quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Capítulo 18 - TEMPOS MODERNOS

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~*~

“Hoje o tempo voa amor, escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir não há tempo
Que volte amor, vamos viver tudo
Que há pra viver vamos nos permitir...”

Há segredos capazes de destruir vidas, famílias. Se apaixonar pela mulher do pai era coisa pequena diante do que ele e Demetria haviam feito...
Quando Demetria falou do ex-namorado, Joseph se preparou para o que viria a seguir. Nada veio. O que o obrigava a confrontar a situação. Esperava que eles conseguissem passar por cima de tudo e esquecer o passado. Que ela lidasse bem com a mudança. Talvez como presente de casamento ele mudasse para perto de Beth. Se a irmã ainda quisesse ter contato com os dois.
Não fora sua culpa. Amar alguém por 19 anos não é uma coisa simples. Ele não tinha alimentado essa paixão, ao contrário tinha fugido dela a vida inteira... Porém, nos últimos tempos havia descoberto que não podia se esconder para sempre. Os jantares na casa do pai, onde ele ficava babando por sua amada sob as barbas de seu próprio genitor e da própria noiva. Os absurdos que fazia para ter um momento com ela e finalmente à consumação do fato. Ele dormira conscientemente com a mulher do pai. Sim, Joseph Bolivatto deitara com a mulher do próprio pai.
Antes da noiva fugir, tiveram a maior de todas as brigas. Motivo? Enquanto fazia amor com a mulher, não apenas fantasiara com outra, mas a chamara por seu nome. Nick se ofereceria para “encontrar a bandida da Blanda”. Não duvidava que este fosse capaz, porém o Bolivatto diria que não. O amigo não entenderia sua atitude. Qualquer outra pessoa não entenderia, mas a sua culpa por nunca a ter amado inibia quaisquer represarias. No fundo desejava de todo o coração que sua ex-noiva fosse feliz. Como ele tentaria ser. Como ele conseguiria ser. Pois não deixaria nada nem ninguém atrapalhar sua felicidade. Demetria era sua vida. A única mulher que teria para o resto de sua vida. Se ela ainda o quisesse, após a inevitável conversa que teriam. Como ela receberia tudo aquilo? Como enfrentaria a situação? Só Deus poderia dizer.
Percebia que o certo seria ter enfrentado tudo antes e só então lhe fazer promessas. Mas ele não era racional quando estava perto de Demetria. Nunca fora um cara puritano, mas nunca se envolvera com mulher de outro. Não voluntariamente.
Fizeram amor madrugada adentro. Agora ela repousava em seus braços. Precisaria desse contato pele com pele para iniciar aquela conversa, mas a mulher o surpreendeu ao se pronunciar:
— Eu estou pensando...
— Eu te amo. — Ele interrompeu o que ela ia dizer.
Ela congelou.
— Você não precisa falar nada disso. Eu já estou com você e vou ficar. Não precisa...
— Eu nunca disse isso a uma mulher. Não interrompa. É bom falar e sentir isso. Muito bom.
A resposta da mulher foi um abraço tão apertado que o aqueceu e lhe deu coragem.
— Meu avô abandonou minha avó por uma garota vinte anos mais nova. Isso fez meu pai ficar super protetor em relação a ela. Ele ainda adolescente passou a tomar conta de tudo para que ela nunca se aborrecesse com nada. Quando ele casou continuou vivendo próximo. Quando ficou viúvo voltou para casa. Quando o vovô ficou doente ele teve que mudar para assumir as empresas. Eu tinha sete anos. Então meu pai me chamou e disse que tinha um trabalho muito importante para mim: tomar conta da vovó enquanto ele tivesse fora. E foi isso que eu fiz, fiquei com a vovó, sem reclamar... Porém quando eu tinha treze anos, conheci a mulher da minha vida.
— Você já me contou sua história com a Raquel...
Ela tentou fugir do seu abraço.
— Não me interrompa Demi, por favor. — Ele pediu abraçando ela mais forte. Percebia que ela queria entender aonde ele queria chegar. — Logo você vai entender, prometo... Eu conheci a mulher da minha vida aos treze anos. Foi numa das férias que passei com o papai. Estava visitando o escritório das empresas e ela estava sentada atrás da mesa da secretária do papai. Foi amor à primeira vista. Naquele ano eu falei com a vovó sobre a possibilidade de ir viver com o papai. Ela ficou verdadeiramente magoada. Eu fiquei triste, mas achei que eu teria outra chance.
A confusão nublou o olhar da mulher. No mínimo ela começara a fazer as contas.
— Encontramo-nos novamente quando eu tinha 17 anos. Foi uma das piores férias da minha adolescência. Eu me descobrir ainda apaixonado por ela. E agora ela tinha um namorado perfeito de quem vivia falando para a minha irmã. E nem me enxergava. Preparei todo um plano de sedução, cheguei até mesmo a lhe roubar um beijo, mas ela não me via. Voltei para casa determinado a esquecê-la de uma vez por todas. Perdi minha virgindade e aprendi uns truques. Mas parecia que quanto mais eu tentava colocar outra em seu lugar, mais ela se aprofundava em mim. Então virei um atleta sexual. Conheci diversas mulheres. Cheguei a pensar que a tinha esquecido, mas a simples menção de seu nome me fazia revirar pelo avesso. Quando eu estava na faculdade minha avó morreu. Ficou combinado que passaria a viver com meu pai. Mas então ela estava de casamento marcado... Por isso aceitei fazer parte de um grupo de jovens empreendedores na faculdade...
A confusão da mulher finalmente foi verbalizada:
— Joseph eu estou confusa. Suas contas não batem. Nessa época a Raquel já era casada com seu pai há pelo menos 10 anos.
