— Definitivamente, ele está
encarando você — sussurrou Selena, se curvando para dar uma espiada do outro
lado da sala.
— Para de olhar, besta, ele
vai ver você.
Selena sorriu e acenou.
— Ele já me viu. E ainda está
te encarando.
Hesitei por um instante e, por
fim, consegui reunir coragem para olhar na direção dele. Parker estava olhando
direto para mim, com um largo sorriso no rosto.
Retribuí o sorriso e então
fingi que estava digitando algo no laptop.
— Ele ainda está me encarando?
— murmurei.
— Sim — ela respondeu, dando
risadinhas.
Depois da aula, Parker me
parou no corredor.
— Não esquece da festa nesse
fim de semana.
— Não vou esquecer — falei,
tentando não começar a pestanejar ou fazer algo ridículo do gênero.
Selena e eu cruzamos o gramado
até o refeitório para encontrar Joseph e Nicholas para o almoço. Ela ainda
estava rindo do comportamento de Parker quando eles se aproximaram.
— Oi, baby — disse Selena,
beijando o namorado na boca.
— O que é tão engraçado? —
Nicholas quis saber.
— Ah, um carinha na aula que
ficou encarando a Demi durante uma hora. Foi tão fofo!
— Contanto que
ele estivesse encarando a Demi — disse Nicholas, dando uma piscadela para a
namorada.
— Quem era? — Joseph fez uma
careta.
Arrumei a mochila nas costas,
o que fez com que ele a tirasse dali e a segurasse para mim. Balancei a cabeça.
— A Sel está imaginando
coisas.
— Demi! Sua grandessíssima
mentirosa. Era o Parker Hayes, e ele estava dando muito na cara. Estava
praticamente babando.
Joseph fez uma expressão de
nojo.
— Parker Hayes?
Nicholas puxou Selena pela
mão.
— Vamos almoçar. Vocês vão
desfrutar a fina culinária do refeitório essa tarde?
América beijou-o novamente em
resposta, e eu e Joseph os acompanhamos. Coloquei minha bandeja entre a da
Selena e a do Finch, mas Joseph não se sentou no lugar de costume, na minha
frente; foi se sentar um pouco mais longe. Foi então que me dei conta de que
ele não tinha dito muita coisa durante nossa caminhada até o refeitório.
— Você está bem, Joe? —
perguntei.
— Eu? Ótimo, por quê? — ele
respondeu, aliviando um pouco a expressão no rosto.
— Você está quieto.
Vários jogadores do time de
futebol americano se aproximaram da mesa e se sentaram, rindo alto. Joseph
parecia um pouco irritado enquanto revirava a comida no prato.
Chris Jenks jogou uma batata
frita no prato do Joseph.
— E aí, Joe? Ouvi dizer que
você comeu a Tina Martin. Ela estava falando um monte de você hoje.
— Cala a boca, Jenks — disse
Joseph, sem tirar os olhos da comida.
Eu me inclinei para frente, de
forma que o gigante sentado diante do Joseph pudesse sentir toda a força do meu
olhar fulminante.
— Para com isso, Chris.
Os
olhos de Joseph perfuraram os meus.
—
Eu posso me cuidar sozinho, Demi.
—
Desculpa, eu...
—
Não quero que você peça desculpas. Não quero que você faça nada — ele retrucou,
se afastando bruscamente da mesa e saindo como um raio pela porta.
Finch
olhou para mim com as sobrancelhas arqueadas.
—
Nossa! O que foi aquilo?
Enfiei
o garfo na batata e bufei.
—
Não sei.
Nicholas
deu um tapinha nas minhas costas.
—
Não foi nada que você fez, Demi.
—
Tem umas coisas acontecendo com ele — acrescentou Selena.
—
Que tipo de coisas? — perguntei.
Nicholas
deu de ombros e voltou à atenção para o próprio prato.
—
Você já devia saber que é preciso ter paciência e saber perdoar para ser amigo
do Joseph. Ele tem um mundo próprio.
Balancei
a cabeça em negativa.
—
Esse é o Joseph que todo mundo vê... não o Joseph que eu conheço.
Nicholas
se inclinou para frente.
—
Não tem diferença entre um e outro. Você só tem que seguir a onda.
Depois
da aula, fui com Selena até o apartamento e vi que a moto do Joseph não estava
lá. Entrei no quarto e me encolhi como uma bola na cama dele, apoiando a cabeça
no braço. Ele estava bem aquela manhã. Tínhamos passado tanto tempo juntos, e
eu não conseguia acreditar que não havia notado que algo o chateara. E não era
só isso — me perturbava o fato de que parecia que Selena sabia o que estava
acontecendo, e eu não.
