quarta-feira, 23 de outubro de 2013

CAPÍTULO 15 - A FÓRMULA DO AMOR

“Eu tenho a pose exata pra me fotografar
Aprendi nos livros pra um dia usar
Um certo ar cruel, de quem sabe o que quer
Tenho tudo ensaiado pra te conquistar”

Algemada a cama, Demi não estava com medo. Tinha até mesmo a sombra de um sorriso nos lábios e Joseph percebeu que tinha algo ali que lhe faltava. Os últimos dias fora uma prova de que poderia ser tão inseguro como um adolescente inexperiente. Joseph sendo trocado por um livro era algo no mínimo inusitado. Se Nicholas o visse agora...
E seu pai? Seu pai iria deserdá-lo.
“Ser trocado por um livro, filho? Você está envergonhando o bom nome da família...” Bem talvez o deserdasse mesmo quando voltasse para casa com Demetria a tiracolo, mas Joseph nunca se preocupou com a herança que receberia um dia. Agora era um homem com uma missão: punir Demetria Lovato.
— Eu ainda não ouvi uma resposta Demetria.
Insistiu.
— Eu não te troquei por um livro. Eu só estava colocando minha leitura em dia...
— Me deixando abandonado por dois dias inteiros! Aqui não tem o que fazer. Eu detesto mato. Se você me sequestrou tem certas obrigações comigo.
Diante do seu desabafo, a reação da moça foi simples:
— Você é um Bolivatto perfeito, nunca vi criaturas mais arrogantes.
Joseph não se deixou enganar.
— E você está desconversando. Eu mereço ou não que você seja minha escrava por três dias?
— Eu acho isso desnecessário... Tudo bem, eu fui um pouco grossa, mas...
— Eu não acredito que você está tentando fugir da responsabilidade.
— Eu não...
Ela teve a decência de desviar o olhar.
— Você está com medo Demetria?
Ela era tão previsível que na mesma hora reagiu ao desafio.
— Droga! Está bom, eu faço. Mas isso é um absurdo...
— Bem, tem também a lei do retorno...
— Não abusa, Bolivatto.
Joseph não achou mesmo que iria colar. Então continuou.
— Muito bem. Vamos dispor as regras: seu nome agora é Emmanuelle...
— Quem é essa vaca?
— Opa, que boca porca. Além disso, você só pode falar com a minha permissão...
— Quem é a ruminante?
Joseph riu da sutileza da mulher. Ela estava com ciúmes. Isso era perfeito.
— Eu estou falando da Emmanuelle do filme...
A sequestradora ficou constrangida com a situação.
— O que eu devo fazer Bolivatto?
— Primeiro você não pode falar sem minha autorização nem produzir qualquer ruído. E me chame de senhor.
Ficou feliz por percebê-la preocupada. Ela tinha motivos. Era hora de iniciar os trabalhos. A ordem do dia era provocar. Beijou a barriga da moça. A trilha que o levava para os seios e finalmente eles. Observava com interesse as reações da moça. Seu esforço em não gemer.
Os lábios cerrados numa linha fina. Provocou mais, firme, como a mulher gostava. Em resposta ela empinou o corpo. Joseph a empurrou de volta a cama. Com um sorriso muito safado no rosto.
— Calma Demi. Nós vamos chegar lá. Mal começamos...
Usaram banheiros separados. Joseph precisou de algum tempo para colocar a cabeça no lugar. A última coisa que queria era perder a cabeça e machucá-la.
Estava com uma marca feia no ombro. Fora mordido pela moça no auge do clímax. Não lamentava. Seu descontrole era um tipo de troféu. Também precisava ser frio para que ela não conseguisse comovê-lo. Ficava relembrando o quanto ela fora malvada em sua vez, para que não facilitasse demais as coisas para ela. Tinha ordenado que fizesse um lanche rápido para eles. Percebia na postura da moça sua vontade de replicar cada ordem, mas no final ela apenas obedecia. Pediu que o servisse na sala de TV.
Quando saiu do banheiro e foi até lá, ela já tinha tudo pronto. Tomaram café em silêncio. Ele ria internamente quando terminou. Era hora de dar a Demetria um pouco do próprio veneno. Enquanto ela recolhia os pratos, Joseph ligou a TV e o DVD. Quando Demetria retornou, o filme se iniciava.
— Venha sente-se comigo. — ele ordenou. Tinha tirado o roupão e estava completamente nu. Demi obediente sentou-se a seu lado — Não. Vamos curtir o filme, mais juntinhos. Sente no meu colo. — Ela obedeceu mais uma vez.
— Boa menina. Pode se recostar em meu peito. A partir de agora, você não pode mais usar as mãos.
