”Sombras e
pensamentos
De um sonho só
esperança
Nas paredes
ecoavam
O silêncio e a
lembrança...”
Demi perdeu o
chão. Precisou se apoiar na parede mais próxima, suas pernas não a sustentariam.
Esperava ouvir qualquer coisa daquela boca.
“Eu sou uma
mulher operada que virei homem (o que explicaria a incrível habilidade no
oral);”
“Eu sou um
extraterrestre com altas habilidades (o que justificaria seu desempenho na cama);”
“Eu sou um
assassino frio e calculista (o que justificaria o: ‘Sou apaixonado pela mulher
do meu pai’ logo após terem feito tudo o que haviam feito).”
— E a Dulce?
Lembrou-se de
repente que estava nua e abraçou o próprio corpo. Maravilha!
— Por isso eu
queria casar tão rápido.
“Rápido?! Rápido
para ele eram três anos de enrolação? Homens!”.
Estava até se
sentindo solidária com a loira-que-a-água-oxigenada-tinha-destruído-os-neurônios.
Agora o inferno
podia congelar.
— Droga... A
Raquel? — Murmurou mais para si mesma — Ah, meu Deus, o Carlos!
Ia sair do
banheiro quando o homem a segurou pelo braço.
— Não é só você
que tem problemas... As coisas nunca são como a gente quer.
Droga. Aquele
olhar de cachorro perdido em dia de mudança.
Então ela fez a
coisa mais fácil. Desprendeu-se e fugiu. Correu com ele em seu encalço, molhando
todo o piso e quase caindo no meio do caminho. Demetria, aproveitando-se do
incidente, trancou-se no quarto que fora o cativeiro.
— Demi, vamos
conversar...
O rapaz implorou
do outro lado da porta.
— Joseph, agora
não.
— Demi, eu não
quero mentir para você. E também não quero que você minta para mim.
— Tudo bem,
Joseph. Só me dá um tempinho.
— Mas Demi...
— Eu preciso de
um tempo. Só isso.
Silêncio. Pouco
depois, ouviu seus passos se afastando da porta.
Ela sabia que não
estava tendo uma atitude muito madura com a situação. Mas... Era Joseph! O
Carlos! A Raquel! Num triângulo amoroso!
Mil vezes
inferno!
Quem poderia ser
madura numa situação dessas? Adorava Carlos como um pai. E Raquel, não havia
mulher mais doce... Eles nem imaginavam isso. Nem mesmo ela que tinha obsessão
por Joseph nem sequer tinha imaginado isso.
Como alguém
consegue manter um segredo desses? Um lado seu queria ter pena dele. Mas o
outro lado estava naquele momento cozinhando o seu juízo: “A Raquel!” Com tanta
mulher no mundo, “ou seja, ela mesma” ele tinha que se apaixonar logo pela madrasta?
Que mundo injusto.
A Raquel já tinha
o gostosão do Carlos, ela não precisava do resto da família. E ela, Demetria
não tinha nada. Como a lógica do mundo era tão injusta!
Sentiu o coração
apertado...
“Ah, não sua
imbecil. Nada de choro.”
Desde o início,
sabia que daquele mês, só ia levar sexo. Ser realista quanto a isso era o melhor.
Portanto, como só ela sabia fazer, engoliu o choro, o choque e vestiu seu olhar
mais indiferente. O controle da situação era seu mais uma vez.
“Sexo, Demi. Você
veio aqui só atrás de sexo.”
Quando saiu já
estava mais controlada.
Joseph estava
sentado à mesa. Tinha se vestido.
— Quer comer?
Ele escolheu o
caminho mais seguro. Não tocar no assunto. Ótimo. Ela percebeu que estava com
fome. Nem se recordava a última vez que havia comido.
“É que você andou
ocupada moça.”
— Quero.
Comeram em
silêncio. Demi tentava pensar.
“Era só sexo.”
Ficava repetindo
seu novo mantra. Levantou os olhos do prato apenas quando terminou. Assustou-se
com o que viu nos olhos do rapaz: solidão. Dor. Reflexos dos seus. Não podia
permitir isso. Não podia deixar nada estragar aquele mês. Mesmo sabendo que ela
não era o motivo daquela desilusão.
Levantou-se
decidida.
— Vem comigo!
— Para onde?
— Adivinha? —
perguntou com um olhar malicioso.
A expressão do
rapaz mudou no mesmo instante. Pura luxúria. Por ela. Mal tinham chegado ao
corredor, quando ela foi esmagada contra a parede. Os lábios tomaram os seus em
uma urgência absoluta. Deram-se um beijo selvagem, intenso e longo. Joseph
entrou em suas pernas, levantando-a pelo bumbum. Ao mesmo tempo tentava abaixar
a calça.
— Inferno, por
que eu fechei essa droga?
Demi sorriu. O
que mais poderia fazer? Observou deliciada a luta dele contra a peça de roupa.
— Não tem graça,
Demi.
