sábado, 5 de outubro de 2013

CAPÍTULO 2 - SOLIDÃO QUE NADA

“Alguém me espera e
adivinha no céu
Que meu novo nome
É um estranho que
me quer...”

Usou toda raiva e frustração para se concentrar no trânsito. Um absurdo, já que era noite e quase não havia carros na rua. Precisava, no entanto, se concentrar em algo até conseguir se controlar. Sua vontade era sair e socar alguém, mas sabia que essa seria uma atitude infantil.
Se Nicholas estivesse ali, ao menos ele entenderia sua necessidade de ação e resolveria o problema levando-o a um lugar onde pudesse extravasar a frustração. Nem que fosse num copo...
O sujeito provavelmente não chegaria a tempo para o casamento e Joseph teria que arranjar um padrinho de última hora. Isso não o surpreenderia, seu amigo abominava toda e qualquer forma de tortura e segundo ele, casamento era uma maneira que a pessoa arranjava de se punir por cada bobagem que fez na vida.
O CD ligado era a desculpa perfeita para não conversar com a noiva. Estava tão descontrolado que alguém poderia acabar pagando por isso e a pessoa mais próxima era ela.
Sem falar que Blanda era uma das responsáveis pela situação.
O jantar semanal com a família foi um pesadelo. Tinha acabado com Joseph. Para começar, Beth estava na cidade, linda, grávida, feliz, marido a tiracolo, quer dizer não tão feliz já que no momento queria matar a companheira do irmão por ter se metido com sua melhor amiga. As cunhadas nunca se entenderam e Raquel, sua madrasta, que normalmente ficava acalmando os ânimos, estava zangada com a licença que Carlos forçara Demetria a tirar após seu desentendimento com Blanda. Aquele já seria um jantar difícil para ele sem esse adicional.
Não era que não gostasse da família. Longe disso. O pai era um dos sujeitos que mais admirava nessa vida e a Raquel era a mulher que qualquer homem sonhava ter. Calma, sensata, bonita, engraçada, sexy. A presença de Beth tornaria tudo perfeito. A família perfeita reunida para o casamento perfeito.
O problema estava com Joseph que já não suportava mais fingir que tudo estava bem, quando nada estava bem. Aquele não era seu lugar. Aquilo não poderia ser sua vida. Demi era como um membro da família, ele e Blanda não conquistaram esse mesmo espaço. E sua noiva não conseguia lidar com a situação de forma diplomática. Abertamente perseguia Demetria em cada oportunidade, o que deixava Joseph em situação cada vez mais desconfortável.
Não conseguiria levar aquilo adiante, descobriu naquela noite. Não poderia mais ignorar que não passava de um intruso em sua própria família. Graças aos céus estava tudo acabado por aquela noite, logo estaria casado e mudando para longe.
A proposta de emprego estivera em sua gaveta por um mês. Depois daquela noite se resolvera. Num impulso criara coragem e contara ao pai os planos que não tinha até segundos antes. Pior, deixara todos crerem que já estava tudo acertado, quando nem mesmo havia entrado em contato com os seus supostos novos empregadores. Agora era oficial: a família o odiava.
— Por que você me odeia tanto Joseph? O que eu fiz?
“Você é feliz quando eu não consigo!”
Mas, com um suspiro cansado, tentou se justificar:
— Não se trata de te odiar meu pai, eu apenas tenho a necessidade de andar com minhas próprias pernas, fazer meu próprio caminho.
O pai não se convenceu.
— A empresa é seu próprio caminho. Ela é sua e da sua irmã!
— Eu lamento pai, juro que tentei me adaptar, mas ficar num só lugar, com tantas responsabilidades não faz o meu estilo. Eu preciso de movimento, preciso de coisas novas...
Carlos nada disse por algum tempo, a decepção nublando seus olhos, então soltou:
— Às vezes Joseph, você consegue me chocar provando que não é apenas fisicamente parecido com seu avô.
Não foi um elogio, na verdade foi a pior de todas as ofensas que o pai já lhe fez. E para piorar a situação, completou:
— Cuidado Blanda, talvez você logo seja uma coisa velha e entediante para o meu filho tão volúvel.
E jogando o guardanapo sobre a mesa, saiu abruptamente. Aquele foi o fim do jantar.
Blanda demorou a apanhar suas coisas. Joseph esperava o elevador enquanto isso. Sua irmã barriguda veio ao seu encontro.
— Não vá ainda...
— Beth... Eu não quero estragar ainda mais o resto da noite...
— Não faz isso...
— Isso o quê?
— Se afastar de nós. É horrível quando você vai embora. Meu filho merece conviver com o tio maravilhoso que tem.
Joseph sentiu o coração pesar diante do apelo da pequena. Amava profundamente a irmã adotiva, mas não poderia dizer que fazia o que fazia para o bem de todos. Isso incluía o dela.
— Sabe que essa mulher não é para você. — Ela tentou iniciar a velha discussão.
— Para com isso, Beth, qualquer homem gostaria de ter uma mulher como a Blanda. Ela é perfeita.
— Você não precisa de um troféu, Joseph. Ela não vai te fazer feliz... Se quiser desistir dessa loucura sabe que eu vou te apoiar, não é?
Ele sorriu. Era louco como ela conseguia ler tão bem as entrelinhas, em alguns momentos e ser absurdamente cega em outros.

