quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Easy – Capítulo 27 - MARATONA FINAL

O auditório do ginásio estava lotado com os pais, irmãos entediados segurando filmadoras, e um punhado de avós. Contornando ao redor dos aglomerados de pessoas em pé no corredor, Joseph e eu sentamos nos nossos assentos do corredor a meio caminho entre o palco e as portas de saída traseira. Olhei para o programa verde xerocado de férias. Harrison estava na maior orquestra, o que significava demorar um pouco até ele estar no palco. Eu dava aulas para dois dos outros meninos das orquestras mais baixas, embora eu nunca tive a chance de ver algum deles realmente tocar. Eu estava nervosa em todas as suas contas. Inclinei-me para perto de Joseph, pra que nenhum dos pais pudesse ouvir:
— Eu provavelmente deveria avisá-lo que muitas destas crianças só começaram a tocar há alguns meses, principalmente na primeira orquestra, então eles são um pouco... Inexperientes.
O canto da sua boca virou-se e eu queria me inclinar para beija-lo, mas não fiz isso.
— Essa é sua maneira educada de dizer para eu me preparar para sons como unhas-em-um-quadro-negro? — Ele perguntou.
Eu ouvi a voz de Harrison vinda de uma seção com cordas de isolamento, do lado direito do auditório.
— Srta. Lovato! — Eu procurei por ele em um mar de meninos de smoking de poliéster preto e garotas com vestidos roxos até o tornozelo. Encontrei seus cabelos loiros ao mesmo tempo em que ele percebeu Joseph sentado ao meu lado. Seu sorriso congelou e seus olhos se arregalaram. Quando eu sorri e depois levantei minha mão, ele acenou de volta uma vez, tristemente.
— Eu acho que esse é apenas um dos que estão apaixonados por você. — Joseph olhou para a bota equilibrada sobre seu joelho, arranhando uma costura gasta e tentando não rir.
— O que? Todos eles estão apaixonados por mim. Eu sou uma garota quente da faculdade, lembra? — Eu ri e seus olhos queimavam nos meus.
Ele se aproximou e sussurrou no meu ouvido.
— Tão quente. Agora você me pegou pensando em como você parecia esta manhã, quando eu acordei com você nos meus braços, na minha cama. Seria pedir demais para você ficar essa noite também?
Meu rosto ficou corado pelo seu elogio quando eu encontrei seu olhar.
— Eu estava com medo de que você não fosse perguntar.
Ele pegou minha mão e segurou-a na minha coxa, quando o diretor da orquestra subiu no palco. Uma hora e meia depois, Harrison me encontrou na parte de trás do auditório. Ele estava segurando um ramalhete de rosas vermelhas, cor idêntica à do seu rosto, marcando o embaraço em sua face.
— Eu queria te dar isto. — Ele disse, empurrando as flores para os meus braços. Seus pais ficaram cerca de quinze metros de distância, permitindo-lhe entregar o presente sozinho.
Eu cheirei as rosas e ele trocou um olhar superficial com Joseph.
— Obrigada Harrison, elas são lindas! Fiquei muito orgulhosa esta noite, você foi incrível!
Ele sorriu, mas tentou não fazê-lo, o que lhe deu uma aparência de maníaco.
— É tudo por sua causa, no entanto.
Eu balancei minha cabeça.
— Você fez o trabalho e o colocou em prática.
Ele mudou de um pé para o outro.
— Você parecia fantástico, cara. Eu gostaria de poder tocar algum instrumento. — Joseph disse.
Harrison olhou para ele.
— Obrigado! — Ele murmurou, franzindo a testa. Mesmo que meu aluno era mais alto do que eu, ele era magro ao lado da estrutura sarada de Joseph. — Isso doeu? Nos seus lábios?
Lucas deu os ombros
— Não muito. Embora eu tenha dito alguns palavrões.
Harrison sorriu.
— Legal!

***

Conforme deitamos horas mais tarde parcialmente desprovidos de luz, encaramos um ao outro, compartilhando seu travesseiro. Eu respirei fundo e rezei, eu não estava prestes a repelir Joseph de novo. Eu nunca me senti mais ligada a alguém.
— O que você acha do Harrison?
Ele me estudou de perto.
— Ele parece ser um bom garoto.
Eu confirmei com a cabeça.
— Ele é. — Eu pousei meus dedos no seu rosto e ele me puxou para mais perto. — Sobre o que é isso? — Ele sorriu. — Você está me deixando para ficar com Harrison, Demetria?
Olhando em seus olhos, eu perguntei:
— Se Harrison estivesse no estacionamento àquela noite, ao invés de você, você acha que ele me ajudaria? — Seus olhos se encontraram com os meus e ele não respondeu. — Se alguém tivesse dito para você cuidar de mim, você acha que eles iriam te culpar por você não ter sido capaz de parar o que teria acontecido naquela noite?
Ele exalou duramente.
— Eu sei o que você está tentando dizer...
— Não Joseph. Você está ouvindo isso, mas você não sabe. O seu pai não podia realmente esperar isso de você. Não tem jeito de ele se lembrar de ter dito isso para você. Ele e você se culpam, mas a culpa não é de nenhum de vocês!
Seus olhos se encheram de lágrimas e ele engoliu fortemente.
— Eu nunca vou me esquecer de como ele parecia naquela noite. — Sua voz estava tomada pelas lágrimas. — Como eu não posso me culpar por aquela noite?
Minhas lágrimas molharam o travesseiro entre nós.
— Joseph, pense sobre Harrison. Veja o menino que você era, e pare de se culpar por não poder parar algo que nem um homem poderia. O que você me disse, repetidas vezes? Não foi sua culpa! Você precisa falar com alguém, e descobrir como se perdoar por uma responsabilidade que sua mãe nunca queria que você aceitasse. Você vai tentar? Por favor?
Ele secou uma lágrima do meu rosto.
— Como foi que encontrei você?
Eu balancei a cabeça.
— Talvez eu só esteja onde deveria estar, afinal.

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