A secretária de
Carlos se arrepiou toda com o rosnado.
— Na verdade tem
sim! — caiu na risada. Outro rosnado e um beijo fulminante. A calça não demorou
a cair.
— Agora você vai
ver...
Ela podia se
arrepiar mais? Como assim?
Ele tomou um
seio. Lambeu devagar sem quebrar o contato visual. Ele parecia gostar de ver a
agonia que lhe causava. A língua contornava o mamilo com suavidade, sugava um
pouco e voltava a contornar. Em uma dança sensual que a enlouquecia
completamente. Repetiu o procedimento várias vezes antes de abocanhar o outro
seio. Nele foi mais selvagem. A fome parecia ter aumentado. Estava mais bruto.
Do jeito que ela gostava, sua mão escorregou entre os corpos e indo parar no
centro da moça. Seus afagos seguiam um ritmo próprio. Demetria não pôde conter
um gemido alto. O rapaz não se deu por satisfeito.
— Vamos fazer
isso na cama!
Foi carregada em
direção ao quarto. Foi atirada na cama e antes mesmo que pudesse reclamar, ele
já estava lá, pairando sobre o corpo feminino, empalando-a num só golpe. Ele entrava
e saia num ritmo alucinante. O cuidadoso e controlado Joseph havia
desaparecido. Os impulsos eram velozes, agressivos. Culminaram num orgasmo
furioso de ambas as partes.
Naquele momento
Demetria soube que tanto sentimento não era por ela. Naquela cama ela emprestara
o corpo para que ele pudesse viver uma ilusão. A princípio não percebeu as
lágrimas. Só o caleidoscópio de emoções intensas que vieram com o clímax, em
seu íntimo algo gritava que ele não estivera com ela nesse momento, mas com
Raquel. Joseph buscou seu rosto para um beijo apaixonado. Foi quando ele sentiu
suas lágrimas.
— Demi?!
Ela chorou ainda
mais, ele a abraçou forte. E ficaram assim por muito tempo.
— Calma! Está
tudo bem!
Joseph também
teve vontade de chorar. Tanto que sentiu um ardor terrível nos olhos. Mas se
controlou.
Quando ela estava
mais calma, Joseph levantou-se e foi em direção ao banheiro fechando a porta
atrás de si. Beleza, agora nem queria imaginar o que ele estava pensando. Encolheu-se
em posição fetal na cama e assim ficou. Não demorou muito, ele retornou e a tomou
nos braços. Logo, estava dentro de um delicioso banho quente. Com toda a calma,
ele se pôs a banhá-la. Não conversaram. Mesmo porque, ocasionalmente uma
lágrima escorria pela face da moça. Ela nem sabia mais o motivo do choro, só
que não podia mais controlar. O corpo também começou a apresentar os sintomas
de depressão. Estava pesado, dolorido.
Lembrou-se de
repente que não havia tomado o remédio naquele dia. Na verdade havia muitos dias
que não tomava. Seu constrangimento pelo descontrole era tamanho que se sentiu
incapaz de olhá-lo. Após lavá-la por inteiro, puxou o corpo dela para que
descansasse contra o seu. Ia acariciando suas costas carinhosamente.
— Nessa casa,
Demetria, — ele anunciou depois de um tempo — só existe eu e você. Em nenhum
momento em que estive com você, eu estive com a Raquel. Apenas eu e você. Desde
o começo.
Como ele poderia
saber dos medos dela? Era tão transparente assim?
— O que eu posso
fazer para que acredite no que eu digo?
Ela fugiu do
assunto:
— Eu preciso do
meu remédio. Ainda não o tomei... Por isso estou assim tão emotiva.
— Errado Demetria.
Você precisa de mim. Só de mim.
E elevando-lhe o
queixo, beijou-a profunda e intensamente. As mesmas mãos que acariciavam suas
costas desceram um pouco mais, uma entre seus corpos para estimulá-la e a outra
em sua nádega, puxando-a para si.
— Demi... — ele
gemeu. E ela se sentiu confiante. Seu nome e o de mais ninguém naquela boca.
Pegou as mãos que a afagavam e posicionou acima da cabeça do rapaz.
— Você não pode
tocar em mim. — avisou. Apoiando as duas mãos em seus antebraços, para
imobilizá-lo e sustentar seu próprio peso ao mesmo tempo.
— Diz meu nome. —
pediu.
— Demetria.
— De novo.
— Demetria.
E passou a
repetir o nome da mulher enquanto ela explorava seu corpo. Demi percebia sua vontade
de usar as mãos, e seu esforço em obedecê-la.
Quando o clímax
chegou, ela caiu sobre seu peito outra vez.
Entendia que
estavam fazendo errado: Usando sexo para resolver um conflito, por isso tão
logo foi seguro, colocou uma distância entre eles. Pensou no peso da revelação.
Agora as coisas faziam um sentido surpreendente. Pensou nas atitudes do rapaz
desde sempre.