Minha
respiração se acalmou e senti os olhos pesados; não demorou muito para que eu
caísse no sono. Quando acordei, o céu noturno já tinha escurecido a janela.
Ouvi vozes abafadas vindo da sala pelo corredor, entre elas o tom grave do
Joseph. Fui sorrateiramente até o corredor e parei quando ouvi meu nome.
—
A Demi entende, Joe. Não fique se martirizando — disse Nicholas.
—
Vocês já vão juntos na festa de casais. Qual o problema em chamá-la pra sair? —
Selena quis saber
Meu
corpo ficou tenso, e esperei para ouvir a resposta.
—
Não quero namorar a Demi... só quero ficar por perto. Ela é... diferente.
—
Diferente como? — perguntou Selena, parecendo irritada.
—
Ela não atura as minhas merdas, e isso é reconfortante. Você mesma disse, Sel.
Eu não faço o tipo dela. Só não é... assim com a gente.
—
Você está mais próximo do tipo dela do que imagina — Selena disse.
Recuei
fazendo o mínimo de barulho possível e, quando as tábuas do assoalho rangeram
sob meus pés descalços, estiquei a mão e fechei a porta do quarto de Joseph.
Então voltei pelo corredor.
—
Oi, Demi — disse Selena, com um largo sorriso. — Como foi o cochilo?
—
Desmaiei durante cinco horas. Isso está mais próximo de um coma que de um
cochilo.
Joseph
ficou me encarando por um instante e, quando sorri para ele, veio direto na
minha direção e me puxou pelo corredor até o quarto. Fechou a porta, e senti
meu coração bater forte no peito, esperando que ele dissesse algo para esmagar
meu ego.
Ele
juntou as sobrancelhas e disse:
—
Desculpa, Flor. Fui um babaca com você hoje.
Relaxei
um pouco ao ver o remorso nos olhos dele.
—
Eu não sabia que você estava bravo comigo.
—
Eu não estava bravo com você. Eu só tenho o péssimo hábito de atacar
verbalmente aqueles com quem me importo. É uma desculpa tosca, eu sei, mas eu
sinto muito — ele disse e me envolveu em seus braços.
Aninhei
o rosto no peito dele e me ajeitei.
—
Com o que você estava bravo?
—
Nada de importante. A única coisa que me preocupa é você.
Eu
me afastei para olhar para ele.
—
Consigo lidar com seus acessos de raiva.
Seus
olhos ficaram tentando ler a expressão no meu rosto antes de um sorrisinho se
espalhar por seus lábios.
—
Eu não sei por que você me aguenta, e não sei o que faria se fosse diferente.
Eu
podia sentir o cheiro de cigarro e menta em seu hálito e olhei para sua boca.
Meu corpo reagia à nossa proximidade. A expressão no rosto de Joseph ficou
diferente, sua respiração ficou instável... Ele também tinha notado.
Ele
se inclinou milimetricamente na minha direção, e ambos demos um pulo quando o
celular dele tocou. Joseph suspirou e tirou o telefone do bolso.
—
Alô. O Hoffman Meu Deus... tá bom. Esses mil vão vir fácil, fácil. No
Jefferson? — Ele olhou para mim e piscou. — Estaremos lá. — Então desligou e me
pegou pela mão. — Vem comigo — e foi me puxando pelo corredor. — Era o Adam —
ele disse ao Nicholas. — O Brady Hoffman estará no Jefferson em uma hora e
meia.
Nicholas
assentiu e se levantou, pegando o celular do fundo do bolso. Digitou as
informações rapidamente, convidando para a luta os que sabiam do Círculo.
Aqueles dez membros, mais ou menos, enviaram mensagens a outros dez e assim por
diante, até que todos soubessem exatamente onde o ringue estaria.
—
Lá vamos nós! — exclamou Selena, sorrindo. — É melhor a gente se arrumar.
O
ar no apartamento estava tenso e alegre ao mesmo tempo. Joseph parecia ser o
menos afetado, calçando rápido as botas e colocando uma regata branca como se
fosse sair para resolver algo trivial.
Selena
foi comigo pelo corredor até o quarto do Joseph e franziu a testa.
—
Você tem que se trocar, Demi. Não pode usar isso pra ver a luta.
—
Usei uma droga de um cardigã da última vez e você não falou nada! — protestei.
—
Não achei que você fosse mesmo da última vez. Toma — ela me jogou umas roupas
—, veste isso.
—
Não vou vestir isso
—Vamos
logo — Nicholas gritou da sala de estar.