— Eu sei. É isso que quero te dizer: eu nunca fui apaixonado pela Raquel. Você achou que eu falava dela e eu preferi confirmar.
Ela fez força e se afastou dele.
— Me deixa continuar a história, por favor...
Ela não respondeu, em seu olhar a percepção de que ela estava entendendo o que ele tentava dizer.
— Depois que soube que ela ia casar, não quis mais notícias. Há quatro anos encontrei o suposto marido numa festa em Los Angeles. Ele era recheio de um sanduíche com duas garotas. Eu não sei o que deu em mim. Ele era alto e forte, mais alto que o Nicholas, mas eu não tive dúvida: soquei o sujeito nocauteando ele no meio da pista...
— Ai, meu Deus...
— Voei para a casa do meu pai naquele mesmo fim de semana. Eu estava decidido a fazer o que fosse possível para tê-la só para mim. Aí descobri que ela não era casada... Mas estava envolvida com meu pai...
— Ai, meu Deus...
— Eu resolvi dar um jeito na minha vida. Fiquei noivo da Blanda...
Um barulho estranho podia ser ouvido distante dali, mas os dois o ignoraram. Joseph decidiu continuar.
— Quando voltei para casa e fui trabalhar na empresa comecei a fazer coisas absurdas só para ficar com ela... Até minha noiva percebeu, e dissimuladamente me fazia ver o envolvimento dela com meu pai. Dois dias antes do casamento a Blanda brigou comigo por uma coisa que eu fiz. E o pior já tinha feito antes...
— O quê? — a pergunta foi espremida entre os dentes, em meio a uma raiva absurda.
— Enquanto fazíamos amor eu a chamei de Demetria...
A moça não reagiu logo. Olhava para ele em choque total. O barulho agora estava mais forte.
— Joseph eu não estou entendendo, melhor, eu acho que eu não quero entender...
— Demetria, eu sei do seu caso com meu pai. Eu nunca me envolveria com você, por respeito a ele... Mas você me procurou e eu não vou te deixar ir agora. Custe o que custar...
— Você está louco! — ela gritou. A sua voz se misturou com o ruído que tinha aumentado consideravelmente. Era um helicóptero. Mas nenhum dos dois se importou com isso — Eu nunca me envolvi com seu pai...
— Não minta para mim Demetria, todo mundo sabe, eu aceitei isso. Mas não posso aceitar que o caso de vocês continue...
— Você é doente! Eu não tenho um caso com seu pai!
— Não minta. Eu posso aceitar tudo, mas não minta! A intimidade entre vocês, a marca do seu batom no colarinho dele... O seu presente de aniversário.
A mulher estava chocada e expressou seu choque com demasiada fúria.
— Você é louco! Melhor, todos os Bolivatto são.
— Demetria, como você quer que eu acredite que não há nada entre vocês dois? Ele te deu um consolo de presente!
— Era o inferno de uma piada. Se conhecesse seu pai o suficiente, saberia que ele tem um senso de humor sádico!
Joseph tentou se aproximar. Arrependeu-se de ter enfrentado a situação. Um cara esperto a convenceria a ir para longe e quando as coisas se resolvessem, quando a história dos dois se consolidasse, enfrentaria a verdade.
— Demetria...
Estendeu-lhe a mão, implorando pela dela.
— Não me toca!
No decorrer da briga ela tinha se afastado dele. Levantou-se e saiu. Nua e furiosa. O Bolivatto saiu em seu encalço, também não se preocupou em se vestir. Quase a alcançou na porta da entrada da cabana, porém a moça estava tão irritada que nem percebeu o rapaz atrás de si, ela olhava chocada para o helicóptero que pousava no jardim. Irritada com a invasão ela voltou-se, chutou a porta com força para abri-la e entrar em casa novamente. Mas a porta bateu no rosto de Joseph que vinha logo atrás. O impacto e o susto o derrubaram e ele bateu a cabeça com força no chão. O rapaz ainda tentou levantar, mas tonto, sentiu um líquido quente e pegajoso escorrer entre seus cabelos. A última coisa que ouviu antes de apagar foi Demi gritando seu nome.
Joseph sentiu um cheiro forte de éter quando despertou. Ouviu uma TV ligada em desenho animado e intuiu que o Nicholas estava por perto. Abriu os olhos brigando com a claridade. Estava em um hospital.
— Demetria...
Mas ao invés dela responder...
— Você acordou, até que enfim. — Nick falou baixo.
— Onde está a Demi?
— Presa. Ela não te sequestrou?
— Como?!
— Ela foi presa em flagrante. Vai passar a noite detida. Cara como é que você consegue essas coisas? É essa sua cara de bebê chorão, não é?
A voz de seu amigo estava carregada da profunda admiração machista, em outro momento Joseph teria contado vantagem, mas naquele...
— Você ficou demente? Trate de soltar ela agora!
O amigo riu. Era uma de suas brincadeiras de mau gosto. Joseph se preparava para levantar quando a porta se abriu e Demetria entrou. Uma onda de alívio o invadiu. O primeiro olhar que ela lhe lançou foi preocupado, que depois virou uma careta de raiva, talvez pensando se poderia esmurrá-lo sem matá-lo.
— Demetria...
— Você está bem?
— Estou. Você?
— Isso não importa mais a você...
Joseph já se preparara para o embate, quando a porta do quarto foi aberta outra vez. Uma garota loira entrou. Era alta, mas possuía um rostinho de criança, que lhe revelava a idade, não mais do que 14. Tinha um curativo no supercílio. Todos olharam em sua direção.
— Sr. Nicholas Jonas?
Dirigiu-se diretamente ao amigo de Joseph.
— Sou eu.
— Eu sei. — Lhe estendeu a mão — Prazer. Eu sou Emmily, sua filha...
Joseph não sabia se agradecia ou xingava aquela menina. Ela adiou sua discussão com Demi, mas... Espera aí. O Nicholas tem uma filha adolescente?