“Tem coisa mais
triste que amar alguém que não vai te amar de volta?”
Aquele foi o
primeiro dia em que Demetria realmente se vestiu: um jeans, um suéter e um
casaco. Pegou um edredom e se deitou no banco em frente a casa. Passou o resto
da tarde ali, observando a paisagem, pensativa. Joseph ficara lá dentro. Apareceu
já quase no final do dia com uma caneca de chocolate quente. Não falou nada,
lhe entregou a bebida e deitou-se ao seu lado, puxando o corpo feminino para
seu abraço.
Embora quisesse
ignorá-lo, seu corpo não lhe permitia. E a situação só piorou quando o rapaz
passou a acariciá-la. Os braços, a barriga, os seios. Ela realmente queria lhe
dizer não. Mas como ia fazer isso?
A noite chegou e
os encontrou ali.
— Desculpe-me por
ter chorado. Eu prometo tentar não deixar que isso aconteça de novo. Ando
emotiva desde... Qualquer coisa desencadeia essas reações emocionais, mas eu
vou tentar me controlar.
— Não, Demi. Não
se desculpe por me mostrar você. Eu fui um insensível, não era o momento para
eu falar da minha paixão adolescente...
— Não, nós
combinamos...
— Às vezes a
verdade machuca... Eu sei que fui insensível. — ele suspirou profundamente —
Mas eu estou cansado de me esconder. E com você, eu acho que posso falar qualquer
coisa.
Ela se encolheu
em seu abraço.
“Pai do céu.
Seria muito fácil se apaixonar por aquela criatura. Se já não estivesse tão apaixonada.”
— Você pode falar
comigo o que quiser, foi isso que nós combinamos e eu aceito. Só me desculpe
pelo ataque. Eu queria que esse mês fosse só meu. E o assunto trouxe uma terceira
pessoa para o meio de nós. Pior, trouxe o mundo real. Agora toda vez que nós estivermos
juntos, eu nunca vou saber se você está comigo, ou com a...
O rapaz não
permitiu que ela continuasse:
— Demi, entenda,
eu nunca pensei em Raquel quando estava com você. Desde o começo foi sempre só
você.
Ela ficou calada
por um momento. Então veio a curiosidade mórbida:
— Quando você
percebeu que estava apaixonado por ela?
O desagrado dele
era visível, mas falou:
— Aos 13 anos.
Amor à primeira vista. Encontrei com ela no escritório do papai. Eles ainda não
estavam envolvidos...
Infernos. Não dá
para competir com esse tipo de coisa.
— 19 anos é muito
tempo para amar alguém.
— Eu sei... Mas
ela nunca me deu bola, até recentemente...
Aí Demetria
estancou.
— A Raquel?! Joseph,
você não pode! Eu não acredito nisso... Você não vai ser uma terceira pessoa na
relação deles! É sujo!
— Por que não?
Você já é uma terceira.
— É diferente...
O Carlos cuida de mim, me dá o que eu preciso quando preciso. Apenas isso.
— Nem por isso
você deixa de estar entre eles.
— Mas eu nunca ia
interferir na relação dos dois.
— Você interfere
sim. Será que não percebe? Sua presença, o tempo que ele deixa de estar com ela
para ficar com você... Tudo atrapalha a relação dos dois... Só não vê quem não quer.
— Eu não sou
apaixonada por seu pai...
— E isso torna
tudo ainda pior. Se você fosse apaixonada por ele, eu compreenderia tudo, mas
não. Eu nunca me insinuei. Sempre estive distante, por mais que isso me
custasse. Eu me envolvi com muitas outras mulheres. Durante algum tempo tentei
esquecer. Acreditei estar apaixonado ao menos duas vezes, mas então quando
encontrava com ela acontecia tudo de novo... Os jantares na casa do papai eram
um tormento.
— Os jantares
com... Eu pensava que você não gostava de me ver lá... Sabe, você estava sempre
de mau humor...
— Agora você
sabe... Só, não se afaste de mim... Eu já tenho que lidar com muita coisa...
A resposta da
moça veio sem hesitação:
— Eu não me
afasto das pessoas Joseph. É que com o tempo eu descubro qual o meu espaço na
vida delas. E decido se quero esse espaço. Amores de mentirinha, amizades de mentirinha
não fazem o meu estilo. Não quero ter você pela metade... Eu não quero ter mais
nada pela metade... Não foi para isso que eu fiz tudo. Eu... Ai.
Gritou quando de
súbito, viu-se sob o corpo masculino. Em um beijo ardente.
— Está sentido
isso aqui? — Esfregou seu sexo em Demi. Ereto, duro, poderoso — Ele fica assim
por você. Ninguém me põe excitado tão rápido.
— Mas...
— Não! Só sinta o
que você me faz e só você faz isso comigo. Deixe que seja apenas eu e você. E
eu prometo que será assim.
— É uma promessa
muito séria para fazer.
— E vou cumprir.
Só você e eu de hoje em diante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário