quinta-feira, 17 de outubro de 2013

CAPÍTULO 11 - CAI À NOITE

”Sombras e pensamentos
De um sonho só esperança
Nas paredes ecoavam
O silêncio e a lembrança...”

Demi perdeu o chão. Precisou se apoiar na parede mais próxima, suas pernas não a sustentariam. Esperava ouvir qualquer coisa daquela boca.
“Eu sou uma mulher operada que virei homem (o que explicaria a incrível habilidade no oral);”
“Eu sou um extraterrestre com altas habilidades (o que justificaria seu desempenho na cama);”
“Eu sou um assassino frio e calculista (o que justificaria o: ‘Sou apaixonado pela mulher do meu pai’ logo após terem feito tudo o que haviam feito).”
— E a Dulce?
Lembrou-se de repente que estava nua e abraçou o próprio corpo. Maravilha!
— Por isso eu queria casar tão rápido.
“Rápido?! Rápido para ele eram três anos de enrolação? Homens!”.
Estava até se sentindo solidária com a loira-que-a-água-oxigenada-tinha-destruído-os-neurônios.
Agora o inferno podia congelar.
— Droga... A Raquel? — Murmurou mais para si mesma — Ah, meu Deus, o Carlos!
Ia sair do banheiro quando o homem a segurou pelo braço.
— Não é só você que tem problemas... As coisas nunca são como a gente quer.
Droga. Aquele olhar de cachorro perdido em dia de mudança.
Então ela fez a coisa mais fácil. Desprendeu-se e fugiu. Correu com ele em seu encalço, molhando todo o piso e quase caindo no meio do caminho. Demetria, aproveitando-se do incidente, trancou-se no quarto que fora o cativeiro.
— Demi, vamos conversar...
O rapaz implorou do outro lado da porta.
— Joseph, agora não.
— Demi, eu não quero mentir para você. E também não quero que você minta para mim.
— Tudo bem, Joseph. Só me dá um tempinho.
— Mas Demi...
— Eu preciso de um tempo. Só isso.
Silêncio. Pouco depois, ouviu seus passos se afastando da porta.
Ela sabia que não estava tendo uma atitude muito madura com a situação. Mas... Era Joseph! O Carlos! A Raquel! Num triângulo amoroso!
Mil vezes inferno!
Quem poderia ser madura numa situação dessas? Adorava Carlos como um pai. E Raquel, não havia mulher mais doce... Eles nem imaginavam isso. Nem mesmo ela que tinha obsessão por Joseph nem sequer tinha imaginado isso.
Como alguém consegue manter um segredo desses? Um lado seu queria ter pena dele. Mas o outro lado estava naquele momento cozinhando o seu juízo: “A Raquel!” Com tanta mulher no mundo, “ou seja, ela mesma” ele tinha que se apaixonar logo pela madrasta? Que mundo injusto.
A Raquel já tinha o gostosão do Carlos, ela não precisava do resto da família. E ela, Demetria não tinha nada. Como a lógica do mundo era tão injusta!
Sentiu o coração apertado...
“Ah, não sua imbecil. Nada de choro.”
Desde o início, sabia que daquele mês, só ia levar sexo. Ser realista quanto a isso era o melhor. Portanto, como só ela sabia fazer, engoliu o choro, o choque e vestiu seu olhar mais indiferente. O controle da situação era seu mais uma vez.
“Sexo, Demi. Você veio aqui só atrás de sexo.”
Quando saiu já estava mais controlada.
Joseph estava sentado à mesa. Tinha se vestido.
— Quer comer?
Ele escolheu o caminho mais seguro. Não tocar no assunto. Ótimo. Ela percebeu que estava com fome. Nem se recordava a última vez que havia comido.
“É que você andou ocupada moça.”
— Quero.
Comeram em silêncio. Demi tentava pensar.
“Era só sexo.”
Ficava repetindo seu novo mantra. Levantou os olhos do prato apenas quando terminou. Assustou-se com o que viu nos olhos do rapaz: solidão. Dor. Reflexos dos seus. Não podia permitir isso. Não podia deixar nada estragar aquele mês. Mesmo sabendo que ela não era o motivo daquela desilusão.
Levantou-se decidida.
— Vem comigo!
— Para onde?
— Adivinha? — perguntou com um olhar malicioso.
A expressão do rapaz mudou no mesmo instante. Pura luxúria. Por ela. Mal tinham chegado ao corredor, quando ela foi esmagada contra a parede. Os lábios tomaram os seus em uma urgência absoluta. Deram-se um beijo selvagem, intenso e longo. Joseph entrou em suas pernas, levantando-a pelo bumbum. Ao mesmo tempo tentava abaixar a calça.
— Inferno, por que eu fechei essa droga?
Demi sorriu. O que mais poderia fazer? Observou deliciada a luta dele contra a peça de roupa.