A moça se recostou. Enquanto assistiam ao filme, o rapaz ia provocando-a, com os lábios na nuca, orelhas. As mãos passeando pelo corpo feminino. De leve, só para instigar. Quando a famosa cena do avião começou, uma verdadeira revolução aconteceu com as carícias aplicadas. Ele ficou mais exigente, massageando, mordendo, apalpando os seios, os lados do corpo da moça. Até que finalmente as mãos lhe invadiram a intimidade.
Ela não lembrava se tinha permissão para gritar, mas em algum momento isso se tornou impossível. Mais um orgasmo alucinante para entrar para lista do Bolivatto. Ela não teve tempo de se recuperar, foi colocada de lado no sofá, junto ao corpo de Joseph. Ele ergueu a perna e se encaixou nela. Mordendo o pescoço, o rapaz a invadiu e ela perdeu o rumo mais uma vez. A cada estocada ela gritava cada vez mais alto. Quando finalmente seu corpo estremeceu em êxtase, sentiu seu companheiro acompanhá-la. Demetria cochilou em seus braços.
Horas mais tarde acordou sendo carregada em direção ao banheiro. Foi colocada sobre a pia de mármore.
— Quer mais escrava?
Perguntou antes de beijá-la. Aparentemente ele tinha esquecido o lance das mãos por que Demetria o agarrou com firmeza, e ele não reclamou. Foram para o chuveiro. Continuou provocando-a até que alcançaram o clímax juntos.
Em meio a essas sensações a mulher desabafou.
— Nossa... Eu posso ter aprendido a fazer amor com o Wilmer, mas não tenho dúvida alguma: foi com você que eu descobri o sexo.
Essa frase inaugurou uma nova etapa na vida dos dois...
O Bolivatto deitou-se na cama e ficou olhando o teto. Em sua cabeça uma pequena, mas incômoda pergunta: Por quê? Joseph simplesmente não conseguia entender porque não conseguia suscitar sentimentos profundos nas mulheres. Ao longo de sua trajetória de vida sempre encontrou mulheres que estiveram fascinadas por ele, atraídas por ele, mas amor de verdade? Não.
Era bom amante. Sabia disso sem falsas modéstias, mas ainda não havia encontrado ninguém que quisesse mais que isso dele. Talvez por que no fundo sempre quis mais. Virou-se de lado. Demi fez o mesmo, ficando de frente para ele. Ia perguntar o que estava havendo quando o filho de Carlos inclinou o corpo e lhe beijou. Aquele beijo foi diferente. Era suave, doce. Tinha desejo e algo mais, encanto. Era impossível não corresponder a isso.
Depois, permaneceram se olhando. O rapaz não tirava as mãos do corpo da moça, mas seu toque era suave, terno. De apreciação. Em seguida passou a distribuir beijos por todo o rosto da moça, descendo para o pescoço, ombros, clavícula, seios, umbigo, barriga. Sexo. Ela estava arrepiada. E estremecia a cada toque, mas em troca o sentia trêmulo também.
Tinha carinho e necessidade ali. Quando finalmente a penetrou, a mulher o recebeu com enlevo. Enfiou as unhas em suas costas, e buscou sua boca, onde as línguas se encontraram numa dança sensual. Dança essa em que os corpos também compartilhavam num ritmo calmo, mas cadenciado. Quando interromperam o beijo, ele tomou suas mãos colocando-as acima da cabeça dela e entrelaçou os dedos nos seus. Encostando a testa na dela.
Quando alcançaram o pico do prazer se olhavam nos olhos. Os de Demetria estavam marejados. E os dele também. Era perfeito demais aquele momento. Achava que havia encontrado a fórmula para ganhar o coração de Demetria e então descobrira que não tinha nada.
Após o clímax não se afastaram. O beijo que se seguiu foi intenso. Joseph fechou os olhos com força. Atacando seus lábios com sofreguidão. Não saiu de Demi quando finalizou o beijo, posicionou os corpos lado a lado, abraçando-a pela cintura. Puxou-lhe uma perna sobre as suas. Seu olhar era de uma doçura que ela nunca havia experimentado, nem mesmo com Wilmer. Havia também uma urgência nele que a induzia a responder, porém ela era incapaz de saber como. Determinar o que ele queria de verdade, então deixou que o rapaz a conduzisse nos caminhos de seus desejos. O Bolivatto estava triste de alguma forma, mas ela não compreendia o motivo. Ficaram ali entre beijos e afagos, até adormecerem.
Quando Demi acordou estava sozinha na cama. O travesseiro ao lado ainda trazia a marca e o cheiro de Joseph. O lençol ainda estava morno. Ele não tinha acordado há muito tempo. Ela se enrolou em um lençol e saiu a sua procura. Encontrou-o na varanda. Vestia uma calça e uma camiseta. Estava com as mãos nos bolsos e o rosto virado para o sol que se infiltrava entre as nuvens, olhos fechados. Ela se aproximou e tocou seu ombro.