~*~

A história já está acabando... ^^
Comentem, amores <3

sábado, 26 de outubro de 2013

CAPÍTULO 17 – FULLGÁS

“Então venha me dizer o que será
da minha vida sem você
noites de frio dias não há
e um mundo estranho pra me segurar”

Uma música antiga tocava num radinho de pilhas que já tinha visto dias melhores. Ao fundo da música podia-se ouvir um zumbindo agudo e irritante. Mas isso não atrapalhava em nada Demi de acompanhar cantando a letra da música, em plenos pulmões.
— Como você canta mal. — Joseph zombou.
A resposta da mulher foi cantar mais alto. Eles vinham se provocando desde que acordaram. Mas então o homem ficou sério:
— Demi, eu queria lhe propor um jogo.
Ela parou. Não tinha condições de mais nada por pelo menos algumas horas.
— Joseph, eu estou meio doída. Você não pode me deixar descansar? É que eu ainda estou...
Sabe aqueles momentos em que você quer desaparecer? Joseph riu. O infeliz!
— Não é disso que estou falando. O que tenho em mente é tipo “verdades ou consequências”.
Ela o encarou com uma ruga de preocupação na testa. Estavam na cozinha, à mesa, cortando legumes para o almoço.
— O que você quer saber?
— Coisas...
— Tipo?
Ele pensou um pouco.
— Qual a coisa que você mais gostava de fazer quando era criança?
Ela sorriu com grande alívio.
— Isso é fácil: Brincar com Wilmer e com a Beth. Éramos grudados... E você?
— As aulas de piano. — respondeu o rapaz sem pestanejar.
— Carlos acreditava que você teria uma brilhante carreira profissional como músico.
— Ele me disse. — o semblante do rapaz ficou mais sério.
E Demi mudou de assunto rapidamente:
— Com quem e quando perdeu a virgindade? — preferiu desviar o assunto.
— Heidi, a empregada da casa, aos quinze.
— A da mesa?
Ele a olhou espantado, mas então deduziu:
— Beth-Boca-Grande-Bolivatto!
Ela riu.
— Sua avó pegou vocês mesmo em cima da mesa no ato?
— Pegou. Caramba, eu pensei que ela fosse morrer, ou me matar.
Ela riu de novo.
— Coitada da Heidi. Minha avó, aquela senhora tão distinta conhecia tantos nomes feios... Que choque!
Nesse momento o apito do forno soou interrompendo a conversa. Depois, Demetria voltou ao jogo.
— Tem uma pergunta que queima meu juízo desde quando eu tinha 15 anos.
Joseph tinha uma vaga ideia do que seria, mas se fez de desentendido:
— Qual?
— Por que você me beijou naquele verão?
O homem sorriu:
— Por que você estava irresistível naquele vestido branco. Estávamos sozinhos e eu pensava que não teria outra oportunidade...
Mais tarde, estavam na banheira deitados em oposição. Demi meio sonolenta, enquanto Joseph massageava seus pés lentamente. A água morna a fazia relaxar ao ponto de fechar os olhos.
— Você me seguia?
— O quê?
Ela não entendeu a pergunta.
— Você me seguia? Quer dizer, há algum altar com recortes meus e frases tipo Demetria Lovato Bolivatto? Ou Sra. Joseph Bolivatto. Ou coisas desse tipo?
— Pai do céu! Você acha que eu sou doida. — seu sono dispersou no mesmo instante.
— Não, eu só acho que você é uma garota que está passando por um momento difícil.
— Bem, para sua informação, eu não sou nenhuma psicopata com fixação em você. Eu sou só uma mulher que percebeu que nós poderíamos dar muita coisa boa um para o outro. Eu só não quis perder tempo em algum tolo jogo de sedução. Eu odeio e não levo jeito para essas coisas.
— Me chamar para jantar, um drink depois do trabalho estava fora de questão?
— E ter que competir com uma cacetada de mulher que baba por você? Sem falar que você podia educadamente me dizer não...
— Eu não diria não.
Ela parou e o encarou.
— Isso nós não sabemos.
— Eu sei.
A veemência de suas palavras deixou a mulher satisfeita.
— Eu não sabia... Seja como for o plano deu certo e nós estamos aqui, não é?
— É.
Ele não esqueceu sua satisfação.
— E não viaja Bolivatto, é só sexo.
O homem decidiu que não entraria naquela discussão.
— Uma transa inesquecível. — a moça falou de repente.
— O quê?
— Me conta de uma transa inesquecível.
— Você.
Demetria olhou torto para ele, não aceitaria aquela resposta.
O homem pensou um pouco então respondeu:
— Heidi e Irina. Sexo a três. Ficamos juntos por quase um ano.
— A empregada... Espera aí, você manteve duas namoradas ao mesmo tempo?
— Não. Eu tinha dezessete anos e era o brinquedinho sexual delas.
— Você era uma criança. Quantos anos essas vacas tinham? — levantou a cabeça para olhá-lo.
— Heidi tinha vinte e quatro, e Irina, ou dona Irina, como ela gostava de ser chamada, tinha mais de trinta. Nunca soube ao certo.
— Caramba. Você comia duas mulheres mais velhas ao mesmo tempo aos dezessete?!
Ele riu.
— Não tem graça. Bem que Beth falou que você era o maior “come-quieto”. É verdade que você participava de orgias? É verdade que você é um dominador? — sua voz ia ficando alta à medida que fazia as perguntas.
— Sim e não. Eu já participei de sexo grupal uma ou duas vezes na vida, acontece quando você descobre que não pode ficar com quem gosta e decidi substituir amor por sexo.
A confissão incomodou a ambos, por isso Joseph continuou:
— Já me fiz de dom algumas vezes e gostei, mas isso não me atrai muito. — ele continuou explicando como se fosse uma coisa corriqueira e não algo tipo: “Entenda, eu sou o deus do sexo”.
— Sei. — voltou a deitar na borda da banheira.
— O que foi agora?
— Nada.
— Demi... Sinceridade, lembra?
— Estou digerindo o Joseph-Safado-Dom-Juan-de-Quinta.
Ele gargalhou mais uma vez.
— Em primeiro lugar eu não sou um Dom Juan de Quinta. Eu sou um amante habilidoso como você mesma já comprovou mais de uma vez. Em segundo lugar, eu já não tenho espaço na minha vida para nada mais disso. A Blanda foi o meu passaporte de acomodação. Com ela eu já estava sossegado.
— Ok, você desfilava para cima e para baixo com uma deusa do sexo e me diz que já estava sossegado? E depois reclama quando eu fico insegura com relação ao nosso futuro.
— Você não precisa ter medo do futuro Demetria. Eu estou aqui com você. E já disse que não vou embora.
— Fácil falar.
Não discutiram mais. Momentos depois a moça foi para a varanda com uma caneca de chocolate quente em suas mãos. Estava com medo novamente. Bem, sabia desde o início que ele não era nenhum virgem. Sabia que ele já tinha participado de algumas aventuras. Mas ela não estava pronta para um discípulo de Baco. Como ela ia acreditar nas promessas de um cara que aos dezessete anos tinha na cama duas mulheres ao mesmo tempo?
Demetria acordou de madrugada. Demorou para perceber que tinha alguma coisa errada. Estava muito frio. Demi se encolheu junto ao corpo de Joseph e puxou o edredom. Cobrindo a cabeça. Suas orelhas estavam geladas.
— Demi!
O Bolivatto reclamou e puxou o edredom de volta. Ao sentir o frio intenso em suas costas a moça abriu os olhos. A luminosidade do dia entrava pelas fendas das cortinas, mas dentro da casa estava tudo escuro.
— Joseph?
— Hum?
— Estou com frio...
— Hum. — ele gemeu — Agora não Demetria. — e alisou a perna da moça que o envolvia.
— Joseph, eu estou com frio. — falou meio chorosa.
Como resposta o cara virou o corpo abraçando-a com firmeza. Depois foi escorregando as mãos entre suas coxas.
— Ô tarado! — bateu de leve em sua testa — não é esse tipo de frio.
Com um suspiro e sem abrir os olhos, ajeitou sob os lençóis e abraçou seu corpo outra vez. Demetria apenas suspirou exasperada.
— Joseph, acorda...
A vontade era empurrá-lo da cama, mas se conteve. Era a responsável pela preguiça matinal do Bolivatto. Se não fosse o frio, ela mesma estaria dormindo como uma pedra. Afinal de contas, há pouco se jogaram na cama, exaustos.
O homem abriu os olhos sonolentos. Ninguém podia ter autorização para ser tão bonito. Ela mesma deveria estar parecendo um papel amassado.
— Ué? Não queria me acordar? Conseguiu, agora desembucha.
— Está fazendo frio, acho que o aquecedor quebrou.
O homem olhou em volta.
— Não, acho que foi o gerador. Vê como a casa está escura...
— Droga, o freezer está cheio.
Não conseguiram descobrir qual era o problema. Demetria reclamava o tempo inteiro sobre o fato de estar num porão escuro. Sobre os bichos asquerosos que viviam ali...
— Vai, sai daqui.