***

— Eu pensei que você não fosse aceitar a proposta...
Comentou Blanda após se acomodar no banco do carona. Impaciente Edgar decidiu não ser diplomático:
— Eu não tive escolha depois que você resolveu implicar com a protegida da minha família. — dessa vez não quis ser diplomático — Raquel pode ser a pessoa mais amável, mas acredite, ela e Beth tornariam sua vida um inferno se tivesse a oportunidade. Mexer com Demetria não foi inteligente de sua parte.
— Mas...
Aquela conversa ia fazê-lo explodir. Interrompeu-a antes que fosse tarde:
— Vamos fazer uma coisa, minha querida noiva: esquecer. Apenas esquecer.
Joseph já tinha tantos problemas queimando os neurônios. Não precisava de novos.
— Cuidado!
Blanda reclamou quando ele fez uma curva fechada em alta velocidade. Joseph percebia uma imensa e quase incontrolável onda de fúria contida por uma fina e frágil camada de autocontrole se avolumar. Nunca desejou tanto confrontar seus reais sentimentos, calar só estava tornando o problema maior, porém quantas pessoas sofreriam com seus atos?
— Raquel é uma mulher muito bonita.
Comentou a moça tentando puxar conversar ao entrar no apartamento. O retorno silencioso a deixara nervosa, mas não conseguia falar de suas dúvidas. Talvez se falasse Edgar também encontraria espaço para falar das suas.
O rapaz não poderia dar início aquela conversa. Não com tantos sentimentos presos em sua garganta.
— Meu pai tem um excelente gosto.
Não seria naquela noite que eles enfrentariam a verdade sobre a relação de ambos. E como não queria comentar as preferências de seu pai, calou a moça da melhor forma que sabia: beijando.
Os dois estavam juntos havia tempo suficiente para sincronizar as ações. Joseph a suspendeu, ela o abraçou com as pernas. Foram para a cama.
Não estava particularmente excitado. A mulher com quem ia se casar dali a uma semana já não o excitava tanto. A rotina já havia massacrado a relação. Agora a outra passou a tomar conta dos seus pensamentos de maneira cada vez mais insistente. Logo “ela” que era proibida. Seu corpo, porém, se recusava a entender isso, reagia cada vez que estava perto dela.
Só queria ela. Só sonhava com ela. E esse seria seu fim. Logo, não mais beijava a Blanda. A ereção deu sinal de alerta no mesmo momento. E ele perdeu o comando de tudo. Nem mesmo entendeu como chegou à cama. Com fúria, virou o corpo da amante, deixando-a de quatro sobre o colchão. Pegou a camisinha sobre o criado-mudo, colocando-a a seguir.
Blanda não reclamou quando sua saia foi levantada e sua calcinha arrancada num puxão, só gemeu:
— Joseph...
Parou um segundo. Aquela não era voz que desejava ouvir.
Tentou se concentrar novamente. Estocou num movimento só, preenchendo-a completamente. Sabia que isso deveria machucar, mas agora tudo o que precisava era exorcizar os demônios dentro de si. Blanda gostava de sexo duro. Parou por um momento sentindo o corpo feminino estremecer. Deliciou-se com a visão sob os olhos fechados. Os movimentos de vai e vem recomeçaram devagar, mas foram se tornando mais intensos e rápidos, até fazer a cama bater contra a parede. Ele não se importou, não pensou nos vizinhos, ou em qualquer tipo de represália por parte do condomínio. Não estava mais ali. Mais uns movimentos e estava acabado.
Na hora do clímax, o nome proibido quase escapa de sua boca.
Caiu sobre a cama se sentindo o pior dos homens, nem curtiu o êxtase. Blanda não merecia aquilo. Cobriu o corpo suado da mulher ao seu lado e puxou para si. Ao menos isso ele podia fazer: dar conforto. Estava calada, quase como se estivesse dormindo, mas ele intuía que não. Rezava para que ela não tivesse ouvido seu descuido. Tentou não se deixar levar pelo desespero, mas isso agora era quase impossível.
“Que merda estava fazendo com a própria vida?”

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