei em maio. Minha irmã caçula estuda na Eastern. Estou passando essa semana com ela para procurar emprego.
— Hum... a vida no mundo real, hein?
Ethan riu.
— E é tudo isso que dizem por aí.
Peguei o gloss do bolso e passei-o nos lábios, aproveitando o espelho da parede atrás do balcão.
— Cor bonita essa — ele disse, a me ver pressionando os lábios.
Sorri, sentindo raiva do Joseph e o peso do álcool.
— Talvez você possa experimentá-lo depois.
Os olhos de Ethan brilharam quando me inclinei para perto dele, e sorri quando ele encostou no meu joelho. Mas ele tirou a mão, pois Joseph se colocou entre nós dois.
— Está pronta, Flor?
— Estou conversando, Joseph — afirmei, afastando-o para trás.
A camiseta dele estava ensopada por causa do circo na pista de dança, e eu também fiz um showzinho, limpando a mão na saia.
Joseph fez uma careta.
— Você ao menos conhece esse cara?
— Esse é o Ethan — eu disse, sorrindo para meu novo amigo da maneira mais sedutora que consegui.
Ele piscou para mim e então olhou para Joseph, estendendo a mão para cumprimentá-lo.
— Prazer em conhecê-lo.
Joseph ficou olhando para mim com ar de expectativa, até que por fim cedi, abanando a mão na direção dele.
— Ethan, esse é o Joseph — murmurei.
— Joseph Jonas — disse ele, encarando a mão do Ethan como se quisesse arrancá-la.
Ethan arregalou os olhos e, sem jeito, puxou a mão para trás.
— Joseph Jonas? Joseph Jonas da Eastern?
Apoiei o rosto no punho cerrado, temendo a inevitável troca de histórias cheias de testosterona que viria em seguida. Joseph esticou o braço atrás de mim e agarrou-se ao balcão.
— É, e daí?
— Vi sua luta com o Shawn Smith no ano passado, cara. Achei que ia testemunhar a morte de alguém!
Joseph fitou-o enfurecido.
— Quer ver isso acontecer de novo?
Ethan riu, olhando rapidamente de mim para Joseph e vice-versa. Quando se deu conta de que ele estava falando sério, sorriu para mim como que pedindo desculpas e foi embora.
— Está pronta agora? — Joseph perguntou irritado.
— Você é um completo babaca, sabia?
— Já me chamaram de coisa pior — ele disse, me ajudando a sair da banqueta.
Fomos atrás de Selena e Nicholas até o carro, e, quando Joseph tentou me segurar pela mão para me guiar pelo estacionamento, eu a puxei com força. Ele se virou e parei, curvando me para trás quando seu rosto ficou a poucos centímetros do meu.
— Eu devia beijar você e acabar logo com isso! — ele gritou. — Você está sendo ridícula! Beijei seu pescoço, e daí?
Eu podia sentir o cheiro de cerveja e cigano no hálito dele e o afastei.
— Não sou sua amiguinha de trepada, Joseph.
Ele balançou a cabeça, sem acreditar no que tinha acabado de ouvir.
— Eu nunca disse que você era! Você está perto de mim vinte e quatro horas por dia, dorme na minha cama, mas, na metade desse tempo, age como se não quisesse ser vista comigo!
— Eu vim até aqui com você!
— Eu só te trato com respeito, Flor.
Mantive minha linha de defesa.
— Não, você só me trata como se eu fosse sua propriedade. Você não tinha o direito de espantar o Ethan daquele jeito!
— Você sabe quem é esse Ethan? — ele me perguntou. Quando balancei a cabeça em negativa, ele se inclinou mais um pouco, aproximando-se ainda mais.
— Pois eu sei. Ele foi preso no ano passado acusado de abuso sexual, só que retiraram a queixa.
Cruzei os braços.
— Ah, então vocês têm algo em comum?
Joseph apertou os olhos, e os músculos de seu maxilar se contorceram sob a pele.
— Você está me chamando de estuprador? — ele disse, em um tom baixo e cheio de frieza.