A reação da mulher foi estranha. Algo no rosto dela fez com que percebesse fora manipulado. Só por isso a seguiu. Acompanhou do lado de fora, pelas janelas seus movimentos. O piso falso. O telefone. Percebeu sua preocupação em esconder o telefone outra vez ao terminar a chamada. E se sentiu traído. Não era só sobre os sentimentos dele que ela não confiava. Nele como homem também. Isso fez Joseph perigosamente consciente, de que apesar de todos os seus esforços, a fragilidade e instabilidade da relação dos dois continuavam. No final era só sexo. Não importava o quanto ele se doasse a relação deles estava pautada em puro desejo físico.
Logo Demetria apareceu dizendo que recordara que o dono da casa a avisara sobre a necessidade de colocar diesel no gerador. Não comentou nada sobre o celular. O refém passou resto do dia em silêncio, pensando. Foi fazer o almoço, isso sempre o relaxava. Estava ponderando sobre suas opções. Poderia confrontá-la. Mas isso daria um ultimato à situação. Talvez os 30 dias fossem encerrados naquele momento. Estava pronto para abrir mão do trato? Estava pronto para abrir mão de Demetria?
Via-se obrigado a pensar nas coisas lá fora. No que faria quando retornasse. Se antes ele estava preso a um amor sem esperanças, agora a coisa se complicava ainda mais. Estava viciado em uma mulher que estava fechada para as emoções mais profundas.
Como ele permitiu que isso acontecesse? Não bastavam os anos sofrendo? Ele estava bem onde estava. Não exatamente feliz, mas já tinha aberto mão de sua felicidade duas vezes. Fora um adolescente sem esperanças, um adulto sem grandes expectativas no campo amoroso. Então, não era justo ele se envolver tanto com alguém que só o estava usando como vibrador personalizado. Por outro lado, o Bolivatto percebia que ela estava apreensiva com o seu silêncio. Mas estava tomado por tantas emoções conflituosas, que não era capaz de verbalizar nada. Tinha medo de falar demais, de se expor demais. E machucar ainda mais a ambos.
O dia tornou-se noite sem que ele percebesse, não se importou quando Demi preparou o jantar. Comeu calado. Depois de muito pensar, optou pela opção mais covarde: ignorar o ocorrido. Ia viver os dias que lhe restava e deixar que o futuro se resolvesse por si só. Se sofresse no final, ao menos teria boas lembranças.
Levantou-se e foi à sala. Ia ligar a TV quando o maldito telefone tocou. Aquilo encerrava a sua opção de jogar algo mais sob o tapete.
— Alô? — a voz do Bolivatto involuntariamente saiu irritadiça.
— Demetria Lovato, por favor.
O Bolivatto pacientemente foi até o quarto, abriu a porta, para encontrar a moça acordada.
— É para você...
Agora ele estava de volta à sala. Esperando. Demi apareceu algum tempo depois. O celular já não estava com ela.
— O celular era para nossa segurança. Ele é do Jackson. Funciona em qualquer lugar do planeta.
Joseph continuou calado sem olhar em sua direção.
— Joseph. Eu sou doida, mas nem tanto. Nós precisávamos de uma segurança, caso acontecesse algum acidente ou um imprevisto. Eu só queria ter certeza que...
— Você ter ou não um celular Demetria, não me incomoda. O que me irrita é saber que apesar de tudo o que eu tenho feito você ainda não confia em mim. Eu tenho tentado lhe dar a segurança de que estarei com você em qualquer situação. Que estaremos juntos quando sairmos daqui, mas tudo está sendo inútil...
— Eu...
— Você não confia em mim Demetria. Não importa eu tentar, porque você está fechada para a nossa relação. E eu não sei se quero continuar com isso...
— Você que ir embora?
— Demetria, eu lhe dei a minha palavra. 30 dias. É o que você terá. Mas eu preciso de uma decisão agora. Chega de jogos. Não somos crianças. Se você acha que podemos ficar juntos, que você pode abrir seu coração para mim. Abra de uma vez. Mas se você acha que tudo que deseja de mim são esses 30 dias de sexo... Eu vou respeitar sua vontade e quando nós sairmos daqui, cada um segue seu caminho.
— Eu quero...
— Não responda agora. Pense com calma. Vou esperar o tempo que for necessário. Mas saiba que sua decisão será definitiva. Chega de brincadeiras.
Foi para o quarto, pegou a manta de urso e seguiu para a varanda. Era tudo ou nada. Esperava estar fazendo o certo. Nervoso, alternava-se entre o orgulho por sua coragem de enfrentar a situação e a repreensão por sua burrice. Demi era louca. Amava ela desesperadamente, mas tinha que admitir, era a criatura mais insana que já conhecera. Então qualquer coisa poderia sair daquela mente. Por exemplo: agora ela poderia estar lá preparando o seu assassinato por atrapalhar sua farra de um mês. Ou pensando na próxima vítima a ser sequestrada, já que a primeira opção estava dando trabalho. Mas também podia estar pensando no que tinham...
A sequestradora apareceu quase duas horas depois. Com uma bandeja. Seu rosto sério não revelava sua decisão. Talvez o café estivesse envenenado. A moça colocou a bandeja no chão próximo ao banco onde Joseph estava sentado. Ajoelhou-se ali. Serviu-se de uma xícara e lhe entregou outra. O rapaz esperou que ela bebesse.
— Eu sou medrosa. — ela falou por fim — E insegura. E tomo remédios de tarja preta. Então definitivamente essa história de “... E foram felizes para sempre” não vai ser fácil.
— Eu nunca quis nada Demetria...
— Eu ainda não terminei!
Tão educada o amorzinho dele.
— Eu estou dizendo que quando sairmos daqui, antes de um mês você vai estar querendo me matar. Ou eu terei tentado te matar. Ou a alguma louca que tente dar em cima de você. Você é um cara bonitão. Eu não sou a rainha da beleza...
— Demi. — A puxou para si — Você é perfeita! — Beijou seu pescoço. Mordeu seu ombro e sussurrou em seu ouvido baixinho. — Perfeita.
— Não, espera. Tem dias que eu só levanto com ajuda de remédios. Tem dias que eu acordo de mau humor e não quero ver ninguém. Se você for embora, se você não suportar viver desse modo... Eu não sei o que vai ser de mim...
— Só o tempo dirá que é para sempre, você vai ver...
Depois de algum tempo aconchegada a Joseph, Demetria comentou:
— Wilmer foi meu primeiro amor. O primeiro namorado, o primeiro amante.
Ele tentou não reagir.
— A minha adolescência inteira foi um sonho por causa dele. Nós nos completávamos de um jeito... Não éramos apenas namorados, éramos amigos.
— Por que terminaram então?
— Não terminamos. Na verdade quando fomos para a faculdade íamos nos casar, Wilmer queria estudar em outra cidade. Nossos pais foram contra. O pai do Wilmer nos fez uma proposta: Irmos para a faculdade e conhecermos outras pessoas. Se nós não nos interessássemos por ninguém. Casaríamos quando nos formássemos.
— E depois?
— Nós conhecemos outras pessoas. Na primeira vez que ele me ligou para dizer que conheceu uma moça foi doloroso. Ele estava tão nervoso! E mesmo tendo o meu consentimento ele ainda atravessou o país só para saber se era isso mesmo que eu queria. Eu nem senti ciúmes. Só medo. Sabia que o estava perdendo. Eu já estava atraída por um cara também, então tudo coincidiu. A primeira vez que aprontaram comigo, ele veio e quase acabou com o sujeito e aí eu descobri: Nossa relação tinha se transformado em algo fraternal. Nós nos falávamos toda semana e nos encontrávamos sempre que podíamos. Quando se formou ele foi convidado para trabalhar na Inglaterra. O fim nunca foi oficializado. Às vezes penso que se estivéssemos casados, seriamos felizes. Nossa relação era perfeita... Eu me pergunto, se isso não deu certo, como as outras coisas darão?
— Eu não tenho resposta para isso, Demetria.
— Nem eu. Seja como for o passado ficou no passado. Somos amigos. Mais do que isso, somos irmãos. Ele prometeu me dar um filho esse ano, quando completasse trinta. Se eu não arranjasse alguém.
O Bolivatto a segurou firme em seus braços.
— Não. Seus filhos serão meus, todos eles...
Admitia que estava sendo possessivo. Muito possessivo com relação à Demetria. Mas isso era algo que estava além do seu controle. Sentiu a moça estremecer e buscar seu olhar. Estremeceu também. Havia... Ternura e amor. Havia amor no olhar de Demetria Lovato!
Seu coração parou por um segundo inteiro e então adotou a pulsação limite para um ser humano em alta velocidade. Ele seria capaz de qualquer coisa para merecer aquele olhar cada dia de sua vida. Buscou seus lábios com desespero, afastando os pensamentos nebulosos. Precisava dela agora, para ter forças, para que ela percebesse o quanto eram bons juntos e que nada deveria separá-los. Bebeu de seus lábios como um peregrino sedento após uma viagem no deserto.