—
Anda logo! — Selena falou irritada, entrando correndo no quarto de Nicholas.
Vesti
o top frente-única amarelo decotado e a calça jeans de cintura baixa que Selena
tinha jogado para mim. Depois coloquei saltos altos e passei um pente no cabelo
enquanto cruzava o corredor Selena saiu do quarto do Nick com um vestido verde
curto, estilo baby doll, e sapatos de salto combinando. Quando aparecemos,
Joseph e Nicholas estavam parados à porta.
Joseph
ficou boquiaberto.
—
Ah, não! Você está tentando fazer com que eu seja morto? Você tem que se
trocar, Flor.
—
O quê? — perguntei, olhando para baixo.
Selena
levou as mãos ao quadril.
—
Ela está uma graça, Joe. Deixe a menina em paz!
Ele
me pegou pela mão e me conduziu pelo corredor.
—
Coloque uma camiseta... e tênis. Alguma coisa confortável.
—
O quê? Por quê?
—
Porque, com essa blusinha aí, vou ficar mais preocupado com quem está olhando
pros seus peitos do que com o Hoffman — ele disse, parando na porta.
—
Achei que você tinha dito que não ligava a mínima para o que as pessoas
achavam.
— A situação é diferente, Beija-Flor — Joseph olhou para o
meu peito e depois para mim. — Você não pode usar isso para ir ver a luta,
então por favor... só... se troca, por favor — ele gaguejou, me enxotando para
dentro do quarto e fechando a porta.
—Joseph! —gritei.
Eu me livrei dos sapatos de
salto com um chute e enfiei meu par de All Star Converse nos pés. Depois me
contorci e tirei o top, jogando-o do outro lado do quarto. Enfiei a primeira
camiseta de algodão que vi pela frente e corri até a sala, parando na entrada
do apartamento.
— Tá melhor? — perguntei,
bufando de raiva e puxando o cabelo para prendê-lo num rabo de cavalo.
— Agora tá! — Joseph respondeu
aliviado. — Vamos!
Fomos correndo até o
estacionamento. Pulei na garupa da moto enquanto ele ligou o motor com tudo e
saiu voando pela estrada até a faculdade. Apertei a cintura dele, tamanha era
minha expectativa; a correria na hora de sair tinha enviado ondas de adrenalina
por minhas veias.
Joseph subiu no meio-fio com a
moto e a estacionou na sombra, atrás do Pavilhão Jefferson de Humanas. Pôs os
óculos de sol no alto da cabeça e me agarrou pela mão, sorrindo enquanto
seguíamos sorrateiramente até a parte de trás do prédio. Paramos ao lado de uma
janela aberta perto do nível do chão.
Arregalei os olhos quando me
dei conta do que faríamos.
— Você só pode estar
brincando!
Joseph sorriu.
— Essa é a entrada VIP. Você
devia ver como o resto do pessoal entra.
Balancei a cabeça enquanto ele
enfiava as pernas ali para entrar, sumindo de vista logo depois. Eu me abaixei
e o chamei no meio da escuridão.
— Joseph!
— Aqui embaixo, Flor. É só
descer, os pés primeiro. Vem, eu te seguro!
— Você está louco se acha que
vou pular no escuro!
— Eu te seguro, prometo! Anda
logo, vai!
Suspirei, levando a mão à
testa.
— Isso é loucura!
Eu me sentei no parapeito da
janela e fui indo para frente, até que metade do meu corpo ficou pendurado no
escuro. Virei de barriga para baixo e tentei tatear o chão com os dedos dos
pés. Esperei que meus pés encostassem na mão do Joseph, mas perdi a pegada, soltando
um gritinho agudo quando caí para trás. Duas mãos me seguraram e ouvi a voz
dele no escuro.
—
Você cai que nem menina — ele disse, dando uma risadinha.
Ele
me pôs no chão e me puxou ainda mais para a escuridão. Depois de uns doze
passos, eu já podia ouvir a gritaria familiar de números e nomes, e uma luz se
acendeu. Havia uma lanterna no canto, que iluminava a sala o suficiente para eu
conseguir ver o rosto do Joseph.
—
O que estamos fazendo? — perguntei.
—
Esperando. O Adam tem que fazer o discurso de abertura dele antes de eu entrar.
Fiquei
inquieta.
—
É melhor eu ficar esperando aqui ou entrar? Pra onde eu vou quando a luta
começar? Cadê o Nick e a Sel?
—
Eles foram pela outra entrada. É só me seguir, não vou deixar você entrar
naquele tanque de tubarões sem mim. Fique perto do Adam, ele vai impedir que te
esmaguem. Não posso cuidar de você e dar socos ao mesmo tempo.