Pressionei os lábios, com mais raiva ainda por ele estar certo. Eu tinha ido longe demais.
— Não, só estou irritada com você!
— Eu bebi, ok? Sua pele estava a centímetros da minha boca, você é linda e seu cheiro é incrível quando você fica suada. Eu te beijei! Me desculpa! Esquece!
O pedido de desculpas fez com que os cantos da minha boca se voltassem para cima.
— Você me acha linda?
Ele franziu a testa, indignado.
— Você é muito bonita e sabe disso. Por que está sorrindo?
Tentei disfarçar meu divertimento, inutilmente.
— Por nada. Vamos embora.
Joseph balançou a cabeça.
— O que...? Você...? Você é um pé no saco! — ele gritou, me fuzilando com o olhar.
Eu não conseguia parar de sorrir, e, depois de alguns segundos, ele fez o mesmo. Balançou a cabeça de novo e enganchou o braço em volta do meu pescoço.
— Você está me deixando maluco. Você sabe disso, não sabe?

No apartamento, todos passamos cambaleando pela porta. Fui direto para o banheiro para lavar os cabelos e tirar o cheiro de cigarro. Quando saí do chuveiro, vi que Joseph tinha deixado uma de suas camisetas e um de seus shorts ali para mim.
A camiseta me engoliu, e o short sumiu debaixo dela. Eu me joguei na cama e suspirei, ainda sorrindo por causa do que ele tinha me dito no estacionamento.
Joseph ficou me encarando por um instante, e senti uma pontada no peito. Eu tinha uma necessidade quase voraz de agarrar o seu rosto e lhe dar um beijo na boca, mas lutei contra o álcool e os hormônios.
— Boa noite, Flor — ele sussurrou, se virando para o outro lado.
Fiquei me mexendo, inquieta e sem sono.
— Joe? — falei, me erguendo e apoiando o queixo no ombro dele.
— O quê?
— Sei que estou bêbada e que acabamos de ter uma briga gigantesca por causa disso, mas..
— Não vou transar com você, então para de ficar pedindo — ele disse, ainda de costas para mim.
— O quê? Não! — gritei.
Joseph riu e se virou, olhando
— Que foi, Beija-Flor?
Soltei um suspiro.
— Isso ... — falei, deitando a cabeça em seu peito e esticando o braço sobre sua cintura, me aninhando tão perto quanto podia.
Ele ficou tenso e ergueu as mãos, como se não soubesse como reagir.
— Você está bêbada.
— Eu sei — falei, embriagada demais para ficar constrangida.
Ele relaxou uma das mãos nas minhas costas e pôs a outra nos meus cabelos molhados, depois me beijou na testa.
— Você é a mulher mais complicada que já conheci.
— É o mínimo que você pode fazer depois de espantar o único cara que veio falar comigo hoje.
— Você quer dizer Ethan, o estuprador? É, eu te devo uma por essa.
— Deixa pra lá — falei, sentindo o começo de uma rejeição a caminho.
Ele agarrou meu braço e o manteve em cima de sua barriga, para me impedir de sair dali.
— Não, estou falando sério. Você precisa tomar mais cuidado. Se eu não estivesse lá... nem quero pensar nessa possibilidade. E agora você espera que eu peça desculpas por espantar o cara?
— Não quero que você peça desculpas. Nem se trata disso...
— Então do que se trata? — ele quis saber, procurando algo em meus olhos.
Seu rosto estava a poucos centímetros do meu, e eu podia sentir sua respiração em meus lábios. Franzi a testa.
— Estou bêbada, Joseph. Essa é a única desculpa que tenho.
— Você só quer que eu te abrace até você dormir?
Não respondi. Ele se mexeu para me olhar direto nos olhos.
— Eu devia dizer “não” para provar meu argumento — ele me disse juntando as sobrancelhas. — Mas eu me odiaria se fizesse isso e você nunca mais me pedisse de novo.
Aninhei o rosto em seu peito e ele me abraçou mais forte, soltando um suspiro.
— Você não precisa de nenhuma desculpa, Beija-Flor. Tudo que tem que fazer é me pedir.