CAPÍTULO 16 - GO BACK

“Só quero saber
Do que pode dar certo
Não tenho tempo a perder”

Medo. Joseph viu um medo profundo no olhar da mulher e percebeu quando ela se fechou emocionalmente. Uma mulher esperta teria calado a boca e pensado no que aquilo significava, mas a mulher tinha medo. Medo de se arriscar. Não ia deixar que aquilo acontecesse. Estavam num caminho sem volta.
Jogando a pele de lado, a mulher levantou-se e parou diante dele num claro desafio:
— Não faça promessas que não pode cumprir. Não me iluda. Você não é o tipo que se prende a ninguém.
— Demetria, eu não estou fazendo promessas, eu estou abrindo possibilidades, acho que nós...
— Acha nada. Você não acha nada Joseph, você está aqui por apenas um propósito: dar-me prazer por um mês inteiro. Sexo. Droga o que há entre vocês homens e sexo? Por que vocês precisam do controle? Por que vocês precisam iludir? Droga. Sem promessas. Supere seu momento “emo” e faça o que tem que ser feito. Só isso.
Em seu discurso, Demi tinha se levantado e estava parada diante dele com os braços cruzados. Joseph se aproximou não recuando ao desafio e subitamente, fazendo-a consciente de seu tamanho intimidante pela primeira vez. Ele era uma cabeça mais alto que ela. Sua expressão transbordava raiva.
— Muito bem. Seu desejo é uma ordem, depois não reclame. Vamos continuar nosso joguinho de senhor e escrava.
Foi arrastada pelo braço para o quarto.
— Deite-se e me aguarde. E eu não quero ouvir sua voz pelo resto da noite. Já falou muita besteira para um só dia... Mais uma coisa. Quando estiver deitada quero suas mãos a partir de agora cruzadas atrás da cabeça. As pernas sempre abertas a minha espera. E da próxima vez que abrir a boca, só o faça para pedir que eu pare se não aguentar comigo.
E saiu do recinto.
O Bolivatto esperou por quase meia hora e à medida que o tempo passava, ele pensava. Ela não estaria com medo se seus sentimentos não estivessem em risco. Possivelmente estava fazendo toda a força do mundo para mantê-lo fora do seu coração. O que fazer para quebrar as suas defesas? Demetria era teimosa, autoritária e potencialmente defensiva. Ia penar até que ela compreendesse uma única verdade: nasceram um para o outro. Ela queria seguir com o plano? Ele pretendia lhe mostrar o plano. Teria que provocá-la até que ela perdesse por completo a razão.
Entrou no quarto decidido.
— Joseph...
— Não lhe dei permissão para falar. Também não foi nessa posição que te deixei. Se você não consegue cumprir uma ordem simples é só me dizer. E nós jogamos um jogo que seja mais fácil para você.
Demetria não sabia lidar com a ironia. O Bolivatto pai vivia se aproveitando disso. E agora de certa forma o filho também.
Vencida. Abaixou o olhar e adotou a postura que ele tinha indicado: mãos sob a cabeça, pernas afastadas. O que foi incomodo, já que estava nua.
— Boa garota.
Sentou-se na cama e a observou dos pés a cabeça. Suas mãos foram para a barriga da moça. Acariciou o umbigo, o ventre, desceu para a virilha, depois seguiu o caminho inverso, o vale entre os seios. O pescoço...
— Nós vamos começar um jogo novo agora. Ele se chama: “Demi não pode gozar”. Preciso explicar alguma coisa?
Ela negou com um aceno de cabeça.
— Muito bem. A título de informação, se você não conseguir, ganha mais um dia no castigo.
Ela o encarou sem esconder à revolta.
— É só dizer que não consegue Demetria. — sua voz suave nem de longe a enganava. Ela desviou o olhar mais uma vez. Que ele tentasse.
Joseph prosseguiu com as carícias. Acariciou cada ponto do corpo feminino sem na verdade aprofundar os afagos nos minutos seguintes. Para ela, aquilo durou horas. Demi então percebeu: a tortura ia ser longa e lenta. Mas podia aguentar, era só aquilo que ele podia fazer?
Como se adivinhasse os pensamentos da moça, Joseph escolheu aquele momento para intensificar as carícias. Atacou-lhes os seios com firmeza. Utilizando do vigor que ela tanto gostava; primeiro, com as mãos, depois com a boca e quando ela achou que ia acabar gozando se ele continuasse assim, seus movimentos tornaram-se mais lentos. Trabalhando com a língua. Quando se afastou, ela tinha os mamilos sensíveis e molhados.
O olhar de Joseph era o de quem estava planejando algo maquiavélico. Tremeu internamente.
— Eu agora vou entrar em você. Não serei suave e não quero ouvir gemidos, lembre-se que não pode gozar, a menos que eu permita.
Joseph encaixou-se entre as pernas de Demi. E entrou de uma só vez. Não se mexeu. Esperava algo. Demi se perguntava o que, mas não podia verbalizar a pergunta. Percebia que ele estava procurando um motivo para ser mais rígido com ela. E não podia permitir isso, não ia deixá-lo ganhar em seu próprio jogo. Esperou pelo momento seguinte. Foi de repente. Ele recuou o corpo até quase estar fora dela para então entrar forte. E de novo, e de novo. Ela o sentia no seu âmago. Chegando mais fundo do que qualquer outro. E continuou com impulsos fortes. Ela sentia-se dilatar tornando sua entrada mais fácil a cada investida. Estava gotejando. O êxtase vinha em uma espiral e ela finalmente se deu conta que havia provocado uma fera.
Diante do inevitável, usou a imaginação para estar fora dali. Invocou as imagens mais dolorosas que tinha dentro de si. As duras tristezas vividas nos últimos meses. Ainda assim, não conseguiu sentir a nostalgia que sempre sentia. Seu corpo estava no domínio, e nada de ruim iria tirá-la dali. O truque sujo não funcionou. Aquele homem lhe provocava alegria instantânea. Respirou fundo uma, duas, três vezes. Estava à beira do ápice. As mãos atrás da cabeça e os braços já estavam dormentes. As pernas pareciam ter vontades próprias e queriam enlaça-lo pela cintura. Mas ela buscava a concentração numa teimosia típica dos Lovato. Não alterou a posição. Mais uma, duas, três batidas dentro de si. E ele gozou. Isso quase a fez perder a cabeça. Estava trêmula e ofegante. Seu maxilar doía pelo esforço que fizera trancando os dentes. Quando Joseph saiu dela, os líquidos de ambos escorreram pelo lençol.
— Pode ficar a vontade. Eu já volto.
Demi rapidamente sentou-se. Seu corpo estava dolorido pela frustração. E eles mal haviam começado. Ainda tinha pouco mais de 24 horas de servidão. Sentia-se estúpida. Uma mulher inteligente não abria a boca o tempo todo. Uma mulher inteligente nem teria aceitado aquela proposta maluca de sequestrar o filho do chefe.
“Ele está carente. Sozinho. Não há oportunidade melhor...”
Burra. Isso que ela era.
O Bolivatto voltou ao quarto com a manta de pele de urso sintética. E atirou-a no chão ao lado da cama.
— Você vai dormir aí hoje, Demetria. Se tiver vontade, no meio da noite, te acordo para continuar nosso jogo. Alguma dúvida quanto a isso?
A mulher tentou disfarçar o choque. Ignorando a consciência, o homem se manteve impassível.
— Não senhor, mas posso tomar um banho?
— Não, Demetria, eu quero você úmida e escorregadia para deslizar fácil.
Com um suspiro frustrado, a moça desceu da cama com gestos malcriados. O homem escondeu seu divertimento assistindo a mulher arrumar a manta no chão duro.
— Isso não ajuda Demetria. — a repreensão dura era apenas o começo. — Para você merecer o privilégio de dormir em minha cama vai ter que ser mais cordata. Não demonstre suas emoções. Isso é deselegante.
Joseph não conseguiu entender o que a mulher resmungou, mas sentiu a consciência pesada por sua santa mãezinha ao imaginar. Ela se deitou sobre a manta. A maciez do tecido deixou seu corpo ainda mais sensível. Sua vontade era aliviar-se, mas teria que esperá-lo dormir para isso. Não conseguiria prosseguir sem entregar o jogo se não trapaceasse.