— Não tem graça, Demi.
A secretária de Carlos se arrepiou toda com o rosnado.
— Na verdade tem sim! — caiu na risada. Outro rosnado e um beijo fulminante. A calça não demorou a cair.
— Agora você vai ver...
Ela podia se arrepiar mais? Como assim?
Ele tomou um seio. Lambeu devagar sem quebrar o contato visual. Ele parecia gostar de ver a agonia que lhe causava. A língua contornava o mamilo com suavidade, sugava um pouco e voltava a contornar. Em uma dança sensual que a enlouquecia completamente. Repetiu o procedimento várias vezes antes de abocanhar o outro seio. Nele foi mais selvagem. A fome parecia ter aumentado. Estava mais bruto. Do jeito que ela gostava, sua mão escorregou entre os corpos e indo parar no centro da moça. Seus afagos seguiam um ritmo próprio. Demetria não pôde conter um gemido alto. O rapaz não se deu por satisfeito.
— Vamos fazer isso na cama!
Foi carregada em direção ao quarto. Foi atirada na cama e antes mesmo que pudesse reclamar, ele já estava lá, pairando sobre o corpo feminino, empalando-a num só golpe. Ele entrava e saia num ritmo alucinante. O cuidadoso e controlado Joseph havia desaparecido. Os impulsos eram velozes, agressivos. Culminaram num orgasmo furioso de ambas as partes.
Naquele momento Demetria soube que tanto sentimento não era por ela. Naquela cama ela emprestara o corpo para que ele pudesse viver uma ilusão. A princípio não percebeu as lágrimas. Só o caleidoscópio de emoções intensas que vieram com o clímax, em seu íntimo algo gritava que ele não estivera com ela nesse momento, mas com Raquel. Joseph buscou seu rosto para um beijo apaixonado. Foi quando ele sentiu suas lágrimas.
— Demi?!
Ela chorou ainda mais, ele a abraçou forte. E ficaram assim por muito tempo.
— Calma! Está tudo bem!
Joseph também teve vontade de chorar. Tanto que sentiu um ardor terrível nos olhos. Mas se controlou.
Quando ela estava mais calma, Joseph levantou-se e foi em direção ao banheiro fechando a porta atrás de si. Beleza, agora nem queria imaginar o que ele estava pensando. Encolheu-se em posição fetal na cama e assim ficou. Não demorou muito, ele retornou e a tomou nos braços. Logo, estava dentro de um delicioso banho quente. Com toda a calma, ele se pôs a banhá-la. Não conversaram. Mesmo porque, ocasionalmente uma lágrima escorria pela face da moça. Ela nem sabia mais o motivo do choro, só que não podia mais controlar. O corpo também começou a apresentar os sintomas de depressão. Estava pesado, dolorido.
Lembrou-se de repente que não havia tomado o remédio naquele dia. Na verdade havia muitos dias que não tomava. Seu constrangimento pelo descontrole era tamanho que se sentiu incapaz de olhá-lo. Após lavá-la por inteiro, puxou o corpo dela para que descansasse contra o seu. Ia acariciando suas costas carinhosamente.
— Nessa casa, Demetria, — ele anunciou depois de um tempo — só existe eu e você. Em nenhum momento em que estive com você, eu estive com a Raquel. Apenas eu e você. Desde o começo.
Como ele poderia saber dos medos dela? Era tão transparente assim?
— O que eu posso fazer para que acredite no que eu digo?
Ela fugiu do assunto:
— Eu preciso do meu remédio. Ainda não o tomei... Por isso estou assim tão emotiva.
— Errado Demetria. Você precisa de mim. Só de mim.
E elevando-lhe o queixo, beijou-a profunda e intensamente. As mesmas mãos que acariciavam suas costas desceram um pouco mais, uma entre seus corpos para estimulá-la e a outra em sua nádega, puxando-a para si.
— Demi... — ele gemeu. E ela se sentiu confiante. Seu nome e o de mais ninguém naquela boca. Pegou as mãos que a afagavam e posicionou acima da cabeça do rapaz.
— Você não pode tocar em mim. — avisou. Apoiando as duas mãos em seus antebraços, para imobilizá-lo e sustentar seu próprio peso ao mesmo tempo.
— Diz meu nome. — pediu.
— Demetria.
— De novo.
— Demetria.
E passou a repetir o nome da mulher enquanto ela explorava seu corpo. Demi percebia sua vontade de usar as mãos, e seu esforço em obedecê-la.
Quando o clímax chegou, ela caiu sobre seu peito outra vez.
Entendia que estavam fazendo errado: Usando sexo para resolver um conflito, por isso tão logo foi seguro, colocou uma distância entre eles. Pensou no peso da revelação. Agora as coisas faziam um sentido surpreendente. Pensou nas atitudes do rapaz desde sempre.