***

Eu me encolhi ao me deparar com a luz do sol entrando pela janela e o alarme quase estourando meus tímpanos. Joseph ainda dormia, me cercando com seus braços e pernas. Em uma manobra, consegui soltar um dos braços e apertar o botão de soneca - Esfreguei o rosto e fiquei olhando para ele, que dormia profundamente, a cinco centímetros de distância.
— Meu Deus... — sussurrei, perguntando-me como havíamos conseguido ficar tão enganchados um no outro.
Inspirei fundo e prendi o fôlego, tentando me soltar completamente.
— Para com isso, Flor, estou dormindo — ele murmurou, me apertando junto de si.
Depois de várias tentativas, finalmente consegui me soltar. Sentei na beirada da cama, olhando para trás, para seu corpo seminu envolto nas cobertas. Os limites estavam começando a ficar tênues, e a culpa era minha.
Ele deslizou a mão pelos lençóis e encostou nos meus dedos.
— Qual o problema, Beija-Flor? — perguntou, mal abrindo os olhos.
— Vou pegar um copo de água, você quer alguma coisa?
Joseph balançou a cabeça e fechou os olhos, com o rosto encostado no colchão.
— Bom dia, Demi — disse Nicholas, sentado na cadeira reclinável, quando entrei na sala.
— Cadê a Sel?
— Ainda está dormindo. O que você está fazendo em pé tão cedo? — ele me perguntou, olhando para o relógio.
— O despertador tocou, mas eu sempre acabo acordando cedo depois de beber. É uma maldição.
— Eu também — ele disse.
— É melhor você ir acordar a Sel. Temos aula daqui à uma hora — falei, abrindo a torneira e me inclinando para beber um gole de água.
Nicholas assentiu.
— Eu ia deixar a Sel ficar dormindo.
— É melhor não. Ela vai ficar brava se perder a aula.
— Então vou acordá-la — ele disse e se virou. — Ei, Demi.
— O quê?
— Eu não sei o que está rolando entre você e o Joseph, mas sei que ele vai fazer algo idiota que vai te deixar irada. É uma mania que ele tem. Ele não fica muito chegado a ninguém por tanto tempo e, sei lá por quê, abriu espaço na vida dele para você. Mas você tem que ignorar os demônios dele. É a única forma que ele tem de saber.
— De saber o quê? — perguntei, erguendo uma sobrancelha em resposta ao seu discurso melodramático.
— Se você vai sair de cima do muro — ele respondeu simplesmente. Balancei a cabeça e dei um risinho.
— Você é quem manda, Nick.
Ele deu de ombros e voltou para o quarto. Ouvi uns murmúrios baixinhos, um gemido de protesto e depois as doces risadinhas de Selena.
Espalhei aveia na minha tigela e despejei calda de chocolate, enquanto misturava tudo.
— Que coisa nojenta, Flor — disse Joseph, vestindo somente uma cueca xadrez verde. Ele esfregou os olhos e pegou uma caixa de cereal no armário.
— Bom dia pra você também — respondi, fechando com um estalido a tampa da calda.
— Ouvi dizer que seu aniversário está perto. Tá virando adulta... — disse ele, abrindo um largo sorriso, com os olhos inchados e vermelhos.
— É... Não sou muito ligada em aniversários. Acho que a Sel vai me levar pra jantar ou algo assim sorri. — Pode vir também, se quiser.
— Tudo bem — ele deu de ombros. — É no domingo da semana que vem?
— Isso. Quando é o seu aniversário?
Ele despejou o leite na tigela, submergindo os flocos com a colher.
— Só em abril. Primeiro de abril.
— Ah, fala sério!
— É sério — disse ele, mastigando.
— Você faz aniversário no Dia da Mentira? — perguntei, erguendo uma sobrancelha.
Ele riu.
— Faço! Você vai se atrasar. É melhor eu ir me vestir.
— Vou de carona com a Sel.
Pude perceber que ele se esforçou para agir com naturalidade quando deu de ombros.
— Tudo bem — ele disse e virou as costas para mim, para terminar de comer seu cereal.

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