—
Me esmaguem?
—
Vai ter mais gente aqui hoje. O Brady Hoffman é da Estadual. Eles têm o Círculo
deles lá. Vai ser a nossa galera e a galera deles, então vai ficar uma doideira
lá no salão.
—
Você está nervoso? — perguntei.
Ele
sorriu, baixando o olhar para mim.
—
Não. Mas você parece que está um pouco.
—
Talvez — admiti.
—
Se isso fizer você se sentir melhor, não vou deixar nem ele encostar em mim.
Não vou deixar ele me acertar nem uma vez, pra agradar os fãs dele.
—
Como vai fazer isso?
Ele
deu de ombros.
—
Geralmente deixo que eles acertem uma... para parecer justo.
—
Você... deixa as pessoas te acertarem?
—
Que graça teria se eu só massacrasse o adversário e nunca levasse nenhum soco?
Isso não seria bom para os negócios, ninguém apostaria contra mim.
—
Que monte de baboseira — falei, cruzando os braços. Joseph ergueu uma
sobrancelha.
—
Você acha que estou te zoando?
—
Acho difícil acreditar que você só leva um golpe quando deixa.
—
Quer fazer uma aposta, Demi Lovato? — ele me perguntou sorrindo, com um brilho
nos olhos.
Sorri
de volta.
—
Quero. Aposto que ele acerta um soco em você.
—
E se ele não acertar? O que é que eu ganho? — ele me perguntou.
Dei
de ombros enquanto a gritaria do outro lado da parede se transformava num
rugido. Adam cumprimentou a multidão ali reunida e depois repassou as regras.
A
boca de Joseph se abriu em um largo sorriso.
—Se
você ganhar, fico sem sexo durante um mês. — Ergui uma sobrancelha e ele sorriu
de novo. — Mas, se eu ganhar, você tem que passar um mês comigo.
—
O quê? Já estou ficando lá de qualquer forma! Que tipo de aposta é essa? —
perguntei, gritando em meio ao ruído.
—
Eles consertaram as caldeiras do Morgan hoje — disse Joseph, com um sorriso e
uma piscadinha.
Um
riso sem graça aliviou minha expressão quando Adam chamou Joseph.
—
Qualquer coisa é válida para tentar ver você em abstinência, pra variar.
Joseph
me deu um beijo no rosto e foi andando, com um porte orgulhoso. Fui atrás dele
e, quando passamos para a sala seguinte, fiquei assustada com a quantidade de
gente reunida naquele espaço pequeno. Só havia lugar em pé, e os empurrões e a
gritaria aumentaram quando entramos. Joseph assentiu na minha direção, e Adam
pôs a mão no meu ombro e me puxou para seu lado.
Eu
me inclinei para falar ao ouvido dele:
—
Duas no Joseph.
Adam
ergueu as sobrancelhas quando me viu puxar duas notas de cem do bolso. Ele
estendeu a palma e bati com as notas na mão dele.
Brady
era pelo menos uma cabeça mais alto que Joseph, e engoli em seco quando os vi
em pé, prontos para o combate, Brady era enorme, tinha duas vezes o tamanho de
Joseph e era só músculos. Eu não conseguia ver a expressão no rosto de Joseph,
mas era óbvio que Brady estava ali para derramar sangue.
Adam
aproximou os lábios de minha orelha e disse:
—
Acho que você vai querer tampar os ouvidos, menina.
Coloquei
as mãos em concha, uma em cada ouvido, e ele sinalizou o começo da luta com o
megafone. Em vez de atacar, Joseph deu uns passos para trás. Brady desferiu um
golpe, do qual ele se esquivou indo para a direita. O adversário atacou de
novo, e Joseph abaixou a cabeça, desviando para o outro lado.
—
Que merda é essa?! Isso não é uma luta de boxe, Joseph! — Adam gritou.
Joseph
deu um soco no nariz de Brady. O barulho no porão era ensurdecedor. Joseph
acertou um gancho de esquerda no maxilar do adversário, e levei as mãos à boca
quando este tentou acertar mais alguns socos, mas todos atingiram o ar Brady
caiu de encontro a seu séquito quando Joseph lhe deu uma cotovelada no rosto.
Achei que a luta estava quase terminando, porém Brady voltou a lançar golpes,
mas parecia que ele não conseguia mais manter o ritmo. Ambos estavam cobertos
de suor, e tive um sobressalto quando Brady errou mais um soco, batendo forte a
mão em uma pilastra de cimento. Quando ele se curvou segurando o punho cerrado,
Joseph partiu para o ataque final.
