“Lágrimas e chuva
Molham o vidro da janela
Mas ninguém me vê...”
Uma mordida no pescoço suave e provocante. Joseph estremeceu.
A mulher pressionava o corpo quente contra o seu. Olhos no mais profundo tom
dourado o encaravam e esbanjavam desejo. Ele teve certeza: aquele seria seu
fim.
Aquela não era a sua noiva. Pior, não sentia por sua companheira
metade do que sentia por aquela criatura. A uma semana da cerimônia de seu
casamento e estava louco por outra mulher. Estava tudo errado. Muito errado.
— Eu não posso fazer isso...
Tentou se esquivar do “ataque”, mas não enganou a nenhum
dos dois. A mulher sorriu com indiferente malícia e escorregou a mão ao longo
de seu peito... Abdômen... Sempre para baixo...
Essa era a vida de Joseph. Encontrava-se num terrível limiar
emocional, onde a culpa, desejo reprimido e o remorso eram os protagonistas de
seu drama pessoal. Qualquer empurrão mínimo do acaso deixaria sua vida e muitas
outras em pedaços. Era um homem perdido nas escolhas que fez para a própria
vida. Principalmente pelas escolhas que não fez, por sua omissão quanto aos
seus sentimentos. Não era o tipo que lamentava, mas... Era difícil aceitar que
fazia tudo errado. Com mais frequência que o recomendável.
Momentos antes, os pingos de chuva eram lançados ao
corredor por uma janela esquecida aberta, correu para fechá-la. Ainda alcançava
o trinco quando sentiu um corpo encostando-se ao seu. Sabia que era “ela”,
reconhecia seu toque em qualquer lugar. Não entendia como isso era possível,
mas reconhecia. Era um homem viciado no nada. Na promessa de um “e se...”.
Virou-se para ficaram frente a frente, disposto a
enfrentar a situação. Precisava manda-la embora. Tentou ignorar a incomoda
sensação de inadequação que o momento lhe trazia: a mulher estava parada a sua frente,
usando apenas uma das cuecas dele, numa atitude de intimidade que eles não
tinham.
— O que você faz aqui? — perguntou tentando ganhar tempo.
A noiva de Joseph, Blanda, dormia no quarto no final do corredor, se pegasse
aquela doida...
A pergunta foi ignorada. Ficando na ponta dos pés, a
mulher encostou a pele nua contra a dele. Não precisou de muito. A mordida na
nuca que desencadeou a onda de desejo em seu corpo foi mais que eficiente.
Agora ele estava ali, sem saber se corria de volta a seu quarto ou atacava
aquela criatura com toda a fome reprimida de anos. Sentia-se acariciado com suavidade
e incapaz de se mover. Aquela sensação era tudo o que tinha e precisava no momento.
Queria se perder nela. As mãos passeavam lentamente por seu corpo, tocando, lábios
provando, explorando. Era o toque de uma amante experiente que sabia exatamente
o que fazer para enlouquecer o parceiro. Involuntariamente seu corpo ficou
tenso. Buscando apoio, “talvez sanidade”, recostou-se contra a janela enquanto
aquela criatura o deixava indefeso.
— Eu sou uma boa menina. — sussurrou junto aos lábios
do rapaz — Recompense-me...
Joseph queria dizer que sim, mas a razão ainda tentava
comandá-lo, então se calou.
Mordendo o lábio.
— Seja um bom menino. — beijou-lhe levemente os lábios
— Dê-nos o que queremos...
Mais provocação do que poderia suportar. Num único
impulso empurrou a mulher contra a parede mais próxima.
Ela não se importou com a violência, sorriu vitoriosa.
Joseph não perdeu tempo examinando seus atos, a beijou como há muito desejava:
lábios, língua e fome. A mulher se desfez da cueca que vestia sem interromper o
beijo. Passou uma perna envolta dos quadris do rapaz e tratou de abaixar-lhe a
calça do pijama. Tentando pôr algum freio na situação, o homem pegou as mãos
atrevidas e tratou de prendê-las no topo da cabeça da moça.
— Eu sei que você quer tanto quanto eu... Vem, por
favor...
Diante do choramingo desesperado, puro eco da
necessidade dele, não teve outra opção: foi...
Um trovão fez Joseph erguer-se da cama. Passou as mãos
pelos cabelos num gesto desesperado. Blanda dormia suavemente a seu lado,
indiferente ao estado de excitação do noivo. Seus cabelos loiros espalhados
sobre os travesseiros, encolhida numa posição fetal.
Indefesa, sozinha... Sua mulher.
Agoniado demais para permanecer ali, naquele quarto,
ele simplesmente saiu.
Numa sensação de déjà vu, descobriu uma janela aberta
no corredor. O coração disparou diante da mera insinuação que o sonho fosse
profético, mas sabia que não, ela não estava em sua casa e nunca faria aquelas
coisas. Os sonhos eram um mero eco de seus desejos severamente reprimidos.
Fechou a janela tentando controlar o desânimo. Seu
casamento aconteceria em uma semana. Fizera a escolha certa, Blanda era
sensata, bonita, sexy. O tipo de mulher que qualquer homem queria... Não tinha
como dar errado. Ou tinha?