— Joseph...
Quando a olhou, sorriu. Um sorriso triste. Passou os braços em sua cintura. Tomando-a para si, encostou a testa na sua. Ficaram ali abraçados.
A mulher estava preocupada com aquela intimidade de sentimentos, mas não conseguiu se defender de tanta fragilidade. O poderoso Joseph Bolivatto se desmanchava a sua frente e ela não conseguia ficar indiferente a isso. Conhecia a tristeza. Conhecia uma dor profunda quando a presenciava, mas nunca esperou ver essa dor naqueles olhos. Estaria ele pensando na Raquel?
— Vem aqui. — seus devaneios foram afastados por aquela voz rouca que deixava ela nas nuvens e uma urgência que a revirou por dentro.
Como ela podia resistir aquele homem? Impossível. Percebia algo diferente, algo grande ali que a fazia ter dois sentimentos completamente contraditórios: um a mandava interromper aquela loucura naquele momento e outro dizia que ela tinha que pagar para ver. Esse lado venceu. Com ousadia, buscou seus lábios. Não era a Raquel, não poderia suprir a necessidade real dele, mas poderia lhe dar consolo. Estivera tão chocada com a descoberta da paixão proibida de Joseph no primeiro momento e com fenomenal sexo no segundo que nunca parara para pensar o quanto fora difícil para ele esconder por tantos anos esse segredo.
Como seria amar alguém desse jeito? Tão profundamente e viver sem esperanças de viver esse amor? Como não se revoltar com aquele tipo de coisa? Sentia a melancolia envolvê-la. A vontade de se entregar ao desanimo, mas resistiu.
Joseph precisava dela.
Tirou o dia para mimá-lo. Voltaram para a cama. Abraçados. Joseph acariciava suas costas lentamente. O silêncio era reconfortante e ao mesmo tempo opressivo. Embora aquela ternura revelasse uma cumplicidade única entre eles, ainda trazia em si um monte de sentimentos que talvez eles não estivessem prontos para lidar. Calma e discernimento era a melhor atitude a ser tomada, mas paciência, definitivamente não era umas das virtudes de Demi.
Apoiando o queixo no peito do rapaz, sem sair do seu abraço carinhoso e do lento acariciar de suas costas, ela perguntou de súbito.
— O que está acontecendo com você hoje?
O Bolivatto sorriu. Aquele mesmo sorriso triste.
— Eu estou... Ponderando algumas coisas.
— E isso é bom ou ruim para mim?
Ele sorriu novamente, dessa vez tinha um traço de exasperação em sua expressão. Ele tocou carinhosamente a ponta do nariz de Demetria com o seu indicador.
— Eu ainda não sei o que isso quer dizer pra nós.
Ela fez uma careta. Não gostava do rumo daquela conversa.
— Não se preocupe Srta. Lovato, eu só amanheci um pouco carente. Todo mundo tem um dia assim. Só espero que você tenha um pouco de paciência comigo, seja carinhosa. Eu hoje realmente vou precisar de você.
Ela não conseguiu esconder sua expressão de desanimo.
— O que foi agora?
— Você não pode ser assim tão doce.
— Porque não?
— Por que essas coisas me fazem gostar de você.
— Porque gostar de mim é ruim?
— Gostar não está no nosso acordo.
— Acho que esse nosso acordo tem alguns furos. Mas vamos esquecê-lo por hora. Só... Fique comigo hoje. Eu provavelmente ficarei mais silencioso que o normal, vou precisar de um ou outro abraço... Você pode fazer isso por mim?
Ela sabia que isso significava que no final do dia estaria ainda mais ligada a ele.
— Posso. — e voltou a deitar a cabeça em seu peito.
Ficaram naquela posição por quase meia hora ainda. Depois foram tomar banho de chuveiro juntos. Diferente das outras vezes, aquele banho não teve nenhum teor sexual princípio. Eles apenas compartilhavam intimidades.
— Posso lavar seu cabelo?
— Pode. — ela lhe passou o xampu com uma expressão divertida.
Era interessante ver como ele era fascinado pelos seus cabelos. Lavava com todo o cuidado do mundo. Demetria pensou que talvez no Bolivatto houvesse um cabeleireiro frustrado.
Imaginou os cabeleireiros que conhecia. A rigidez contra si era prova de que ele não tinha nada deles. Para provocá-lo, ela recostou-se ainda mais.
— Demi...
— O quê?
— Para com isso...
— Isso o quê?
Ele rosnou.
— Deus do céu, você ainda vai me matar mulher!
Momentos depois, Demi era pressionada contra parede. Esse Joseph ela sabia lidar. Quanto mais sensível ele ficava, mais difícil ficava não deixar que os sentimentos a invadissem.