— Demetria, está acordada?
O Bolivatto perguntou quase uma hora depois. Como se ela fosse conseguir dormir.
— Sim senhor.
— Eu estou sem sono.
Ela não entendia bem o que isso tinha a ver como ela. Afinal, ele teve o orgasmo dele. Do que estava reclamando?
— Posso fazer algo pelo senhor? — não conseguiu disfarçar a ironia. Ele ignorou.
— Conte-me um dos seus sonhos comigo.
Ela ficou em silêncio por um tempo. Sentia a musculatura pélvica contrair e ele queria que ela relatasse seus sonhos eróticos? Sádico!
— Eu estou esperando Demetria.
— Estou pensando... Escolhendo. — ela fez uma pausa e então prosseguiu — Eu sonhava muito com o seu escritório. Nesses sonhos você sempre me chamava para reclamar de algo. E como castigo me mandava ficar de quatro no sofá ou apoiada contra a mesa. Às vezes entrava de uma só vez, às vezes ficava me provocando. Sussurrando coisas em meu ouvido. Uma vez me deu umas palmadas... Ai...
Sua narrativa foi interrompida pela presença do Bolivatto no chão a seu lado. Sem pedir permissão ele a tocou intimamente.
— Continue, quero saber mais sobre essas palmadas.
Ele só podia estar brincando. Quem poderia ser articulada com aqueles dedos mágicos?
— Eu...
— Sim, você...
— Você me deitava em suas coxas de bumbum para cima... Ai, Deus...
— Continue Demetria...
Ele era louco? Aqueles dedos...
— Você me tocava com uma mão, enquanto... Batia-me com a outra... Quanto mais você me batia... Mais seus... Dedos brincavam comigo...
Estava ofegante no fim da narrativa.
— Você quer seu orgasmo Demetria?
— Sim senhor...
— E o que você faria por ele?
— Qualquer coisa senhor...
Não dava para manter a pose em sua situação.
— Até receber cinco palmadas minhas pela garota muito má que você vem sendo? — sussurrou contra seu ouvido.
“AVC. Adeus mundo cruel. Demetria Lovato estava de partida.”
— Estou esperando Demetria. Vai receber seu castigo ou não em troca do seu êxtase.
— Sim senhor. — respondeu num fio de voz.
Os dedos de Joseph se afastaram no mesmo momento. O rapaz se sentou na cama e lhe estendeu a mão.
— Venha.
Ela obedeceu de imediato. E logo estava como corpo estendido sobre as coxas do rapaz. Ele primeiro afagou suas costas e só então lhe apalpou as nádegas. Um leve beliscão. Ela ofegou de novo. Quando menos esperava, sentiu os dedos úmidos dentro de si outra vez. Inquietos, entrado e saindo, enlouquecendo-a no processo. Uma primeira palmada chegou sem aviso. Esquentando lhe a pele. A segunda atingiu outro ponto. A terceira coincidiu com um afago mais intenso da outra mão. A quarta veio junto com o seu orgasmo. Quem diria que iria gostar tanto daquela coisa? Teria caído se não fosse sustentada de imediato. Bolivatto a segurou pela cintura junto a seu corpo.
— Você ainda me deve uma palmada.
— Sim senhor...
Que mais ela poderia dizer? Estava trêmula e não confiava em si mesma para comandar o próprio corpo. Foi colocada outra vez no chão sobre a manta. Não demorou muito para sentir o corpo másculo junto ao seu. Dormiram naquela mesma posição. Uma das pernas de Joseph estava entre as suas. Sentia sua respiração tranquila e compassada junto a sua nuca. Na mesma hora sua pele se arrepiou e os mamilos tornaram-se túrgidos. Não se mexeu. Não queria acordá-lo.
Ficou ali meditando sobre quais surpresas o dia lhe reservava. Era um momento tão silencioso e tranquilo que voltou a dormir. Acordou estava sozinha, dessa vez na cama. Procurou Joseph pelo quarto e não o encontrou. Não sabia quais eram as instruções. Resolveu tomar logo um banho antes que o seu “mestre” voltasse. Foi rápida, mas ele não apareceu. Secou-se e ia vestir umas roupas quando lembrou que ainda tinha um dia inteiro de servidão. Isso significava nada de roupas.
Joseph estava na sala de TV. Não lhe deu atenção. Ela chegou a pensar que não percebera sua presença.
— Seu café está sobre a mesa da cozinha. Se alimente e volte aqui. Não demore.
Instruiu sem tirar os olhos da tela.
Demetria tentou não pensar enquanto comia. Aparentemente o humor do Bolivatto ainda não havia mudado. Ela estava surpresa com o quanto ele podia ser rancoroso. Afinal, o que ela falou demais? Só que sexo era tudo o que queria dele. Que homem não gostaria de escutar isso?
— Demetria, eu estou esperando.
Apresentou-se a ele momentos depois, o café inacabado. Ele a olhou de alto abaixou e então falou:
— Eu quero uma lap dance.
— Como?!
— Você ouviu.
— Mas eu sou péssima dançando e...
— Eu não lhe perguntei se você era boa, então ainda não entendi porque você não está rebolando em meu colo.
Demi inspirou profundamente antes de se aproximar. Isso ia ser constrangedor. Precisava dar um jeito de devolver o favor num futuro próximo... Desconexamente começou a movimentar o corpo. No fundo da expressão facial indiferente do mestre de Demetria, havia um “quê” de divertimento. Pai do céu. Parou de repente. Não dava.
— Eu não mandei você parar...
— Mas eu...
— Você desiste?
Mais uma vez, uma fúria silenciosa a impulsionou. Era esse o plano dele. Provar que era melhor que ela naqueles jogos. Fechando os olhos começou a mexer os quadris lentamente. Quando os abriu estava determinada. Tocando seus ombros aproximou os quadris de sua face. Colocando a perna direita ao lado do corpo masculino, começou a esfregar lentamente a sua região pélvica no abdômen do rapaz e foi descendo... De repente estava deitada sobre o sofá.
— Você ainda não pode gozar.
Durante todo o dia foi daquela forma. Quando Demetria mal esperava, Josepg-Egoísta-Sexual-Bolivatto aparecia, exigia seu orgasmo e a deixava a ver navios. Demi já tinha planejado os dias futuros com os mais refinados tipos de tortura. Afinal, ainda tinha 18 dias ali e em 18 dias dava para fazer milhares de coisas perversas.
Estava na varanda esperando a próxima ordem, quando o infeliz apareceu.
— Eu quero que você vá para a sala de jantar e deite sobre a mesa.
Tortura. Ia ser torturada. Já sabia que entregaria os pontos. Seu sexo pulsava tanto que a mínima manipulação geraria um orgasmo fulminante. De fato ele foi perverso, não precisou de muito para que Demetria entregasse os pontos. Pouco tempo sobre a mesa e a mulher implorava:
— Joseph, por favor...
— Por favor, o que Demi?
— Eu preciso de você...
Na mesma hora a expressão do Bolivatto se modificou, ficou mais suave.
— Agora você tem permissão para gozar...
E ela assim o fez. Ainda estava se recuperando quando ele pegou seu queixo e a obrigou a encará-lo.
— Você sabe por que fiz isso? Esses castigos?
— Você quer mostrar quem manda.
— Como sempre você só pensa besteira. Não, Demetria, eu não quero provar quem manda. Eu quero que você entenda que posso me sair muito bem no seu jogo. Que sou um especialista nele. Se não faço nada é porque sei que posso arrancar o prazer de você, mas você nunca de verdade se contentaria em ser uma submissa. E mais que isso, você não quer apenas trinta dias. Assim como eu também não quero. Pare de se defender, não estamos em guerra.
Ela ficou parada, olhando naqueles olhos verdes, os cabelos bagunçados, com ele sobre o seu corpo ainda firmemente encaixado nela. Tinha perdido completamente a capacidade vocal. Quem poderia ter capacidade de falar naquela situação?
— E o mais importante: eu não vou deixar você estragar tudo entre nós. Eu estava em meu canto, você veio atrás de mim. Então agora aguente...

