sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Prólogo - 30 dias com Demi

“Lágrimas e chuva
Molham o vidro da janela
Mas ninguém me vê...”

Uma mordida no pescoço suave e provocante. Joseph estremeceu. A mulher pressionava o corpo quente contra o seu. Olhos no mais profundo tom dourado o encaravam e esbanjavam desejo. Ele teve certeza: aquele seria seu fim.
Aquela não era a sua noiva. Pior, não sentia por sua companheira metade do que sentia por aquela criatura. A uma semana da cerimônia de seu casamento e estava louco por outra mulher. Estava tudo errado. Muito errado.
— Eu não posso fazer isso...
Tentou se esquivar do “ataque”, mas não enganou a nenhum dos dois. A mulher sorriu com indiferente malícia e escorregou a mão ao longo de seu peito... Abdômen... Sempre para baixo...
Essa era a vida de Joseph. Encontrava-se num terrível limiar emocional, onde a culpa, desejo reprimido e o remorso eram os protagonistas de seu drama pessoal. Qualquer empurrão mínimo do acaso deixaria sua vida e muitas outras em pedaços. Era um homem perdido nas escolhas que fez para a própria vida. Principalmente pelas escolhas que não fez, por sua omissão quanto aos seus sentimentos. Não era o tipo que lamentava, mas... Era difícil aceitar que fazia tudo errado. Com mais frequência que o recomendável.
Momentos antes, os pingos de chuva eram lançados ao corredor por uma janela esquecida aberta, correu para fechá-la. Ainda alcançava o trinco quando sentiu um corpo encostando-se ao seu. Sabia que era “ela”, reconhecia seu toque em qualquer lugar. Não entendia como isso era possível, mas reconhecia. Era um homem viciado no nada. Na promessa de um “e se...”.
Virou-se para ficaram frente a frente, disposto a enfrentar a situação. Precisava manda-la embora. Tentou ignorar a incomoda sensação de inadequação que o momento lhe trazia: a mulher estava parada a sua frente, usando apenas uma das cuecas dele, numa atitude de intimidade que eles não tinham.
— O que você faz aqui? — perguntou tentando ganhar tempo. A noiva de Joseph, Blanda, dormia no quarto no final do corredor, se pegasse aquela doida...
A pergunta foi ignorada. Ficando na ponta dos pés, a mulher encostou a pele nua contra a dele. Não precisou de muito. A mordida na nuca que desencadeou a onda de desejo em seu corpo foi mais que eficiente. Agora ele estava ali, sem saber se corria de volta a seu quarto ou atacava aquela criatura com toda a fome reprimida de anos. Sentia-se acariciado com suavidade e incapaz de se mover. Aquela sensação era tudo o que tinha e precisava no momento. Queria se perder nela. As mãos passeavam lentamente por seu corpo, tocando, lábios provando, explorando. Era o toque de uma amante experiente que sabia exatamente o que fazer para enlouquecer o parceiro. Involuntariamente seu corpo ficou tenso. Buscando apoio, “talvez sanidade”, recostou-se contra a janela enquanto aquela criatura o deixava indefeso.
— Eu sou uma boa menina. — sussurrou junto aos lábios do rapaz — Recompense-me...
Joseph queria dizer que sim, mas a razão ainda tentava comandá-lo, então se calou.
Mordendo o lábio.
— Seja um bom menino. — beijou-lhe levemente os lábios
— Dê-nos o que queremos...
Mais provocação do que poderia suportar. Num único impulso empurrou a mulher contra a parede mais próxima.
Ela não se importou com a violência, sorriu vitoriosa. Joseph não perdeu tempo examinando seus atos, a beijou como há muito desejava: lábios, língua e fome. A mulher se desfez da cueca que vestia sem interromper o beijo. Passou uma perna envolta dos quadris do rapaz e tratou de abaixar-lhe a calça do pijama. Tentando pôr algum freio na situação, o homem pegou as mãos atrevidas e tratou de prendê-las no topo da cabeça da moça.
— Eu sei que você quer tanto quanto eu... Vem, por favor...
Diante do choramingo desesperado, puro eco da necessidade dele, não teve outra opção: foi...
Um trovão fez Joseph erguer-se da cama. Passou as mãos pelos cabelos num gesto desesperado. Blanda dormia suavemente a seu lado, indiferente ao estado de excitação do noivo. Seus cabelos loiros espalhados sobre os travesseiros, encolhida numa posição fetal.
Indefesa, sozinha... Sua mulher.
Agoniado demais para permanecer ali, naquele quarto, ele simplesmente saiu.
Numa sensação de déjà vu, descobriu uma janela aberta no corredor. O coração disparou diante da mera insinuação que o sonho fosse profético, mas sabia que não, ela não estava em sua casa e nunca faria aquelas coisas. Os sonhos eram um mero eco de seus desejos severamente reprimidos.
Fechou a janela tentando controlar o desânimo. Seu casamento aconteceria em uma semana. Fizera a escolha certa, Blanda era sensata, bonita, sexy. O tipo de mulher que qualquer homem queria... Não tinha como dar errado. Ou tinha?
Estavam juntos havia três anos. Foram felizes de algum modo, mas sempre fora apaixonado pela outra. Outra que lhe era mais que proibida.
Na cozinha, preparou um café tentando organizar os pensamentos. Por fim voltou à sala. Ali, sentou-se diante das amplas janelas de seu apartamento e ficou observando a cidade adormecida sob a chuva fina daquela madrugada de inverno, enquanto saboreava o café.
Algum tempo depois voltou à atenção a mesinha que ficava ao lado da janela onde colocava os porta-retratos com sua família e amigos, o toque sutil, sensível e doce de sua madrasta na decoração de sua casa. Como foi mesmo que ela disse?
“Você pode tentar se afastar de nós, mas queremos você sempre conosco. E vamos invadir sua vida”.
Ah, se Raquel soubesse da verdade...
Voltando aos porta-retratos, começou a examinar um a um, momentos felizes de uma vida perfeita... Não conseguiu evitar que um sorriso irônico se desenhasse em seu rosto.
Examinando cena por cena até que parou diante de uma que mostrava a família. Uma família feliz e amorosa. Mergulhando nos olhos dourados de sua irmã adotiva, Beth, perdeu-se em pensamentos sombrios. Olhos doces e serenos. Com um aperto no peito pensou consigo mesmo que a vida poderia ser bem mais simples.