Ele
foi implacável, acertando primeiro o rosto de Brady com o joelho, depois
golpeando-o com os punhos cerrados repetidas vezes, até o adversário cambalear
e cair. O barulho foi às alturas quando Adam saiu do meu lado para jogar o
quadrado vermelho sobre o rosto ensanguentado de Brady.
Joseph
sumiu entre os fãs, e pressionei as costas na parede, tateando o caminho até
chegar à entrada por onde tínhamos vindo. Chegar onde estava a lanterna foi um
alívio imenso. Eu estava aflita, com medo de ser nocauteada e pisoteada.
Meus
olhos focaram a entrada, e fiquei esperando que a multidão dispersasse. Depois
de vários minutos sem sinal de Joseph, eu me preparei para refazer os passos
até a janela. Com o número de pessoas que tentavam sair ao mesmo tempo, não era
muito seguro ficar andando por ali.
Assim
que pisei na escuridão, ouvi o som de pegadas esmagando o concreto solto no
chão. Travis estava em pânico procurando por mim.
—
Beija-Flor!
—
Estou aqui! — gritei, correndo para os braços dele.
Joseph
baixou o olhar e franziu a testa.
—
Você me matou de susto! Quase tive que começar outra luta só pra vir te pegar...
Eu finalmente chego aqui e você não estava!
—
Que bom que você voltou. Eu não estava lá muito ansiosa para achar a saída no
escuro.
Sem
mais nenhum traço de preocupação no rosto, Joseph abriu um sorriso.
—
Acho que você perdeu a aposta.
Adam
entrou pisando duro, olhou para mim e depois encarou Joseph.
—
Precisamos conversar.
Joseph
deu uma piscadinha para mim.
—
Não saia daí. Eu já volto.
E
sumiram no escuro. Adam ergueu a voz algumas vezes, mas não consegui entender o
que ele estava dizendo. Joseph voltou, enfiando uma bolada de dinheiro no
bolso, e me deu um meio sorriso.
—
Você vai precisar de mais roupas.
—
Você realmente vai me fazer ficar no seu apartamento durante um mês?
— Você teria me feito ficar sem sexo por um mês?
Eu ri, sabendo que teria feito
isso.
— É melhor darmos uma parada
no Morgan.
Ele abriu um sorriso de
alegria.
— Isso vai ser interessante.
Adam passou pela gente e bateu
com as notas do meu lucro na palma da minha mão, depois se juntou à turba, que
se dissipava.
Joseph ergueu a sobrancelha.
— Você apostou dinheiro?
Sorri e dei de ombros.
— Achei que devia ter a
experiência completa.
Ele me levou até a janela e se
arrastou por ela, então se virou para me ajudar a subir e sair no ar
refrescante da noite. Os grilos cantavam nas sombras, parando apenas o
suficiente para passarmos. A grama preta que cobria a beirada da calçada
oscilava com a brisa suave, me fazendo lembrar o som do oceano quando não se
está perto o bastante para ouvir o barulho das ondas se quebrando. Não estava
muito quente nem muito frio; era a noite perfeita.
— E aí? Por que diabos você
quer que eu fique no seu apartamento? — perguntei.
Joseph deu de ombros, enfiando
as mãos nos bolsos.
— Não sei. Tudo fica melhor
quando você está por perto.
Os arrepios que senti por
causa do que ele falou logo se foram quando avistei as manchas vermelhas que
cobriam sua camiseta.
— Credo! Você está coberto de
sangue.
Joseph olhou para baixo com
indiferença e então abriu aporta, fazendo um gesto para eu entrar. Passei
rapidamente por Kara, que estudava na cama, cercada por livros.
— As caldeiras foram
consertadas hoje de manhã — ela disse.
— Fiquei sabendo — falei,
esvaziando meu armário.
— Oi — Joseph a cumprimentou.
Ela
torceu o nariz enquanto o analisava, suado e ensanguentado.
—
Joseph, essa é a minha colega de quarto, Kara Lin. Kara, esse é Joseph Jonas.
—
Prazer — ela respondeu, ajeitando os óculos, depois olhou para minhas malas. —
Você está se mudando daqui?
—
Não. Perdi uma aposta.
Joseph
caiu na gargalhada, segurando as malas.
—
Está pronta?
—
Estou. Como vou levar tudo isso para o seu apartamento? Estamos de moto.
Joseph
sorriu e pegou o celular. Foi levando minha bagagem para a rua e, minutos
depois, o Charger vintage preto do Nicholas estacionou.
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