~*~

Desculpem a demora :s acabei ficando sem tempo.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

CAPÍTULO 15 - A FÓRMULA DO AMOR

“Eu tenho a pose exata pra me fotografar
Aprendi nos livros pra um dia usar
Um certo ar cruel, de quem sabe o que quer
Tenho tudo ensaiado pra te conquistar”

Algemada a cama, Demi não estava com medo. Tinha até mesmo a sombra de um sorriso nos lábios e Joseph percebeu que tinha algo ali que lhe faltava. Os últimos dias fora uma prova de que poderia ser tão inseguro como um adolescente inexperiente. Joseph sendo trocado por um livro era algo no mínimo inusitado. Se Nicholas o visse agora...
E seu pai? Seu pai iria deserdá-lo.
“Ser trocado por um livro, filho? Você está envergonhando o bom nome da família...” Bem talvez o deserdasse mesmo quando voltasse para casa com Demetria a tiracolo, mas Joseph nunca se preocupou com a herança que receberia um dia. Agora era um homem com uma missão: punir Demetria Lovato.
— Eu ainda não ouvi uma resposta Demetria.
Insistiu.
— Eu não te troquei por um livro. Eu só estava colocando minha leitura em dia...
— Me deixando abandonado por dois dias inteiros! Aqui não tem o que fazer. Eu detesto mato. Se você me sequestrou tem certas obrigações comigo.
Diante do seu desabafo, a reação da moça foi simples:
— Você é um Bolivatto perfeito, nunca vi criaturas mais arrogantes.
Joseph não se deixou enganar.
— E você está desconversando. Eu mereço ou não que você seja minha escrava por três dias?
— Eu acho isso desnecessário... Tudo bem, eu fui um pouco grossa, mas...
— Eu não acredito que você está tentando fugir da responsabilidade.
— Eu não...
Ela teve a decência de desviar o olhar.
— Você está com medo Demetria?
Ela era tão previsível que na mesma hora reagiu ao desafio.
— Droga! Está bom, eu faço. Mas isso é um absurdo...
— Bem, tem também a lei do retorno...
— Não abusa, Bolivatto.
Joseph não achou mesmo que iria colar. Então continuou.
— Muito bem. Vamos dispor as regras: seu nome agora é Emmanuelle...
— Quem é essa vaca?
— Opa, que boca porca. Além disso, você só pode falar com a minha permissão...
— Quem é a ruminante?
Joseph riu da sutileza da mulher. Ela estava com ciúmes. Isso era perfeito.
— Eu estou falando da Emmanuelle do filme...
A sequestradora ficou constrangida com a situação.
— O que eu devo fazer Bolivatto?
— Primeiro você não pode falar sem minha autorização nem produzir qualquer ruído. E me chame de senhor.
Ficou feliz por percebê-la preocupada. Ela tinha motivos. Era hora de iniciar os trabalhos. A ordem do dia era provocar. Beijou a barriga da moça. A trilha que o levava para os seios e finalmente eles. Observava com interesse as reações da moça. Seu esforço em não gemer.
Os lábios cerrados numa linha fina. Provocou mais, firme, como a mulher gostava. Em resposta ela empinou o corpo. Joseph a empurrou de volta a cama. Com um sorriso muito safado no rosto.
— Calma Demi. Nós vamos chegar lá. Mal começamos...
Usaram banheiros separados. Joseph precisou de algum tempo para colocar a cabeça no lugar. A última coisa que queria era perder a cabeça e machucá-la.
Estava com uma marca feia no ombro. Fora mordido pela moça no auge do clímax. Não lamentava. Seu descontrole era um tipo de troféu. Também precisava ser frio para que ela não conseguisse comovê-lo. Ficava relembrando o quanto ela fora malvada em sua vez, para que não facilitasse demais as coisas para ela. Tinha ordenado que fizesse um lanche rápido para eles. Percebia na postura da moça sua vontade de replicar cada ordem, mas no final ela apenas obedecia. Pediu que o servisse na sala de TV.
Quando saiu do banheiro e foi até lá, ela já tinha tudo pronto. Tomaram café em silêncio. Ele ria internamente quando terminou. Era hora de dar a Demetria um pouco do próprio veneno. Enquanto ela recolhia os pratos, Joseph ligou a TV e o DVD. Quando Demetria retornou, o filme se iniciava.
— Venha sente-se comigo. — ele ordenou. Tinha tirado o roupão e estava completamente nu. Demi obediente sentou-se a seu lado — Não. Vamos curtir o filme, mais juntinhos. Sente no meu colo. — Ela obedeceu mais uma vez.
— Boa menina. Pode se recostar em meu peito. A partir de agora, você não pode mais usar as mãos.
A moça se recostou. Enquanto assistiam ao filme, o rapaz ia provocando-a, com os lábios na nuca, orelhas. As mãos passeando pelo corpo feminino. De leve, só para instigar. Quando a famosa cena do avião começou, uma verdadeira revolução aconteceu com as carícias aplicadas. Ele ficou mais exigente, massageando, mordendo, apalpando os seios, os lados do corpo da moça. Até que finalmente as mãos lhe invadiram a intimidade.
Ela não lembrava se tinha permissão para gritar, mas em algum momento isso se tornou impossível. Mais um orgasmo alucinante para entrar para lista do Bolivatto. Ela não teve tempo de se recuperar, foi colocada de lado no sofá, junto ao corpo de Joseph. Ele ergueu a perna e se encaixou nela. Mordendo o pescoço, o rapaz a invadiu e ela perdeu o rumo mais uma vez. A cada estocada ela gritava cada vez mais alto. Quando finalmente seu corpo estremeceu em êxtase, sentiu seu companheiro acompanhá-la. Demetria cochilou em seus braços.
Horas mais tarde acordou sendo carregada em direção ao banheiro. Foi colocada sobre a pia de mármore.
— Quer mais escrava?
Perguntou antes de beijá-la. Aparentemente ele tinha esquecido o lance das mãos por que Demetria o agarrou com firmeza, e ele não reclamou. Foram para o chuveiro. Continuou provocando-a até que alcançaram o clímax juntos.
Em meio a essas sensações a mulher desabafou.
— Nossa... Eu posso ter aprendido a fazer amor com o Wilmer, mas não tenho dúvida alguma: foi com você que eu descobri o sexo.
Essa frase inaugurou uma nova etapa na vida dos dois...
O Bolivatto deitou-se na cama e ficou olhando o teto. Em sua cabeça uma pequena, mas incômoda pergunta: Por quê? Joseph simplesmente não conseguia entender porque não conseguia suscitar sentimentos profundos nas mulheres. Ao longo de sua trajetória de vida sempre encontrou mulheres que estiveram fascinadas por ele, atraídas por ele, mas amor de verdade? Não.
Era bom amante. Sabia disso sem falsas modéstias, mas ainda não havia encontrado ninguém que quisesse mais que isso dele. Talvez por que no fundo sempre quis mais. Virou-se de lado. Demi fez o mesmo, ficando de frente para ele. Ia perguntar o que estava havendo quando o filho de Carlos inclinou o corpo e lhe beijou. Aquele beijo foi diferente. Era suave, doce. Tinha desejo e algo mais, encanto. Era impossível não corresponder a isso.
Depois, permaneceram se olhando. O rapaz não tirava as mãos do corpo da moça, mas seu toque era suave, terno. De apreciação. Em seguida passou a distribuir beijos por todo o rosto da moça, descendo para o pescoço, ombros, clavícula, seios, umbigo, barriga. Sexo. Ela estava arrepiada. E estremecia a cada toque, mas em troca o sentia trêmulo também.
Tinha carinho e necessidade ali. Quando finalmente a penetrou, a mulher o recebeu com enlevo. Enfiou as unhas em suas costas, e buscou sua boca, onde as línguas se encontraram numa dança sensual. Dança essa em que os corpos também compartilhavam num ritmo calmo, mas cadenciado. Quando interromperam o beijo, ele tomou suas mãos colocando-as acima da cabeça dela e entrelaçou os dedos nos seus. Encostando a testa na dela.
Quando alcançaram o pico do prazer se olhavam nos olhos. Os de Demetria estavam marejados. E os dele também. Era perfeito demais aquele momento. Achava que havia encontrado a fórmula para ganhar o coração de Demetria e então descobrira que não tinha nada.
Após o clímax não se afastaram. O beijo que se seguiu foi intenso. Joseph fechou os olhos com força. Atacando seus lábios com sofreguidão. Não saiu de Demi quando finalizou o beijo, posicionou os corpos lado a lado, abraçando-a pela cintura. Puxou-lhe uma perna sobre as suas. Seu olhar era de uma doçura que ela nunca havia experimentado, nem mesmo com Wilmer. Havia também uma urgência nele que a induzia a responder, porém ela era incapaz de saber como. Determinar o que ele queria de verdade, então deixou que o rapaz a conduzisse nos caminhos de seus desejos. O Bolivatto estava triste de alguma forma, mas ela não compreendia o motivo. Ficaram ali entre beijos e afagos, até adormecerem.
Quando Demi acordou estava sozinha na cama. O travesseiro ao lado ainda trazia a marca e o cheiro de Joseph. O lençol ainda estava morno. Ele não tinha acordado há muito tempo. Ela se enrolou em um lençol e saiu a sua procura. Encontrou-o na varanda. Vestia uma calça e uma camiseta. Estava com as mãos nos bolsos e o rosto virado para o sol que se infiltrava entre as nuvens, olhos fechados. Ela se aproximou e tocou seu ombro.