Carlos Bolivatto fechou a porta devagar. Naquele quarto, a moça finalmente havia dormido. Na sala calçou os sapatos que trazia nas mãos e terminou de abotoar a camisa.
Diante do espelho que ficava na entrada da casa, viu a marca de batom em seu pescoço. Uma marca exatamente como aquela o colocara em sérios apuros certa vez.
Limpou com cuidado e aproximou-se ainda mais do espelho para observar o trabalho.
Nenhum vestígio. Enquanto se afastava, visualizou o caderninho vermelho no patamar de uma janela.
Havia poucas oportunidades como aquela. A mulher nunca deixava seu caderninho de anotações à toa. Seria uma coisa horrível mexer em suas coisas sem permissão, mas ele precisava de respostas.
Pegou ainda um tanto resistente. Com grande sentimento de culpa foi folheando as páginas, sorrindo da forma desorganizada como ia se agregando lembretes de sua vida pessoal e profissional.
Na mesma pagina estava escrito:
“Enviar memorando de finalização do projeto Maresias.”
“Comprar absorventes”.
“Matar meu chefe.”
Ele riu. Seguiu com a análise quando uma lista surgiu.
Onze itens listados com cuidado e organização.

“Coisas para fazer antes de completar 30:
1. Começar a expressar os meus desejos sem medo.
2. Comprar um carro decente (e parar de me estressar com o mecânico).
3. Tirar férias de verdade.
4. Mudar a decoração da casa e talvez alugar vagas... Para rapazes? (TPM nesta casa basta a minha).
5. Parar de comprar sapatos.
6. Parar de comprar lingeries sensuais (Já que elas vão parar no fundo de alguma gaveta).
7. Mudar de emprego (?!)
8. Parar de passar mal quando certa pessoa entra no elevador.
9. Respeitar quem está ao meu lado e falar a verdade sobre meus sentimentos.
10. Realizar a minha fantasia de sequestrar o filho de meu chefe para fins absolutamente sexuais...
11. Parar de fantasiar...”

O caderno tremulou em suas mãos durante a leitura.
Bem, ele quisera saber... Agora sabia. Não estivera errado em suas desconfianças.
Poderia confrontá-la sobre seus desejos.
Ou simplesmente poderia fazer de conta que nada sabia e agir para resolver a situação a seu modo. Para não perdê-la, controlaria a situação.
Meia hora depois, já em sua própria casa, entrava em seu quarto e abraçava o corpo da esposa adormecida.
— Você demorou...
Ela queixou-se, ainda de olhos fechados.
— Desculpe... Estou para perder minha secretária, imagina a bagunça que vai ser...
— Você dá um jeito.
A confiança que a esposa nutria por ele era comovente.
— Sei disso, mas as coisas ficariam difíceis por um tempo...
Talvez precise trabalhar um pouco mais... Ela está sobrecarregada...
Sentiu a tensão enrijecer o corpo da mulher.
— Precisa de ajuda?
— Não, ainda não...
A mulher se calou, abrindo os olhos e o encarando com mil perguntas, mas sem coragem para verbalizar nenhuma.
Aliás, verbalizar qualquer coisa não era o forte deles.

4 comentários:

  1. fiquei um pouco confusa ... mas tudo bem. com o decorrer da fic eu entenda :)

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  2. tambem fiquei meio confusa, mas estou gostando.. e se no decorrer eu não entender leio e releio amo fazer isso kkk
    bjos :))

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  3. Eu entendi so o vomeco tb fiquei meio confusa.. Mas dos eu entendo ta lindo do msm jeito posta logo posta posta

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  4. Foi um pouco confuso mas gostei, posta logo o primeiro capitulo para eu entender melhor
    Beijos

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