“Tem coisa mais triste que amar alguém que não vai te amar de volta?”
Aquele foi o primeiro dia em que Demetria realmente se vestiu: um jeans, um suéter e um casaco. Pegou um edredom e se deitou no banco em frente a casa. Passou o resto da tarde ali, observando a paisagem, pensativa. Joseph ficara lá dentro. Apareceu já quase no final do dia com uma caneca de chocolate quente. Não falou nada, lhe entregou a bebida e deitou-se ao seu lado, puxando o corpo feminino para seu abraço.
Embora quisesse ignorá-lo, seu corpo não lhe permitia. E a situação só piorou quando o rapaz passou a acariciá-la. Os braços, a barriga, os seios. Ela realmente queria lhe dizer não. Mas como ia fazer isso?
A noite chegou e os encontrou ali.
— Desculpe-me por ter chorado. Eu prometo tentar não deixar que isso aconteça de novo. Ando emotiva desde... Qualquer coisa desencadeia essas reações emocionais, mas eu vou tentar me controlar.
— Não, Demi. Não se desculpe por me mostrar você. Eu fui um insensível, não era o momento para eu falar da minha paixão adolescente...
— Não, nós combinamos...
— Às vezes a verdade machuca... Eu sei que fui insensível. — ele suspirou profundamente — Mas eu estou cansado de me esconder. E com você, eu acho que posso falar qualquer coisa.
Ela se encolheu em seu abraço.
“Pai do céu. Seria muito fácil se apaixonar por aquela criatura. Se já não estivesse tão apaixonada.”
— Você pode falar comigo o que quiser, foi isso que nós combinamos e eu aceito. Só me desculpe pelo ataque. Eu queria que esse mês fosse só meu. E o assunto trouxe uma terceira pessoa para o meio de nós. Pior, trouxe o mundo real. Agora toda vez que nós estivermos juntos, eu nunca vou saber se você está comigo, ou com a...
O rapaz não permitiu que ela continuasse:
— Demi, entenda, eu nunca pensei em Raquel quando estava com você. Desde o começo foi sempre só você.
Ela ficou calada por um momento. Então veio a curiosidade mórbida:
— Quando você percebeu que estava apaixonado por ela?
O desagrado dele era visível, mas falou:
— Aos 13 anos. Amor à primeira vista. Encontrei com ela no escritório do papai. Eles ainda não estavam envolvidos...
Infernos. Não dá para competir com esse tipo de coisa.
— 19 anos é muito tempo para amar alguém.
— Eu sei... Mas ela nunca me deu bola, até recentemente...
Aí Demetria estancou.
— A Raquel?! Joseph, você não pode! Eu não acredito nisso... Você não vai ser uma terceira pessoa na relação deles! É sujo!
— Por que não? Você já é uma terceira.
— É diferente... O Carlos cuida de mim, me dá o que eu preciso quando preciso. Apenas isso.
— Nem por isso você deixa de estar entre eles.
— Mas eu nunca ia interferir na relação dos dois.
— Você interfere sim. Será que não percebe? Sua presença, o tempo que ele deixa de estar com ela para ficar com você... Tudo atrapalha a relação dos dois... Só não vê quem não quer.
— Eu não sou apaixonada por seu pai...
— E isso torna tudo ainda pior. Se você fosse apaixonada por ele, eu compreenderia tudo, mas não. Eu nunca me insinuei. Sempre estive distante, por mais que isso me custasse. Eu me envolvi com muitas outras mulheres. Durante algum tempo tentei esquecer. Acreditei estar apaixonado ao menos duas vezes, mas então quando encontrava com ela acontecia tudo de novo... Os jantares na casa do papai eram um tormento.
— Os jantares com... Eu pensava que você não gostava de me ver lá... Sabe, você estava sempre de mau humor...
— Agora você sabe... Só, não se afaste de mim... Eu já tenho que lidar com muita coisa...
A resposta da moça veio sem hesitação:
— Eu não me afasto das pessoas Joseph. É que com o tempo eu descubro qual o meu espaço na vida delas. E decido se quero esse espaço. Amores de mentirinha, amizades de mentirinha não fazem o meu estilo. Não quero ter você pela metade... Eu não quero ter mais nada pela metade... Não foi para isso que eu fiz tudo. Eu... Ai.
Gritou quando de súbito, viu-se sob o corpo masculino. Em um beijo ardente.
— Está sentido isso aqui? — Esfregou seu sexo em Demi. Ereto, duro, poderoso — Ele fica assim por você. Ninguém me põe excitado tão rápido.
— Mas...
— Não! Só sinta o que você me faz e só você faz isso comigo. Deixe que seja apenas eu e você. E eu prometo que será assim.
— É uma promessa muito séria para fazer.
— E vou cumprir. Só você e eu de hoje em diante.

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