Estavam juntos havia três anos. Foram felizes de algum
modo, mas sempre fora apaixonado pela outra. Outra que lhe era mais que
proibida.
Na cozinha, preparou um café tentando organizar os
pensamentos. Por fim voltou à sala. Ali, sentou-se diante das amplas janelas de
seu apartamento e ficou observando a cidade adormecida sob a chuva fina daquela
madrugada de inverno, enquanto saboreava o café.
Algum tempo depois voltou à atenção a mesinha que
ficava ao lado da janela onde colocava os porta-retratos com sua família e
amigos, o toque sutil, sensível e doce de sua madrasta na decoração de sua
casa. Como foi mesmo que ela disse?
“Você pode tentar se afastar de nós, mas queremos você
sempre conosco. E vamos invadir sua vida”.
Ah, se Raquel soubesse da verdade...
Voltando aos porta-retratos, começou a examinar um a
um, momentos felizes de uma vida perfeita... Não conseguiu evitar que um
sorriso irônico se desenhasse em seu rosto.
Examinando cena por cena até que parou diante de uma
que mostrava a família. Uma família feliz e amorosa. Mergulhando nos olhos
dourados de sua irmã adotiva, Beth, perdeu-se em pensamentos sombrios. Olhos
doces e serenos. Com um aperto no peito pensou consigo mesmo que a vida poderia
ser bem mais simples.
Carlos Bolivatto fechou a porta devagar. Naquele
quarto, a moça finalmente havia dormido. Na sala calçou os sapatos que trazia
nas mãos e terminou de abotoar a camisa.
Diante do espelho que ficava na entrada da casa, viu a
marca de batom em seu pescoço. Uma marca exatamente como aquela o colocara em
sérios apuros certa vez.
Limpou com cuidado e aproximou-se ainda mais do
espelho para observar o trabalho.
Nenhum vestígio. Enquanto se afastava, visualizou o
caderninho vermelho no patamar de uma janela.
Havia poucas oportunidades como aquela. A mulher nunca
deixava seu caderninho de anotações à toa. Seria uma coisa horrível mexer em
suas coisas sem permissão, mas ele precisava de respostas.
Pegou ainda um tanto resistente. Com grande sentimento
de culpa foi folheando as páginas, sorrindo da forma desorganizada como ia se
agregando lembretes de sua vida pessoal e profissional.
Na mesma pagina estava escrito:
“Enviar memorando de finalização do projeto Maresias.”
“Comprar absorventes”.
“Matar meu chefe.”
Ele riu. Seguiu com a análise quando uma lista surgiu.
Onze itens listados com cuidado e organização.
“Coisas para
fazer antes de completar 30:
1. Começar a
expressar os meus desejos sem medo.
2. Comprar um
carro decente (e parar de me estressar com o mecânico).
3. Tirar
férias de verdade.
4. Mudar a
decoração da casa e talvez alugar vagas... Para rapazes? (TPM nesta casa basta
a minha).
5. Parar de
comprar sapatos.
6. Parar de
comprar lingeries sensuais (Já que elas vão parar no fundo de alguma gaveta).
7. Mudar de
emprego (?!)
8. Parar de
passar mal quando certa pessoa entra no elevador.
9. Respeitar
quem está ao meu lado e falar a verdade sobre meus sentimentos.
10. Realizar
a minha fantasia de sequestrar o filho de meu chefe para fins absolutamente
sexuais...
11. Parar de
fantasiar...”
O caderno tremulou em suas mãos durante a leitura.
Bem, ele quisera saber... Agora sabia. Não estivera
errado em suas desconfianças.
Poderia confrontá-la sobre seus desejos.
Ou simplesmente poderia fazer de conta que nada sabia
e agir para resolver a situação a seu modo. Para não perdê-la, controlaria a
situação.
Meia hora depois, já em sua própria casa, entrava em seu
quarto e abraçava o corpo da esposa adormecida.
— Você demorou...
Ela queixou-se, ainda de olhos fechados.
— Desculpe... Estou para perder minha secretária,
imagina a bagunça que vai ser...
— Você dá um jeito.
A confiança que a esposa nutria por ele era comovente.
— Sei disso, mas as coisas ficariam difíceis por um
tempo...
Talvez precise trabalhar um pouco mais... Ela está
sobrecarregada...
Sentiu a tensão enrijecer o corpo da mulher.
— Precisa de ajuda?
— Não, ainda não...
A mulher se calou, abrindo os olhos e o encarando com
mil perguntas, mas sem coragem para verbalizar nenhuma.
Aliás, verbalizar qualquer coisa não era o forte
deles.
fiquei um pouco confusa ... mas tudo bem. com o decorrer da fic eu entenda :)
ResponderExcluirtambem fiquei meio confusa, mas estou gostando.. e se no decorrer eu não entender leio e releio amo fazer isso kkk
ResponderExcluirbjos :))
Eu entendi so o vomeco tb fiquei meio confusa.. Mas dos eu entendo ta lindo do msm jeito posta logo posta posta
ResponderExcluirFoi um pouco confuso mas gostei, posta logo o primeiro capitulo para eu entender melhor
ResponderExcluirBeijos