Qualquer esperança de conseguir conquistá-lo morreu fulminada com o conhecimento da paixão por Raquel. Então só lhe restava aproveitar o sexo fenomenal enquanto durassem aqueles trintas dias.
— Por que você gosta de me provocar assim? — perguntou ele contra o seu ouvido. Ela já estava toda arrepiada, quando ele levantou uma de suas pernas. — Diz que me quer dentro de você.
— Eu quero.
— Não, eu quero o pedido completo e diz meu nome.
— Joseph, eu quero você dentro de mim, por favor. — ela implorou e ele quase se perdeu. Respirou fundo, esperou um pouco e então investiu de uma vez. Moveram-se harmonicamente. Estavam numa posição desconfortável pela diferença de altura, mas isso não tardou o clímax.
— Como sua escrava eu não deveria estar cozinhando? — perguntou Demetria, sentada a mesa, enquanto o rapaz cortava uma carne na pia.
— Eu gosto de cozinhar, me ajuda a pensar.
— Para quê pensar, se a gente pode trepar o dia todo?
Ele parou, olhou para ela com uma expressão estranha.
— Certo, eu sou desbocada, algum problema?
— Não Demetria, nenhum.
E voltou ao preparo do almoço. Ele era muito metódico, disso ela já sabia, mas ficou surpresa, como ela conseguiu esquecê-la concentrado na tarefa. Acabou voltando para a sala e ligou o aparelho de CD. O gosto do Jackson para música era diversificado, mas encontrou a presença da Beth nos CDs da Britney Spears. Música clássica. Sabia que Joseph apreciava, então foi sua escolha. Nua, apesar da lareira ligada ainda sentia frio. Enrolou-se numa manta que imitava pelo de urso.
Acabou pegando no sono. Sonhou que tinha alguém velando seu descanso. E uma sensação de paz a invadiu. Quando abriu os olhos, Joseph estava sentado perto observando-a. A mulher abriu espaço para que ele deitasse. O Bolivatto a abraçou forte, enterrando o rosto no seu pescoço.
— Joseph, você está bem?
— Sim, estou ótimo. — Outro beijo, intenso, esfomeado. E então enterrou a cabeça em seus cabelos. Demetria fechou os olhos para apreciar melhor aquela carícia.
E assim se passou boa parte do dia. Não houve sexo, só carinho. Assistiram a alguns filmes, abraçados no sofá, arrumaram uma cama improvisada na varanda, onde apreciaram o crepúsculo. Ele preparou o jantar, ela lavou a louça. Depois voltaram ao sofá. Ficaram lá, calados na companhia um do outro. E isso bastava para eles naquele momento. Pelo menos até que o silêncio da noite foi rompido por Joseph.
— Demi.
— O que foi?
— Nada. Eu só pensei que você estava dormindo.
— Não. Estou acordada.
A mulher se virou para ele. Uma pergunta que inquietava o rapaz escapou:
— Como eram seus sonhos?
Demetria olhou para ele, interrogativa.
— Uma vez você me disse que sonhava comigo, eu queria saber como eles eram.
— Ah...
Ele conseguiu deixá-la com vergonha.
— Fala...
Bem, já que a política era sinceridade:
— Eles eram eróticos. Basicamente eróticos.
Sentiu o corpo do rapaz reagir e sua curiosidade aguçar. Até melancólico ele ainda era um tarado.
— Quando começaram?
— Há uns três anos eu te encontrei no elevador vestindo uma camisa preta. Parece que uma coisa se ligou em minha cabeça... Eu sempre te achei bonito, mas naquele dia eu quis arrancar sua roupa. Depois disso, eu ficava o tempo todo fantasiando sexo alucinante entre a gente.
— Verdade? — sua expressão estava entre chocada e divertida.
— Sim. Eu não dormia direito, não só por causa da minha mãe, mas também por que acordava trêmula de desejo quase todas as noites.
O olhar do Joseph não poderia ser mais chocado.
— Eu sei, sou doida. Meu analista achava que eu estava colocando em você todas as minhas frustrações. Ele exigiu que eu fizesse alguma coisa. Bem, cá estamos nós.
— Seu analista mandou você me sequestrar?
— Claro que não. Acho que com “fazer alguma coisa” ele quis dizer conversar com você. Bem, estamos conversando não?
O peito do homem sacudiu numa gargalhada.
— Você é doida!
— É. Quando esse mês acabar e cada um seguir o seu caminho, espero ter me livrado dessa obsessão.
O riso morreu com aquela fala.
Joseph adotou uma postura incomodada.
— Demi.
— O que foi Bolivatto?
— Talvez eu não queira seguir o meu caminho quando isso tudo acabar.

~*~

Amanhã (quinta-feira) eu posto mais (:

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