— Joseph...
Quando a olhou, sorriu. Um sorriso triste. Passou os braços em sua cintura. Tomando-a para si, encostou a testa na sua. Ficaram ali abraçados.
A mulher estava preocupada com aquela intimidade de sentimentos, mas não conseguiu se defender de tanta fragilidade. O poderoso Joseph Bolivatto se desmanchava a sua frente e ela não conseguia ficar indiferente a isso. Conhecia a tristeza. Conhecia uma dor profunda quando a presenciava, mas nunca esperou ver essa dor naqueles olhos. Estaria ele pensando na Raquel?
— Vem aqui. — seus devaneios foram afastados por aquela voz rouca que deixava ela nas nuvens e uma urgência que a revirou por dentro.
Como ela podia resistir aquele homem? Impossível. Percebia algo diferente, algo grande ali que a fazia ter dois sentimentos completamente contraditórios: um a mandava interromper aquela loucura naquele momento e outro dizia que ela tinha que pagar para ver. Esse lado venceu. Com ousadia, buscou seus lábios. Não era a Raquel, não poderia suprir a necessidade real dele, mas poderia lhe dar consolo. Estivera tão chocada com a descoberta da paixão proibida de Joseph no primeiro momento e com fenomenal sexo no segundo que nunca parara para pensar o quanto fora difícil para ele esconder por tantos anos esse segredo.
Como seria amar alguém desse jeito? Tão profundamente e viver sem esperanças de viver esse amor? Como não se revoltar com aquele tipo de coisa? Sentia a melancolia envolvê-la. A vontade de se entregar ao desanimo, mas resistiu.
Joseph precisava dela.
Tirou o dia para mimá-lo. Voltaram para a cama. Abraçados. Joseph acariciava suas costas lentamente. O silêncio era reconfortante e ao mesmo tempo opressivo. Embora aquela ternura revelasse uma cumplicidade única entre eles, ainda trazia em si um monte de sentimentos que talvez eles não estivessem prontos para lidar. Calma e discernimento era a melhor atitude a ser tomada, mas paciência, definitivamente não era umas das virtudes de Demi.
Apoiando o queixo no peito do rapaz, sem sair do seu abraço carinhoso e do lento acariciar de suas costas, ela perguntou de súbito.
— O que está acontecendo com você hoje?
O Bolivatto sorriu. Aquele mesmo sorriso triste.
— Eu estou... Ponderando algumas coisas.
— E isso é bom ou ruim para mim?
Ele sorriu novamente, dessa vez tinha um traço de exasperação em sua expressão. Ele tocou carinhosamente a ponta do nariz de Demetria com o seu indicador.
— Eu ainda não sei o que isso quer dizer pra nós.
Ela fez uma careta. Não gostava do rumo daquela conversa.
— Não se preocupe Srta. Lovato, eu só amanheci um pouco carente. Todo mundo tem um dia assim. Só espero que você tenha um pouco de paciência comigo, seja carinhosa. Eu hoje realmente vou precisar de você.
Ela não conseguiu esconder sua expressão de desanimo.
— O que foi agora?
— Você não pode ser assim tão doce.
— Porque não?
— Por que essas coisas me fazem gostar de você.
— Porque gostar de mim é ruim?
— Gostar não está no nosso acordo.
— Acho que esse nosso acordo tem alguns furos. Mas vamos esquecê-lo por hora. Só... Fique comigo hoje. Eu provavelmente ficarei mais silencioso que o normal, vou precisar de um ou outro abraço... Você pode fazer isso por mim?
Ela sabia que isso significava que no final do dia estaria ainda mais ligada a ele.
— Posso. — e voltou a deitar a cabeça em seu peito.
Ficaram naquela posição por quase meia hora ainda. Depois foram tomar banho de chuveiro juntos. Diferente das outras vezes, aquele banho não teve nenhum teor sexual princípio. Eles apenas compartilhavam intimidades.
— Posso lavar seu cabelo?
— Pode. — ela lhe passou o xampu com uma expressão divertida.
Era interessante ver como ele era fascinado pelos seus cabelos. Lavava com todo o cuidado do mundo. Demetria pensou que talvez no Bolivatto houvesse um cabeleireiro frustrado.
Imaginou os cabeleireiros que conhecia. A rigidez contra si era prova de que ele não tinha nada deles. Para provocá-lo, ela recostou-se ainda mais.
— Demi...
— O quê?
— Para com isso...
— Isso o quê?
Ele rosnou.
— Deus do céu, você ainda vai me matar mulher!
Momentos depois, Demi era pressionada contra parede. Esse Joseph ela sabia lidar. Quanto mais sensível ele ficava, mais difícil ficava não deixar que os sentimentos a invadissem.
Qualquer esperança de conseguir conquistá-lo morreu fulminada com o conhecimento da paixão por Raquel. Então só lhe restava aproveitar o sexo fenomenal enquanto durassem aqueles trintas dias.
— Por que você gosta de me provocar assim? — perguntou ele contra o seu ouvido. Ela já estava toda arrepiada, quando ele levantou uma de suas pernas. — Diz que me quer dentro de você.
— Eu quero.
— Não, eu quero o pedido completo e diz meu nome.
— Joseph, eu quero você dentro de mim, por favor. — ela implorou e ele quase se perdeu. Respirou fundo, esperou um pouco e então investiu de uma vez. Moveram-se harmonicamente. Estavam numa posição desconfortável pela diferença de altura, mas isso não tardou o clímax.
— Como sua escrava eu não deveria estar cozinhando? — perguntou Demetria, sentada a mesa, enquanto o rapaz cortava uma carne na pia.
— Eu gosto de cozinhar, me ajuda a pensar.
— Para quê pensar, se a gente pode trepar o dia todo?
Ele parou, olhou para ela com uma expressão estranha.
— Certo, eu sou desbocada, algum problema?
— Não Demetria, nenhum.
E voltou ao preparo do almoço. Ele era muito metódico, disso ela já sabia, mas ficou surpresa, como ela conseguiu esquecê-la concentrado na tarefa. Acabou voltando para a sala e ligou o aparelho de CD. O gosto do Jackson para música era diversificado, mas encontrou a presença da Beth nos CDs da Britney Spears. Música clássica. Sabia que Joseph apreciava, então foi sua escolha. Nua, apesar da lareira ligada ainda sentia frio. Enrolou-se numa manta que imitava pelo de urso.
Acabou pegando no sono. Sonhou que tinha alguém velando seu descanso. E uma sensação de paz a invadiu. Quando abriu os olhos, Joseph estava sentado perto observando-a. A mulher abriu espaço para que ele deitasse. O Bolivatto a abraçou forte, enterrando o rosto no seu pescoço.
— Joseph, você está bem?
— Sim, estou ótimo. — Outro beijo, intenso, esfomeado. E então enterrou a cabeça em seus cabelos. Demetria fechou os olhos para apreciar melhor aquela carícia.
E assim se passou boa parte do dia. Não houve sexo, só carinho. Assistiram a alguns filmes, abraçados no sofá, arrumaram uma cama improvisada na varanda, onde apreciaram o crepúsculo. Ele preparou o jantar, ela lavou a louça. Depois voltaram ao sofá. Ficaram lá, calados na companhia um do outro. E isso bastava para eles naquele momento. Pelo menos até que o silêncio da noite foi rompido por Joseph.
— Demi.
— O que foi?
— Nada. Eu só pensei que você estava dormindo.
— Não. Estou acordada.
A mulher se virou para ele. Uma pergunta que inquietava o rapaz escapou:
— Como eram seus sonhos?
Demetria olhou para ele, interrogativa.
— Uma vez você me disse que sonhava comigo, eu queria saber como eles eram.
— Ah...
Ele conseguiu deixá-la com vergonha.
— Fala...
Bem, já que a política era sinceridade:
— Eles eram eróticos. Basicamente eróticos.
Sentiu o corpo do rapaz reagir e sua curiosidade aguçar. Até melancólico ele ainda era um tarado.
— Quando começaram?
— Há uns três anos eu te encontrei no elevador vestindo uma camisa preta. Parece que uma coisa se ligou em minha cabeça... Eu sempre te achei bonito, mas naquele dia eu quis arrancar sua roupa. Depois disso, eu ficava o tempo todo fantasiando sexo alucinante entre a gente.
— Verdade? — sua expressão estava entre chocada e divertida.
— Sim. Eu não dormia direito, não só por causa da minha mãe, mas também por que acordava trêmula de desejo quase todas as noites.
O olhar do Joseph não poderia ser mais chocado.
— Eu sei, sou doida. Meu analista achava que eu estava colocando em você todas as minhas frustrações. Ele exigiu que eu fizesse alguma coisa. Bem, cá estamos nós.
— Seu analista mandou você me sequestrar?
— Claro que não. Acho que com “fazer alguma coisa” ele quis dizer conversar com você. Bem, estamos conversando não?
O peito do homem sacudiu numa gargalhada.
— Você é doida!
— É. Quando esse mês acabar e cada um seguir o seu caminho, espero ter me livrado dessa obsessão.
O riso morreu com aquela fala.
Joseph adotou uma postura incomodada.
— Demi.
— O que foi Bolivatto?
— Talvez eu não queira seguir o meu caminho quando isso tudo acabar.

~*~

Amanhã (quinta-feira) eu posto mais (: